Tenho tido a sorte de acompanhar, desde 2003, um conjunto de iniciativas e projetos de documentação e digitalização do vastíssimo património que a Fundação Calouste Gulbenkian detém ou tem criado ao longo da sua existência. Desde esse ano, através da Sistemas do Futuro, temos mantido uma relação muito especial com a Fundação que culminou, este ano, com a publicação do catálogo digital da História das Exposições de Arte da Gulbenkian.
O projeto deste catálogo digital (sobre o qual já havia falado aqui) nasceu em 2014, a partir de uma ideia da Helena de Freitas, que já nos tinha chamado para trabalhar no catálogo raisonné do Amadeo de Souza-Cardoso, e constitui-se como um “projeto de estudo, digitalização, inventariação e divulgação da memória expositiva da Fundação Calouste Gulbenkian no campo artístico” catalogando e documentando toda a informação relativa à programação realizada entre 1957 e 2016. Um projecto ambicioso, de larga escala, que envolveu, desde o seu começo, um conjunto diversificado de competências e especialidades que contribuiram durante os últimos 7a 8 anos para a edificação do enorme recurso que a Fundação coloca agora à nossa disposição.
Em boa verdade, este catálogo digital é, em primeiro lugar, uma nova fonte de informação e estudo para os historiadores de arte (a nível nacional e internacional), mas também um repositório de informação sobre a actividade da Fundação desde 1957 que possibilitará o aparecimento de novos estudos ou de novas perspetivas sobre alguns temas já abordados, mas sem o confronto com a sistematização e organização da informação agora disponível.
Uma nova e rica fonte de informação que é fruto da colaboração entre a FCG e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa com quem temos mantido através da Sistemas do Futuro, e desde há algum tempo, alguns outros projectos colaborativos para sistemas de informação sobre diferentes tipos de património imaterial, de entre os quais destaco o LX Conventos. Esta colaboração entre a FCG e a FCSH-UNL relativamente às exposições da FCG começa aliás com a tese de doutoramento da Leonor Oliveira e concretiza-se no projecto, também apoiado pela FCT, que nos transporta virtualmente até à Primeira Exposição de Artes Plásticas de 1957 conforme podemos ler neste resumo do projecto.
Para nós na Sistemas do Futuro foi um projecto muito importante e interessante. Permitiu-nos testar um conjunto de capacidades que sabíamos ter nos sistemas de informação que desenvolvemos e responder, sem comprometer a estrutura de informação normalizada, a todas as novas solicitações e exigências que a documentação das exposições e de outras categorias de informações nos colocaram ao longo das diversas fases do projecto. Além das questões de estrutura de informação, o desafio enorme de construir, em colaboração com os técnicos da Fundação, as ferramentas que permitem a publicação dos dados tal como os vemos, foi também um processo de grande aprendizagem e partilha de conhecimento que usaremos, estou certo, em ocasiões futuras.
Foi um processo longo e, por vezes, complexo. Há decisões que é necessário tomar, no que diz respeito à gestão de informação, que tem implicações futuras e ramificações difíceis de reverter. No entanto, estou certo que ganhamos aqui uma enorme experiência sobre a forma como é possível documentar e partilhar a informação das exposições organizadas por uma instituição como a Fundação.
É esta experiência que irei colocar ao serviço do CIDOC através da minha participação ativa no grupo de trabalho “Exhibition and Performance Documentation” que o Gabriel Bevilacqua Moore fundou e que tem dirigido nos últimos anos, que procura “investigar o papel central da documentação de exposições e performances em museus e organizações relacionadas, e lidar com questões relevantes da sua preservação, acesso e da pesquisa a longo prazo” (traduzido do original da apresentação do grupo de trabalho na página do CIDOC).
Relativamente ao Catálogo Digital das Exposições da Fundação Calouste Gulbenkian espero que o usem e aproveitem. É para isso que ele foi construído e disponibilizado e é por isso que não me canso de agradecer à Fundação, à FCSH e à FCT por o tornarem possível.