Ferramentas para a documentação em museus

Ferramentas para a documentação em museus

Diariamente, ou quase, sou confrontado com pedidos de ajuda sobre ferramentas para a documentação em museus ou, de forma mais genérica, para inventário e documentação de património cultural. Ao longo de quase 20 anos de trabalho nesta área tenho respondido a quase todos estes pedidos com diversas informações, quase sempre em inglês, que vou recolhendo das pesquisas na net e bibliotecas. Livros, artigos, sites, projectos, normas, boas práticas, entre muitas outras fontes de informação interessantes que me vão servindo de apoio para as mais diversas questões. No entanto, o panorama tem mudado recentemente, senão vejamos.

O que tem mudado?

Nestes últimos anos temos assistido a um conjunto de iniciativas muito interessantes no panorama da documentação de museus na comunidade de países de língua portuguesa. Desde os seminários que têm sido organizados no Brasil por diversas instituições e colegas em 2010, 2012, 2014, entre outros (basta googlar se quiserem), passando para a publicação do SPECTRUM em Português, em 2013, disponível no site do projecto SPECTRUM PT, até a um conjunto de iniciativas felizes de que são exemplo os Encontros Documentais de Vila de Rei, que marcam também a iniciativa de diversas entidades a nível local e nacional em Portugal, são diversos os motivos que me levam a pensar, ou melhor, a saber que estamos melhor do que estávamos há uns anos.

Uma destas iniciativas, na minha opinião a mais importante no panorama nacional, foi a criação do Grupo de Trabalho de Sistemas de Informação em Museus no seio da BAD. É um grupo de trabalho nascido em 2012 e que tem como objectivo principal reflectir e trabalhar para melhorar os meios que os profissionais de informação têm ao seu dispor nos museus. É descrito da seguinte forma no site da BAD:

O GT de Sistemas de Informação em Museus procura pensar o Museu como um centro de produção de conhecimento ao assumir o objeto de museu como documento e o acervo da instituição museológica, existente nas Reservas, Arquivo, Biblioteca ou Centro de Documentação como um todo unitário nas suas inter-relações informacionais. A visão integradora do acervo do Museu implica um maior enfoque nas potencialidades informativas do acervo, contribuindo assim para uma mais eficiente gestão de toda a informação sobre património produzida em contexto museológico.

O GT-SIM tem várias linhas de acção sobre as quais podem ler mais na página de Facebook criada para a divulgação das actividades. No entanto, nesta data queria falar-vos dos resultado de algumas dessas iniciativas que foram agora dados a conhecer.

 

O Diagnóstico aos sistemas de informação nos museus portugueses

Este será, estou certo, um dos maiores contributos que o GT-SIM dará à comunidade museológica nacional e aos profissionais da documentação nos museus portugueses. É um retrato daquilo que os museus são actualmente no que diz respeito aos seus sistemas de informação e permitirá debater e reflectir sobre políticas nesta área com base em informação fidedigna. Além de ser este instrumento importante, será também a base para futuros estudos nesta área, porque os dados apresentados levantam uma série de questões interessantes que poderão ser alvo de estudos mais finos.

 

Ferramentas para a documentação em museus - Vocabulários Controlados

Os vocabulários controlados na organização e gestão do património cultural: orientações práticas

É um trabalho fundamental para a documentação das colecções. Saber criar e manter um vocabulário controlado é uma das tarefas mais exigentes nesta área de trabalho nos museus que é agora facilitada pela criação deste interessante e muito bem escrito documento pelas colegas (e amigas) Natália Jorge, Filipa Medeiros, Juliana Rodrigues Alves e Susana Medina.

 

Os Guias Técnicos de implementação da SPECTRUM PT

Ferramentas para a documentação em museus - Guias Técnicos

Por fim, os guias técnicos são um conjunto de documentos de auxílio à implementação da norma SPECTRUM que procuram facilitar a forma como os procedimentos são introduzidos no dia-a-dia das actividades de gestão das colecções museológicas, baseados nos SPECTRUM Advices, que foram traduzidos e adaptados para a realidade nacional por mim e pelos colegas (e amigos) Ana Braga, Catarina Serafim, Cristina Cortês, Eugénia Correia, Juliana Rodrigues Alves, Leonor Calvão Borges, Olga Silva, Paula Moura, Paula Aparício e Rafael António.

 

E no futuro?

Como vêm julgo que temos motivos para sorrir. Começamos a ter disponível um conjunto de ferramentas essenciais para a formação de novos profissionais e para o trabalho dos actuais profissionais de documentação em museus. É certo que algumas delas já as tínhamos, mas agora temos em Português, adaptadas à nossa realidade, sem barreiras nas linguagens técnicas.

Além disso, temos agora um panorama real sobre os sistemas de informação dos museus que nos obrigará, espero eu, a reflectir sobre o actual ponto de situação e a pensar onde pretendemos estar daqui a 10 ou mais anos, procurando influenciar positivamente as tutelas e as políticas a seguir (isto acreditando ainda que serão criadas e implementadas de forma consequente).

É um desafio contínuo, bem sei, mas também o foi a criação do GT-SIM e a definição de um conjunto de tarefas agora concluídas.

Redefinir fronteiras / afirmar identidade: desafios dos profissionais da informação

Redefinir fronteiras / afirmar identidade: desafios dos profissionais da informação

Fui convidado pela BAD para participar na mesa redonda que se seguirá à Assembleia Geral Ordinária desta associação, no dia 14 de Março (Pequeno Auditório da Biblioteca Nacional), sobre o tema “Redefinir fronteiras / afirmar identidade: desafios dos profissionais da informação“.

Não sendo sócio da BAD acompanho, por motivos profissionais e académicos, o trabalho que esta associação tem desenvolvido com muito interesse e tenho o privilégio de acompanhar vários colegas desta área no processo de criação e desenvolvimento do Grupo de Trabalho – Sistemas de Informação em Museus que a BAD, em muito boa hora, decidiu albergar a par de outros grupos de trabalho da associação que têm como objectivo aprofundar diversos temas e áreas relacionadas com o trabalho dos Arquivos, Bibliotecas e Museus.

Aceitei este amável convite, porque julgo poder dar o contributo de alguém que vem da área dos museus, ainda que tratando do mesmo, ou seja, da informação (das colecções), e que tem necessariamente uma visão distinta, por vezes próxima, por vezes mais distante, dos desafios colocados aos profissionais de informação independentemente do sector em que trabalham e da forma como esses desafios se devem reflectir na actuação de uma associação profissional como a BAD.

Embora tenha uma opinião sobre este tema e sobre os desafios que enfrentamos, ou enfrentaremos no futuro, não queria deixar passar esta oportunidade para vos questionar sobre o assunto. As questões que vos coloco e às quais podem responder por e-mail ou através dos comentários a este post são as seguintes:

Quais as fronteiras ou características identitárias que poderão definir os profissionais de informação face ao panorama actual da sociedade de informação em que vivemos? 

Que desafios se colocam actualmente aos profissionais da informação?

Como é óbvio as vossas respostas/sugestões/comentários serão tidos em conta na minha reflexão e na minha intervenção (dentro do tempo que terei disponível)!

Aproveito para vos deixar abaixo o texto que a BAD publicou para a introdução da mesa redonda:

Ao longo das últimas décadas, como reflexo da rápida evolução dos saberes e competências de bibliotecários, arquivistas e documentalistas têm vindo a ser questionadas as fronteiras da profissão e as próprias designações dos profissionais e das instituições.

Naturalmente este questionamento chega às associações profissionais de todos os países que, como no caso da BAD,
precisam de acompanhar o ar dos tempos e evitar a cristalização em velhos arquétipos de muitas profissões que estão a deixar de existir ou, no melhor dos casos, a transformarem-se radicalmente.

Torna-se necessário o diálogo e o confronto, a comparação e a procura das diferenças e das semelhanças. O caminho da convergência profissional parece esbarrar, porém, com a necessidade de maior especialização, sendo necessária ao mesmo tempo a demarcação de uma zona de interseção, por si mesma definidora de um campo científico, técnico e profissional.

No sentido de procurar respostas para estas e outras inquietações, a BAD – no dia da sua Assembleia Geral Ordinária – decidiu lançar um debate que considera interessará a algumas das profissões que coexistem neste universo da informação para que, em mais uma tarde de Sábado, nos ajudem a traçar novas linhas nos mapas do nosso futuro.

Espero ver-vos na Biblioteca Nacional no dia 14!

© imagem: BAD