Parece uma infinidade, mas na realidade só passaram 4 anos desde os primeiros contactos que tivemos dos colegas da Hellenic Open University, que conheci através da Mapa das Ideias por causa do projecto eCultSkills (no qual tive uma breve mas muito frutífera participação), sobre a criação de um consórcio para avaliar e procurar melhorar o sector dos museus no que diz respeito às competências digitais necessárias para os perfis de trabalho emergentes que viríamos a conhecer como projecto Mu.SA.

O consórcio, como estava pensado, precisava da participação de um “VET provider” e de um “social partner” capazes de compreender e acompanhar o desenvolvimento do projecto no território português. Em Itália e na Grécia teríamos instituições semelhantes a assumir os mesmos encargos!

Na altura, sem saber muito bem no que me iria meter, depois de perceber o que era um “VET provider” e um “social partner” e de falar com a Paula Menino Homem e com a direção do ICOM Portugal, dei ao Achilles Kameas os contactos da Universidade do Porto e do ICOM Portugal como potenciais parceiros do consórcio. Iniciaram-se os contactos entre ambas as instituições e a UP, através da Faculdade de Letras e o ICOM Portugal, graças à visão da sua direcção na altura, decidiram meter mãos na massa e abraçar o projecto.

Eu fiquei entre as duas instituições, como um tolo no meio da ponte, mas em boa hora assumi com a direcção do ICOM Portugal o compromisso de iniciar a sua participação no projecto, participando na reunião de arranque em Dezembro de 2016 que se realizou em Atenas, na Grécia, juntamente com a UP e a Mapa das Ideias que complementava o “cluster” português do projecto.

dockingmusa
DOCKING THE MU.SA SHIP

Atenas – o arranque do projecto

Foram 3 dias cheios em Atenas. Cheios de informação, de nova terminologia, de aprendizagem, de confusões, de novos amigos e de incertezas sobre muitas nuances e questões particulares do projecto que então se iniciava. Na altura não pensei muito sobre o assunto, mas passado este tempo, posso dizer-vos que todos nós, profissionais de museus ou do sector da Cultura, precisamos de ter mais formação nesta área. Adquirir competências para gerir ou participar num projecto europeu é/devia ser fundamental na formação dos profissionais do sector (dos vários sectores em boa verdade).

Chegado de Atenas foi tempo de transmitir ao ICOM Portugal um enorme volume de informação sobre a gestão do projecto, sobre as necessidades, as tarefas que o ICOM Portugal tinha em mãos, a(s) responsabilidade(s) no projecto e as questões administrativas e burocráticas que tínhamos em mãos para resolver.

Uma das decisões fundamentais nesta fase inicial do processo foi a constituição inicial da equipa do ICOM Portugal no projecto. Tínhamos diferentes tarefas previstas (investigação, administração, gestão, produção de conteúdos, etc.) e precisávamos de uma equipa que desse conta do recado e suprisse as necessidades do projecto e possíveis alterações futuras. Conseguimos essa equipa em diferentes momentos.

O José Alberto Ribeiro já tinha sugerido (em muito boa hora) que a Ana Carvalho participasse no projecto. Decidiu também que a D. Olinda Cardoso nos daria o apoio administrativo necessário (que foi excelente durante estes anos) e mais tarde, por sugestão da Ana, juntamos o Manuel Sarmento Pizarro e, por fim, juntou-se a nós o José Barbieri depois de uma recomendação do Mário Antas.

O projecto Mu.SA – trabalho

Após este período inicial, em que todos tivemos um esforço adicional de aprendizagem do que é, como se faz e organiza e que instrumentos são necessários para um projecto deste calibre (o total do projecto em termos de financiamento ascendia a mais de um milhão de euros), começamos aos poucos, ajudados pelos outros parceiros, os trabalhos que nos estavam atribuídos: uma pesquisa sobre os perfis de trabalho emergentes, conduzida pela Melting Pro e aplicada em Portugal, Grécia e Itália, que seria essencial para aferir e decidir se os perfis profissionais emergentes identificados pelo eCultSkills poderiam ser utilizados para a criação dos produtos deste projecto, agora identificados como o caminho de aprendizagem do Mu.SA, um MOOC, um curso de especialização e um estágio final em contexto de trabalho.

Caminho de aprendizagem Mu.SA

Daquele estudo inicial resultaram algumas publicações como Museum Professionals in the Digital Era – Agents of change and innovation, Emerging Job Profiles for museum professionals e Museum of the Future – Insights and reflections from 10 international museums, na qual o ICOM Portugal não teve uma participação direta, mas apenas de apoio aos colegas.

Passada essa fase inicial, o trabalho seguinte (e exigente) era o da criação dos conteúdos dos cursos do projecto: MOOC e curso de especialização. Ao ICOM foram atribuídos 6 módulos. Um para o MOOC: Creative thinking skills; e os restantes para o curso de especialização: Analyse and synthesize information, Resilience, Interpersonal skills, Influence / persuasion skills e Integrity / ethical. Nestes foi essencial o trabalho da Ana Carvalho (na criação e coordenação) e do Manuel Pizarro (na criação de módulos) que, seguindo uma metodologia muito exigente, criaram cada um dos módulos especificamente para a parte do curso, alunos e exigências que foram pré-determinados pelo consórcio nas reuniões preparatórias. Sou testemunho que ambos tiveram um enorme trabalho para alcançar os resultados e a qualidade que o ICOM Portugal pretendia e confesso o orgulho de ter lido nas avaliações dos módulos e ouvido de vários alunos dos cursos o reconhecimento da qualidade dos módulos que produzimos. Devo dizer também que a colaboração do José Barbieri foi também fundamental para o desenvolvimento de alguns conteúdos que o ICOM Portugal produziu neste projecto, como o vídeo sobre Ética, um tema muito caro para nós.

Ética nos museus nesta era digital

Uma boa parte dos conteúdos produzidos pelo consórcio, agora transformados em OERs (Open Education Resources), estão disponíveis para reutilização no site do projecto. Usem e divulguem o quanto quiserem.

Além da produção dos conteúdos, o ICOM Portugal participou também na organização e realização dos diferentes cursos do projecto. Seja com tutorias, acompanhamento de alunos, esclarecimentos sobre conteúdos, discussões nos fóruns do curso, etc. a Ana Carvalho, o Manuel Pizarro e eu próprio, acompanhamos de perto todas as actividades do processo de aprendizagem até ao fim do curso de especialização e, de forma menos intensa, durante o acompanhamento dos estágios nos museus (cujo sucesso se deve ao enorme empenho da UP e, especialmente, da Paula Menino Homem).

Paralelamente a todo este trabalho, eu, a Ana, o Manuel, o José e a D. Olinda, tivemos ainda que gerir o projecto administrativa e financeiramente, promover e disseminar todo o trabalho do projecto, organizar eventos anuais (nacionais e internacionais), criar ferramentas de divulgação, entre muitas outras pequenas, mas consumidoras de tempo, tarefas. Aliás, se há algo que me orgulho particularmente neste projecto, que se deve em grande parte ao empenho da Ana Carvalho, é a divulgação que fizemos durante estes 3 anos e meio. Foram vários artigos e comunicações em revistas e conferências especializadas que trouxeram ao Mu.SA e ao ICOM Portugal, em primeiro lugar, mas também à equipa do projecto, o reconhecimento por parte de diversos colegas, museus, universidades e do próprio ICOM a nível internacional.

A cada passo, o ICOM Portugal deu conta disso mesmo, como podemos ver no site.

Uma nota final de agradecimento

Começamos por ser um conjunto de organizações que se juntaram com o propósito de “abordar diretamente a escassez de competências digitais e transferíveis identificadas no setor dos museus” através da criação das ferramentas de aprendizagem, os cursos e o estágio, e de um conjunto de outros resultados importantes, para acabarmos como um conjunto de organizações e equipas com a convicção do dever cumprido, confirmado pela aprovação do relatório final do projecto pela Comissão Europeia e consequente pagamento da totalidade da bolsa inicialmente prevista.

Neste momento de satisfação e de sensação de dever cumprido, não posso deixar de agradecer à equipa do projecto Mu.SA no ICOM Portugal (à Ana, ao Manuel, ao José e à D. Olinda) pelo fabuloso desempenho e empenho. Não posso deixar de agradecer também às duas direcções do ICOM Portugal que acompanharam o projecto, pelo contínuo apoio e dedicação. Nas pessoas do José Alberto Ribeiro, cuja direcção acolheu o projecto, e da Maria Jesus Monge, cuja direcção o conseguiu finalizar, deixo o agradecimento de todos nós a todos os colegas de ambas as direcções pela coragem em aceitar um projecto tão complexo, mas também tão necessário para os profissionais de museus em Portugal. Não posso me esquecer de agradecer também à Paula Menino Homem, da Universidade do Porto e ao Ivo Oosterbeek, à Ana Fernambuco e à Inês Bettencourt da Câmara, da Mapa das Ideias, membros do fabuloso “cluster” nacional do Mu.SA, por toda a ajuda, colaboração e apoio nos momentos mais difíceis. Por fim, um agradecimento também para todos os parceiros/amigos internacionais do Mu.SA. Em cada um deles conheci pessoas maravilhosas, competentes e empenhadas em fazer o melhor pelo sector dos museus. Muito obrigado a todos!

Acabo este projecto muito melhor do que entrei! A aprendizagem do Mu.SA foi extraordinária e deu-me uma perspectiva diferente sobre diversas áreas do sector dos museus que serão importantes para mim e para a forma como vejo o futuro dos museus a nível internacional. Espero, de forma muito sincera, que após esta pandemia possamos todos aprender que os museus precisam de muito mais que uma simples discussão sobre os benefícios/prejuízos da introdução do “digital”, mas sim de uma reformulação completa dos instrumentos que usamos para a gestão, divulgação, educação e estudo das nossas colecções e dos instrumentos e métodos que usamos para nos avaliarmos. Saibamos nós aproveitar realmente esta oportunidade!

Obrigado uma vez mais a todos!