Porque é impossível NÃO gostar de museus!

Porque é impossível NÃO gostar de museus!

Por vezes, raras devo dizer, pergunto-me porque raio escolhi trabalhar em museus? A Cultura, todos sabemos, não é um sector fácil. Não é uma actividade que nos permita, pelo menos à maioria, ter rendimentos elevados. Exige estudo, contínua actualização, horas de volta de documentos em arquivos ou de objectos em reserva, preocupação e interacção directa com o público, conhecimentos de gestão, de comunicação, etc., mas na realidade todas as vezes que me pergunto sobre o porquê desta escolha a resposta é sempre a mesma: Porque é impossível não gostar de museus! E comigo foi amor à primeira vista!

No entanto, há momentos em que a dúvida nos assalta, não é? Pensamos que estaríamos melhor a vender casas, a trabalhar numa Google, aos comandos de uma grua qualquer, na City londrina preocupados com as consequências do Brexit ou, ainda, a produzir uma belo vinho no Douro. Acho que o mesmo acontece em todas as áreas e é legítimo que assim seja, mas nesses momentos é importante ter guardados alguns links que nos lembrem porque continuamos na luta.

Hoje guardei aqui nos favoritos mais um link que me irá ajudar num desses momentos. É um link com o feed de uma batalha épica entre dois dos museus museus favoritos, o Science Museum e o Natural History Museum de Londres! Uma batalha iniciada com um tweet de @bednarz durante o evento #askacurator do Natural History Museum sobre quem ganharia uma batalha entre as equipas dos dois museus e como as colecções as ajudariam na contenda. O tweet é o seguinte:

A batalha que se seguiu entre os museus é épica e, pelo menos a mim, lembra-me porque gosto de trabalhar em museus. A batalha, como diz no link que a apresenta, é muito educativa. É feita com as armas (objectos) de cada colecção de forma inspirada e despida da linguagem institucional que ainda vemos utilizada por muitos museus nas redes sociais. Utiliza os objectos mais antigos, mas chega também às mais recentes impressões 3D.

Mostra a diversidade e complexidade de duas grandes colecções e fez-me – acho que isso é o mais interessante – pesquisar um pouco mais para perceber melhor as respostas a alguns dos ataques. É brilhante, não vos parece?

É impossível não gostar de museus, não é?

Museus nas Redes Sociais. Guia Básico Para uma Futura Co-Participação Sustentável – Sandra Senra

Museus nas Redes Sociais. Guia Básico Para uma Futura Co-Participação Sustentável – Sandra Senra

Dando resposta ao desafio lançado por Alexandre Matos, no sentido de contribuir para o crescimento do seu Speaker´s Corner, e desde já agradecendo o convite que me dirigiu há quase um ano, optei por apresentar o meu contributo com uma temática sobre a qual tenho dedicado maior atenção desde há cerca de dois anos e meio para cá (e porventura de alguma forma previsível para o autor deste blogue), que se relaciona com as potencialidades que as redes sociais podem oferecer às instituições museológicas.

O conceito não é novo. Tem vindo a ser repetidamente proferido por reconhecidos palestrantes em infindáveis encontros, seminários e conferências. Já para não mencionar as incomensuráveis teses e artigos que dissecam a temática. Um lugar comum, como reiteradamente  e comummente o nominamos. As novas tecnologias transformaram a forma como vivemos e percecionamos o mundo. Uma afirmação que é uma inevitabilidade e à qual dificilmente nos podemos opor. E aqui podem inserir-se não apenas os engenhos utilitários, que nos descomplicam o dia a dia das nossas tarefas, mas da mesma forma aquele novo mundo dotado de ubiquidade a que apelidamos de Internet. E, na atualidade, não podemos falar de Internet sem versarmos sobre o tema das redes sociais, ou social media, um fenómeno vertiginoso que potenciou a conectividade e interatividade relacional entre usuários virtuais e sobre a forma como estes passaram a adquirir, a gerar e a partilhar informação.

O tema da utilização das redes sociais em museus é discutido há quase uma década (ou até há mais), mas persiste em captar o interesse de inúmeros investigadores por todo o mundo, que a este nível partilham e explanam os diferentes modelos de atuação dos museus aderentes. Por outro lado, continua a fomentar o surgimento de inúmeras plataformas de discussão online, que certificam as potencialidades destes novos instrumentos de comunicação e de partilha, gratuitos ou de baixo custo. Do mesmo modo, também as próprias instituições museológicas passaram a divulgar a originalidade dos seus programas desenvolvidos nestas plataformas, quer em apresentações públicas, quer nos seus próprios websites ou blogues de discussão, demonstrando as suas valências, mas igualmente as suas debilidades de utilização, por meio da apresentação de registos de avaliação, quer quantitativos como qualitativos.

A primeira questão que se pode colocar: qual o verdadeiro contributo das redes sociais para as instituições museológicas? As redes sociais são hoje plataformas singulares que convidam e agregam comunidades distintas, incitando-as a criar laços de amizade, a discutir as mais variadas temáticas, a gerar ideias e a produzir conteúdos diversificados, em formato de texto, fotografia, vídeo ou áudio. E é nessa diversidade de participação que reside a riqueza do conhecimento e da aprendizagem. Assim sendo, marcando presença nas redes sociais, os museus podem: aproximar a instituição das comunidades online por meio de uma conversação próxima; promover a participação das comunidades online, de forma multidirecional, interativa e colaborativa, considerando as suas representações heterogéneas; permitir a partilha de experiências e a construção de novos conceitos – inspirar os seus públicos; possibilitar a disponibilização e a receção de conteúdos em vários formatos; fidelizar públicos e construir novas comunidades; e também publicitar e divulgar conteúdos institucionais de uma forma massiva, dando resposta aos usuários virtuais interessados, por exemplo, nas suas exposições, programas, atividades ou conteúdos que disponibilizam, normalmente relacionados com as exposições e coleções, apenas acessíveis aos visitantes in loco.

A segunda questão que se pode colocar: quais são as principais características destas redes e como podem as instituições museológicas utilizá-las? Nos últimos anos têm surgido infindáveis plataformas de comunicação multidirecional, sendo que entre as mais populares encontramos o Facebook, o Twitter, o Flickr, o YouTube, o LinkedIn, o Delicious, o SlideShare, o Issuu, os Blogues, as Wikis, o Foursquare, o Pinterest ou o Instagram. E são já muitas as instituições culturais por todo mundo que as utilizam como forma de potenciar a sua missão e objetivos. Estes organismos souberam compreender as suas potencialidades, não só pelo seu poder de alcance, mas igualmente pela possibilidade de poderem encetar uma conversação instantânea e permanente com os seus públicos e com eles partilhar e coproduzir novos conteúdos de informação e de debate. Importa, por isso, conhecer algumas dessas plataformas e compreender quais os proveitos que um museu pode alcançar com as particularidades de cada uma delas, para que no momento que seja eleita a rede na qual pretende estar presente, possam ser conhecidas as suas potencialidades e de que forma estas podem auxiliar o museu a dar cumprimento ao seu objetivo.

O Facebook permite publicar e partilhar textos, vídeos, imagens, mas também aprovar com “Gosto” os conteúdos de interesse. A interação é imediata e há a possibilidade de mediação nos conteúdos. Os museus podem utilizar esta plataforma para encetar uma conversação e discussão crítica com os seus usuários associados (amigos ou fãs), mas também como meio de interação e de partilha de ideias, que podem assumir um formato formal ou informal. O museus podem ainda divulgar os seus conteúdos institucionais, as exposições, as atividades, recentes e futuras, e demonstrar a dinâmica interna da instituição, por meio de fotos ou vídeos. O perfil empresarial (fan page) é aquele que mais se adequa às instituições culturais, pois não tem restrição no número de fãs, ao contrário da páginas de perfil pessoal, cujo limite é de cinco mil amigos.

O Twitter consiste num serviço de envio e publicação de mensagens instantâneas, com um número limitado de carateres, o máximo de 140, a que se designam tweetts. Os usuários deste serviço além de poderem publicar, têm a possibilidade de subscrever (ou seguir) publicações de outros usuários, comummente designadas por tweeps, e cujo conteúdo pode ser tornado público ou privado, de forma rápida e direta. Podem também fazer retweet, ou seja, replicar mensagens dos seus seguidores que considere interessantes, no sentido de partilhá-las com todos. Quando os usuários têm temas de interesse comuns e não querem perder informações sobre os mesmos, precedem a palavra do tema em questão com o símbolo #, denominado por hashtag. Os museus podem utilizar esta plataforma para divulgar instantaneamente as suas atividades. Têm também a possibilidade de fazer retweet a conteúdos interessantes publicados por outros usuários e seguir as suas publicações, tweeps, que podem relacionar-se, ou não, com a própria instituição.

O Flickr permite que os seus usuários armazenem fotografias, documentos gráficos ou vídeos, com vista à sua visualização e partilha com outros utilizadores. Os conteúdos são arquivados por meio de etiquetas, designadas por tags. Os museus utilizam esta plataforma para realizar intercâmbios de fotografias com os seus seguidores, muitas relacionadas com o edifício do museu, com as exposições ou atividades educativas que desenvolve, de um ponto de vista mais institucional ou informal. Podem também ser criados grupos com temas específicos para dar voz aos seus diferentes públicos.

O YouTube está ligado à comunicação audiovisual. Permite a publicação, visualização e audição de vídeos, pessoais, musicais, filmes, programas de televisão, etc. Nesta plataforma, os seus usuários podem interagir por meio de partilha de vídeos e de comentários aos mesmos. Os museus no YouTube podem interagir de forma imediata com os seus usuários através de comentários. Podem ainda publicar vídeos produzidos por si, quer sejam oriundos das conferências onde participa ou sobre as suas ações, como sendo das exposições, dos artistas, dos curadores, das obras, das atividades educativas, etc.

O LinkedIn consiste numa rede profissional para pessoas individuais, empresas e grupos de discussão. Os seus usuários podem associar-se diretamente a outros indivíduos, mas também a grupos específicos, de acordo com os seus interesses profissionais e conhecimentos que pretendem adquirir. Por outro lado, podem também procurar pessoas, oportunidades de trabalho recomendadas ou transformar-se em potenciais candidatos para determinados empregadores, que previamente avaliam o seu perfil público. O LinkedIn possibilita ao museu criar o um perfil com a sua missão, objetivos e interesses, e associar-se aos usuários da plataforma, dentro do mesmo âmbito profissional ou não. Permite que as instituições, sob a forma de membros, empresas ou grupos da mesma área, estabeleçam relações profissionais.

O Delicious alicerça-se no conceito de social bookmarking, que permite a gestão de endereços eletrónicos, que primitivamente eram armazenados nos computadores pessoais. Esta plataforma permite colecionar conteúdos da Web, sejam eles vídeos, fotografias, twetts, post ou artigos, e organizá-los por temáticas com diferentes designações (folksonomia – terminologia relacionada com a classificação livre de conteúdos), com vista à sua publicação e partilha com amigos usuários, que poderão participar, de igual forma, no crescimento dos conteúdos publicados, através do intercâmbio de informações. Um museu com Delicious pode compartilhar conteúdos através de bookmarks e os utilizadores dessa ferramenta podem permutar opiniões ou informações acerca dos conteúdos disponibilizados, sobre, por exemplo, temáticas relacionadas com as suas atividades. A popularidade do Museu pode ser determinada pelo maior ou menor número de tags (etiquetas) que possui.

O Slideshare possibilita a publicação de trabalhos em formato PDF, Word, OpenOffice ou de diapositivos PowerPoint ou Keynote. Estes conteúdos podem ser partilhados de forma pública ou privada. Os utilizadores de Facebook podem aceder sem necessitar de registo. Alguns museus utilizam esta rede para colocar online os PowerPoint que apresentam em conferências ou apresentações públicas sobre o museu e as suas ações, permitindo a sua leitura virtual e a possibilidade de as descarregar.

O Issuu permite a publicação digital de documentos em diversificados formatos, com vista à sua partilha para leitura virtual, à semelhança do Slideshare, mas também à sua descarga ou impressão. O Issuu permite folhear o documento virtualmente, sejam revistas, livros, jornais, catálogos, etc., de forma muitíssimo realista. Os usuários que pretendam consultar algum dos documentos referidos a partir do seu telemóvel, podem fazê-lo por meio de uma aplicação. Os museus utilizam o Issuu para publicar documentos com conteúdos sobre as exposições, artistas, obras e atividades educativas que desenvolvem, permitindo que todos tenham o acesso às mesmas.

Os Blogues possuem características que se assemelham às de um diário. Permitem a inserção de artigos diversificados, designados comummente por posts, sendo que a sua disposição se organiza por data de publicação e categoria dos conteúdos introduzidos, que podem assumir a forma de texto, imagem, vídeo ou links de páginas da Web. Os Blogues podem subsistir do ponto de vista unipessoal, mas igualmente corporativo. Ambas as tipologias possibilitam a participação ativa de outros usuários, conhecidos por bloguers ou bloguistas. Os Blogues podem ser utilizados pelos museus no sentido da divulgação dos conteúdos relacionados com as suas atividades, exposições ou de difusão da dinâmica interna do museu, mas também devem ser utilizados como plataforma de discussão crítica ou de acesso a outros temas de interesse, relacionados ou não com o perfil do museu, por meio de RSS (Rich Site Summary).

Nas Wikis a construção dos conteúdos é feita de forma colaborativa por internautas. Os seus colaboradores usuários podem criar, modificar ou apagar conteúdos produzidos, por forma a torná-lo credível. A plataforma mais conhecida que se fundamentou neste paradigma é a Wikipédia, uma enciclopédia coletiva que tem vindo a melhorar os seus conteúdos nas suas mais diversas temáticas. Alguns museus já conseguiram entender o poder da Wikipédia, apesar da inexatidão de muita informação que ali é colocada. Para evitar equívocos e imprecisões, e no sentido de contribuir para a correção dos conteúdos, os museus começaram a colocar as informações sobre a instituição e coleção (conteúdo histórico, artístico, cultural, geográfico, etc.), para que a informação passasse a ser oriunda de fonte fidedigna.

O Foursquare possibilita aos seus usuários procurar, localizar e compartilhar locais específicos com amigos usuários perto de um local onde se encontram, por meio de uma aplicação com um sistema de georeferenciação para ser implementada em serviços móveis. O Foursquare é muito utilizado como guia gastronómico e cultural. Nesta rede social, os usuários têm possibilidade a introduzir opiniões e recomendações sobre o que visitaram e contribuir para a partilha de informação e de experiências. Alguns museus utilizam esta rede, no sentido de serem mais facilmente localizados por visitantes ou turistas que possuam essa aplicação nos seus dispositivos móveis.

O Pinterest permite que os seus utilizadores publiquem as fotografias que produzem, por forma a que as mesmas sejam partilhadas com outros usuários. As fotografias podem ser organizadas por álbuns de coleção temáticos (boards) e com informação acrescida. Os usuários desta rede podem interagir com outras comunidades em rede através do Twitter e do Facebook. Os museus podem fazer uso desta plataforma, organizando as suas coleções com informação sobre as mesmas e armazenando-as por conteúdos temáticos, com a finalidade de partilhá-las com todos os utilizadores.

Por fim, o Instagram possibilita a colocação online de fotos a partir de dispositivos móveis, facilitando a inserção de vários filtros fotográficos, sendo que a sua publicação nas redes sociais é instantânea. Os museus podem fotografar as suas coleções ou as atividades a decorrer nesse instante nos seus espaços, por meio deste tweett fotográfico, e publicar nas redes sociais a que estão associados, para que as mesmas possam ser divulgadas e comentadas.

A terceira questão que se pode colocar: quais são as premissas a ser consideradas antes da adesão das instituições às redes sociais? É importante que a instituição museológica defina muito bem os objetivos que pretende atingir com as redes sociais. E estes devem anteceder a adesão às mesmas. É certo que existe um certo constrangimento da sociedade para que as instituições estejam presentes nestes espaços de conversação, todavia se a instituição possui uma estrutura reduzida que não garanta o futuro da interação e conversação, o propósito da presença nas redes sociais anula-se. É, por isso, necessário preceder a adesão às redes com uma estratégia sustentável, que deve conciliar-se com próprios recursos da instituição. Assim, os museus devem refletir primeiramente sobre as seguintes questões.

1. Que motivações e contextos conduzem o museu a aderir às redes sociais?

2. Serão reposicionados os princípios e os valores da missão e objetivos do museu? De que forma?

3. Que departamentos vão estar envolvidos na elaboração da estratégia e na continuidade do projeto quando implementado? Haverá uma relação interdepartamental?

4. Qual o grau de participação das comunidades externas na construção da estratégia?

5. Como funcionará a gestão futura das redes? Quem irá  realizar a manutenção, atualização, criação, moderação e aquisição de conteúdos? Que tipo de conteúdos serão publicados? Qual o horário de publicação? Que idiomas? A publicação será diária ou faseada? Como serão recepcionados e avaliados os conteúdos produzidos pelos usuários? Como responder aos associados? Como incentivar à participação? Como reconhecer os erros da instituição? Como fazer a avaliação global desta participação, considerando os aspetos valorizáveis e os constrangimentos do programa, para poder reajustá-lo?

6. Que estratégias serão concebidas para encorajar as comunidades a participar?

7. A comunidade pode participar? De que forma? Essa informação é arquivada? De que forma?

8. A equipa contempla um gestor de comunidades mediador? Como será feita a mediação?

9. Haverá algum grupo preferencial a atingir? Qual ou quais?

10. De que forma será feita a avaliação dos impactos dessa participação?

11. Que benefícios o museu pretende alcançar com a participação das comunidades online?

Quarta, e última,  questão que se pode colocar: quais os fatores que possibilitam o sucesso dos museus nas redes sociais? A solução para o êxito dos museus nas redes sociais reside na necessidade verdadeira e despretensiosa em interagir com as comunidades online. É importante, por isso, que haja um consenso entre os valores do museu e os objetivos que pretende alcançar; que se eleja a ferramenta ou ferramentas que mais se enquadrem às necessidades do museu, para que haja sustentabilidade nas mesmas; que se considerem os recursos humanos e o tempo disponibilizado para se estabelecer a interação multidirecional; que se definam os limites da participação pública, sobre a forma, por exemplo, de um Termo de Utilização de determinada rede; que se estabeleça uma efetiva conversação com as comunidades, considerando os seus significados em relação a quaisquer conteúdos publicados pelo museu; que se considere a coparticipação, cocriação, co-curadoria, co-programação, no sentido de se valorizar as necessidades, experiências, histórias de vida, memória coletiva das comunidades online; que se construam programas específicos para diferentes grupos-alvo, pois programar para uma audiência abstrata é contraproducente, uma vez que museu pode não ter a capacidade de seguir e responder a todos os seus elementos;  que se implemente um modelo de gestão da equipa e dos conteúdos sustentável (dias e horas específicas para publicação, conversação etc., na eventualidade de não poder estar sempre online e assumi-lo publicamente em cada uma das plataformas); considerar a presença de um gestor de comunidades mediador, que deve ser conhecedor de algumas estratégias de marketing para cada uma das redes, mas também do marketing relacional (a propósito destas questões do marketing, existe uma imensa bibliografia sobre estas temáticas, como também são cada vez mais frequentes em ações de formação que auxiliam os museus nestes domínios); muito importante será também a avaliação dos sucessos e insucessos da instituição nas redes, com a finalidade de melhorar a atuação da mesma, o que implica que esta reconheça os seus erros; por fim, o museu deve saber aceitar que pode aprender e reaprender com os seus públicos e, assim, fazer parte da experiência da cidadania responsável, do serviço público e da cultura partilhada.

Cada instituição deverá avaliar como pretende estar online. Se existem muitos autores que defendem que estas podem e devem estar presentes em todas as redes sociais existentes, para que a capacidade de alcance dos conteúdos que a instituição disponibiliza seja amplificada, pessoalmente entendo que para se estabelecer um compromisso relacional online, que se espera que seja personalizado, fazer parte de todas a plataformas que pertencem ao universo 2.0 conduz ao padecimento e à dispersão desse diálogo. Sobretudo se considerarmos um museu com recursos humanos limitados. A génese das redes sociais consiste na interação multidirecional, que se espera que tenha significado para ambas as partes. Desse modo, mais importante do que ter um número infindável de amigos, para constar de páginas de ranking nacionais ou internacionais (ainda que seja esta uma das premissas que, infelizmente, tem determinado o valor de uma instituição), entendo que será mais valorizável considerar os valores e os significados gerados nessas redes entre a instituição e as comunidades, que se podem enquadrar nos princípios e valores da cultura repartida e da cidadania responsável, o que implica programar as suas ações com objetivos e sustentabilidade.

Sandra Senra

Alguns dos itens desenvolvidos no presente artigo de opinião resultam de uma investigação desenvolvida entre 2011 e 2012 que procurou avaliar a presença dos museus de Barcelona nas redes sociais, tendo sido particularizada a atuação do Museu D’Art Contemporani de Barcelona neste âmbito. Para mais informações:

SENRA, Sandra (2013), We Like MACBA. O Museu D’Art Contemporani de Barcelona e o Paradigma das Ferramentas Web 2.0 Utilizadas em Benefício do Compromisso Cívico. Porto: Universidade do Porto, Faculdade de Letras. Disponível em: http://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/66350

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© Imagem: Social Media Explained By Rocketfish Ltd

Sandra Senra – Licenciada em História da Arte (2004) e Mestre em Museologia (2012) pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Foi Técnica Superior de História da Arte na Divisão de Património Cultural da Câmara Municipal do Porto, onde realizou o inventário da Arquitetura Religiosa Portuense e o inventário dos Elementos Cerâmicos, Decorativos e de Revestimento. Ainda no seu percurso profissional exerceu funções de curadora e gestora de eventos e exposições. Desempenhou funções de docente das disciplinas de História e Geografia de Portugal e de Língua Portuguesa. No âmbito do Mestrado em Museologia realizou um estágio curricular na Casa-Oficina António Carneiro e um estágio profissional no Museu Marítim de Barcelona, tendo em ambos desenvolvido um estudo e inventário de uma coleção de Pintura. Coordenou cientificamente o 3.º Volume da Monografia Digital Ensaios e Práticas em Museologia e atualmente administra e gere a plataforma Museologia.Porto.
Cultura nas Redes: pós-conferência

Cultura nas Redes: pós-conferência

Ando num rodopio que por vezes me parece que sou o coelho da Alice no País das Maravilhas, sempre a correr e sempre atrasado, sem tempo para quase nada, tal a quantidade de assuntos e questões que tenho pendentes. No entanto, não queria deixar passar mais um dia sem deixar aqui registado um enorme agradecimento à Acesso Cultura pelo convite que me endereçou para participar na sua conferência anual, realizada na Fundação Calouste Gulbenkian, na passada segunda-feira, dia 14 de Outubro.

O agradecimento é devido não por me terem dado a oportunidade de partilhar a minha visão sobre Redes Sociais e Museus, mas sim pela oportunidade que me deram de aprender imenso com os outros oradores, entre os quais tenho de destacar, esperando que não me levem a mal os restantes, o Marc Sands (Tate) e a Linda Volkers (Rijksmuseum) e as excelentes apresentações que fizeram sobre o fantástico trabalho nas redes sociais daqueles dois museus. Eu tenho sempre presente que nada como um bom exemplo para aprender e melhorar a nossa actuação nessa área.

A Acesso Cultura e a Fundação Calouste Gulbenkian tiveram o cuidado de gravar a transmissão em directo da conferência (via Livestream) e os vídeos estão disponíveis aqui.

Cultura nas Redes: pós-conferência

Acesso Cultura – Conferência 2013

O GAM – Grupo para a Acessibilidade nos Museus depois de 10 anos de profícuo e muito interessante trabalho como um grupo de trabalho informal que tinha como objectivo melhorar o acesso aos museus a todo o público com diversas necessidades especiais passou agora a ser Acesso Cultura. Uma “associação formal, que irá abranger todo o sector cultural, pretende alargar o seu espectro de acção e de prestar os seus serviços a um leque mais alargado de instituições e profissionais.”

Uma das suas primeiras actividades é a organização de uma conferência, a 14 de Outubro, na Fundação Calouste Gulbenkian (Auditório 3), em Lisboa, sobre o mote: Cultura nas Redes: Redes sociais, novos acessos à oferta cultural. A apresentação da conferência no site da Acesso Cultura é:

As redes sociais têm vindo a alterar profundamente a forma como as instituições culturais se relacionam com os seus públicos. Esta nova realidade, em constante desenvolvimento (por vezes difícil mesmo de acompanhar) apresenta um vasto leque de oportunidades, mas também enormes desafios, considerando a falta de meios (humanos, financeiros ou tecnológicos) em muitas instituições. Nesta conferência procuraremos conhecer melhor as possibilidades que as redes sociais nos oferecem, ouviremos profissionais que, com mais ou menos meios, exploram estas ferramentas e teremos ainda a oportunidade de receber algumas dicas práticas de especialistas em redes sociais.

Preço de inscrição
Sócios: €15 / Não sócios: €25
(para os sócios institucionais, o desconto é extensível a 5 funcionários)

A ficha de inscrição, programa e informações sobre os oradores podem ser encontradas aqui.

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A Maria Vlachou (grande dinamizadora deste trabalho) lançou-me o repto de ser um dos oradores da conferência (uma maldade tendo em consideração que irei anteceder o Marc Sands, da Tate Modern) através de uma reflexão sobre a utilização das redes sociais – PARTILHAR OU PARTILHAR? EIS A QUESTÃO. Um desafio ainda assim menor do que os Museus enfrentam neste novo mundo digital.

Espero ver-vos todos lá.