Fui ver a tão afamada exposição do Dalí no Palácio do Freixo e confesso que fiquei desiludido. A minha reacção é mais ou menos semelhante à de Alexandre Pomar. A sensação com que fiquei no final da visita foi que a publicidade me tinha enganado. Não tanto pelos aspectos que se prendem com o papel de Dalí na arte contemporânea, mas sim pela análise (defeitos de formação ou feitio, como quiserem) da exposição através dos olhos de alguém que trabalha na área da museologia.
Confesso-vos que nunca tinha visto uma exposição tão mal cuidada.
O Palácio do Freixo não é o sítio ideal para se expor semelhante quantidade de obras. Assim ficam umas em cima das outras, com evidente prejuízo de quem pretende ver a coisa com alguma calma e sem ninguém a passar em frente.
O discurso expositivo é estranho. Se em algumas partes se compreende uma lógica, noutras (nas ilustrações da Bíblia, por exemplo) não se percebe qualquer intenção a não ser mostrar todas as ilustrações feitas para aquela encomenda.
Por fim a manutenção. As vitrines foram mal pensadas e pior executadas. O pó entra a rodos e não há o cuidado de as limpar (uma vez por semana, pelo menos, seria o normal). Em alguns paineis feitos para pendurar as obras era notória a ausência de manutenção. Encontravam-se riscados e pintados em alguns sítios (sem que houvesse o cuidado de os limpar) e notei, ainda, a presença de insectos (daqueles que gostam de papel) a passear impunemente por trás dos desenhos, litografias e demais obras expostas.
Em alguns sítios li que as obras que se encontram expostas são apenas vulgares, se as compararmos com o melhor que Dalí fez, mas nem sequer quero entrar por este caminho de crítica. Teria que perceber bastante mais de arte contemporânea. No entanto, por tudo o que expus atrás posso afirmar que a exposição foi mesmo uma desilusão.
viva!! ainda não ví a exposição mas já ouvi vários comentários mais ou menos identicos ao seu… é sempre curioso ver com olhos de museologo… as vitrinas, a conservação, o discurso expositivo… enfim estas «lentes» q nos vão pondo q nos vão afastando da descomprometida fruição das obras… é divertido! e confesso q tb gosto de exercitar o meu olho de pseudo-museologa (ainda em fase de construção) mas às vezes dou por mim a reparar primeiro nas cores das vitrinas e só depois nos objectos expostos… falta-me ainda alguma temperança!
ps. conheçe algum inventário q inclua memórias imateriais gostava de espreitar algum a ver como é q são registadas… obrigado
beij
Emília… é mesmo um defeito de formação… em algumas situações tenho de o contrariar mesmo!
Sobre património imaterial o melhor é falar com a Ana Carvalho do No mundo dos Museus que é bastante mais informada do que eu sobre o tema.
Olá Alexandre,
Subscrevo inteiramente.
Fui visitar a exposição com uma colega que também é “museologista” e fizemos exactamente os mesmos reparos.
Já para não falar na visita “em fila indiana” à qual fomos obrigadas – pelo facto de ser um dos últimos dias e serem CENTENAS de pessoas, por forma a não haver espaço quase para mexer o pescoço.
No entanto, para as estatísticas…terá sido certamente um sucesso…
cumprimentos,
Graça Araújo
Eu felizmente não apanhei com as centenas de pessoas. Fui num dia de semana à noite (antecipando que a coisa pudesse ser problemática ao fim de semana). No entanto, é muito mauzinho… muito mauzinho mesmo. Mas realmente tens razão… no final o que contam são as estatísticas que não têm em conta factores qualitativos (pelo menos não normalmente).