Gosto quando o responsável por um museu (hoje em dia não podemos generalizar com o director, porque temos coordenadores e outros cargos para a mesma referência) começa as suas funções a avaliar as fraquezas e forças da colecção que passa a ter em mãos. É um bom sinal! A colecção do museu, independentemente da sua natureza, história e tipologia, é o seu coração, os seus pulmões, os seus órgãos. Sem ela, na minha opinião, não há museu ou o museu perde o seu sentido. A cultura material que os sustenta e está na sua génese não pode ser substituída e deve ser sempre a primeira preocupação para quem assume responsabilidade máxima numa instituição do género.
Vem isto a propósito das declarações da nova directora do Museu de Serralves ao Diário de Notícias onde Suzanne Cotter afirma que “Agora é momento de avaliar as forças da coleção, ver as áreas em que tem de ser desenvolvida e as oportunidades, para, porventura, forjar novos pilares” tendo para tal a exposição “A substância do tempo” (A maior retrospetiva de desenhos de João Martins), que inaugura brevemente, servido para que Cotter possa “descobrir a coleção ao mesmo tempo que os visitantes a vão poder descobrir”. Uma excelente notícia para Serralves, no meu entender, e para o desenvolvimento da sua importante colecção de arte.
Uma situação que, tal como afirma Cotter, não tem que implicar qualquer desvalorização do papel relevante que Serralves tem tido a nível educativo, de desenvolvimento das artes, etc., mas sim uma avaliação desse papel a nível nacional e internacional em consonância com a globalização e a interacção entre artistas de todo o mundo, servindo a colecção como base para o restante trabalho do museu.
© Imagem: Artur Machado/Global Imagens