O tema da conferência anual do CIDOC este ano foi a “Documentación Siglo XXI: preservando y conectando la información de los bienes culturales“. Devo dizer que é um tema que está cada vez mais em cima da mesa. Hoje em dia os museus não podem continuar isolados no que respeita à informação e conhecimento que produzem em relação a outros produtores do meio cultural como as bibliotecas e os arquivos. É sabido, no entanto, que estes dois últimos estão bastante mais avançados no que diz respeito à documentação das suas “colecções” por diversas razões que aqui não importa referir. Mas não é possível esquecer o enorme esforço feito na comunidade museológica, nomeadamente do CIDOC, para corrigir este atraso e dotar os museus de ferramentas que lhes permitam estar quase em pé de igualdade com todos os seus parceiros no que diz respeito a este tema.
Quase todas as comunicações apresentadas este ano eram dirigidas para os resultados em termos de investigações ou projectos práticos nos quais o objectivo era evidenciar as potencialidades da ligação entre diversos sistemas/bases de dados que permitiam uma complementariedade na informação que os museus disponibilizam na web. Desde apresentaçõe mais técnicas, como a do Bricks Projects que já se encontra online, até à apresentação do enorme e complexo projecto que se está a desenvolver no Chile para a tradução para espanhol do Art & Architecture Thesaurus do Getty Institute (a responsável é a Dr. Lina Nagel), passando por apresentações de projectos específicos de uma região, como o que eu e o Fernando Cabral fomos apresentar em parceria com o Paulo Lima da Direcção Regional de Cultura do Alentejo, ou de um país de que foi exemplo a apresentação do sistema central de documentação dos museus da Estónia. Tudo teve o seu lugar, mas nesta conferência os dois assuntos que mais me despertaram interesse foram o workshop sobre ObjectID e a grande discussão, acalentada e orientada pelas Dr.ª Murtha Baca e Drª Lina Nagel, sobre thesaurus e a sua importante contribuição para os sistemas de documetação de museus, blibliotecas e arquivos.
Quanto ao ObjectID, norma que penso ser já bastante conhecida de todos, a discussão centrou-se no objectivo principal desta norma: criar uma base de entendimento sobre informação mínima dos objectos que os permita identificar em caso de roubo. Ou seja cada museu ter, no seu sistema de informação, um conjunto de campos que identifiquem sem margem de erro todas as pelas da sua colecção que possa ser usado no caso de furto, por exemplo, para que as polícias possam desempenhar o seu papel.
No que diz respeito aos thesauri a discussão é bem mais ampla que a anterior. Ampla e interessante, penso eu. Em Portugal é um tema que teima em ser constantemente esquecido. Há alguns projectos pontuais, dos quais destacaria a publicação do thesaurus de objectos religiosos, os thesauri que são utilizados no âmbito dos Museus dos Açores e alguns projectos que agora estão a ser trabalhados como o dos instrumentos científicos (Doutora Marta Lourenço), da azulejaria (Doutor Vitor Serrão). Perdoem-me se me esqueço de algum, mas é por simples desconhecimento que existem*. No entanto, não há uma verdadeira aposta nesta importante área. A responsabilidade de criar este tipo de projectos, pela sua complexidade e importância, deve estar sempre da parte das tutelas dos museus, mas também poderia ser uma boa oportunidade para as associações profissionais promoverem a sua importância e reunirem o importante contributo dos seus associados nesta matéria. A criação destes projectos deveria ser, segundo me disseram durante a conferência, feita em parceria com universidades, dado que o tipo de conhecimentos que é necessário ser bastante alargado. Linguística, línguas, história, ciências exactas, informática, etc. são alguns dos importantes contributos que importa reunir para um projecto ser bem sucedido.
Na minha opinião há uma janela de oportunidade que se abre neste momento. Algo que pretendo propor à Universidade do Porto: a tradução do A&AT para português, em colaboração estreita com o Getty Institute. Penso que é projecto possível no âmbito da Universidade e para o qual seria relativamente simples arranjar fundos. Uma ideia que pretendo apresentar em breve, mas que fica já aqui expressa.
Para finalizar importa também referir que a conferência contou este ano com um importante patrocínio do Getty Institute que permitiu a um grupo relativamente extenso de pessoas participar nos trabalhos. Com estas bolsas o CIDOC conseguiu financiar a viagem e estadia (penso eu) de pessoas do Benim, India, Zimbabwe, Costa do Marfim, Zâmbia, Bangladesh e também de alguns países da américa do sul.
Para o ano a conferência realiza-se em Xangai, integra os trabalhos da conferência trienal do ICOM, e eu confesso que quero ir (embora ainda tenha presentes as 14 horas de avião até Santiago). Tem sido momentos importantes para aprender.