Não tenho palavras para descrever o quão importante era para mim a Natália. Nunca lho disse com todas as palavras, mas admirava-a muito. Era uma profissional dedicada, competente, empática, responsável e arguta (entre muitas outras qualidades) e foi, acima de tudo, uma grande amiga. Uma Amiga de mão cheia!

Conhecemo-nos em 2001 quando a Natália entrou para um estágio na Sistemas do Futuro no âmbito da pós-graduação em Museologia da Universidade do Porto. Na altura, estavamos a consolidar a empresa e a fazer crescer a área de formação que sempre foi muito importante para conseguirmos dar respostas capazes aos colegas nos museus. A Natália estava a fazer a pós-graduação em Museologia, de onde também vim, e ao mesmo tempo trabalhava num call-center (se a memória não me atraiçoa) e a oportunidade era imperdível. O Fernando contratou-a e eu deixei de ter de levar com os 0 e 1’s dos informáticos e matemáticos da casa ou com as cores e pixeis dos designers e passei a ter com quem discutir a forma correta de documentar um retábulo de altar ou uma máquina fotográfica.

A equipa era mais pequena na altura. Festejávamos cada vitória (leia-se venda ou novo projeto) com um entusiasmo desmedido, fazíamos noitadas para momentos importantes, passávamos horas e horas a discutir novas funcionalidades, a criar manuais, a pensar sobre desafios que nos colocavam, a olhar admirados para sites feitos em flash, a tratar de burocracias, de novos layouts do escritório, a contar as aventuras vividas nas longas viagens para os clientes com o António, etc., mas também juntávamos a isso as nossas vidas pessoais. As nossas alegrias, angústias, amores, desamores, maleitas, conquistas, peripécias, noitadas, etc. eram muitas vezes partilhadas entre as 4 ou 5 pessoas que faziam então a empresa. Passávamos juntos grande parte do dia, por vezes juntávamos as noites e isso trouxe uma proximidade e cumplicidade únicas. Dessa altura, a Natália, a Sónia, o Fernando e eu mantivemo-nos Sistemas durante bons e longos anos e fomos consolidando ainda mais a nossa amizade.

A minha “partner” nas acções de formação, como muitas vezes se auto-intitulava era fundamental para todos nós e era para os nossos clientes, amigos e parceiros, a voz da Sistemas do Futuro, como muito bem disse alguém nestes dias. Foi sempre o nosso norte e tinha uma capacidade de organização e trabalho incríveis. Sempre que precisei ou que alguém precisasse estava lá. Foi assim quando me meti em trabalhos no mestrado e doutoramento, mas era assim com qualquer um de nós que precisasse de apoio profissional ou pessoal. Há uns anos, a sacana trocou-me e passou a “partner” do chefe Fernando, numa clara e merecida medida de reconhecimento pela sua capacidade de trabalho e dedicação, mas sempre esteve lá a apoiar-me nos momentos mais difíceis e a celebrar comigo/connosco os melhores.

Além desta amiga e colega extraordinária a Natália deu ainda um grande contributo académico na área da documentação em museus com o seu trabalho na área das terminologias e vocabulários controlados. Se não conhecem, podem ler a sua dissertação de mestrado que está disponível no repositório da UP e tem como título “Ensaio sobre o AAT-Art & Architecture Thesaurus : proposta terminológica de adaptação à realidade portuguesa”, mas também podem procurar pelos diversos artigos que publicou e pela colaboração que teve nesta área no GT-SIM ou junto do Secretariado dos Bens Culturais da Igreja com quem colaborou por diversas vezes.

Em 2018 recebeu o primeiro diagnóstico da doença. No entanto, a Natália foi à luta como sempre e fez de tudo para vencer. A luta teve altos e baixos, a resistência da Natália fez-me ter sempre a esperança que a iria ultrapassar. Sentia sempre que o ia conseguir por fazer, se calhar de forma egoísta, quis sempre que o conseguisse fazer, porque já sabia o quanto me iria fazer falta, o quanto iria fazer falta a muitos amigos e família que tiveram a felicidade de a ter nas suas vidas. Durante a sua luta mantivemos sempre a esperança e demos o melhor que podíamos e sabíamos para a apoiar.

No passado domingo chegou a terrível notícia: “A Natália partiu hoje!” dizia a mensagem. No momento, um manto de tristeza embrulhou-me a alma e o coração e continua, persistente, aqui porque a partida de uma boa amiga, de uma boa pessoa como a Natália deixa-nos um vazio imenso. Na minha memória ficará sempre a alegria do seu abraço forte no nascimento do João e da Inês.

Obrigado Jorge do meu coração! Obrigado por tudo minha lindeza! Terás sempre um lugar muito especial na minha vida e guardarei sempre o teu enorme sorriso.