Eu sou um orgulhoso português. Gosto do meu país. Não me envergonho, antes pelo contrário, da sua História. À luz dos meus olhos e das circunstâncias em que vivo actualmente, ou seja daquilo que sou e conheço, sou crítico em relação a momentos específicos da nossa História, mas tenho a consciência que as minhas críticas, oposição se quiserem, são sustentadas pelo distanciamento que tenho de muitos desses momentos/factos.
Sendo crítico e não gostando de determinados momentos ou circunstâncias da nossa História enquanto Nação, não me parece justo ou até mesmo inteligente que a minha visão da História (porque é de uma visão parcial apenas que falamos) me dê o direito de os/as esconder. É simples! E passo a explicar.
Ao que parece preparava-se a Assembleia da República para inaugurar uma exposição, proposta pela Câmara Municipal de Barcelos, de bustos de Presidentes da República Portuguesa, em barro negro (daí a proposta de Barcelos, certamente), em que figuravam, segundo percebi pelo que li no Expresso online, os bustos de todos os Presidentes da República desde a implantação da mesma em 1910. Nessa exposição estava/está contemplada a inclusão de bustos dos Presidentes da República António Óscar Carmona, Américo Tomás e Craveiro Lopes.
Até aqui nada de mais, imagino eu, certo? Não… completamente errado. PCP (Partido Comunista Português) e BE (Bloco de Esquerda), partidos que participaram, a acreditar na ata da reunião e na notícia do Expresso que li, na reunião da Comissão de Educação onde a realização da mesma foi discutida, vêm agora dizer que a exposição (recordo que contém os bustos dos Presidentes da República Portuguesa) vai contra “a defesa da democracia” e que esta “não é compatível com o branqueamento do fascismo e dos seus responsáveis políticos” (João Oliveira, Líder Parlamentar do PCP) e, nas palavras de Pedro Filipe Soares do BE os presidentes “do fascismo” não podem estar “no mesmo patamar que os Presidentes eleitos democraticamente”.
Eu coloco-me, nesta discussão, completamente fora do debate político parlamentar ou do argumentário a que normalmente assistimos no âmbito dos Partidos políticos (reparem que ainda uso as maiúsculas para algumas palavras que me ensinaram ser importantes para a democracia), mas não posso deixar em claro aquilo que é um atropelo claro à História. O que estes dois partidos pretendiam fazer era “esconder” da exposição uma parte relevante da nossa História (a nossa História não foi sempre em democracia, certo?) e fazendo-o, ainda que inadvertidamente (embora não me acredite que assim seja), impedem que todos os seus visitantes se possam interessar por conhecer a vida daquelas pessoas e saber as razões/circunstâncias/condições da sua participação no regime ditatorial em que Portugal viveu durante parte considerável do Século XX. Li também um argumento ridículo em que se mencionava a não utilização dos bustos de Hitler ou Mussolini em exposições na Alemanha e na Itália e perguntei a mim mesmo, se esta vontade enorme que alguns têm de esconder os horrores da História (maiores ou menores), não permitirá, a médio prazo, que novos horrores se estabeleçam sem que estas pessoas se apercebam.
Expor um busto de um ex-Presidente da República não pode ser visto como um acto político de glorificação. A Assembleia da República ao aceitar (e bem na minha opinião) receber esta exposição não está a condecorar ninguém pelos seus extraordinários feitos. Está sim, e muito bem uma vez mais, a dar a conhecer a História de Portugal e da sua República (que é já centenária e se bem me recordo com uma centena de anos bem comemorados no Palácio de São Bento). A História é muitas vezes usada para fins políticos, mas 40 anos depois do 25 de Abril já deviam ter chegado para vivermos melhor com o nosso passado, não vos parece? E há diversos (e bons) historiadores portugueses que já publicaram bons trabalhos sobre o tema que os senhores deputados (todos) podiam fazer o favor de ler.
No que me diz respeito preferia duas mil vezes explicar ao meu filho quem eram os presidentes em causa, do que lhe justificar o espaço em branco na exposição. E vocês? Que preferiam?
© Imagem: DANIEL ROCHA – Público
Subscrito.
Concordo com o exposto. Não há que ter medo do passado; há é que explicá-lo, tanto quanto consigamos de forma isenta ou mesmo de forma parcial, desde que devidamente assumida e sujeito à crítica.