A Guerra, todos os sabemos, não é boa. Mesmo com a melhor das justificações o sofrimento causado, as vidas perdidas, os sonhos desfeitos, a tragédia geral que a guerra provoca, são difíceis de aceitar. Conto-vos isto após uma visita que ontem tive o privilégio de fazer ao Museu Militar de Lisboa, acompanhado pelo actual director, o Sr. Coronel Albuquerque, e por uma comitiva de militares argelinos que trabalham no Museu das Forças Armadas da Argélia e onde revi uma das peças do museu que sempre me causou admiração. Nas salas da Grande Guerra, ao lado das impressionantes pinturas do mestre Sousa Lopes, encontra-se uma Cruz, recolhida num cemitério alemão, da campa de um soldado Português morto na famosa Batalha de La Lys, na qual podemos ler a seguinte inscrição:
“Hier ruht ein tapferer Portugiesisch”
Ou seja, “aqui jaz um bravo soldado português”! Sempre que revejo esta sala e esta peça em particular fico a imaginar a história por trás daquela inscrição e homenagem do inimigo. Que teria feito aquele bravo soldado? Ou por outro lado quem teria feito a inscrição e porquê a teria feito? E a história que normalmente me vem à cabeça é a de dois homens que foram lutar pelo seu país, pelos seus, dois homens com H maiúsculo. Um que faleceu a lutar por aquilo em que acreditava e outro que vendo naquela morte um acto de honra resolve fazer uma das mais tocantes homenagens que conheci.
É por isto que eu gosto de trabalhar em Museus e com Museus.
Tanto quanto sei, a Cruz é de Manuel da Silva, que recusou a rendição para permitir a retirada do restante pessoal. Outro soldado milhões, só que morreu. Tenho pena de não conseguir mais informação sobre o homem. De onde era, o que fazia, etc.