Mais um 18 de Maio se passou! Já lá vão alguns desde que tomei conhecimento do que era o 18 de Maio e do trabalho e empenho que está por trás deste dia Internacional dos Museus, mas confesso que cada vez mais me afeiçoo ao trabalho com e para museus e me apercebo melhor da importância que os Museus têm – ou deviam – ter na sociedade.
Quando, há alguns anos, fui trabalhar para um Museu ao abrigo de um estágio profissional e em tentativa de escapar a penosa carreira de professor, nem me ocorria das implicações do trabalho em museus. Mesmo sendo licenciado em História não tinha, confesso, a mais pálida ideia dos bastidores dos museus. Em toda a licenciatura, mais ligada a investigação de História de Portugal, muito raramente se abordava o papel do museu como fonte de conhecimento a par das bibliotecas e dos arquivos. Nessa altura, que foi apenas há uns dez anos, os museus não tinham, salvo raras excepções, a imagem pública que hoje têm. Eram casas fechadas. Acessíveis apenas a alguns, com programas enfadonhos, com exposições permanentemente aborrecidas e sem contexto. Em Portugal, cauda da Europa como sempre, vivia-se uma situação de esquecimento, de desleixo, de desinteresse por parte de todos.
Felizmente esta situação tem vindo a ser alterada. Hoje em dia os museus estão na moda. Abrem-se museus com relevo nacional e internacional. Os munícipios estão mais atentos ao seu património e não há câmara municipal que se preze que não pretenda ter o seu museu, ou rede de museus. Desde Lisboa 91 que as práticas, no que diz respeito à museologia, se têm vindo a alterar e a modernizar, no sentido de igualarmos alguns dos países que mais avançados estão nesta matéria. A formação de quadros técnicos tem surgido, tal qual cogumelos, em todas as Universidades, municiando as tutelas com pessoas capazes de dar resposta a questões de grande exigência. O estado tem vindo a contribuir, primeiro com a separação do IPPC e criação do IPM, depois com a criação de um projecto que será estruturante no sector que é a Rede Portuguesa de Museus. Enfim estamos a dar passos concretos numa direcção que me parece a mais correcta, embora com alguns pecados importantes.
No entanto, esses pecados, que atrás menciono, podem ser, se tratados com desleixo, um camião cheio de areia na engrenagem que se pretende construir. Senão vejamos.
Criar uma estrutura extremamente necessária, como o é a RPM, e deixá-la dentro do IPM, organismo de tutela dos museus ligados directamente ao estado central, sem contemplar a presença, a título representativo claro está, das outras tutelas dos museus parece um pouco autoritário demais. Imaginem as directivas que as câmaras municipais não terão que obedecer na criação/manutenção de um museu com creditação e logo de seguida expliquem aos senhores das câmaras municipais – representantes do maior número de museus no país – que os responsáveis dos seus museus não têm qualquer palavra a dizer na política museológica do país. Não parece contraproducente!? Não será melhor envolver os diferentes responsáveis no processo!? Não é mais prudente e produtivo!? Claro que não se agrada nunca a Gregos e a Troianos, mas a discussão de diferentes pontos de vista aclara, como nada mais o consegue fazer, a decisão.
Não seria útil e benéfico para os museus que os seus profissionais se organizassem como fizeram os profissionais de bibliotecas e arquivos!? Não o pergunto sentindo qualquer necessidade de criarmos uma corporação que apenas busque vantagens por o ser. Pergunto-o porque acho que ninguém melhor que as pessoas que trabalham nos museus, podem realmente definir prioridades, estratégias, soluções para o futuro. Nas bibliotecas, pelo pouco que me é dado a saber, foi assim que aconteceu com algum sucesso. Hoje há uma rede de bibliotecas a funcionar muito bem no país e, em grande parte, é fruto do trabalho, da determinação e força que os bibliotecários souberam construir.
Acho que estes são dois dos factores chave para o futuro dos museus em Portugal. Outros existirão, mas desses falaremos em outras oportunidades.