Já sentia a necessidade de ir ao CIDOC desde que senti a necessidade de aprender mais sobre o interessante (apenas para alguns, bem sei) e essencial tema da gestão e documentação de colecções nos museus. Nos primeiros tempos, ainda antes do boom da Internet, a informação chegava-me às mãos através da então directora do Museu de Aveiro, a Dr.ª Isabel Pereira e era normalmente parca e pouco esclarecedora. Pouco mais sabia sobre o CIDOC do que era um dos comités do ICOM e que tratava de temas como normalização de procedimentos, terminologia e estruturas de dados com o objectivo de criar uma norma equiparada à existente nas Bibliotecas (Ex: MARK) ou arquivos (Ex: EAD).
Desde então comecei a interessar-me pelo assunto e a ler vários artigos, papers e outros documentos de várias pessoas como Gordon Mackeena, Andrew Roberts, Richard Light (apenas para citar alguns dos que estavam na conferência deste ano) e outros tantos. Para além do interesse pessoal pelo assunto, tinha também a necessidade de arranjar uma solução de gestão das colecções no museu onde trabalhava (que na altura ainda não tinha sido contemplado com o Matriz) que permitisse à equipa do museu desenvolver o trabalho de uma forma mais eficaz e menos repetitiva. Pouco sabia eu na altura sobre a complexidade do assunto, confesso.
A frequência na pós-graduação de museologia da FLUP e o convite para trabalhar na empresa onde actualmente estou acelararam ainda mais a necessidade de saber mais sobre o trabalho deste comité do ICOM. Assim sendo, desde 2000 em diante, tenho seguido com extrema atenção todos os resultados dos encontros e as respectivas actas (as que são dadas a conhecer ao público) e aprendido bastante sobre diversas matérias com especial relevo para as que se prendem com a construção e utilização de standards. Confesso que outro dos motivos que me agrada no CIDOC é que as discussões são, de forma geral, muito inclusivas. Participam nelas profissionais de museus (desde directores até simples registrars), especialistas em tecnologias, especialistas em ciências de informação, bibliotecários, arquivistas, conservadores e, pasme-se, empresas que desenvolvem os produtos que resultam das normas ali criadas. Não é de admirar que o trabalho seja bom.
Este ano não foi diferente. A qualidade foi logo visível no primeiro dia. Um domingo quente em Atenas, óptimo para uma ida a uma das muitas ilhas gregas, pedia uma sessão interessante e motivadora. E assim o pedia, assim o foi. A internacionalização do SPECTRUM foi o tema debatido, durante todo o dia, num workshop conduzido por Gordon Mackeena da Collections Trust (a antiga MDA – Museums Documentation Association) onde foram apresentados os projectos da Holanda e Flandres e intenções de outros países para adoptar esta norma.
A restante semana foi uma óptima fonte de conhecimento (poderão consultar o programa do encontro neste link) com a apresentação de projectos, concretizações e novos modelos de investigação na documentação e gestão de colecções e de discussões, mais ou menos participadas, sobre os desafios que a documentação em Museus enfrenta, nomeadamente com a necessidade de se aproximar mais do que é feito em Bibliotecas e Arquivos*. Claro que teria, a escolher uma, de destacar a conferência de abertura do CIDOC, proferida pelo Prof. Seamus Ross da Universidade de Glasgow, intitulada “Digital Curation, Sensemaking and Participatory Storytelling”, onde se abordaram diversos aspectos muito interessantes sobre a preservação daquilo que é digital e das formas como esse tipo de material conta histórias e as difunde.
Por fim, não poderia deixar de registar um elogio à organização do CIDOC pelas interessantes iniciativas culturais que apresentaram, bem como pelos fantásticos momentos de convívio que proporcionaram aos participantes. É certo que em grande parte é trabalho, mas neste tipo de conferências conhecem-se pessoas muito interessantes e fazem-se boas amizades.
* O caminho cada vez mais claro é facilitar pesquisas em que os resultados apresentem registos ou informação provenientes dos três tipos de bases de dados.
Confesso que fiquei com muita inveja ao ler este post, pelos dois factores: Atenas e CIDOC! ;D
De facto a gestão e pesquisa integradas também me parecem o caminho mais óbvio, até porque, cada vez mais, os museus possuem espólio documental importantíssimo mesmo para a própria compreensão do acervo. Enquanto fonte de conhecimento devem fornecer informação provenientes dos três tipos de bases de dados, como bem disseste.
Infelizmente, parece-me que não será num futuro muito próximo, pelo menos em Portugal, onde nem as potencialidades dos softwares que já se encontram na maioria dos museus são optimizadas. A falta de formação na área (e muitas vezes, a falta de vontade) continua a ser uma lacuna enorme nos nossos museus…
🙂 Patrícia, não é apenas a falta de vontade ou de formação… por vezes chega a ser mesmo falta de conhecimento!