As imagens que ilustram este post provêm de um artigo no The Telegraph sobre um livro de Molly Oldfield intitulado “The Secret Museum” no qual são revelados alguns dos tesouros dos museus que estão “escondidos” por questões de salvaguarda, segurança e preservação. Embora esta seja uma situação comum nos museus – a falta de dinheiro para assegurar os processos de restauros que permitiriam mostrar estas peças ou mesmo a impossibilidade de os restaurar por questões técnicas, assim o determinam – são vários os museus que procuram/encontram outras alternativas de os mostrar ao público. As colecções on-line são uma delas, livros como o que origina o artigo outros, catálogos da colecção ainda outra possibilidade à qual poderíamos ainda juntar uma boa quantidade de iniciativas neste sentido. O acesso, ainda que condicionado, a estes objectos únicos é tido como essencial para uma boa parte dos museus.
Com isto em mente lembrei-me de propor uma nova iniciativa aqui no Mouseion: a Reserva. Uma categoria de posts convidados para os museus que possam ter interesse em divulgar e dar destaque, através desta vossa casa, a um objecto da sua colecção que não possa ser mostrado ao público fisicamente, mas que possa e deva ser divulgado on-line com imagens e texto sobre a sua história. Algo semelhante ao Speaker’s Corner, portanto.
Conhecem algum museu que aceite o desafio? Importam-se de divulgar esta nova iniciativa ao maior número de museus possível? Agradeço desde já o vosso interesse e acima de tudo a participação. Podem ser objectos de museus portugueses, brasileiros, moçambicanos, angolanos, timorenses, da Guiné, de Macau, etc. ou de outros países interessados (há excelentes objectos ligados a Portugal e à sua história em muitos museus por esse mundo fora), mas o texto sobre o objecto e a sua história deve ser escrito em português.
Para os museus interessados em participar basta que me enviem essa intenção, juntamente com o texto e imagens do objecto (cuidando eu dos devidos créditos na publicação, como é óbvio) através dos comentários.
Editado: acrescentou-se a indicação sobre a participação de museus de outros países para além de Portugal que possam estar interessados nesta iniciativa.
A história é simples. E aproveitando as palavras do Pedro aqui fica:
Na noite de 11 de Abril de 1922, os aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral, a bordo de um hidrovião Fairey baptizado “Pátria” e na segunda etapa daquela que haveria de ser a primeira travessia aérea do Atlântico, amararam de emergência no oceano,tendo sido socorridos, depois de uma valente deriva pelo navio cargueiro Paris City, navio em rota na região. O Paris City era comandado por A.E.Tamlyn. Reconhecidos pelo salvamento, os aviadores ofereceram posteriormente ao Comandante Tamlyn uma cigarreira e uma fosforeira em ouro, objectos que têm gravada a rota da histórica viagem e nas quais está incrustado um pequeno diamante assinalando o ponto onde foi efectuado salvamento e consequente resgate dos aviadores portugueses. No interior da cigarreira, uma mensagem gravada agradece ao Comandante Tamlyn a sua assistência. Os descendentes de Tamlyn decidiram agora vender a oferta, que deveria com toda a lógica passar à propriedade do Estado Português, nomeadamente ao Museu da Marinha. Não tenho qualquer dúvida sobre o valor museológico das duas peças. O valor que a família Tamlyn pede pelas peças é de cerca de oito mil libras.
Como disse não se trata de uma nova Gioconda, mas são objectos que representam um importante marco na nossa história, na história da aviação mundial e denotam o carácter da nossa gente, que agradecendo de forma calorosa quem nos ajuda, mostra a sua grandeza. A solidariedade de que tanto se fala nos tempos que correm.
A ler esta notícia do Público sobre o leilão das cartas que James Dean (um ídolo da minha juventude) escreveu à sua namorada de então, Barbara Glenn, em 1954 em época em que não era o mito que hoje conhecemos, relembrei-me de diversas conversas que costumo ter com a amiga Maria José Almeida sobre o que acumulamos e vamos deixar para trás quando aos cento e muitos anos partirmos.
A Zé costuma dizer que o melhor é não acumular nada para não dar trabalho a quem fica e por questões de privacidade, da nossa privacidade e eu concordo, mesmo sabendo nós que a memória deixada por muitos pode ser importante. No entanto até que ponto é que as cartas de amor trocadas entre duas pessoas (um dos actos de maior intimidade que conheço) podem tornar-se domínio público? Acham vocês que depois de mortas aquelas duas pessoas perdem o direito à sua privacidade? Serão elementos importantes para quem estuda o personagem James Dean e a sua história, mas até que ponto o estudo, a história, o entretenimento podem justificar a devassa da vida privada?