Já há muito que conheço projetos bem interessantes de social tagging em museus através dos seus repositórios digitais nos quais o mais simples dos utilizadores pode adicionar etiquetas com informação que para ele é relevante sobre as coleções. Não são uma novidade de todo, mas o caminho ou os caminhos que abrem estão, no meu entender, ainda muito pouco explorados. Quero com isto dizer que o conceito de dar uma palavra aos utilizadores e reunir, de forma mais ou menos complexa, informação que possam ter sobre as coleções é visto de forma positiva e negativa na comunidade museológica, no entanto, tal como a maior parte das inovações na documentação de coleções dos últimos 30 anos, as suas mais valias só poderão ser confirmadas ou esquecidas depois de aplicarmos na prática, em diferentes contextos e com diferentes objetos de estudo, esse mesmo conceito. Devo dizer que a ideia me fascina e julgo que os conservadores de museus e as equipas que tratam do estudo e gestão de coleções poderiam ganhar muito com esta abertura, mas compreendo também alguma relutância quanto à necessidade do museu (e seus profissionais) manterem em alta as expectativas de credibilidade de informação que normalmente detêm junto do seu público.
Dito isto hoje fui surpreendido com este projeto dos Imperial War Museums e dos National Archives: Operation War Diary – Reports From The Front. Um projeto inovador que permite a quem quiser ajudar a classificar um conjunto de documentos (diários de diversos batalhões e companhias inglesas que estiveram em diversas frentes da guerra) de acordo com diferente tipos de informação como cronologia (data e tempo), locais, pessoas, actividade das unidades, baixas, clima, vida militar, referências, etc. que nos é introduzido por um tutorial bem eficaz e simples. O projeto conta já com boas percentagens em termos das classificações para alguns dos diários disponíveis e, infelizmente para nós portugueses, é restrito a diários de unidades militares do Reino Unido, no entanto, imagino que possa ser facilmente replicado para um mesmo projeto que o Arquivo Histórico Militar ou os Museus Militares Portugueses decidissem empreender ou para outros projetos de carácter semelhante que museus e arquivos portugueses possam ter interesse em desenvolver em parceria com a Zooniverse (responsável pela plataforma e gestão da informação recolhida), uma rede de projetos de ciência de cidadãos da Citizen Science Alliance.
Olá Alexandre, muito obrigada pelo seu post. Eu acredito muito que o social tagging, bem com outros assuntos atrelados ao conceito de folksonomia, é uma prática que desafio o universo da documentação. Profissionalmente, temos sempre que pensar na consistência da informação, mas não podemos nos esquecer nunca do “para quem” a informação é disponibilizada e no caráter dinâmico e dialógico (nem sempre consensual) da comunicação dessa informação. Assim como você, não sei se essas novas ferramentas vêm para ficar e tampouco acho que sua implementação no cotidiano de uma instituição sem muitos recursos e sem uma equipe grande seja fácil, mas os desafios que trazem em si são benéficos, pois nos fazem pensar, revisar nossas práticas e trazer mudanças. O futuro dirá! Abraço.
Olá Juliana e obrigado pelo teu comentário que é pertinente e refere alguns pontos importantes na implementação deste tipo de técnicas no quotidiano dos museus. Realmente teremos que perceber a melhor forma de integrar estas novas ferramentas, mas só o poderemos fazer tentando e errando! 🙂