Uma das viagens de infância que recordo com mais saudade levou a família, conduzida pelo pai extremamente patriota e zeloso da educação dos filhos, a Lisboa. Lembro-me que era uma cidade enorme, em que os táxis tinham umas luzes no tejadilho e em que os “comboios” circulavam nas mesmas estradas dos carros. Um espanto total para uma criança da provìncia. Confesso que sendo nascido e criado perto do Porto a minha primeira memória do eléctrico foi gravada numa visita a Belém, por muito estranho que agora isso me pareça. Em Belém o nosso cuidadoso guia lá nos ia informando dos locais que estavamos a ver. Palácio, Museu dos Coches (antigo Picadeiro Real), Convento dos Jerónimos, mais acima Palácio Nacional da Ajuda, depois e voltando ao rio o local onde foi feita a Exposição Universal do Mundo Português na pujança do Estado Novo, até chegarmos ao Convento dos Jerónimos e, finalmente, ao Museu da Marinha.
Fascínio. Acho que é esta a palavra que melhor descreve um miúdo de uns oito anos a entrar num maravilhoso mundo onde existiam barcos em miniatura, barcos enormes, trajes de marinheiros, espaços que nos faziam entrar em iates reais, salas enormes cheias de “brinquedos” que queriamos levar para casa e ter. É esta a imagem que ainda guardo do Museu da Marinha.
Hoje em dia está mudado, ao contrário do que muitos pensam os museus também têm uma evolução. São organismos vivos que se transformam e adequam às exigências dos tempos. Mas confesso que mantém a mesma alma. Visitei-o, há uns meses, com olhos de profissional e receoso que a visão de meninice desaparecesse. Sei agora que não poderia acontecer, nunca perderei aquela memória.
O Museu da Marinha terá, como muitos outros, vários problemas aos olhos da Museologia e das condições que oferece a quem o visita, mas o fascínio dos miúdos que por lá vi pareceu-me o mesmo. O meu ainda continua a ser.