Realizou-se ontem e antes de ontem a conferência OpenCulture 2012, organizada pela Collections Trust, no belíssimo estádio de Cricket conhecido como The Oval (ou comercialmente por Kia Oval, graças à parceria com a marca de automóveis) e casa do Surrey County Cricket Club.
Uma nota inicial para o excelente local escolhido pela organização e para a excelente organização (um trabalho de Hayley Russell reconhecido e aplaudido por todos na festa de entrega dos prémios da Collections Trust) deste evento e para a excelente escolha das comunicações que foram apresentadas durante os dois dias. A Collections Trust e o seu CEO, Nick Poole, merecem os constantes aplausos, ouvidos no final de cada apresentação, como o reconhecimento da qualidade das escolhas efectuadas.
Só para terem uma pequena ideia (não sei se irão colocar os vídeos das apresentações online) assistimos a uma comunicação muito interessante do responsável pelo Google Cultural Institute, sobre o contributo do Google na área cultural, onde não foi esquecido o Google Art e outras perspectivas da empresa sobre o sector. Assistimos também a uma apresentação muito interessante sobre os projectos da Public Catalogue Foundation e o seu enorme projecto (já com 10 anos de trabalho) para inventariar e documentar as pinturas de óleo dos museus públicos do Reino Unido, onde foram apresentados resultados e custos de um projecto, a meu ver, muito bem estruturado e que cuida muito bem da sua auto-avaliação e crítica. Tivemos também a oportunidade de ouvir as provocações de Anra Kennedy, sobre conteúdos e parcerias (algo sobre o qual precisamos de aprender muito), de Tim Ewin, sobre a necessidade de conservadores nos museus e o papel que actualmente desempenham (a ler por algumas pessoas mais focadas noutras perspectivas de organização museológica) e uma perspectiva excelente do trabalho com públicos que está a ser conduzido por Miriam Craik-Horan do Crafst Council (um excelente trabalho de aprendizagem com o público) ou, ainda, o excelente trabalho que está a ser conduzido por Jonathan Wallis, do Derby City Museum, sobre a novas perspectivas de utilização das colecções dos museus que não são normalmente mostradas e constituem um peso grande no orçamento dos museus. Julgo que em breve teremos mais informações da Collections Trust (no seu site) sobre as comunicações e conclusões da conferência. Mas se precisarem de alguma informação sobre o assunto digam-me e eu tento arranjar.
Queria, no entanto, falar de duas comunicações especiais para mim. A de Bill Thompson (Technology Writer e BBC Online Columnist) sobre o importante papel que a BBC tem que desempenhar na preservação do património cultural do Reino Unido (e de todo o mundo graças à sua dimensão e estratégia) e as dificuldades (técnicas, legais, éticas, financeiras, etc.) que a BBC enfrenta na promoção, documentação e utilização do património audio e audiovisual que tem à sua guarda. Aconselho-vos a seguir atentamente o que Bill vai escrevendo. Podem fazê-lo via twitter (@billt).
Uma outra comunicação que eu queria destacar é o do projecto History Pin. Uma iniciativa da We Are What We Do, uma organização sem fins lucrativos que promove a mudança de comportamentos a larga escala, que visa resolver, através de produtos atractivos e entusiasmantes, alguns dos problemas sociais com que hoje em dia nos debatemos. O History Pin tem como objectivo ajudar a diminuir a distância existente entre gerações, fazendo com que pessoas de diferentes idades e interesses falem sobre algumas partes das suas vidas que são comuns, como o local onde nasceram, onde viveram, onde os avós se casaram, etc. O projecto é muito aliciante e a apresentação de Nick Stanhope foi como deveriam ser todas as apresentações: útil e clara!
Apesar de ter aproveitado a oportunidade para assistir e aprender com aqueles e outros projectos, o meu interesse na presente reunião estava completamente focado no SPECTRUM Roadmap Meeting onde foram discutidas novas actualizações da norma SPECTRUM, apresentados projectos de tradução da norma em diversos países (entre os quais o nosso com o Museu da Ciência como parceiro da Collections Trust e do qual darei notícias em breve) e onde se falou sobre o futuro da norma e dos caminhos que a comunidade SPECTRUM poderá traçar em conjunto para melhor ainda mais um documento que é a referência internacional para os procedimentos de documentação e gestão das colecções. Importa dizer que apesar de não ser uma norma formal, não é, como tenho ouvido dizer em alguns locais, apenas um manual de boas práticas. É muito mais do que isso… é uma verdadeira norma, não formal, mas que nasce da vontade e conhecimento acumulado por centenas de especialistas e técnicos de museus com uma experiência de décadas na documentação e gestão das colecções.
Foi uma excelente conferência, com oportunidade de conhecer e falar com algumas pessoas de museus de todo o mundo, algumas das quais já conhecia via e-mail, e aprender com cada uma delas algo de novo e estimulante. Devo dizer que algo que admiro na comunidade museológica do Reino Unido, principalmente nos responsáveis pelas instituições do governo ou com responsabilidades na área da gestão e documentação das colecções, é o entendimento que existe com todos os parceiros do sector, incluindo, claro está, as empresas que desenvolvem software nesta área e cujo papel é reconhecido sem qualquer constrangimento.
Por fim queria deixar aqui expressa uma palavra de agradecimento à Alex Dawson pela simpatia e disponibilidade e a todos os membros da Collections Trust pela fabulosa experiência que nos proporcionaram. Pela minha parte irei promover a conferência o mais possível em Portugal, porque é muito penoso ver que raramente temos colegas de museus portugueses a aproveitar esta oportunidade.