O 220

O 220

A propósito de uma notícia do JN lembrei-me de quando vinha ao Porto, essa enorme cidade na altura, em miúdo com os meus pais. As visitas à grande metrópole serviam para comprar roupa no Marques Soares ou noutras duas lojas na rua dos Clérigos e de Stº. António (desculpem mas a minha mãe chamava-lhe assim e habituei-me) que agora já não existem, para visitas a alguns médicos especialistas que não havia em Espinho e para fazer uns passeios por Santa Catarina que passavam necessariamente por uma paragem numa pastelaria ali perto do bolhão.

Uma das coisas que mais gostava dessas visitas era quando passava (andar era mais raro) pelos eléctricos. Sempre me admirei com a nossa capacidade de construir máquinas como aquelas. Comboios que andavam juntos dos carros sempre “amarrados” às linhas eléctricas que lhes forneciam energia. Recordo sempre que os meus pais ficavam furiosos com os penduras que aproveitavam a boleia agarrados do lado de fora. Eu sempre os achei destemidos e corajosos, confesso!

Estava nos meus tempos de liceu quando as linhas de eléctrico definharam quase até serem enterradas definitivamente. Na altura, via-se o eléctrico como uma coisa do passado e não se percebia a importância que poderia ter na rede de transportes da cidade. Felizmente com a fundação do Museu do Carro Eléctrico foi possível defender um património importante da cidade e utilizá-lo centrando a atenção na manutenção de algumas linhas emblemáticas que se destinam, julgo eu, a uma exploração mais turística. Sendo que também servem populações numa importante área da cidade, a sua marginal e algumas zonas do centro.

Hoje fico feliz com a notícia do regresso do histórico 220 às ruas da nossa cidade e em breve vou tratar de o revisitar.

Aproveito para lhes deixar o link do Museu do Carro Eléctrico onde podem consultar a importante colecção que este museu dos STCP tem.

Imagem © Museu do Carro Eléctrico

MCE.1994.1.1
Carro eléctrico nº247
United Electric Car Company

A língua e o museu

A língua e o museu

No próximo dia 21 de Março faz 6 anos que o Museu da Língua Portuguesa de S. Paulo foi inaugurado. Recordo que o facto (o projecto era pouco conhecido para a maioria dos cidadãos portugueses) teve um impacto enorme em toda a comunicação social lusófona (e não só) e foi, desde logo, colado à questão, não sei se deverei dizer imbróglio, do acordo ortográfico, assumindo-se o museu como uma ferramenta política de divulgação e promoção do Português como verdadeira língua internacional (reconhecida nas instituições internacionais como a ONU).

Hoje dei de caras, na arrumação dos “papéis” digitais com um link para um artigo do New York Times que fala exactamente sobre algumas questões com que a nossa língua (o nosso maior e mais vivo património) se debate na sua afirmação.

É engraçado notar como se mantém actual o artigo.

Que futuro para a RPM?

Que futuro para a RPM?

Ainda trabalhava no Museu de Aveiro quando pela primeira vez ouvi falar sobre a Rede Portuguesa de Museus. Estávamos nos idos de 1999 ou de 1998, em pleno apogeu de desenvolvimento do país e ainda sobre o efeito desse grande evento que foi a Expo 98.

Recordo ainda a reunião, em que acompanhei, com outro colega, a Isabel Pereira, à altura directora do Museu de Aveiro e uma das pessoas que mais me ensinou sobre a profissão, no Museu Nacional de Arte Antiga, onde foi discutido o conceito de rede e o envolvimento dos museus tutelados pelo Instituto Português de Museus na mesma. O entusiasmo com o processo e as expectativas que criei para o futuro dos museus portugueses, com a criação de uma entidade do género que pudesse servir de regulador de qualidade e ter um papel interventivo (politicamente e economicamente falando) na definição de um rumo e políticas a longo prazo para o sector, foi enorme. Enorme ao ponto de me parecer uma questão menos importante, hoje reconheço que foi um erro grande (embora justificável), a entrada dos museus tutelados pelo IPM de forma directa para a RPM. Lembro-me que algumas pessoas criticaram essa medida na altura, com o argumento do exemplo que deveria ser dado, mas o facto histórico é que entraram de forma directa e só depois foram alvo de avaliações e melhoramentos.

No entanto, sempre fui totalmente favorável à existência da RPM. Crítico em relação a algumas questões (a da certificação do software de gestão de colecções e a pouca importância dada à documentação dos museus no processo de certificação, por exemplo), mas sempre favorável à sua existência e reconhecedor do mérito e importância que tem no panorama museológico nacional. Acho mesmo que se pode afirmar que para a museologia e museus portugueses podemos dizer que existe um Antes da RPM e um Depois da RPM. Sobre isto já tinha falado aqui e não há muito tempo.

Tecido o merecido elogio, que é estendido a todos os colaboradores da rede (porque foram eles que construíram a RPM como ela é/foi) como não poderia deixar de ser, é tempo agora de pensar o futuro da mesma. É certo (será?) que a RPM é parte integrante do programa do governo (convém recordar que muita coisa também fez parte de programas de governos anteriores, não é?). A determinado ponto escreve-se no referido documento:

No prazo de um ano, o Governo apresentará a sua proposta para uma nova estratégia da Rede de Museus.

Eu sei que o prazo ainda não acabou. Julgo não estar errado quando digo que temos apenas 8 meses deste governo, mas apenas como indicador tínhamos 90 dias para a definição da nova orgânica da SEC e só agora começamos a vislumbrar a formatação que o governo pretende para a administração central em relação ao Património com a nova DGP (que junta IGESPAR, IMC e DRCLVT). No entanto, a discussão que se deveria fazer sobre a nova estratégia para a RPM não é conhecida, não é pública e aberta a todos aqueles que serão influenciados (pessoas e instituições) pela nova estratégia. Teremos na mesma uma entidade dependente do poder central? Será pensado um outro modelo em que diferentes sectores e tutelas ligados aos museus poderão ter um papel mais activo? Será fruto de uma política museológica nacional pensada para o longo prazo e com um compromisso abrangente das diferentes forças políticas? Terá uma preocupação em chamar a comunidade museológica para si, como agora acontece? Terá um papel maior na atribuição de verbas de fundos comunitários aos museus? Terá em si preocupações com outras redes como a (anunciada e não concretizada) rede de conservação?  Poderá tonar-se maior do que é e estabelecer-se como um organismo mais independente, certificador, regulador, que possa ter meios para promover a qualidade em todas as diferentes vertentes do trabalho museal?

Há um sem número de questões que se levantam e que seria importante começar a debater. No entanto, os sinais que vemos não são os melhores. Se a RPM é, para os actuais responsáveis, uma aposta de futuro, como se compreende a demissão não continuidade de uma equipa cujo o mérito é reconhecido pela maioria das pessoas que conhecem o seu trabalho? Como se pode tomar uma decisão destas, justificando com questões processuais, sem antes definir a estratégia a seguir? E anunciar em seguida que aquelas pessoas podem e até deviam ser integradas no quadro do IMC?

Esta discussão deveria ser pública e alargada e deveria dar origem a uma estratégia tão consensual quanto possível para que a sua implementação possa ser estável e não estar dependente da deriva que cada governo posterior possa ter sobre este aspecto. Sabendo que é algo raro em Portugal era bom que os museus e a sua Rede pudessem ser o exemplo de algo com continuidade e estruturante no país.

Que futuro para a RPM?

Da crise

Não é novidade para alguns dos meus leitores a minha posição crítica em relação à ausência de uma política museológica (e outras) em Portugal que seja maior do que a legislatura e não mude consoante a cor política de cada governo. Já o afirmei, ainda que por outras palavras, aqui e aqui.

No entanto, as notícias (no Público e no I) que nos chegam sobre a Rede Portuguesa de Museus suscitam, em todos os que se preocupam com os museus em Portugal, uma apreensão sobre o futuro de um sector que é frequentemente tratado como o parente pobre da área cultural.

Pese embora o seu início não ter sido, no meu entender, o mais apropriado (recordo que os museus do Estado entraram na RPM sem a avaliação devida), a Rede Portuguesa de Museus conseguiu ser um projecto capaz, inteligente, estruturado para o sector, tendo conseguido, por mérito próprio, a capacitação de vários museus por todo o país e promovido, durante esse processo, uma significativa melhoria no panorama museológico nacional. Um papel importante que não devia ser posto em causa neste período de transição, mas que o está a ser efectivamente. Se aqui juntarmos a demora da transição, os problemas com nomeações e reconduções, a desorçamentação do sector, etc. temos motivos para bem mais que uma simples apreensão.

Livro – Museus e Património Imateral – Ana Carvalho

Livro – Museus e Património Imateral – Ana Carvalho

20120202 002529No próximo dia 9 será lançado na Universidade de Évora o livro sobre património imaterial e museus da autoria da Ana Carvalho do blog No Mundo dos Museus. Esta sessão realiza-se entre as 18h00 e as 19h00 na sala 131 do Colégio do Espírito Santo. A entrada é livre.

Nas palavras da autora esta publicação:

…é o resultado de uma tese de mestrado apresentada em 2009 na Universidade de Évora no âmbito do Mestrado em Museologia. Trata-se de uma reflexão em torno do enquadramento normativo da UNESCO, em particular a Convenção para a Salvaguarda do património Cultural Imaterial (2003) e o papel dos museus nesta área. Os museus são um dos agentes intervenientes na definição de estratégias de salvaguarda do Património Cultural Imaterial e é a partir desta premissa que procuramos enquadrar as responsabilidades dos museus neste campo. Sublinham-se as problemáticas e os desafios implicados numa abordagem ao património, cada vez mais alargada, e que reclama, por sua vez, intervenções mais integradas, seja do ponto de vista dos parceiros envolvidos seja do ponto de vista da diversidade dos campos disciplinares envolvidos.

À Ana não podia deixar de endereçar os meus mais sinceros parabéns pelo trabalho desenvolvido e pela publicação do livro.

Fica a referência para os possíveis interessados.

Carvalho, Ana, 2012. Os Museus e o Património Cultural Imaterial: Estratégias para o Desenvolvimento de Boas Práticas. Lisboa: Colibri-CIDEHUS. ISBN 978-989-689-169-5.

Museu Monográfico de Conímbriga – uma (re)visita

Museu Monográfico de Conímbriga – uma (re)visita

Há poucos dias atrás, aproveitando o feriado de Agosto e uns dias de férias, rumei ao centro do país para dois dias de descanso total. Fomos para perto da Serra de Sicó, ali para os lados de Condeixa, para um local de que tivemos conhecimento através das excelente série de reportagens da SIC “Ir é o melhor remédio”, o Villa Pedra. Um conjunto de casas que em tempos foi uma pequena aldeia e que agora está ser recuperada para o turismo de acordo com um projecto que me pareceu muito interessante nas suas diversas vertentes. Aconselho vivamente a experimentar.

Ora como passamos por Condeixa não pude deixar de parar, na viagem de volta, pelo Museu Monográfico de Conímbriga e relembrar as viagens que costumava fazer em miúdo com os meus pais para visitar castelos, cidades, aldeias, museus e outro património por esse país fora.

À chegada recordei logo um passeio em família a Conímbriga que contemplou um piquenique no qual nunca faltavam os bolinhos de bacalhau, os panadinhos, os rissóis e aquele arroz maravilhoso que só as tias conseguiam fazer. Aquele parque de estacionamento é, ainda hoje, usado para piqueniques, facto que me deixou um pouco admirado confesso. É um hábito que julgava (ignorância minha certamente) perdido ou em desuso.

Após esta boa recordação seguimos para a bilheteira. Devo dizer que esta minha visita a Conímbriga aconteceu a um domingo e que a nossa chegada ao museu deu-se por volta das 13:45h, no entanto, o funcionário que nos atendeu foi extremamente simpático e recordou-me que até às 14:00h, e por ser domingo, o bilhete era gratuito. Esta questão da gratuitidade dos museus é algo que está em cima da mesa, mas deixem que vos diga que o facto agradou a todos os que estavam para entrar no museu e perguntavam o custo de ingresso.

As ruínas romanas continuam a fascinar-me. Não há vez que visite Conímbriga ou qualquer outra antiga cidade romana que não fique completamente fascinado com aquela cultura e sociedade. O seu culto pela beleza e harmonia, a sua relação com os povos que “romanizavam”, as suas crenças e o modo como as praticavam, a força dos seus exércitos, a sua decadência, enfim… tudo é fascinante na civilização Romana. E Conímbriga é um espelho disso. De tudo o que revisitei agora não me recordava apenas da vista que se contempla em frente às ruínas e que tentei captar na seguinte imagem.

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No entanto penso que Conímbriga já merecia ser alvo da atenção por parte dos responsáveis da Secretaria de Estado da Cultura em relação ao que oferece aos seus visitantes. Falo apenas das instalações e não de todo o projecto do museu, uma vez que não tenho conhecimentos nem dados para me referir ao enorme projecto de investigação que é este sítio arqueológico.

O museu merecia algumas obras na entrada e no parque de estacionamento, merecia limpeza de mato perto da estrutura da casa dos Repuxos, merecia uma exposição renovada e mais abrangente utilizando mais as novas tecnologias como recurso didáctico e exploratório, merecia o patrocínio de uma empresa de chapéus de chuva/sol para proteger o visitante do calor abrasador de Agosto, merecia um renovado site, merecia atenção séria e capaz de potenciar o excelente trabalho que a equipa do museu tem vindo a fazer nas mais diversas vertentes (formação, conservação e restauro, apoio às escolas, educação, etc.)

Espero que a consiga em breve apesar da situação financeira do país.