Tinha anunciado aqui a realização desta importante discussão sobre os Museus de Belém e a intervenção que está planeada, a propósito do novo Museu dos Coches, para esta zona da capital. Hoje é chegado o dia da discussão, mas devido a outros compromissos não me será possível ir a Lisboa para participar na mesa redonda. No entanto, gostaria de ver discutidas algumas questões relevantes sobre esta matéria e saber a opinião dos directores dos museus envolvidos na polémica sobre vários dados que estão em cima da mesa.
As questões que me ocorrem são as seguintes:
1. o novo Museu dos Coches não obriga (ou obriga?) à deslocação do Museu Nacional de Arqueologia para fora das actuais instalações, pois não? E se obriga, quais os motivos que imperam nesta decisão, tendo em conta toda a história de ligação entre o MNA e o actual edifício, bem como o local que tem sido ventilado para hospedar o MNA, que me parece ser completamente errada?
2. Havendo possibilidade de investimento na recuperação de alguns dos museus envolvidos, porque é que não se opta por realizar os projectos há muito existentes para a ampliação do MNA e expansão do Museu da Marinha para os terrenos adjacentes?
3. Porque é que não se transfere o Museu da Marinha, a par do Arquivo Histórico e Biblioteca Central da Marinha (como parece ser já um dado concreto) para o edifício da Cordoaria, como bem afirmam Raquel Henriques da Silva e Luís Raposo?
4. Eu percebo a necessidade que existe em dotar o Museu dos Coches de melhores condições para a colecção e para os seus visitantes, mas percebo também que este não é o único museu que tem essas necessidades em Lisboa. Em pouco tempo recordo-me do Museu Nacional de Arte Antiga, do Museu da Cidade, do Museu do Azulejo, etc que sofrem desde há muito de falta de meios para cumprir a sua missão da melhor forma. Porque não investir num desses museus? A zona a intervir tem que ser Belém? (esta pergunta poderá ser um tanto ingénua, mas devo confessar que desconheço se a área a intervir é obrigatoriamente Belém e por isso pergunto).
6. Qual o relevância que pretendem dar ao Museu Nacional de Etnologia nesta nova área?
7. Será criado um novo museu da Viagem no antigo Museu de Arte Popular? A extinção deste último está decretada? O que será feito das colecções que lá estavam? Bem sei que é um museu associado a um período menos feliz da nossa história (que não deixa de ser a nossa história), mas representa de certa forma as expressões artísticas mais genuinamente portuguesas. E já agora fica aqui o link para um blog sobre este museu (bem haja).
8. Tendo em conta o muito que se tem feito na museologia portuguesa nos últimos anos, com a criação da Rede Portuguesa de Museus (em boa hora), a reabilitação de alguns museus tutelados pelo estado e autarquias, com a criação de bons cursos na área e consequente formação de técnicos capacitados na matéria, porque é que este processo tem sido impulsionado pelo Ministério da Economia e não pelo Ministério da Cultura como penso que seria normal? Terá o primeiro uma política cultural própria?
São várias as dúvidas que tenho sobre todo este processo e apenas disponho dos dados que vêm a público na comunicação social, portanto é com grande pena que não irei participar nesta mesa redonda e ouvir da parte dos principais actores as vantagens e desvantagens do processo. Espero que o ICOM.PT (os parabéns pelo excelente conjunto de iniciativas que têm levado a cabo nos últimos tempos) divulguem as conclusões desta reunião para os que não puderam comparecer.