A falha intergeracional nos museus

A falha intergeracional nos museus

Há uns tempos, nos anos da crise financeira, comecei a escrever um texto aqui para o Mouseion que rezava o seguinte:

Esta semana voltei a dar aulas no mestrado de museologia da Universidade do Porto e fiquei surpreso com a quantidade de alunos (segundo me disseram são 29 ao todo) matriculados. Pode ser engano meu, mas nos últimos anos tinha notado um decréscimo acentuado no número de alunos no mestrado que, sem ter grandes dados para analisar, atribuía às dificuldades financeiras sentidas pelas famílias e pelos profissionais de museus e ao peso que tinham na decisão de continuar os estudos nesta área, relativamente a outras prioridades da vida. Compreenderão certamente o porquê do meu espanto com uma sala cheia, numa altura em que, convenhamos, a saúde financeira geral não teve significativas melhorias.

Durante a sessão fiquei contente, confesso. Em primeiro lugar, e de forma egoísta, porque é bem melhor ter uma aula com uma sala cheia, mesmo que mais caótica e barulhenta (que não foi o caso), em que há interesse nos assuntos discutidos e onde a direcção da aula não é só professor-aluno! Em segundo, porque foi um interesse real em diversos aspectos da documentação.

Uns dias mais tarde, já depois de falar com colegas e família sobre esta minha admiração, vieram-me à cabeça as conversas tidas no último evento do ICOM Portugal com diversos amigos e colegas de profissão sobre o estado da profissão no nosso país e apoderou-se de mim um sentimento de preocupação enorme que se pode expressar assim: “Temos muita gente nova a ser formada, ninguém a ser contratado pelos museus, os quadros dos museus a envelhecer e a chegar à reforma, não tarda nada perderemos muito, mesmo muito, com esta quebra entre gerações, esta continua aprendizagem que foi existindo durante alguns tempos e de que a minha geração ainda usufruiu!”

O evento que ali falo foi o Encontro de Outono de 2016 sobre o tema Museus, Comunidade e Turismo: um triângulo virtuoso? e lá a conversa sobre este tema surgiu na sequência da notícia da reforma de um colega e sobre a ausência de um processo de substituição que permitisse uma passagem de testemunho desempoeirada e eficiente dos assuntos do museu e coleções que estavam ao seu cuidado. Uma situação que considero deveras preocupante para os museus em Portugal. Perde-se a passagem de informações importantes, a discussão entre gerações, a aprendizagem e a confrontação (que se espera sadia), perde-se muito e com este hiato, não se ganha nada.

De 2016 até agora pouco mudou. Não contratamos, salvo raras excepções. Os museus continuam a ser vistos, na maior parte dos casos, como instituições que dão prestígio e relevo, por vezes até vantagem política, mas são raros os casos de um investimento continuado, sério, com estratégia, com políticas de coleções com reflexão e estudo de temas recentes, sustentados por coleções estudadas e desenvolvidas com cabeça, tronco e membros, com equipas sólidas, com formação apropriada (e já agora diversificada, sem a prisão da coleção) e continuada. A nível central, se retirarmos a boa intenção do relatório do Grupo de Projeto Museus no Futuro, muito bem conduzido pela Clara Camacho, e a conclusão de alguns dos concursos para diretores de museus, esta legislatura caminha (de novo) para ser um desperdício (de tempo, de pessoas, de recursos).

No entanto, agora anunciam-nos que vem aí uma enorme bazuca, dinheiro a rodos que chegará a todos. Que teremos recuperação de edifícios, novos recursos, equipamentos, transição digital, wifi e mais… mas nem uma menção aos que terão que lidar com a transição digital (e com outras) estando dentro da estrutura ou ao cuidado que devemos ter na substituição atempada das equipas com novos profissionais, com outras ou mais qualificações, que possam receber a preciosa ajuda de quem conhece os cantos à casa. Será mais um ponto a agravar a falha intergeracional nos museus, em meu entender.

Ainda que seja para mudar a casa totalmente, é importante que este intervalo de gerações que eu sinto, diminua. Espero que as tutelas percebam isso e renovem as suas equipas a tempo.

Transformação, transição ou integração digital

Transformação, transição ou integração digital

Vivemos tempos de mudança, de adaptação, de alterações a diversos níveis na forma como vivemos. A tecnologia tem sido, de forma agravada nos últimos anos, o factor de aceleração dessa mudança. Transformação, transição ou integração digital (expressão bem cunhada pela Helena Barranha no debate) são algumas das expressões que vamos ouvindo como identificação deste fenómeno que é a inclusão da tecnologia para melhorar, alterar, refazer as soluções, métodos, modelos, etc. utilizados tradicionalmente no trabalho em museus. Foi este fenómeno que o ICOM Portugal pretendeu debater no passado dia 20.

Não foi a expressão que debatemos a convite do ICOM Portugal, mas sim as recomendações do eixo temático “Transformação Digital” do relatório final do Grupo de Projeto Museus no Futuro que foi criado pelo MC para reflectir sobre o futuro dos museus portugueses, ou melhor, sobre o futuro dos museus e palácios dependentes do estado central (leia-se DGPC e DRC). A quem não o fez ainda, aconselho a leitura atenta e crítica, porque certamente irão encontrar muito em que pensar, mesmo que não trabalhem numa das instituições visadas no relatório.

Para a conferência o ICOM Portugal convidou-me a mim, para a grata tarefa de moderação, à Ana Carvalho1 e à Helena Barranha2 como representante da equipa que acompanhou a Clara Camacho na realização do estudo e relatório e como especialista e investigadora na área, respectivamente. A escolha da Ana e da Helena não podia ter sido mais acertada, confesso. É bem conhecido o trabalho de ambas na área dos museus (e da sua relação com o universo digital) e a reflexão que têm desenvolvido sobre o tema em análise.

Cartaz debate
Cartaz do debate sobre Transformação Digital

Ambas começaram por apresentar a reflexão que lhes foi pedida para esta conferência, num ambiente que se espera sempre mais informal e menos cansativo para quem assiste. A Ana e a Helena cumpriram e deram-nos uma visão sobre a forma, método e sobre as preocupações que estiveram presentes na equipa que produziu o relatório, por um lado, e por outro uma visão crítica, ainda assim positiva, do resultado que todos conhecemos.

Da intervenção de ambas gostaria de destacar, por um lado, a forma como a Ana apresentou as questões que estiveram por trás da pesquisa e recolha de informação pela equipa da Clara Camacho, assim como a delimitação do estudo e a preocupação em obter dados fidedignos, a observação dos pares, a visão de outras realidades que não a nossa. São elementos fundamentais para o estudo e para compreendermos as recomendações feitas. Além disso, a Ana resume as diferentes recomendações em 4 áreas que, na minha opinião também, são fundamentais: capacitação, infraestrutura, acesso (digitalização e não só) e parcerias. Nestas áreas são incluídas as diferentes recomendações do relatório para a transição digital que, apenas para recordar, são:

  1. Modernizar e atualizar os equipamentos informáticos internos;
  2. Criar um portal de Museus, Palácios e Monumentos, atualizar e otimizar os respetivos sites;
  3. Criar uma linha de apoio “Museus do Futuro” a projetos de requalificação dos Museus, Palácios e Monumentos;
  4. Criar um programa de reforço e de alargamento sistemático da digitalização dos acervos dos Museus, Palácios e Monumentos;
  5. Assegurar e incrementar o acesso digital às coleções e acervos;
  6. Desenvolver um programa de utilização das tecnologias como meio complementar de interpretação;
  7. Criar mecanismos de apoio, monitorização e avaliação para os Museus, Palácios e Monumentos;
  8. Reforçar o estabelecimento de parcerias na área da comunicação digital;
  9. Promover projetos-piloto de transferência de conhecimento e de investigação;
  10. Assegurar o recrutamento de profissionais com competências digitais especializadas e criar planos de formação regulares.

A partir dali a Helena confronta-nos com a importância da terminologia utilizada, tal como já eu havia feito colocando no twitter a questão entre transformação ou transição (sem grande resposta diga-se de passagem), mas elevando a fasquia através da reflexão mais cuidada e aprofundada do termo integração, ou seja integração digital, em vez de transição ou transformação, procurando dessa forma uma visão mais inclusiva, mas também mais “humanizada” da forma e velocidade com que somos “engolidos” pela tecnologia no dia-a-dia dos museus, ou mesmo, da nossa vida.

Esta é uma questão interessante que importa trazer à liça sem receios, de forma simples e concreta, como a Helena fez. A reflexão sobre questões que nos parecem óbvias e aceites sem grande preocupação ou cuidado é sempre útil, porque nos permite ver por outro prisma determinado problema ou mesmo equacionar as prioridades definidas para a resolução das questões identificadas neste relatório ou noutros semelhantes. Assim, esta integração digital, mais inclusiva e crítica, parece-me apropriada para o momento que vivemos, ainda mais no contexto actual, de “digitalização” de toda a nossa relação profissional ou lúdica com os nossos museus.

A partir destas duas intervenções iniciais, com muito alimento para a discussão, abrimos a porta à discussão com os que nos acompanhavam no zoom e seguiam no Facebook e conseguimos debater assuntos como os recursos financeiros necessários (e existentes) no sector para a transformação digital, a preparação e abertura das tutelas para o caminho que há a percorrer, a alteração necessária em termos de políticas de acessibilidade (e eu diria inclusão), a formação e capacitação dos recursos humanos e a contratação de quadros com formação e competências na área, a atenção para os novos perfis profissionais e novas profissões que se criarão por conta da integração com o universo digital, o planeamento relativo à obsolescência das infraestruturas e dos equipamentos que é necessário acautelar, a atenção necessária para a inclusão destas e doutras despesas que agora surgem e, embora já mencionado pela Ana e pela Helena, a atenção também necessária para um planeamento estratégico, não desligado da estratégia geral da instituição, que abranja as novas questões e meios ao dispor. Mais do que este resumo, convido-os a acompanhar o debate através da gravação que o ICOM Portugal partilha connosco através do seu canal de Youtube.

Conferência Digital – Grupo de Projeto Museus no Futuro – Transformação Digital

Sem falsa modéstia, julgo que conseguimos abordar nesta breve conversa alguns pontos interessantes das recomendações feitas pelo GTMF. Julgo que se percebe que estaríamos muito mais tempo a conversar, eu, a Ana e a Helena, mas também muitos dos que nos acompanharam, sobre as questões trazidas por este documento. Não tivesse ele outro contributo, o que não é, de todo, o caso, teria este importante contributo de colocar o sector atento, a discutir, a debater e a pensar num conjunto importante de desafios que agora têm outro enquadramento e circunstâncias distintas.

Como nota final, diria que o relatório é, em relação ao eixo da transformação digital, bem completo e aborda um conjunto de problemas e questões que o estado precisa de resolver, no entanto, haveria ainda algumas outras questões que poderiam ser levantadas e abordadas como por exemplo, a gestão de direitos (relacionada também com a acessibilidade), a normalização ou a criação de uma plataforma de colaboração mais vasta entre museus, bibliotecas e arquivos do estado central para a dinamização do património cultural guardado nestas instituições.

Teremos certamente oportunidade de aprofundar o resultado do excelente trabalho da Clara Camacho e da equipa que nos deixa este importante contributo para o desenvolvimento do sector. Não o deixemos cair nas gavetas profundas da Ajuda.


1 Ana Carvalho – Investigadora de pós-doutoramento no Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades (CIDEHUS) da Universidade de Évora e membro do Grupo de Projeto Museus no Futuro (2019-2020). Doutoramento em História e Filosofia da Ciência, especialização Museologia e mestrado em Museologia (Universidade de Évora). Colaborou como investigadora principal no projeto internacional Mu.SA – Museum Sector Alliance (2016-2020) sobre os desafios da transformação digital para os museus. É uma das fundadoras da revista MIDAS – Museus e Estudos Interdisciplinares. A sua investigação tem-se centrado em temas do património, da história da museologia e da museologia contemporânea.

2 Helena Barranha – Doutoramento em Arquitetura (Faculdade de Arquitetura, Universidade do Porto, 2008) e Mestrado em Gestão do Património Cultural (Universidade do Algarve, 2001). É Professora Auxiliar no Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa e Investigadora no Instituto de História da Arte, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade NOVA de Lisboa, onde integra o Grupo de Museum Studies e coordena o cluster de Arte, Museus e Culturas Digitais. Foi Diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, em Lisboa, de 2009 a 2012, e Coordenadora do projecto unplace: um museu sem lugar, entre 2014 e 2015. As suas atividades de investigação centram-se atualmente no património cultural, na arquitetura de museus de arte contemporânea e nas culturas digitais, temas sobre os quais tem realizado várias conferências e publicações, tanto em Portugal como noutros países. É membro da Associação Acesso Cultura, do ICOM-Portugal e da Europeana Network. Association.

Projecto Mu.SA – Museum Sector Alliance

Projecto Mu.SA – Museum Sector Alliance

Parece uma infinidade, mas na realidade só passaram 4 anos desde os primeiros contactos que tivemos dos colegas da Hellenic Open University, que conheci através da Mapa das Ideias por causa do projecto eCultSkills (no qual tive uma breve mas muito frutífera participação), sobre a criação de um consórcio para avaliar e procurar melhorar o sector dos museus no que diz respeito às competências digitais necessárias para os perfis de trabalho emergentes que viríamos a conhecer como projecto Mu.SA.

O consórcio, como estava pensado, precisava da participação de um “VET provider” e de um “social partner” capazes de compreender e acompanhar o desenvolvimento do projecto no território português. Em Itália e na Grécia teríamos instituições semelhantes a assumir os mesmos encargos!

Na altura, sem saber muito bem no que me iria meter, depois de perceber o que era um “VET provider” e um “social partner” e de falar com a Paula Menino Homem e com a direção do ICOM Portugal, dei ao Achilles Kameas os contactos da Universidade do Porto e do ICOM Portugal como potenciais parceiros do consórcio. Iniciaram-se os contactos entre ambas as instituições e a UP, através da Faculdade de Letras e o ICOM Portugal, graças à visão da sua direcção na altura, decidiram meter mãos na massa e abraçar o projecto.

Eu fiquei entre as duas instituições, como um tolo no meio da ponte, mas em boa hora assumi com a direcção do ICOM Portugal o compromisso de iniciar a sua participação no projecto, participando na reunião de arranque em Dezembro de 2016 que se realizou em Atenas, na Grécia, juntamente com a UP e a Mapa das Ideias que complementava o “cluster” português do projecto.

DOCKING THE MU.SA SHIP

Atenas – o arranque do projecto

Foram 3 dias cheios em Atenas. Cheios de informação, de nova terminologia, de aprendizagem, de confusões, de novos amigos e de incertezas sobre muitas nuances e questões particulares do projecto que então se iniciava. Na altura não pensei muito sobre o assunto, mas passado este tempo, posso dizer-vos que todos nós, profissionais de museus ou do sector da Cultura, precisamos de ter mais formação nesta área. Adquirir competências para gerir ou participar num projecto europeu é/devia ser fundamental na formação dos profissionais do sector (dos vários sectores em boa verdade).

Chegado de Atenas foi tempo de transmitir ao ICOM Portugal um enorme volume de informação sobre a gestão do projecto, sobre as necessidades, as tarefas que o ICOM Portugal tinha em mãos, a(s) responsabilidade(s) no projecto e as questões administrativas e burocráticas que tínhamos em mãos para resolver.

Uma das decisões fundamentais nesta fase inicial do processo foi a constituição inicial da equipa do ICOM Portugal no projecto. Tínhamos diferentes tarefas previstas (investigação, administração, gestão, produção de conteúdos, etc.) e precisávamos de uma equipa que desse conta do recado e suprisse as necessidades do projecto e possíveis alterações futuras. Conseguimos essa equipa em diferentes momentos.

O José Alberto Ribeiro já tinha sugerido (em muito boa hora) que a Ana Carvalho participasse no projecto. Decidiu também que a D. Olinda Cardoso nos daria o apoio administrativo necessário (que foi excelente durante estes anos) e mais tarde, por sugestão da Ana, juntamos o Manuel Sarmento Pizarro e, por fim, juntou-se a nós o José Barbieri depois de uma recomendação do Mário Antas.

O projecto Mu.SA – trabalho

Após este período inicial, em que todos tivemos um esforço adicional de aprendizagem do que é, como se faz e organiza e que instrumentos são necessários para um projecto deste calibre (o total do projecto em termos de financiamento ascendia a mais de um milhão de euros), começamos aos poucos, ajudados pelos outros parceiros, os trabalhos que nos estavam atribuídos: uma pesquisa sobre os perfis de trabalho emergentes, conduzida pela Melting Pro e aplicada em Portugal, Grécia e Itália, que seria essencial para aferir e decidir se os perfis profissionais emergentes identificados pelo eCultSkills poderiam ser utilizados para a criação dos produtos deste projecto, agora identificados como o caminho de aprendizagem do Mu.SA, um MOOC, um curso de especialização e um estágio final em contexto de trabalho.

Caminho de aprendizagem Mu.SA

Daquele estudo inicial resultaram algumas publicações como Museum Professionals in the Digital Era – Agents of change and innovation, Emerging Job Profiles for museum professionals e Museum of the Future – Insights and reflections from 10 international museums, na qual o ICOM Portugal não teve uma participação direta, mas apenas de apoio aos colegas.

Passada essa fase inicial, o trabalho seguinte (e exigente) era o da criação dos conteúdos dos cursos do projecto: MOOC e curso de especialização. Ao ICOM foram atribuídos 6 módulos. Um para o MOOC: Creative thinking skills; e os restantes para o curso de especialização: Analyse and synthesize information, Resilience, Interpersonal skills, Influence / persuasion skills e Integrity / ethical. Nestes foi essencial o trabalho da Ana Carvalho (na criação e coordenação) e do Manuel Pizarro (na criação de módulos) que, seguindo uma metodologia muito exigente, criaram cada um dos módulos especificamente para a parte do curso, alunos e exigências que foram pré-determinados pelo consórcio nas reuniões preparatórias. Sou testemunho que ambos tiveram um enorme trabalho para alcançar os resultados e a qualidade que o ICOM Portugal pretendia e confesso o orgulho de ter lido nas avaliações dos módulos e ouvido de vários alunos dos cursos o reconhecimento da qualidade dos módulos que produzimos. Devo dizer também que a colaboração do José Barbieri foi também fundamental para o desenvolvimento de alguns conteúdos que o ICOM Portugal produziu neste projecto, como o vídeo sobre Ética, um tema muito caro para nós.

Ética nos museus nesta era digital

Uma boa parte dos conteúdos produzidos pelo consórcio, agora transformados em OERs (Open Education Resources), estão disponíveis para reutilização no site do projecto. Usem e divulguem o quanto quiserem.

Além da produção dos conteúdos, o ICOM Portugal participou também na organização e realização dos diferentes cursos do projecto. Seja com tutorias, acompanhamento de alunos, esclarecimentos sobre conteúdos, discussões nos fóruns do curso, etc. a Ana Carvalho, o Manuel Pizarro e eu próprio, acompanhamos de perto todas as actividades do processo de aprendizagem até ao fim do curso de especialização e, de forma menos intensa, durante o acompanhamento dos estágios nos museus (cujo sucesso se deve ao enorme empenho da UP e, especialmente, da Paula Menino Homem).

Paralelamente a todo este trabalho, eu, a Ana, o Manuel, o José e a D. Olinda, tivemos ainda que gerir o projecto administrativa e financeiramente, promover e disseminar todo o trabalho do projecto, organizar eventos anuais (nacionais e internacionais), criar ferramentas de divulgação, entre muitas outras pequenas, mas consumidoras de tempo, tarefas. Aliás, se há algo que me orgulho particularmente neste projecto, que se deve em grande parte ao empenho da Ana Carvalho, é a divulgação que fizemos durante estes 3 anos e meio. Foram vários artigos e comunicações em revistas e conferências especializadas que trouxeram ao Mu.SA e ao ICOM Portugal, em primeiro lugar, mas também à equipa do projecto, o reconhecimento por parte de diversos colegas, museus, universidades e do próprio ICOM a nível internacional.

A cada passo, o ICOM Portugal deu conta disso mesmo, como podemos ver no site.

Uma nota final de agradecimento

Começamos por ser um conjunto de organizações que se juntaram com o propósito de “abordar diretamente a escassez de competências digitais e transferíveis identificadas no setor dos museus” através da criação das ferramentas de aprendizagem, os cursos e o estágio, e de um conjunto de outros resultados importantes, para acabarmos como um conjunto de organizações e equipas com a convicção do dever cumprido, confirmado pela aprovação do relatório final do projecto pela Comissão Europeia e consequente pagamento da totalidade da bolsa inicialmente prevista.

Neste momento de satisfação e de sensação de dever cumprido, não posso deixar de agradecer à equipa do projecto Mu.SA no ICOM Portugal (à Ana, ao Manuel, ao José e à D. Olinda) pelo fabuloso desempenho e empenho. Não posso deixar de agradecer também às duas direcções do ICOM Portugal que acompanharam o projecto, pelo contínuo apoio e dedicação. Nas pessoas do José Alberto Ribeiro, cuja direcção acolheu o projecto, e da Maria Jesus Monge, cuja direcção o conseguiu finalizar, deixo o agradecimento de todos nós a todos os colegas de ambas as direcções pela coragem em aceitar um projecto tão complexo, mas também tão necessário para os profissionais de museus em Portugal. Não posso me esquecer de agradecer também à Paula Menino Homem, da Universidade do Porto e ao Ivo Oosterbeek, à Ana Fernambuco e à Inês Bettencourt da Câmara, da Mapa das Ideias, membros do fabuloso “cluster” nacional do Mu.SA, por toda a ajuda, colaboração e apoio nos momentos mais difíceis. Por fim, um agradecimento também para todos os parceiros/amigos internacionais do Mu.SA. Em cada um deles conheci pessoas maravilhosas, competentes e empenhadas em fazer o melhor pelo sector dos museus. Muito obrigado a todos!

Acabo este projecto muito melhor do que entrei! A aprendizagem do Mu.SA foi extraordinária e deu-me uma perspectiva diferente sobre diversas áreas do sector dos museus que serão importantes para mim e para a forma como vejo o futuro dos museus a nível internacional. Espero, de forma muito sincera, que após esta pandemia possamos todos aprender que os museus precisam de muito mais que uma simples discussão sobre os benefícios/prejuízos da introdução do “digital”, mas sim de uma reformulação completa dos instrumentos que usamos para a gestão, divulgação, educação e estudo das nossas colecções e dos instrumentos e métodos que usamos para nos avaliarmos. Saibamos nós aproveitar realmente esta oportunidade!

Obrigado uma vez mais a todos!

Museus no Futuro – Relatório

Museus no Futuro – Relatório

Hoje, após uma breve e agradável conversa que resulta neste texto, dei comigo a pensar no tempo que passou desde que comecei o Mouseion, nas transformações que o panorama museológico sofreu desde então e no que já vi de bom e mau acontecer durante este tempo no nosso sector. Na altura que o criei, pensei nele como um instrumento de reflexão sobre os museus, sobre aquilo que poderiam ser os museus no futuro, ou naquilo que eu imaginaria que viessem a ser.

É sempre um tema que me apraz discutir. O que queremos, enquanto comunidade e enquanto profissionais do sector, fazer para ter melhores museus, mais eficientes, com mais recursos, com mais público, com capacidade para dar a conhecer o passado (bom e mau), assumindo o seu papel social como espaços de liberdade e debate sobre o presente, melhorando os seus procedimentos, imbuídos num espírito de auto-crítica e de avaliação contínua, transparentes e divertidos.

Museu do Futuro
Museu do Futuro
Shaun Killa
Dubai, Emirados Árabes Unidos

Por isso, agradecendo desde já à Clara Camacho a partilha, é com enorme prazer que partilho com todos vocês, o relatório preliminar que o Grupo de Projeto Museus no Futuro apresentou à Ministra da Cultura e que estará, até final do presente mês, em consulta pública para receber os nossos comentários, críticas e sugestões.

Não tive, porque o recebi hoje apenas, a oportunidade de o ler com o cuidado que merece o trabalho dos nossos colegas que constituíram este grupo, mas irei ler, reflectir e partilhar com a Clara, bem como por aqui, as minhas sugestões, críticas e sugestões.

Sei que os membros da equipa estão abertos a todas as contribuições dos profissionais do sector e por isso cabe-nos agora a responsabilidade de reflectir e propor aquilo que cada um de nós considera importante para os Museus no Futuro.


Missão do Grupo de Projeto Museus no Futuro

Identificar, conceber e propor medidas que contribuam para a sustentabilidade, a acessibilidade, a inovação e a relevância dos museus sob a dependência da Direção-Geral do Património Cultural e das Direções Regionais de Cultura.” (No 1 da RCM no 35/2019, de 18 de fevereiro)

Âmbito

Na sua génese, o projeto incidia nos Museus e Palácios na dependência da DGPC e das DRC. Este universo foi posteriormente alargado, passando a abranger os Museus, Palácios e Monumentos (MPM) contemplados pelo diploma que estabelece o respetivo regime de autonomia, o Decreto-Lei no 78/2019, de 5 de junho. Assim, o projeto incide nas mais de três dezenas de Museus, Palácios e Monumentos dependentes de dois tipos de entidades tutelares da área da Cultura:

  • o organismo da Administração Central do Estado – a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), da qual dependem Museus Nacionais, Palácios Nacionais e Monumentos Património Mundial;
  • as quatro entidades da Administração Central desconcentrada – as Direções Regionais de Cultura (DRC do Norte, Centro, Alentejo e Algarve), que assumem a tutela de museus e de monumentos para elas transferidos na reestruturação administrativa do Estado, em 2012.

Os Museus, Palácios e Monumentos estão, nalguns casos, agrupadas em unidades orgânicas compósitas para fins de gestão e sob a coordenação de um único diretor. Para efeitos da sua caraterização e de aprofundamento do conhecimento, optou-se pontualmente pela sua desagregação:

  • no total de 37 unidades em análise.

É sobre este conjunto, diverso em tipologias patrimoniais e territorialmente disperso, que recai a reflexão deste Grupo de Projeto.

Virtual vs Físico. A luta não existente

Virtual vs Físico. A luta não existente

Ontem, e em boa hora, participei no colóquio digital do ICOM Portugal que tinha o sugestivo título “Como sentir (na web) o peso do ar e da pedra?” e foi suscitado pelo texto provocatório da Patrícia do Vale com o seguinte título “Tudo será ainda instagramável? O museu por reinventar”. No debate fiquei ainda mais certo daquilo que tenho dito, em diversos locais, sobre esta dicotomia do Virtual vs Físico e da inexistência de uma luta titânica entre estes dois aspectos das nossas vidas.

Colóquio Digital ICOM PT

São vários os pontos que abordei durante o debate, mas tal como lá, vou aqui organizá-los em 5 pontos (lá foram 4 na intervenção inicial e depois acrescentei mais um durante o debate):

  • Políticas e Gestão
  • Conteúdos
  • Formação
  • Acessibilidade
  • Avaliação

Políticas e Gestão

Uma declaração primeira que nada tem a ver com o digital, mas que me irritou durante este tempo de confinamento. Não é possível compreender que instituições de referência, por causa de dois ou três meses de confinamento, coloquem em causa o trabalho de um conjunto de profissionais que lhes têm valido reconhecimento e louvores aos anos. Neste caso não é luta do digital vs físico, mas sim uma luta de valores e missão.

Relativamente à gestão a pergunta que se deve fazer é: que museus tinham pensado numa estratégia digital antes do COVID-19? Sem grande risco, julgo que é seguro dizer que muito poucos o tinham feito, certo? Ou seja, durante esta quarentena, os museus não responderam com um instrumento pensado previamente, sendo pró-activos antecipadamente, mas sim de forma reactiva a (vários e grandes) problemas que foram colocados aos museus. Na reacção notamos as diferenças entre museus. Especialmente nos recursos (financeiros e humanos) que têm à sua disposição, mas também nas assimetrias que o país não tem conseguido resolver. A tal luta entre Virtual vs Físico que digo não existir, deve ser vista como uma luta em integrar o digital naquilo que já existia antes, ou seja, o museu físico, as suas colecções e a relação entre estes e as suas audiências.

Conteúdos

Aqui a luta entre Virtual vs Físico é sempre mais polémica. A constituição de colecções digitais, representativas das físicas, tem levantado um conjunto de questões ao longo dos anos que entendia no passado, mas que agora me parecem cada vez menos admissíveis. O objecto digital não pretende substituir o físico, é uma impossibilidade! No entanto, o meio digital dá aos museus a oportunidade de produzir informação e conhecimento, ou melhor, de deixar produzir conhecimento a todos os que possam ter acesso, em cima do conhecimento que os museus detêm.

Além disto, como também mencionou a Laura Castro, a linearidade com que os produzimos, em tudo semelhante aos processos que herdamos da transmissão do conhecimento em suportes físicos, precisa de ser repensada tendo em consideração as diferentes valências que o meio (mencionado e bem pela Isabel Victor) proporciona.

Formação

Este é, sem qualquer dúvida, um dos calcanhares de Aquiles nos museus portugueses (e não só). A formação existente na área dos museus não abrange a complexidade do universo digital em que estamos inseridos. Nas diferentes áreas (documentação, conservação, gestão, mediação, comunicação, etc.) de actuação do museu há um conjunto de desafios que são colocados diariamente aos museus pela crescente actualização tecnológica, pela obsolescência constante, pela procura do “trendy”, pela novidade do tema ou simplesmente pela necessidade que embatem de frente com a ausência de competências digitais apropriadas nos profissionais de museus.

Este é um problema que o ICOM Portugal procurou enfrentar, participando no projecto Mu.SA, desenvolvendo com um conjunto de parceiros europeus um caminho de formação (MOOC e Curso de Especialização com Estágios em museus), focado na aquisição destas competências para 4 perfis profissionais emergentes na área digital. Sobre a ausência das competências digitais sentida nos museus e seus profissionais, os mais de 5000 inscritos no MOOC falam por si só.

Acessibilidade

O acesso é o maior argumento para quem é ainda relutante a juntar-se à luta de integração do virtual no mundo físico (espero que a este ponto já se tenham esquecido da luta Virtual vs Físico). Com as colecções digitais podemos dar acesso a quem está (literalmente) do outro lado do mundo. No entanto, importa não esquecer que não resolve tudo. A exclusão aqui mantém-se e deve ser um problema a colocar em cima da mesa sempre. Não só a infoexclusão (que per si é um grande problema ainda), mas também a exclusão económica e social que experimentamos neste período da pandemia com uma quantidade considerável de estudantes, que se viram privados de continuar a escola por não terem um computador disponível, por exemplo.

Avaliação

Por último, o ponto que introduzi no debate apenas, suscitado por outras intervenções, a avaliação. Ou melhor, uma reflexão que é necessária fazer sobre a avaliação para não continuarmos a insistir no número de visitantes para premiar os museus (agora temos mesmo que pensar noutras formas), mas também para não continuarmos a avaliar o universo digital pela relevância dada por cliques, por um bom SEO, por algoritmo Google, etc., mas sim por indicadores que tenham em consideração a qualidade com primazia sobre a quantidade.

E daqui em diante. Que museu queremos reinventar?

Temo, muito sinceramente, que não o queiramos reinventar. Temo que o esforço e as reflexões que tivemos durante este período caiam no esquecimento após o levantamento total das restrições. Temo que voltemos a visitar “em bando” e aos magotes o Louvre, o British, o Prado, o MNAA, etc., e que celebremos de novo as exposições e salas cheias de gente (e eu gosto de ver os museus cheios de gente, não me interpretem mal). Mas temo, acima de tudo, que nos esqueçamos que este susto enorme é uma das melhores oportunidades que tivemos para mudar o rumo das coisas e repensar o museu que queremos ter no século XXI.

Uma linda oportunidade que, em meu entender, poderíamos ter aproveitado para o efeito com a abertura dos concursos dos museus e palácios nacionais (que têm a boa notícia de pedir profissionais com formação em museologia), mas que, em boa parte, desperdiçamos. Um outro assunto, que se interliga, mas que terá texto próprio.

Da decência nas cedências

Da decência nas cedências

Comecei a escrever este texto após as primeiras notícias sobre o caso da cedência das obras do Museu Nacional dos Cohces para o hotel em Alter do Chão e muito antes de se despoletar todo o drama relativo ao COVID-19. Ainda assim, pela importância do tema, resolvi voltar a ele e deixar aqui escrita a minha opinião sobre o tema.

Da profícua capacidade legislativa que os nossos parlamentares e governos têm demonstrado ao longo das últimas décadas, haverá poucas leis aprovadas por unanimidade. É normal que assim seja! Em democracia, a diferença e as formas distintas de encarar a construção da sociedade são muito salutares, no entanto, é de louvar que uma dessas poucas leis, aprovadas de forma unânime por todos os partidos então representados na Assembleia da República, seja a Lei-quadro dos Museus Portugueses.

Corria o ano de 2004, era Presidente da República Jorge Sampaio e Pedro Santana Lopes Primeiro Ministro, e a 9 de Julho de 2004 foi então votado e aprovado o diploma que daria início a um dos melhores períodos para o sector dos museus em Portugal. Para a minha geração, era um tempo de esperança, devo dizer. Todos nós, que iniciávamos a carreira ou estávamos nos primeiros anos de trabalho nos museus, a lei dos museus portugueses vinha dar consistência a um sector que não é tido, normalmente, como uma prioridade política e, portanto, é bastante permissivo em relação à vontade do poder político. Vimos todos ali a criação de instrumentos que permitiriam aos museus reclamar mais recursos, mais independência, melhores condições para se desenvolverem e cumprirem os seus propósitos. Foram bons tempos devo dizer…

Passaram entretanto 16 anos! E a questão que se coloca, face às notícias recentes sobre as cedências de obras da colecção de um Museu Nacional para decorar um espaço de um hotel (não entro em conversas sobre a aquisição da referida colecção pelo Estado, porque não me sinto capacitado para o fazer), entre outras do género, é exactamente esta: estão os museus portugueses em melhor situação do que em 2004?

Colecção de selas do historiador luso-alemão Rainer Daehnhard
Colecção de selas do historiador luso-alemão Rainer Daehnhard – © Imagem

Eu respondo, ainda que triste, mas sem grande problema: não estão, não senhora! E se quisermos juntar mais perguntas, como por exemplo: são os museus realmente autónomos? E a política museológica nacional? Onde anda esta bendita? A resposta é ainda mais simples, mas na negativa na mesma. Não são nada autónomos e a política museológica nacional não está em lado nenhum, anda desaparecida como as notas de 500 euros!

Sei bem que o tempo que corre e que tivemos, nestes últimos 16 anos, diversos desafios, uma crise, muitas mudanças, alterações à vida das instituições, novos governos e tudo o mais que acontece normalmente neste tempo, mas não haveria forma de nos mantermos, pelo menos duas décadas, unidos com alguns propósitos comuns?

Eu acho que sim, que há forma de o fazermos! Devemos isso aos que nos seguem e a quem, antes de nós, conseguiu atingir objectivos comuns como a criação de uma lei importante e a de iniciar o processo de construção da rede de museus, por exemplo. Aliás, acho que o devíamos fazer em alguns sectores estruturais como a Cultura, a Saúde (como é notória a importância do SNS nestes tempos), a Educação e a Segurança Social.

No entanto, o que fizemos no passado, com uma lei exemplar, foi neste caso particular completamente negligenciado pelos responsáveis políticos, contra pareceres técnicos muito informados e sérios do Museu e da DGPC, com base numa visão puramente economicista do património.

Eu não sou, por princípio, contra a utilização/consignação de património cultural por privados. Acho que se tivermos um programa em que Estado, particulares e empresas usem recursos comuns para benefício de ambas as partes (e recordo que o Estado somos todos nós), pode ser útil para a recuperação do património e para a continuidade da sua utilização.

Temos em Portugal um conjunto de edifícios e monumentos que não tendo utilização pelo Estado, podem muito bem ser recuperados para outro uso em que a sua integridade, manutenção e conservação sejam asseguradas, permitindo a quem assume esses encargos retirar contrapartidas do investimento que ali faz. Prefiro isto do que ver diversos monumentos e edifícios em estado de ruína e abandono, assim como acho que nos casos contrários (os de abandono de património edificado com interesse relevante por privados, como o Palácio Rosa Pena, na minha terra natal, por exemplo) o estado deve poder assumir, após os procedimentos legais necessários, assumir a posse e investir neles para os devolver à esfera de utilização pública, nalguns casos, ou mesmo privada, noutros.

O mesmo diria, com as devidas diferenças, para as nossas colecções, para o nosso património móvel. Em boa verdade já o fazemos. São mais do que conhecidos os empréstimos de objectos dos nossos museus para outros museus e instituições, privadas ou não, que os solicitam com determinados motivos, isto é, para estudo, exposições e outras utilizações semelhantes. Para o fazermos, tal como no património imóvel, temos que respeitar um conjunto de regras, vertidas na lei e em diversos regulamentos, que procuram garantir a salvaguarda e segurança desses bens, assim como a sua utilização devida, independentemente da instituição e local. É muito simples de perceber, certo? Não são precisos pareceres técnicos muito elaborados, pois não? Era o que pensávamos até há bem pouco tempo.

Assim, em minha opinião, é chegada a hora em que todos nós, profissionais de museus, precisamos de ser intransigentes, como o foi a directora do Museu Nacional dos Coches, Silvana Bessone (a quem agradeço muito pela coragem), e dizer não são cumpridas ordens que atentam contra a ética e lei.

Sei que o problema está ultrapassado e que a cadeia de hotéis já prescindiu do empréstimo e também sei que nos tempos de pandemia que vivemos este pode parecer um problema menor e sem qualquer interesse, mas é nestas alturas, em que estes problemas são colocados lá longe na gaveta das coisas que de vez em quando voltam se não formos firmes!