Será dos tempos que vivemos, da velocidade em que corre a vida, da imensidão de informação que nos passa à frente, da vertigem constante, mas tenho a sensação, quase a certeza, que estamos a deixar de discutir e “amarrar” conclusões/ideias que nos impeçam de andar às voltas sobre um assunto, num rame-rame infrutífero e inútil, em vez de avançar para outros patamares de discussão ou para a concretização de um projecto bem sustentado científica e estrategicamente.
Veio-me isto à cabeça quando li, há uns dias na Renascença, uma notícia sobre uma história a ser contada num determinado museu “sobre uns sapatos oferecidos por Salazar” ao Sr. Manuel no dia em que este fez 9 anos. Claro que se fala do Museu Salazar, ou melhor, o que agora se designa Museu e Centro de Estudos António Oliveira Salazar ao qual foi adicionado um restaurante, casa de chá e auditório. O tema é polémico, mas ainda assim mantenho o que disse há uns tempos aqui. Acho que poderia ser muito bem vindo um museu corajoso sobre uma das figuras que mais marcou o século XX português. Um museu que através da pessoa pudesse questionar o tempo da ditadura, sem rodeios, sem esquerda e direita, sem falsos moralismos, sem preconceitos, de vistas largas. Um museu que cumprisse o seu papel social, ou melhor, que pudesse cumprir o papel de mostrar a nossa ditadura com base em factos, dados científicos, estudos credíveis, em vez de esconder o que se passou no país colocando debaixo do tapete um período mau da nossa história enquanto nação.
Eu sei, no entanto, que a curta distância dos factos não acautela a prudência necessária nestas coisas, mas ainda assim deveríamos ser mais capazes de reflectir e guardar as conclusões tiradas para que a discussão não seja redonda.
Não deixa de ser um post naive. A memória que os museus trabalham é uma narrativa política. Conta a historia dos vencedores e esquece os vencidos. Será preciso esperar pelo fim deste regime para musealizar um espaço de polemia.
Não me parece que seja ingénuo o post, caro Pedro. Percebo que até o possa parecer, mas a narrativa política devia, numa sociedade sem complexos, incluir os dois lados, vencidos e vencedores. Mas percebo que queres dizer.