Projecto Mu.SA – Museum Sector Alliance

Projecto Mu.SA – Museum Sector Alliance

Parece uma infinidade, mas na realidade só passaram 4 anos desde os primeiros contactos que tivemos dos colegas da Hellenic Open University, que conheci através da Mapa das Ideias por causa do projecto eCultSkills (no qual tive uma breve mas muito frutífera participação), sobre a criação de um consórcio para avaliar e procurar melhorar o sector dos museus no que diz respeito às competências digitais necessárias para os perfis de trabalho emergentes que viríamos a conhecer como projecto Mu.SA.

O consórcio, como estava pensado, precisava da participação de um “VET provider” e de um “social partner” capazes de compreender e acompanhar o desenvolvimento do projecto no território português. Em Itália e na Grécia teríamos instituições semelhantes a assumir os mesmos encargos!

Na altura, sem saber muito bem no que me iria meter, depois de perceber o que era um “VET provider” e um “social partner” e de falar com a Paula Menino Homem e com a direção do ICOM Portugal, dei ao Achilles Kameas os contactos da Universidade do Porto e do ICOM Portugal como potenciais parceiros do consórcio. Iniciaram-se os contactos entre ambas as instituições e a UP, através da Faculdade de Letras e o ICOM Portugal, graças à visão da sua direcção na altura, decidiram meter mãos na massa e abraçar o projecto.

Eu fiquei entre as duas instituições, como um tolo no meio da ponte, mas em boa hora assumi com a direcção do ICOM Portugal o compromisso de iniciar a sua participação no projecto, participando na reunião de arranque em Dezembro de 2016 que se realizou em Atenas, na Grécia, juntamente com a UP e a Mapa das Ideias que complementava o “cluster” português do projecto.

DOCKING THE MU.SA SHIP

Atenas – o arranque do projecto

Foram 3 dias cheios em Atenas. Cheios de informação, de nova terminologia, de aprendizagem, de confusões, de novos amigos e de incertezas sobre muitas nuances e questões particulares do projecto que então se iniciava. Na altura não pensei muito sobre o assunto, mas passado este tempo, posso dizer-vos que todos nós, profissionais de museus ou do sector da Cultura, precisamos de ter mais formação nesta área. Adquirir competências para gerir ou participar num projecto europeu é/devia ser fundamental na formação dos profissionais do sector (dos vários sectores em boa verdade).

Chegado de Atenas foi tempo de transmitir ao ICOM Portugal um enorme volume de informação sobre a gestão do projecto, sobre as necessidades, as tarefas que o ICOM Portugal tinha em mãos, a(s) responsabilidade(s) no projecto e as questões administrativas e burocráticas que tínhamos em mãos para resolver.

Uma das decisões fundamentais nesta fase inicial do processo foi a constituição inicial da equipa do ICOM Portugal no projecto. Tínhamos diferentes tarefas previstas (investigação, administração, gestão, produção de conteúdos, etc.) e precisávamos de uma equipa que desse conta do recado e suprisse as necessidades do projecto e possíveis alterações futuras. Conseguimos essa equipa em diferentes momentos.

O José Alberto Ribeiro já tinha sugerido (em muito boa hora) que a Ana Carvalho participasse no projecto. Decidiu também que a D. Olinda Cardoso nos daria o apoio administrativo necessário (que foi excelente durante estes anos) e mais tarde, por sugestão da Ana, juntamos o Manuel Sarmento Pizarro e, por fim, juntou-se a nós o José Barbieri depois de uma recomendação do Mário Antas.

O projecto Mu.SA – trabalho

Após este período inicial, em que todos tivemos um esforço adicional de aprendizagem do que é, como se faz e organiza e que instrumentos são necessários para um projecto deste calibre (o total do projecto em termos de financiamento ascendia a mais de um milhão de euros), começamos aos poucos, ajudados pelos outros parceiros, os trabalhos que nos estavam atribuídos: uma pesquisa sobre os perfis de trabalho emergentes, conduzida pela Melting Pro e aplicada em Portugal, Grécia e Itália, que seria essencial para aferir e decidir se os perfis profissionais emergentes identificados pelo eCultSkills poderiam ser utilizados para a criação dos produtos deste projecto, agora identificados como o caminho de aprendizagem do Mu.SA, um MOOC, um curso de especialização e um estágio final em contexto de trabalho.

Caminho de aprendizagem Mu.SA

Daquele estudo inicial resultaram algumas publicações como Museum Professionals in the Digital Era – Agents of change and innovation, Emerging Job Profiles for museum professionals e Museum of the Future – Insights and reflections from 10 international museums, na qual o ICOM Portugal não teve uma participação direta, mas apenas de apoio aos colegas.

Passada essa fase inicial, o trabalho seguinte (e exigente) era o da criação dos conteúdos dos cursos do projecto: MOOC e curso de especialização. Ao ICOM foram atribuídos 6 módulos. Um para o MOOC: Creative thinking skills; e os restantes para o curso de especialização: Analyse and synthesize information, Resilience, Interpersonal skills, Influence / persuasion skills e Integrity / ethical. Nestes foi essencial o trabalho da Ana Carvalho (na criação e coordenação) e do Manuel Pizarro (na criação de módulos) que, seguindo uma metodologia muito exigente, criaram cada um dos módulos especificamente para a parte do curso, alunos e exigências que foram pré-determinados pelo consórcio nas reuniões preparatórias. Sou testemunho que ambos tiveram um enorme trabalho para alcançar os resultados e a qualidade que o ICOM Portugal pretendia e confesso o orgulho de ter lido nas avaliações dos módulos e ouvido de vários alunos dos cursos o reconhecimento da qualidade dos módulos que produzimos. Devo dizer também que a colaboração do José Barbieri foi também fundamental para o desenvolvimento de alguns conteúdos que o ICOM Portugal produziu neste projecto, como o vídeo sobre Ética, um tema muito caro para nós.

Ética nos museus nesta era digital

Uma boa parte dos conteúdos produzidos pelo consórcio, agora transformados em OERs (Open Education Resources), estão disponíveis para reutilização no site do projecto. Usem e divulguem o quanto quiserem.

Além da produção dos conteúdos, o ICOM Portugal participou também na organização e realização dos diferentes cursos do projecto. Seja com tutorias, acompanhamento de alunos, esclarecimentos sobre conteúdos, discussões nos fóruns do curso, etc. a Ana Carvalho, o Manuel Pizarro e eu próprio, acompanhamos de perto todas as actividades do processo de aprendizagem até ao fim do curso de especialização e, de forma menos intensa, durante o acompanhamento dos estágios nos museus (cujo sucesso se deve ao enorme empenho da UP e, especialmente, da Paula Menino Homem).

Paralelamente a todo este trabalho, eu, a Ana, o Manuel, o José e a D. Olinda, tivemos ainda que gerir o projecto administrativa e financeiramente, promover e disseminar todo o trabalho do projecto, organizar eventos anuais (nacionais e internacionais), criar ferramentas de divulgação, entre muitas outras pequenas, mas consumidoras de tempo, tarefas. Aliás, se há algo que me orgulho particularmente neste projecto, que se deve em grande parte ao empenho da Ana Carvalho, é a divulgação que fizemos durante estes 3 anos e meio. Foram vários artigos e comunicações em revistas e conferências especializadas que trouxeram ao Mu.SA e ao ICOM Portugal, em primeiro lugar, mas também à equipa do projecto, o reconhecimento por parte de diversos colegas, museus, universidades e do próprio ICOM a nível internacional.

A cada passo, o ICOM Portugal deu conta disso mesmo, como podemos ver no site.

Uma nota final de agradecimento

Começamos por ser um conjunto de organizações que se juntaram com o propósito de “abordar diretamente a escassez de competências digitais e transferíveis identificadas no setor dos museus” através da criação das ferramentas de aprendizagem, os cursos e o estágio, e de um conjunto de outros resultados importantes, para acabarmos como um conjunto de organizações e equipas com a convicção do dever cumprido, confirmado pela aprovação do relatório final do projecto pela Comissão Europeia e consequente pagamento da totalidade da bolsa inicialmente prevista.

Neste momento de satisfação e de sensação de dever cumprido, não posso deixar de agradecer à equipa do projecto Mu.SA no ICOM Portugal (à Ana, ao Manuel, ao José e à D. Olinda) pelo fabuloso desempenho e empenho. Não posso deixar de agradecer também às duas direcções do ICOM Portugal que acompanharam o projecto, pelo contínuo apoio e dedicação. Nas pessoas do José Alberto Ribeiro, cuja direcção acolheu o projecto, e da Maria Jesus Monge, cuja direcção o conseguiu finalizar, deixo o agradecimento de todos nós a todos os colegas de ambas as direcções pela coragem em aceitar um projecto tão complexo, mas também tão necessário para os profissionais de museus em Portugal. Não posso me esquecer de agradecer também à Paula Menino Homem, da Universidade do Porto e ao Ivo Oosterbeek, à Ana Fernambuco e à Inês Bettencourt da Câmara, da Mapa das Ideias, membros do fabuloso “cluster” nacional do Mu.SA, por toda a ajuda, colaboração e apoio nos momentos mais difíceis. Por fim, um agradecimento também para todos os parceiros/amigos internacionais do Mu.SA. Em cada um deles conheci pessoas maravilhosas, competentes e empenhadas em fazer o melhor pelo sector dos museus. Muito obrigado a todos!

Acabo este projecto muito melhor do que entrei! A aprendizagem do Mu.SA foi extraordinária e deu-me uma perspectiva diferente sobre diversas áreas do sector dos museus que serão importantes para mim e para a forma como vejo o futuro dos museus a nível internacional. Espero, de forma muito sincera, que após esta pandemia possamos todos aprender que os museus precisam de muito mais que uma simples discussão sobre os benefícios/prejuízos da introdução do “digital”, mas sim de uma reformulação completa dos instrumentos que usamos para a gestão, divulgação, educação e estudo das nossas colecções e dos instrumentos e métodos que usamos para nos avaliarmos. Saibamos nós aproveitar realmente esta oportunidade!

Obrigado uma vez mais a todos!

Virtual vs Físico. A luta não existente

Virtual vs Físico. A luta não existente

Ontem, e em boa hora, participei no colóquio digital do ICOM Portugal que tinha o sugestivo título “Como sentir (na web) o peso do ar e da pedra?” e foi suscitado pelo texto provocatório da Patrícia do Vale com o seguinte título “Tudo será ainda instagramável? O museu por reinventar”. No debate fiquei ainda mais certo daquilo que tenho dito, em diversos locais, sobre esta dicotomia do Virtual vs Físico e da inexistência de uma luta titânica entre estes dois aspectos das nossas vidas.

Colóquio Digital ICOM PT

São vários os pontos que abordei durante o debate, mas tal como lá, vou aqui organizá-los em 5 pontos (lá foram 4 na intervenção inicial e depois acrescentei mais um durante o debate):

  • Políticas e Gestão
  • Conteúdos
  • Formação
  • Acessibilidade
  • Avaliação

Políticas e Gestão

Uma declaração primeira que nada tem a ver com o digital, mas que me irritou durante este tempo de confinamento. Não é possível compreender que instituições de referência, por causa de dois ou três meses de confinamento, coloquem em causa o trabalho de um conjunto de profissionais que lhes têm valido reconhecimento e louvores aos anos. Neste caso não é luta do digital vs físico, mas sim uma luta de valores e missão.

Relativamente à gestão a pergunta que se deve fazer é: que museus tinham pensado numa estratégia digital antes do COVID-19? Sem grande risco, julgo que é seguro dizer que muito poucos o tinham feito, certo? Ou seja, durante esta quarentena, os museus não responderam com um instrumento pensado previamente, sendo pró-activos antecipadamente, mas sim de forma reactiva a (vários e grandes) problemas que foram colocados aos museus. Na reacção notamos as diferenças entre museus. Especialmente nos recursos (financeiros e humanos) que têm à sua disposição, mas também nas assimetrias que o país não tem conseguido resolver. A tal luta entre Virtual vs Físico que digo não existir, deve ser vista como uma luta em integrar o digital naquilo que já existia antes, ou seja, o museu físico, as suas colecções e a relação entre estes e as suas audiências.

Conteúdos

Aqui a luta entre Virtual vs Físico é sempre mais polémica. A constituição de colecções digitais, representativas das físicas, tem levantado um conjunto de questões ao longo dos anos que entendia no passado, mas que agora me parecem cada vez menos admissíveis. O objecto digital não pretende substituir o físico, é uma impossibilidade! No entanto, o meio digital dá aos museus a oportunidade de produzir informação e conhecimento, ou melhor, de deixar produzir conhecimento a todos os que possam ter acesso, em cima do conhecimento que os museus detêm.

Além disto, como também mencionou a Laura Castro, a linearidade com que os produzimos, em tudo semelhante aos processos que herdamos da transmissão do conhecimento em suportes físicos, precisa de ser repensada tendo em consideração as diferentes valências que o meio (mencionado e bem pela Isabel Victor) proporciona.

Formação

Este é, sem qualquer dúvida, um dos calcanhares de Aquiles nos museus portugueses (e não só). A formação existente na área dos museus não abrange a complexidade do universo digital em que estamos inseridos. Nas diferentes áreas (documentação, conservação, gestão, mediação, comunicação, etc.) de actuação do museu há um conjunto de desafios que são colocados diariamente aos museus pela crescente actualização tecnológica, pela obsolescência constante, pela procura do “trendy”, pela novidade do tema ou simplesmente pela necessidade que embatem de frente com a ausência de competências digitais apropriadas nos profissionais de museus.

Este é um problema que o ICOM Portugal procurou enfrentar, participando no projecto Mu.SA, desenvolvendo com um conjunto de parceiros europeus um caminho de formação (MOOC e Curso de Especialização com Estágios em museus), focado na aquisição destas competências para 4 perfis profissionais emergentes na área digital. Sobre a ausência das competências digitais sentida nos museus e seus profissionais, os mais de 5000 inscritos no MOOC falam por si só.

Acessibilidade

O acesso é o maior argumento para quem é ainda relutante a juntar-se à luta de integração do virtual no mundo físico (espero que a este ponto já se tenham esquecido da luta Virtual vs Físico). Com as colecções digitais podemos dar acesso a quem está (literalmente) do outro lado do mundo. No entanto, importa não esquecer que não resolve tudo. A exclusão aqui mantém-se e deve ser um problema a colocar em cima da mesa sempre. Não só a infoexclusão (que per si é um grande problema ainda), mas também a exclusão económica e social que experimentamos neste período da pandemia com uma quantidade considerável de estudantes, que se viram privados de continuar a escola por não terem um computador disponível, por exemplo.

Avaliação

Por último, o ponto que introduzi no debate apenas, suscitado por outras intervenções, a avaliação. Ou melhor, uma reflexão que é necessária fazer sobre a avaliação para não continuarmos a insistir no número de visitantes para premiar os museus (agora temos mesmo que pensar noutras formas), mas também para não continuarmos a avaliar o universo digital pela relevância dada por cliques, por um bom SEO, por algoritmo Google, etc., mas sim por indicadores que tenham em consideração a qualidade com primazia sobre a quantidade.

E daqui em diante. Que museu queremos reinventar?

Temo, muito sinceramente, que não o queiramos reinventar. Temo que o esforço e as reflexões que tivemos durante este período caiam no esquecimento após o levantamento total das restrições. Temo que voltemos a visitar “em bando” e aos magotes o Louvre, o British, o Prado, o MNAA, etc., e que celebremos de novo as exposições e salas cheias de gente (e eu gosto de ver os museus cheios de gente, não me interpretem mal). Mas temo, acima de tudo, que nos esqueçamos que este susto enorme é uma das melhores oportunidades que tivemos para mudar o rumo das coisas e repensar o museu que queremos ter no século XXI.

Uma linda oportunidade que, em meu entender, poderíamos ter aproveitado para o efeito com a abertura dos concursos dos museus e palácios nacionais (que têm a boa notícia de pedir profissionais com formação em museologia), mas que, em boa parte, desperdiçamos. Um outro assunto, que se interliga, mas que terá texto próprio.

Museus Hiperconectados: Novos Desafios e Perspectivas – entrevista

Museus Hiperconectados: Novos Desafios e Perspectivas – entrevista

No último número do boletim do ICOM Portugal encontram uma entrevista que dei à Ana Carvalho sobre os desafios da aplicação da tecnologia nos museus e do actual momento destas instituições face ao mundo digital em que vivemos. Este número do boletim centrou-se no tema proposto este ano pelo ICOM para o Dia Internacional dos Museus “Museus Hiperconectados: Novos Desafios e Perspectivas” e trabalhando eu há alguns anos em museus e tecnologias a Ana lembrou-se de mim para esta conversa e eu agradeço reconhecido pela oportunidade de falar sobre vários assuntos que me interessam em termos académicos e profissionais.

Na entrevista, como poderão ler aqui, começamos na minha visão do estado actual da questão, até a uma perspectiva do que irá ser o futuro, não esquecendo as questões que agora se têm colocado relativamente às tecnologias utilizadas pelos museus e nos museus. Haveria sobre este assunto muito mais a dizer e certamente outras visões, bem mais informadas do que a minha, poderiam completar o que me parece ser o actual panorama. No entanto, julgo ter abordado uma boa parte das minhas inquietações sobre a relação, nem sempre estimada, museus/tecnologia.

Nela abordo também, dado que a relação é directa, a ausência total de uma verdadeira política museológica no país que possa preparar os museus para enfrentar os desafios digitais (e outros) de forma consequente e a médio prazo. Esta ausência afecta, em meu entender, a definição de equipas, de conteúdos, de competências, de recursos, etc. que possam levar os museus portugueses a competir com outros equipamentos culturais. Afecta também a capacidade de organização em rede pelos museus e vai acabar por desperdiçar o muito que foi conseguido em tempos com a Rede Portuguesa de Museus. Afecta a ligação dos museus com a academia como lugares relevantes para a experimentação,  inovação e integração. Esta ausência de política museológica em Portugal afecta de forma transversal todas as áreas do museu e, como tal, mesmo não sendo um desafio digital, julgo que será o maior que temos em mãos.

O restante boletim é excelente, na continuação do importante trabalho que a Ana Carvalho tem tido nos últimos anos, por isso recomendo vivamente a leitura e aguardo alguns comentários vossos sobre a entrevista se assim quiserem!

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Contributo para uma política de museus em Portugal

Contributo para uma política de museus em Portugal

Ele é festival da canção, visita de Sua Santidade, o Papa Francisco, Benfica tetra campeão, PIB a subir, défice e desemprego a descer, sinais de recuperação e entusiasmo em todo lado! Vivemos certamente o melhor momento dos últimos anos, pelo menos até olharmos, como o ICOM PT fez, e bem, para o panorama actual dos museus em Portugal que resultou neste importante contributo para uma política de museus em Portugal. Política essa que é necessária e urgente, segundo o próprio ICOM Portugal, e na qual me revejo por completo.

ICOm Portugal

Já o fiz há tempos, mas volto a colocar a questão: qual dos meus amigos, colegas de profissão, que não se recorda com saudade do tempo em que se criou o IPM, a RPM, a Lei-quadro de Museus, etc? Julgo que não corro o risco de ser muito optimista se disser que quase todos nós pensaríamos então que não seria possível voltar atrás e regredir até ao ponto a que chegamos actualmente, não é? O documento agora publicado pelo ICOM Portugal reflecte bem o ponto de situação actual nos museus portugueses. Aborda o esquecimento da RPM, a não aplicação da Lei-quadro, a situação difícil em que se encontram vários museus em Portugal (alguns até se encontram fechados), a inexistência de estratégia, o desrespeito pelos profissionais e pelos orgãos de consulta previstos na Lei, entre outras situações. Diz, a propósito do tema do Dia Internacional de Museus, aquilo que, há uns anos, pensariamos ser indízivel, mas que infelizmente é hoje uma realidade.

Mas o ICOM Portugal não fica por aqui. Seria, porventura, fácil fazer este ponto de situação com maior ou menor rigor. No entanto, o documento agora publicado pelo comité nacional do ICOM vai mais longe e apresenta um conjunto de linhas de força para uma política museológica nacional, 7 ao todo, que têm como objectivo definir um conjunto de prioridades essenciais para os museus e seus profissionais. A saber:

  1. Autonomização do setor dos museus na orgânica da Cultura;
  2. Revitalização da Rede Portuguesa de Museus;
  3. Reactivação do Observatório de Actividades Culturais;
  4. Cumprimento da Lei-quadro dos Museus Portugueses;
  5. Flexibilização dos modelos de gestão dos museus;
  6. Dignificação dos profissionais;
  7. Internacionalização dos museus e dos profissionais de museus.

política de museus em Portugal

Serei, porque faço parte dos actuais órgãos sociais do ICOM Portugal, imparcial e pouco objectivo na
análise da relevância e importância deste documento para o momento que vivem os museus em Portugal, mas gostava que o lessem e pudessem reflectir sobre este assunto. O documento não pretendem fechar um debate, mas sim suscitar o debate sobre os problemas que os museus e os seus profissionais enfrentam actualmente. O mínimo que todos podemos fazer é ler e contribuir para esta importante discussão. Se queremos museus como centros de conhecimento, debate, desenvolvimento, discussão, etc., temos que reflectir sobre as condições que estas instituições têm para cumprir as suas missões.

Ao ICOM Portugal fica aqui um agradecimento pessoal por esta excelente prenda no Dia Internacional de Museus.

O documento está disponível no site do ICOM Portugal.

5 motivos para ser membro do ICOM

5 motivos para ser membro do ICOM

icomcard

Uma colecção de vinhetas

Este ano, segundo as vinhetas que estão na parte de trás do meu cartão do ICOM, faz 12 anos que sou membro desta organização filiada da UNESCO que reúne mais de 35.000 membros entre instituições e profissionais de museus de 136 países/territórios, que conta com 119 comités nacionais e 30 comités internacionais dedicados a diversas áreas de interesse/estudo/investigação em museus e museologia.

Ao longo destes 12 anos aprendi imenso nesta organização, mas gostava de partilhar com vocês os motivos que justificam, na minha opinião, a adesão e manutenção como membro de uma organização desta natureza.

 

Uma lista com os meus 5 motivos

 

1. A ética profissional – O ICOM é uma rede de profissionais de museus que se assume como uma força de liderança em termos de ética profissional. Ou seja, o ICOM é a instituição que mais se aproxima das características de uma Ordem profissional, com a vantagem de o ser a nível internacional, sem alguns dos aspectos negativos relacionados com um corporativismo fechado e centrado apenas nos aspectos de defesa de determinada profissão. A publicação do Código de Ética do ICOM (PT) e a sua tradução por vários comités nacionais (recordo que a organização apenas tem 3 línguas oficiais – Inglês, Francês e Espanhol) tem permitido, ao longo dos anos, uma consistência e regulação informal daquilo que são os deveres profissionais de quem trabalha em museus.

 

2. O desenvolvimento da Sociedade através dos Museus – O ICOM é, apesar das dificuldades, um fórum de debate e reflexão com diferentes perspectivas sobre o papel social que o museu pode e deve desempenhar na sociedade actual. Promove um debate, ainda que com algumas falhas, sobre o papel de mediação que o museu deve assumir entre o património cultural e o público, tem programas associados com o turismo cultural, procura debater, recorrendo em grande medida à celebração do Dia Internacional de Museus, temas que promovem a mudança e a procura de uma sociedade mais aberta e equitativa.

 

3. A formação dos novos profissionais – O simples facto de ser uma rede de profissionais, ou seja de pares, é relevante para que alguém que se inicie na profissão se torne membro. Haverá melhor forma de aprender com o exemplo de outros colegas, com o debate que uma rede desta natureza pode promover ou com o conhecimento partilhado por colegas de todo o mundo que lidam, ou já lidaram, com os problemas que nos são colocados no início da carreira? Eu aprendi as bases sobre documentação em museus com os artigos e apresentações de outros membros do CIDOC e muito sobre outras áreas com colegas do comité nacional português que a elas se dedicam!

 

4. Normas e guias práticos – no seguimento do ponto anterior (e talvez aquilo que é mais procurado por um novo profissional o ICOM), o desenvolvimento, pelos comités internacionais de diferentes especialidades, de normas e guias práticos que nos auxiliam a cumprir com rigor as tarefas atríbuídas aos profissionais de museus. Não só dos que são reconhecidos pelo conselho executivo do ICOM, mas também por outros, de carácter mais específico, que são desenvolvidos e publicados por comités internacionais e nacionais, como é o caso da Declaração de Princípios de Documentação em Museus publicada em 2012 pelo CIDOC (e traduzida para Português pelos colegas do SISEM-SP em São Paulo, Brasil).

 

5. A rede de profissionais (e amigos) – não será o último dos motivos que poderia ainda apontar, mas é, talvez a par da ética profissional, um dos mais relevantes para mim. Ao longo deste ano conheci e aprendi com inúmeros profissionais de museus de todo o mundo que me fizeram olhar para a minha profissão de forma mais aberta e abrangente. Conhecer pessoas de outras latitudes e longitudes, com outras expectativas, com formação distinta, das mais diversas culturas fazem-nos crescer a nível profissional e, principalmente, a nível pessoal. Em boa verdade, nestes 12 anos, conheci profissionais de países como o Bangladesh, Japão, Chile, Quénia, Zimbabwe, África do Sul, Angola, Moçambique, Brasil, Espanha, Reino Unido, Suíca, Alemanha, Estados Unidos da América, Canadá, França, Estónia, Índia, Rússia, Itália, Grécia, Marrocos, Emiratos Árabes Unidos, Austrália, Eslovénia, Dinamarca, Roménia, Bulgária, China, entre outros. Também nestes 12 anos e por conta da participação em conferências internacionais do CIDOC ou noutros fóruns que conheci através do CIDOC estive em e conheci (ainda que brevemente) países como o Chile, a Roménia, a Grécia, o Reino Unido, o Brasil ou a Alemanha e fico roído por não poder ter ido no ano passado à Índia! O que aprendi com essas pessoas e nestes países dá-me uma visão mais completa sobre as exigências da minha profissão! Os amigos que fiz nestas andanças, fazem de mim, sem qualquer falsa modéstia, muito melhor pessoa.

 

Certamente poderia apontar mais motivos. Estes são os 5 primeiros que me ocorrem sempre que me perguntam porque faço parte do ICOM e, porventura, não serão os que vos farão aderir ao ICOM ou os que fazem com que outros membros se tenham inscrito e se mantenham membros, mas se precisarem de outros poderão ver as 3 razões que o próprio ICOM aponta para ser membro (entre elas há descontos nos museus e nas lojas dos museus) e, ainda, o facto de ser dada preferência às inscrições dos membros em eventos tão interessantes (e importantes) como a conferência internacional “Museums: one object, many visions?” que terá lugar no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, no próximo dia 22 deste mês e que trará a Portugal o presidente do ICOM.

Se este texto suscitou o vosso interesse em ser membro do ICOM, vejam como podem fazer a inscrição e as condições exigidas aqui.