Minha participação da 26ª Conferência Geral do ICOM, ocorrida entre os dias 20 e 28 de agosto de 2022, foi marcada por várias emoções. Talvez a mais evidente delas era a boa sensação de estar participando de uma conferência como esta pela primeira vez, em uma cidade tão encantadora quanto Praga. Para todos os efeitos, posso dizer que nunca havia estado em um evento da área de museus tão grande e com tantas pessoas de diversos lugares do mundo no mesmo lugar.
A perspectiva de poder conhecer novas realidades museológicas foi outro fator que me fez sempre estar muito atenta a todos os aspectos da conferência – e principalmente participar das sessões específicas dos comitês.
É importante dizer que fui à conferência com uma questão que me acompanha há um certo tempo: como a discussão sobre a decolonização de práticas documentais está acontecendo ao redor do planeta? Estaria esse assunto bem resolvido em algum lugar distante da realidade que conheço melhor, que é a brasileira?
Ao longo dos dias da conferência pude constatar que, de fato, esse tópico é algo que está na agenda de muitos profissionais. Entre as sessões dos comitês que pude acompanhar, como as do COMCOL e CIDOC, bem como do ICMEMO, pude verificar que muitas estratégias têm sido pensadas e colocadas em prática para repensar o museu na sociedade de hoje.
Muitos projetos e iniciativas que buscam colocar as comunidades no centro das ações, em processos que visam o compartilhamento de ações e visões, parecem ser, de fato, uma das propostas mais contundentes para a decolonização. Porém, como também pude perceber nas muitas falas que tive oportunidade de ouvir, tal processo é algo que não vai acontecer do dia para noite.
A revisão do papel do museu, com sua progressiva abertura ao maior diálogo com a sociedade e seus diferentes grupos, passa pela construção da confiança entre todos os e as agentes envolvidos. Isso acarreta uma série de mudanças estruturais principalmente dentro dos museus, que devem se tornar, de fato, instituições mais democráticas e afeitas a um diálogo franco, não fugindo da tensão e da divergência, com as pessoas.
Tal perspectiva está, a meu ver, muito alinhada com a nova definição de museu que foi sancionada durante a conferência. Aliás, é necessário dizer que foi uma grande emoção estar presente no momento de sua aprovação formal. Ver todo o auditório do espaço onde estava acontecendo a conferência celebrando a nova definição, que teve no grupo de coordenação a participação de um brasileiro, professor e museólogo Bruno Brulon, foi um momento muito marcante! Agora, cabe a nós sabermos como a definição será aplicada em todo o mundo e que impacto as novas palavras que agora dela fazem parte causarão no cotidiano das instituições.
Também não posso terminar esse breve relato sem mencionar a mesa que tive oportunidade de participar como ouvinte sobre os 50 anos da Mesa Redonda de Santiago do Chile. Composta em sua maioria por profissionais advindos da América Latina, com a presença de uma profissional canadense, muito se discutiu sobre a importância de avaliarmos o significado contemporâneo que a declaração decorrente da Mesa Redonda ainda tem. Longe, portanto, de apenas um sentimento de nostalgia, mas com muito afeto envolvido, a Mesa Redonda nos mostra ainda o quanto é importante discutir a função social dos museus, em particular em tempos tão turbulentos politicamente na América Latina.
Assim, termino o presente texto com a visão de que muito tem se feito em prol de melhores museus, mais abertos, democráticos, abertos à diversidade e pluralidade sociais. Porém, muito ainda há que se fazer e o ICOM é mais uma das instâncias que estarão presentes – cabendo a nós, profissionais, em seus respectivos cotidianos, contribuir diretamente para tal cenário.
Juliana Monteiro é Museóloga freelancer e professora no Curso Técnico de Museologia — Etec Parque da Juventude em São Paulo, Brasil.