5 motivos para ser membro do ICOM

5 motivos para ser membro do ICOM

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Uma colecção de vinhetas

Este ano, segundo as vinhetas que estão na parte de trás do meu cartão do ICOM, faz 12 anos que sou membro desta organização filiada da UNESCO que reúne mais de 35.000 membros entre instituições e profissionais de museus de 136 países/territórios, que conta com 119 comités nacionais e 30 comités internacionais dedicados a diversas áreas de interesse/estudo/investigação em museus e museologia.

Ao longo destes 12 anos aprendi imenso nesta organização, mas gostava de partilhar com vocês os motivos que justificam, na minha opinião, a adesão e manutenção como membro de uma organização desta natureza.

 

Uma lista com os meus 5 motivos

 

1. A ética profissional – O ICOM é uma rede de profissionais de museus que se assume como uma força de liderança em termos de ética profissional. Ou seja, o ICOM é a instituição que mais se aproxima das características de uma Ordem profissional, com a vantagem de o ser a nível internacional, sem alguns dos aspectos negativos relacionados com um corporativismo fechado e centrado apenas nos aspectos de defesa de determinada profissão. A publicação do Código de Ética do ICOM (PT) e a sua tradução por vários comités nacionais (recordo que a organização apenas tem 3 línguas oficiais – Inglês, Francês e Espanhol) tem permitido, ao longo dos anos, uma consistência e regulação informal daquilo que são os deveres profissionais de quem trabalha em museus.

 

2. O desenvolvimento da Sociedade através dos Museus – O ICOM é, apesar das dificuldades, um fórum de debate e reflexão com diferentes perspectivas sobre o papel social que o museu pode e deve desempenhar na sociedade actual. Promove um debate, ainda que com algumas falhas, sobre o papel de mediação que o museu deve assumir entre o património cultural e o público, tem programas associados com o turismo cultural, procura debater, recorrendo em grande medida à celebração do Dia Internacional de Museus, temas que promovem a mudança e a procura de uma sociedade mais aberta e equitativa.

 

3. A formação dos novos profissionais – O simples facto de ser uma rede de profissionais, ou seja de pares, é relevante para que alguém que se inicie na profissão se torne membro. Haverá melhor forma de aprender com o exemplo de outros colegas, com o debate que uma rede desta natureza pode promover ou com o conhecimento partilhado por colegas de todo o mundo que lidam, ou já lidaram, com os problemas que nos são colocados no início da carreira? Eu aprendi as bases sobre documentação em museus com os artigos e apresentações de outros membros do CIDOC e muito sobre outras áreas com colegas do comité nacional português que a elas se dedicam!

 

4. Normas e guias práticos – no seguimento do ponto anterior (e talvez aquilo que é mais procurado por um novo profissional o ICOM), o desenvolvimento, pelos comités internacionais de diferentes especialidades, de normas e guias práticos que nos auxiliam a cumprir com rigor as tarefas atríbuídas aos profissionais de museus. Não só dos que são reconhecidos pelo conselho executivo do ICOM, mas também por outros, de carácter mais específico, que são desenvolvidos e publicados por comités internacionais e nacionais, como é o caso da Declaração de Princípios de Documentação em Museus publicada em 2012 pelo CIDOC (e traduzida para Português pelos colegas do SISEM-SP em São Paulo, Brasil).

 

5. A rede de profissionais (e amigos) – não será o último dos motivos que poderia ainda apontar, mas é, talvez a par da ética profissional, um dos mais relevantes para mim. Ao longo deste ano conheci e aprendi com inúmeros profissionais de museus de todo o mundo que me fizeram olhar para a minha profissão de forma mais aberta e abrangente. Conhecer pessoas de outras latitudes e longitudes, com outras expectativas, com formação distinta, das mais diversas culturas fazem-nos crescer a nível profissional e, principalmente, a nível pessoal. Em boa verdade, nestes 12 anos, conheci profissionais de países como o Bangladesh, Japão, Chile, Quénia, Zimbabwe, África do Sul, Angola, Moçambique, Brasil, Espanha, Reino Unido, Suíca, Alemanha, Estados Unidos da América, Canadá, França, Estónia, Índia, Rússia, Itália, Grécia, Marrocos, Emiratos Árabes Unidos, Austrália, Eslovénia, Dinamarca, Roménia, Bulgária, China, entre outros. Também nestes 12 anos e por conta da participação em conferências internacionais do CIDOC ou noutros fóruns que conheci através do CIDOC estive em e conheci (ainda que brevemente) países como o Chile, a Roménia, a Grécia, o Reino Unido, o Brasil ou a Alemanha e fico roído por não poder ter ido no ano passado à Índia! O que aprendi com essas pessoas e nestes países dá-me uma visão mais completa sobre as exigências da minha profissão! Os amigos que fiz nestas andanças, fazem de mim, sem qualquer falsa modéstia, muito melhor pessoa.

 

Certamente poderia apontar mais motivos. Estes são os 5 primeiros que me ocorrem sempre que me perguntam porque faço parte do ICOM e, porventura, não serão os que vos farão aderir ao ICOM ou os que fazem com que outros membros se tenham inscrito e se mantenham membros, mas se precisarem de outros poderão ver as 3 razões que o próprio ICOM aponta para ser membro (entre elas há descontos nos museus e nas lojas dos museus) e, ainda, o facto de ser dada preferência às inscrições dos membros em eventos tão interessantes (e importantes) como a conferência internacional “Museums: one object, many visions?” que terá lugar no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, no próximo dia 22 deste mês e que trará a Portugal o presidente do ICOM.

Se este texto suscitou o vosso interesse em ser membro do ICOM, vejam como podem fazer a inscrição e as condições exigidas aqui.

Aprender com os Alemães!?

Aprender com os Alemães!?

Acabo de ler um interessante artigo do Pacheco Pereira no Público sobre políticas de colecções, mais especificamente sobre o desenvolvimento das colecções públicas (leia-se de um museu público) que representarão, a médio e longo prazo, o momento social e político vivido em Portugal nos últimos anos.

A propósito de duas exposições (uma sobre a RAF e outra sobre como “ensinar as crianças a protestarem e a reivindicar pelas causas em que acreditam, e sobre os direitos que protegem esse protesto.”), com um discurso bem interessante e interessado, dado que é um coleccionador de materiais semelhantes aos que figuram nas iniciativas do museu alemão, Pacheco Pereira pergunta (em palavras minhas, claro): porque não aprendemos com os Alemães a guardar a evidência material da nossa história actual? Porque é que as nossas instituições não guardam os materiais que se produzem actualmente e serão(?), no futuro, uma amostra dos nossos tempos?

Coloquem-se os meus amigos na posição, de resto bem interessante, que cita Pacheco Pereira no seu texto. Daqui a 20 ou 30 anos quando quisermos fazer uma exposição sobre os tempos da “Troika” em Portugal, temos “… sem dúvida milhares de fotos, mas [teremos] os panfletos distribuídos e os cartazes?” Os que se relacionam, como refere Pacheco Pereira, às manifestações que ocorreram nos últimos anos? Que outros objectos poderíamos querer nessa altura? Bilhetes de avião, malas e e-mails de emigrantes? Umas conversas entre mãe e filho pelo Skype? E a arte que se produz nestes tempos de crise? Que obras devemos guardar? Quais serão as mais representativas? Se tivessem de fazer essa exposição agora qual(is) o(s) objecto(s) que não dispensariam? Qual o objeto que melhor representa a crise dos últimos anos para vocês?

Alguém é capaz de responder com uma certeza firme? Convicto que será mesmo esse o objecto? A mala de cartão representa melhor a emigração dos anos 60 e 70 do que qualquer outro objecto? Uma G3 representa melhor o nosso exército do que a espada de Afonse Henriques? E se sim, porque escolhemos uns objectos em detrimento de outros?

Imagino que não se possa ou queira guardar tudo!

No artigo Pacheco Pereira menciona o exemplo de vários museus alemães, com base nas exposições citadas, indicando-os como cumpridores de uma “tarefa de preservação da memória colectiva mais contemporânea” algo que ainda segundo o autor é “muito desprezado no Portugal de hoje”. Até poderia concordar com a afirmação, mas, no entanto, questiono primeiro se terão sido os museus alemães a guardar aquele material (até podem ter sido, mas ainda assim pergunto) ou se, por outro lado, não terão sido pessoas como Pacheco Pereira a fazê-lo, entregando-os depois aos museus. Em segundo lugar questiono qual a política de desenvolvimento de colecções que deveríamos ter (ou se deveríamos ter uma sequer) para guardar a evidência material dos nossos dias para os que nos seguirão. Será que os museus alemães têm instituído uma política para guardar a memória da sociedade alemã actual?

Eu julgo que mais do que guardar estas evidências, poderíamos aprender com os alemães (já agora com os ingleses também) alguma coisa sobre discutir alguns assuntos controversos de forma mais distanciada (veja-se o exemplo da exposição da RAF, comparativamente à discussão acessa sobre o possível Museu Salazar em Santa Comba Dão – aqui e aqui, por exemplo). A forma como daqui a 20 ou 30 anos se exporá o tempo que vivemos, eu, que sou um verdadeiro optimista, deixaria ao cuidado de quem tiver essa responsabilidade na altura.

Boas Festas

Boas Festas

Quero aproveitar para desejar a todos os que passam aqui no Mouseion um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de saúde, felicidade e sucesso.

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O Lugar dos Jovens nos Museus – Marta Ornelas

O Lugar dos Jovens nos Museus – Marta Ornelas

O debate “Museus Hoje e Amanhã: Qual o Lugar dos Jovens?” teve lugar na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva no passado dia 30 de Novembro de 2014 e foi organizado pelo colectivo de jovens FAZ 15-25.

Neste debate, para além de ouvirmos o testemunho dos jovens implicados neste colectivo, ouvimos também as propostas do Colectivo Tempos de Vista, do Programa de Estágios Jovens Animadores do Museu da Eletricidade, do Carpe Diem Arte e Pesquisa, da Escola Superior de Educação de Lisboa, do Professor Ricardo Bak Gordon e da artista Ana Vidigal. Todas estas pessoas e grupos explicaram-nos como é valioso trabalhar em conjunto com jovens, potenciando uma relação empática e engrenada entre estes e os museus. Para estes jovens foi possível desmistificar a ideia do artista como génio e do museu como espaço sacralizado, convertendo, tanto os artistas como os museus, em algo acessível e humanizado.

No espaço de debate concluímos que existem constrangimentos à frequência de jovens nos museus muito semelhantes aos das décadas de 60, 70 e 80, tal como nos contaram os adultos que nessa época eram jovens, nomeadamente a acessibilidade geográfica e intelectual, numa sociedade social e economicamente segregada. Relevou-se, no entanto, o importante papel da Sociedade Nacional de Belas Artes e da Fundação Gulbenkian, nos anos 70, na mudança de mentalidades e na criação de condições para a acessibilidade dos jovens ao mundo artístico. Referiu-se ainda que na década de 70 não existiam museus de arte contemporânea em Portugal.

Tal como nas décadas anteriores, hoje ainda se assiste a a uma forte presença de públicos jovens nos museus estrangeiros, ao contrário do que acontece em Portugal, onde as visitas de jovens a museus são pautadas pela intervenção da escola. A escola, no entanto, apresenta hoje muitas dificuldades em levar os estudantes aos museus, sobretudo por questões económicas relacionadas, não tanto com o custo da entrada nos museus, mas mais com o custo do transporte necessário para lá chegar. Estes constrangimentos implicam, muitas vezes, que as deslocações de escolas em visitas de estudo combinem a ida a vários museus no mesmo dia, algo que se torna cansativo para os jovens (tal como acontece com muitas outras pessoas não jovens que se submetem a este tipo de experiência), que acabam por ter um desfrute pautado pelo cansaço e consequente desinteresse.

Os participantes adultos no debate contaram-nos como na década de 80 os visitantes eram acarinhados nos museus estrangeiros, tendo tido, por isso, a possibilidade, enquanto jovens, de usufruir de experiências mais interessantes fora do país.

Relevou-se a importância dos Serviços Educativos para uma maior abertura dos museus aos jovens, salientando-se ainda o facto de os museus públicos contarem com verbas menores do que as dos museus privados para o sector educativo. Assim, este factor compromete a qualidade da resposta que os museus públicos podem oferecer, sobretudo pela escassez de recursos humanos.

Houve ainda vozes que se manifestaram pela importância do papel das universidades como instituições formadoras que deveriam ser mais activas e ter um papel mais relevante na relação com as comunidades, nomeadamente com as instituições culturais.

Referiu-se ainda o desinvestimento governamental que nos últimos anos tem sido feito na Educação Artística, facto que compromete a acessibilidade de todos os jovens, deixando lugar a que apenas aqueles cujas famílias valorizam as componentes artísticas da sociedade e que possuem situações económicas sustentáveis possam, de forma regular, participar em actividades artísticas, seja nos museus ou noutras instituições que trabalham com pressupostos artísticos.

Ainda que, neste contexto, haja poucos jovens com interesse em áreas culturais e artísticas, salienta-se o esforço de muitos educadores que continuam a levar os seus alunos aos museus, algo que deve ser um trabalho contínuo, tanto quanto possível.

Foi também referido que muitos museus não têm sensibilidade para atrair os jovens, na medida em que continuam a optar por modelos tradicionais de visita guiada, em regime de fala-escuta unilateral, muitas vezes em tom monocórdico e sem lugar à participação colectiva. Referiu-se o termo “visita mediada” como algo diferente e mais aliciante. Por outro lado, o projecto expositivo tradicional do “quadro na parede” também parece não ser muito atractivo para os jovens, requerendo-se também novas ideias para expor.

Apesar de haver algumas opiniões contra a ideia de que o museu possa expor em locais públicos, como por exemplo em centros comerciais, os jovens referiram que este tipo de inicativas é positivo, pois o museu deve ser levado “à praça pública”.

Concluímos também que a importância dada à participação dos jovens na programação dos museus é, em Portugal, ainda um pouco negada, embora estes projectos pontuais possam ser o motor de iniciação a novas práticas, implicando os jovens de forma a que valorizem as áreas culturais e artísticas, atribuindo-lhe um papel emancipador e transformador.

Colectivos, plataformas artísticas, serviços educativos, residências, redes e parcerias parecem ser palavras-chave para atrair os jovens aos museus. Os museus devem, então, manifestar interesse numa abertura a novas propostas que considerem, valorizem e integrem o pensamento dos jovens.

Os organizadores deste debate fazem parte do FAZ 15-25, um colectivo de jovens entre os 15 e os 25 anos com formação em áreas diversas que estão envolvidos na programação da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva. Possibilitando uma flexibilidade no grau de envolvimento de cada membro do colectivo, o FAZ 15-25 tem como objectivo dar oportunidades aos jovens para se implicarem na concepção e prática de actividades que lhes permitam desenvolver competências artísticas, de organização, de comunicação e de empreendedorismo. O colectivo trabalha directamente com profissionais de várias áreas artísticas e convive com os visitantes do museu. Desenvolve ainda redes sociais, blogs e apps, também com o intuito de chamar ao museu outros jovens.

A participação dos jovens na programação do museu parece ser uma importante mais-valia do FAZ 15-25. A coordenadora deste interessante projecto, Filipa Alves de Sousa, explica-nos a importância de uma metodologia para o programa que implica, por um lado, ter as necessidades e interesses dos jovens como ponto de partida para a programação, e por outro lado, a responsabilização dos membros envolvidos. O programa tem que ser flexível, aberto e com uma dinâmica social, ao mesmo tempo disciplinado, estruturado e com estratégias bem definidas. O seu papel como coordenadora é ser a mediadora entre o grupo e o Museu e fazer com que as coisas aconteçam. Para isso, é necessária uma mentoria próxima com os membros do colectivo, bem como a preparação de conteúdos atractivos. Um dos principais objectivos do projecto é também proporcionar momentos de encontro e conversa informal entre profissionais inspiradores, já que os jovens são muitas vezes movidos por pessoas com histórias reais que quebrem barreiras sociais e hierárquicas e lhes apresentem possibilidades de percursos pessoais e profissionais.

Alguns jovens deram-nos o seu testemunho, que aqui reproduzimos:

“Para mim, o mais importante tem sido o trabalho em equipa. Eu ando há muito habituado a trabalhar sozinho, individualmente, e não gostava tanto de trabalhar em equipa. O FAZ incutiu-me o gosto de trabalhar em equipa, em colectivo. Tudo o que fazemos é em grupo. O trabalho individual é, aqui, um conceito estranho. As experiências, além de contínuas, são intensas e destacam-se pela partilha de conhecimentos e a fluidez das ideias. Descontraidamente dedicados, trabalhamos.” (Pedro, 25 anos – Licenciado e Pós-graduado em Antropologia)

“A mais-valia tem sido a oportunidade de desenvolver trabalho na dinamização cultural num contexto. Aprendemos uns com os outros, há uma inter-ajuda. É a possibilidade de ser num contexto e não sozinhos e ter esse apoio tem sido um factor diferenciador.” (Sofia, 21 anos – Estudante de Design de Equipamento)

“Eu estou aqui há pouco tempo, há um mês. Mas aquilo que eu procuro no FAZ, e que tenho encontrado até agora, é ter espaço para expormos as nossas ideias. Nós borbulhamos ideias todos os dias. Aqui podemos partilhá-las e ter um espaço para desenvolvê-las, sermos ouvidos e fazermos coisas. Tornarmo-nos activos, tornar essas ideias em realidade, em coisas concretas.” (Rebeca, 24 anos – Licenciada em Jornalismo e com um Curso Profissional de Fotografia)

“O que mais me tem feito sentir realizada por estar no FAZ foi poder tomar consciência de competências que eu já tinha, mas que tinham sido pouco desenvolvidas, como é o caso da competência para falar em público, através da realização de visitas guiadas. Fazer visitas guiadas no Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva foi uma forma de eu perceber que era, de facto, capaz de falar em frente a uma assistência. Isso foi muito importante para mim, perceber que competências é que eu tenho a dar ao grupo e ao Museu, para além daquilo que eu tenho a aprender com colegas de outras áreas, como por exemplo dos audiovisuais, ou colegas mais novos, como a Beatriz C. e a Daniela, cuja cultura geral, entusiasmo e maturidade me supreenderam muito.” (Inês, 24 anos – Mestre em História de Arte)

“Aquilo que considero fulcral no FAZ é a bagagem que nos dá, não só a nível de responsabilidade, pois temos de contactar com o público, mas também ao nível do trabalho em grupo, que não é uma coisa a que esteja propriamente habituada. Para além destes factores, foi muito bom encontrar pessoas com os mesmos interesses que eu e com vontade de mudar aquilo que são os museus em Portugal actualmente. O FAZ trouxe mais à minha vida do que eu esperava, para além da vontade de fazer coisas diferentes no âmbito museológico, trouxe-me amigos.” (Margarida, 22 anos – Mestranda em Museologia)

“O que me fez vir para o FAZ foi poder colaborar com um museu de que gosto, e poder fazê-lo entre amigos. Comecei por ir a uma sessão Conversa com Eles com uma amiga após a qual os actuais colegas foram carinhosamente chatos com o ”vem vem”! Quanto às mais-valias do projecto, acima de tudo experiência, a diferentes níveis, e oportunidades de formação gratuita ou com desconto associadas ao networking no mundo artístico.” (Paula, 24 anos – Licenciada em História de Arte)

“Juntei-me ao FAZ por sugestão de uma amiga e o que me prendeu desde logo foram as reuniões. Nas Conversas com Eles temos oportunidade de falar com pessoas da área cultural e artística e há uma enorme partilha de experiências e aprendizagem do mundo real, entre aspas. Eu sou da área das Humanidades e das Artes e o FAZ complementa a minha formação, porque nos põe em contacto directo com o Museu. Acaba por ser uma parte prática que a faculdade não me dá. Aqui temos a liberdade para elaborar projectos relacionados com os nossos interesses e temos contacto com o público. É um grupo que, apesar das várias áreas de formação, temos todos o mesmo interesse e acho que isso se sente cada vez mais na união do colectivo. Nós somos um grupo de jovens que quer mudar e dinamizar esta ideia de Museu que há em Portugal e aqui nós temos um sítio onde somos ouvidos e apoiados nas nossas ideias. O Museu acaba por ganhar com isso, já que nós fazemos de tudo para atrair todos os tipos de públicos, principalmente os jovens como nós.” (Teresa, 22 anos – Estudante de Licenciatura em Estudos Artísticos)

“Há duas razões maioritárias que me mantêm aqui. Primeiro porque temos acesso a artistas em conversas informais. Por isso, a maneira como falamos e exploramos aquilo que queremos saber é completamente diferente. E segundo, porque participamos em várias coisas no museu. E isso permite-nos ver o que é que está por detrás do pano, o que é que se passa, como é que as coisas acontecem. Isso é muito importante para quem está no mundo das artes. Tem sido fantástico até aqui, estou sempre a aprender! Com a ajuda da Filipa e do museu, damos ideias e fazemos as coisas à nossa maneira. Somos nós que tentamos, ao máximo, contribuir com o nosso trabalho.” (Daniela, 17 anos – Estudante de Artes Visuais no Ensino Secundário)

“As mais-valias deste projecto são para mim a possibilidade de contactarmos com pessoas que à partida estão muito distantes de nós, como por exemplo artistas, curadores, designers… É muito importante perceber os percursos deles e perceber que nem sempre foram percursos lineares. Estar aqui no museu, ter acesso a esta realidade permitiu-me perceber muita coisa. É que a museologia teórica que aprendemos na faculdade é uma coisa, estar aqui é outra completamente diferente. As conversas que nós temos com o público que denominamos Conversas Connosco ensinaram-me muitas coisas, entre elas a ter um maior à-vontade para falar em público. A colaboração com os artistas foi também uma das experiências mais importantes para mim, nomeadamente a participação em performance. Aprendi muito no contacto com os meus colegas, que são maioritariamente das áreas das artes, mas de escolas e cursos diferentes. A multiplicidade de perspectivas no grupo contribui de facto para o enriquecimento dos nossos projectos. São projectos que nós pensamos, estruturamos e gerimos durante as nossas reuniões, mas que só são possíveis com a ajuda do museu.” (Teresa, 24 anos – Estudante de Licenciatura em História de Arte)

Mais informações sobre projecto FAZ 15-25 estão disponíveis na internet através de diversos canais, como o Facebook, o WordPress ou o YouTube. São recursos criados pelo colectivo e que podem ser consultados mediante uma pesquisa simples por “FAZ 15-25” num motor de busca como o Google.

Marta Ornelas é doutoranda em Artes y Educación – Pedagogías Culturales en Museos na Universidade de Barcelona. Foi professora de Artes Visuais no ensino secundário e no ensino superior e tem uma especialização em ensino de artes pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, em Lisboa. É licenciada em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa e Mestre em Museologia pela Universidade Nova de Lisboa.

É membro da direcção da APECV (Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual) e membro fundador da Acesso Cultura. É também é membro da InSEA (International Society for Education Through Art), da Rede Ibero-Americana de Educação Artística e do GEM (Group for Education in Museums, UK). Coordenou projectos em escolas com a presença de artistas. Participou no projecto europeu ITEMS (Innovative Teaching for European Museum Strategies), com colegas de Itália, França, Hungria, Letónia e Luxemburgo. Coordenou uma equipa de trabalho para uma publicação sobre projectos escolares com museus, a ser editada pelo Ministério da Educação. Tem publicado artigos e apresentado comunicações no âmbito da educação artística e da educação em museus.

Museus nas Redes Sociais. Guia Básico Para uma Futura Co-Participação Sustentável – Sandra Senra

Museus nas Redes Sociais. Guia Básico Para uma Futura Co-Participação Sustentável – Sandra Senra

Dando resposta ao desafio lançado por Alexandre Matos, no sentido de contribuir para o crescimento do seu Speaker´s Corner, e desde já agradecendo o convite que me dirigiu há quase um ano, optei por apresentar o meu contributo com uma temática sobre a qual tenho dedicado maior atenção desde há cerca de dois anos e meio para cá (e porventura de alguma forma previsível para o autor deste blogue), que se relaciona com as potencialidades que as redes sociais podem oferecer às instituições museológicas.

O conceito não é novo. Tem vindo a ser repetidamente proferido por reconhecidos palestrantes em infindáveis encontros, seminários e conferências. Já para não mencionar as incomensuráveis teses e artigos que dissecam a temática. Um lugar comum, como reiteradamente  e comummente o nominamos. As novas tecnologias transformaram a forma como vivemos e percecionamos o mundo. Uma afirmação que é uma inevitabilidade e à qual dificilmente nos podemos opor. E aqui podem inserir-se não apenas os engenhos utilitários, que nos descomplicam o dia a dia das nossas tarefas, mas da mesma forma aquele novo mundo dotado de ubiquidade a que apelidamos de Internet. E, na atualidade, não podemos falar de Internet sem versarmos sobre o tema das redes sociais, ou social media, um fenómeno vertiginoso que potenciou a conectividade e interatividade relacional entre usuários virtuais e sobre a forma como estes passaram a adquirir, a gerar e a partilhar informação.

O tema da utilização das redes sociais em museus é discutido há quase uma década (ou até há mais), mas persiste em captar o interesse de inúmeros investigadores por todo o mundo, que a este nível partilham e explanam os diferentes modelos de atuação dos museus aderentes. Por outro lado, continua a fomentar o surgimento de inúmeras plataformas de discussão online, que certificam as potencialidades destes novos instrumentos de comunicação e de partilha, gratuitos ou de baixo custo. Do mesmo modo, também as próprias instituições museológicas passaram a divulgar a originalidade dos seus programas desenvolvidos nestas plataformas, quer em apresentações públicas, quer nos seus próprios websites ou blogues de discussão, demonstrando as suas valências, mas igualmente as suas debilidades de utilização, por meio da apresentação de registos de avaliação, quer quantitativos como qualitativos.

A primeira questão que se pode colocar: qual o verdadeiro contributo das redes sociais para as instituições museológicas? As redes sociais são hoje plataformas singulares que convidam e agregam comunidades distintas, incitando-as a criar laços de amizade, a discutir as mais variadas temáticas, a gerar ideias e a produzir conteúdos diversificados, em formato de texto, fotografia, vídeo ou áudio. E é nessa diversidade de participação que reside a riqueza do conhecimento e da aprendizagem. Assim sendo, marcando presença nas redes sociais, os museus podem: aproximar a instituição das comunidades online por meio de uma conversação próxima; promover a participação das comunidades online, de forma multidirecional, interativa e colaborativa, considerando as suas representações heterogéneas; permitir a partilha de experiências e a construção de novos conceitos – inspirar os seus públicos; possibilitar a disponibilização e a receção de conteúdos em vários formatos; fidelizar públicos e construir novas comunidades; e também publicitar e divulgar conteúdos institucionais de uma forma massiva, dando resposta aos usuários virtuais interessados, por exemplo, nas suas exposições, programas, atividades ou conteúdos que disponibilizam, normalmente relacionados com as exposições e coleções, apenas acessíveis aos visitantes in loco.

A segunda questão que se pode colocar: quais são as principais características destas redes e como podem as instituições museológicas utilizá-las? Nos últimos anos têm surgido infindáveis plataformas de comunicação multidirecional, sendo que entre as mais populares encontramos o Facebook, o Twitter, o Flickr, o YouTube, o LinkedIn, o Delicious, o SlideShare, o Issuu, os Blogues, as Wikis, o Foursquare, o Pinterest ou o Instagram. E são já muitas as instituições culturais por todo mundo que as utilizam como forma de potenciar a sua missão e objetivos. Estes organismos souberam compreender as suas potencialidades, não só pelo seu poder de alcance, mas igualmente pela possibilidade de poderem encetar uma conversação instantânea e permanente com os seus públicos e com eles partilhar e coproduzir novos conteúdos de informação e de debate. Importa, por isso, conhecer algumas dessas plataformas e compreender quais os proveitos que um museu pode alcançar com as particularidades de cada uma delas, para que no momento que seja eleita a rede na qual pretende estar presente, possam ser conhecidas as suas potencialidades e de que forma estas podem auxiliar o museu a dar cumprimento ao seu objetivo.

O Facebook permite publicar e partilhar textos, vídeos, imagens, mas também aprovar com “Gosto” os conteúdos de interesse. A interação é imediata e há a possibilidade de mediação nos conteúdos. Os museus podem utilizar esta plataforma para encetar uma conversação e discussão crítica com os seus usuários associados (amigos ou fãs), mas também como meio de interação e de partilha de ideias, que podem assumir um formato formal ou informal. O museus podem ainda divulgar os seus conteúdos institucionais, as exposições, as atividades, recentes e futuras, e demonstrar a dinâmica interna da instituição, por meio de fotos ou vídeos. O perfil empresarial (fan page) é aquele que mais se adequa às instituições culturais, pois não tem restrição no número de fãs, ao contrário da páginas de perfil pessoal, cujo limite é de cinco mil amigos.

O Twitter consiste num serviço de envio e publicação de mensagens instantâneas, com um número limitado de carateres, o máximo de 140, a que se designam tweetts. Os usuários deste serviço além de poderem publicar, têm a possibilidade de subscrever (ou seguir) publicações de outros usuários, comummente designadas por tweeps, e cujo conteúdo pode ser tornado público ou privado, de forma rápida e direta. Podem também fazer retweet, ou seja, replicar mensagens dos seus seguidores que considere interessantes, no sentido de partilhá-las com todos. Quando os usuários têm temas de interesse comuns e não querem perder informações sobre os mesmos, precedem a palavra do tema em questão com o símbolo #, denominado por hashtag. Os museus podem utilizar esta plataforma para divulgar instantaneamente as suas atividades. Têm também a possibilidade de fazer retweet a conteúdos interessantes publicados por outros usuários e seguir as suas publicações, tweeps, que podem relacionar-se, ou não, com a própria instituição.

O Flickr permite que os seus usuários armazenem fotografias, documentos gráficos ou vídeos, com vista à sua visualização e partilha com outros utilizadores. Os conteúdos são arquivados por meio de etiquetas, designadas por tags. Os museus utilizam esta plataforma para realizar intercâmbios de fotografias com os seus seguidores, muitas relacionadas com o edifício do museu, com as exposições ou atividades educativas que desenvolve, de um ponto de vista mais institucional ou informal. Podem também ser criados grupos com temas específicos para dar voz aos seus diferentes públicos.

O YouTube está ligado à comunicação audiovisual. Permite a publicação, visualização e audição de vídeos, pessoais, musicais, filmes, programas de televisão, etc. Nesta plataforma, os seus usuários podem interagir por meio de partilha de vídeos e de comentários aos mesmos. Os museus no YouTube podem interagir de forma imediata com os seus usuários através de comentários. Podem ainda publicar vídeos produzidos por si, quer sejam oriundos das conferências onde participa ou sobre as suas ações, como sendo das exposições, dos artistas, dos curadores, das obras, das atividades educativas, etc.

O LinkedIn consiste numa rede profissional para pessoas individuais, empresas e grupos de discussão. Os seus usuários podem associar-se diretamente a outros indivíduos, mas também a grupos específicos, de acordo com os seus interesses profissionais e conhecimentos que pretendem adquirir. Por outro lado, podem também procurar pessoas, oportunidades de trabalho recomendadas ou transformar-se em potenciais candidatos para determinados empregadores, que previamente avaliam o seu perfil público. O LinkedIn possibilita ao museu criar o um perfil com a sua missão, objetivos e interesses, e associar-se aos usuários da plataforma, dentro do mesmo âmbito profissional ou não. Permite que as instituições, sob a forma de membros, empresas ou grupos da mesma área, estabeleçam relações profissionais.

O Delicious alicerça-se no conceito de social bookmarking, que permite a gestão de endereços eletrónicos, que primitivamente eram armazenados nos computadores pessoais. Esta plataforma permite colecionar conteúdos da Web, sejam eles vídeos, fotografias, twetts, post ou artigos, e organizá-los por temáticas com diferentes designações (folksonomia – terminologia relacionada com a classificação livre de conteúdos), com vista à sua publicação e partilha com amigos usuários, que poderão participar, de igual forma, no crescimento dos conteúdos publicados, através do intercâmbio de informações. Um museu com Delicious pode compartilhar conteúdos através de bookmarks e os utilizadores dessa ferramenta podem permutar opiniões ou informações acerca dos conteúdos disponibilizados, sobre, por exemplo, temáticas relacionadas com as suas atividades. A popularidade do Museu pode ser determinada pelo maior ou menor número de tags (etiquetas) que possui.

O Slideshare possibilita a publicação de trabalhos em formato PDF, Word, OpenOffice ou de diapositivos PowerPoint ou Keynote. Estes conteúdos podem ser partilhados de forma pública ou privada. Os utilizadores de Facebook podem aceder sem necessitar de registo. Alguns museus utilizam esta rede para colocar online os PowerPoint que apresentam em conferências ou apresentações públicas sobre o museu e as suas ações, permitindo a sua leitura virtual e a possibilidade de as descarregar.

O Issuu permite a publicação digital de documentos em diversificados formatos, com vista à sua partilha para leitura virtual, à semelhança do Slideshare, mas também à sua descarga ou impressão. O Issuu permite folhear o documento virtualmente, sejam revistas, livros, jornais, catálogos, etc., de forma muitíssimo realista. Os usuários que pretendam consultar algum dos documentos referidos a partir do seu telemóvel, podem fazê-lo por meio de uma aplicação. Os museus utilizam o Issuu para publicar documentos com conteúdos sobre as exposições, artistas, obras e atividades educativas que desenvolvem, permitindo que todos tenham o acesso às mesmas.

Os Blogues possuem características que se assemelham às de um diário. Permitem a inserção de artigos diversificados, designados comummente por posts, sendo que a sua disposição se organiza por data de publicação e categoria dos conteúdos introduzidos, que podem assumir a forma de texto, imagem, vídeo ou links de páginas da Web. Os Blogues podem subsistir do ponto de vista unipessoal, mas igualmente corporativo. Ambas as tipologias possibilitam a participação ativa de outros usuários, conhecidos por bloguers ou bloguistas. Os Blogues podem ser utilizados pelos museus no sentido da divulgação dos conteúdos relacionados com as suas atividades, exposições ou de difusão da dinâmica interna do museu, mas também devem ser utilizados como plataforma de discussão crítica ou de acesso a outros temas de interesse, relacionados ou não com o perfil do museu, por meio de RSS (Rich Site Summary).

Nas Wikis a construção dos conteúdos é feita de forma colaborativa por internautas. Os seus colaboradores usuários podem criar, modificar ou apagar conteúdos produzidos, por forma a torná-lo credível. A plataforma mais conhecida que se fundamentou neste paradigma é a Wikipédia, uma enciclopédia coletiva que tem vindo a melhorar os seus conteúdos nas suas mais diversas temáticas. Alguns museus já conseguiram entender o poder da Wikipédia, apesar da inexatidão de muita informação que ali é colocada. Para evitar equívocos e imprecisões, e no sentido de contribuir para a correção dos conteúdos, os museus começaram a colocar as informações sobre a instituição e coleção (conteúdo histórico, artístico, cultural, geográfico, etc.), para que a informação passasse a ser oriunda de fonte fidedigna.

O Foursquare possibilita aos seus usuários procurar, localizar e compartilhar locais específicos com amigos usuários perto de um local onde se encontram, por meio de uma aplicação com um sistema de georeferenciação para ser implementada em serviços móveis. O Foursquare é muito utilizado como guia gastronómico e cultural. Nesta rede social, os usuários têm possibilidade a introduzir opiniões e recomendações sobre o que visitaram e contribuir para a partilha de informação e de experiências. Alguns museus utilizam esta rede, no sentido de serem mais facilmente localizados por visitantes ou turistas que possuam essa aplicação nos seus dispositivos móveis.

O Pinterest permite que os seus utilizadores publiquem as fotografias que produzem, por forma a que as mesmas sejam partilhadas com outros usuários. As fotografias podem ser organizadas por álbuns de coleção temáticos (boards) e com informação acrescida. Os usuários desta rede podem interagir com outras comunidades em rede através do Twitter e do Facebook. Os museus podem fazer uso desta plataforma, organizando as suas coleções com informação sobre as mesmas e armazenando-as por conteúdos temáticos, com a finalidade de partilhá-las com todos os utilizadores.

Por fim, o Instagram possibilita a colocação online de fotos a partir de dispositivos móveis, facilitando a inserção de vários filtros fotográficos, sendo que a sua publicação nas redes sociais é instantânea. Os museus podem fotografar as suas coleções ou as atividades a decorrer nesse instante nos seus espaços, por meio deste tweett fotográfico, e publicar nas redes sociais a que estão associados, para que as mesmas possam ser divulgadas e comentadas.

A terceira questão que se pode colocar: quais são as premissas a ser consideradas antes da adesão das instituições às redes sociais? É importante que a instituição museológica defina muito bem os objetivos que pretende atingir com as redes sociais. E estes devem anteceder a adesão às mesmas. É certo que existe um certo constrangimento da sociedade para que as instituições estejam presentes nestes espaços de conversação, todavia se a instituição possui uma estrutura reduzida que não garanta o futuro da interação e conversação, o propósito da presença nas redes sociais anula-se. É, por isso, necessário preceder a adesão às redes com uma estratégia sustentável, que deve conciliar-se com próprios recursos da instituição. Assim, os museus devem refletir primeiramente sobre as seguintes questões.

1. Que motivações e contextos conduzem o museu a aderir às redes sociais?

2. Serão reposicionados os princípios e os valores da missão e objetivos do museu? De que forma?

3. Que departamentos vão estar envolvidos na elaboração da estratégia e na continuidade do projeto quando implementado? Haverá uma relação interdepartamental?

4. Qual o grau de participação das comunidades externas na construção da estratégia?

5. Como funcionará a gestão futura das redes? Quem irá  realizar a manutenção, atualização, criação, moderação e aquisição de conteúdos? Que tipo de conteúdos serão publicados? Qual o horário de publicação? Que idiomas? A publicação será diária ou faseada? Como serão recepcionados e avaliados os conteúdos produzidos pelos usuários? Como responder aos associados? Como incentivar à participação? Como reconhecer os erros da instituição? Como fazer a avaliação global desta participação, considerando os aspetos valorizáveis e os constrangimentos do programa, para poder reajustá-lo?

6. Que estratégias serão concebidas para encorajar as comunidades a participar?

7. A comunidade pode participar? De que forma? Essa informação é arquivada? De que forma?

8. A equipa contempla um gestor de comunidades mediador? Como será feita a mediação?

9. Haverá algum grupo preferencial a atingir? Qual ou quais?

10. De que forma será feita a avaliação dos impactos dessa participação?

11. Que benefícios o museu pretende alcançar com a participação das comunidades online?

Quarta, e última,  questão que se pode colocar: quais os fatores que possibilitam o sucesso dos museus nas redes sociais? A solução para o êxito dos museus nas redes sociais reside na necessidade verdadeira e despretensiosa em interagir com as comunidades online. É importante, por isso, que haja um consenso entre os valores do museu e os objetivos que pretende alcançar; que se eleja a ferramenta ou ferramentas que mais se enquadrem às necessidades do museu, para que haja sustentabilidade nas mesmas; que se considerem os recursos humanos e o tempo disponibilizado para se estabelecer a interação multidirecional; que se definam os limites da participação pública, sobre a forma, por exemplo, de um Termo de Utilização de determinada rede; que se estabeleça uma efetiva conversação com as comunidades, considerando os seus significados em relação a quaisquer conteúdos publicados pelo museu; que se considere a coparticipação, cocriação, co-curadoria, co-programação, no sentido de se valorizar as necessidades, experiências, histórias de vida, memória coletiva das comunidades online; que se construam programas específicos para diferentes grupos-alvo, pois programar para uma audiência abstrata é contraproducente, uma vez que museu pode não ter a capacidade de seguir e responder a todos os seus elementos;  que se implemente um modelo de gestão da equipa e dos conteúdos sustentável (dias e horas específicas para publicação, conversação etc., na eventualidade de não poder estar sempre online e assumi-lo publicamente em cada uma das plataformas); considerar a presença de um gestor de comunidades mediador, que deve ser conhecedor de algumas estratégias de marketing para cada uma das redes, mas também do marketing relacional (a propósito destas questões do marketing, existe uma imensa bibliografia sobre estas temáticas, como também são cada vez mais frequentes em ações de formação que auxiliam os museus nestes domínios); muito importante será também a avaliação dos sucessos e insucessos da instituição nas redes, com a finalidade de melhorar a atuação da mesma, o que implica que esta reconheça os seus erros; por fim, o museu deve saber aceitar que pode aprender e reaprender com os seus públicos e, assim, fazer parte da experiência da cidadania responsável, do serviço público e da cultura partilhada.

Cada instituição deverá avaliar como pretende estar online. Se existem muitos autores que defendem que estas podem e devem estar presentes em todas as redes sociais existentes, para que a capacidade de alcance dos conteúdos que a instituição disponibiliza seja amplificada, pessoalmente entendo que para se estabelecer um compromisso relacional online, que se espera que seja personalizado, fazer parte de todas a plataformas que pertencem ao universo 2.0 conduz ao padecimento e à dispersão desse diálogo. Sobretudo se considerarmos um museu com recursos humanos limitados. A génese das redes sociais consiste na interação multidirecional, que se espera que tenha significado para ambas as partes. Desse modo, mais importante do que ter um número infindável de amigos, para constar de páginas de ranking nacionais ou internacionais (ainda que seja esta uma das premissas que, infelizmente, tem determinado o valor de uma instituição), entendo que será mais valorizável considerar os valores e os significados gerados nessas redes entre a instituição e as comunidades, que se podem enquadrar nos princípios e valores da cultura repartida e da cidadania responsável, o que implica programar as suas ações com objetivos e sustentabilidade.

Sandra Senra

Alguns dos itens desenvolvidos no presente artigo de opinião resultam de uma investigação desenvolvida entre 2011 e 2012 que procurou avaliar a presença dos museus de Barcelona nas redes sociais, tendo sido particularizada a atuação do Museu D’Art Contemporani de Barcelona neste âmbito. Para mais informações:

SENRA, Sandra (2013), We Like MACBA. O Museu D’Art Contemporani de Barcelona e o Paradigma das Ferramentas Web 2.0 Utilizadas em Benefício do Compromisso Cívico. Porto: Universidade do Porto, Faculdade de Letras. Disponível em: http://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/66350

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Sandra Senra – Licenciada em História da Arte (2004) e Mestre em Museologia (2012) pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Foi Técnica Superior de História da Arte na Divisão de Património Cultural da Câmara Municipal do Porto, onde realizou o inventário da Arquitetura Religiosa Portuense e o inventário dos Elementos Cerâmicos, Decorativos e de Revestimento. Ainda no seu percurso profissional exerceu funções de curadora e gestora de eventos e exposições. Desempenhou funções de docente das disciplinas de História e Geografia de Portugal e de Língua Portuguesa. No âmbito do Mestrado em Museologia realizou um estágio curricular na Casa-Oficina António Carneiro e um estágio profissional no Museu Marítim de Barcelona, tendo em ambos desenvolvido um estudo e inventário de uma coleção de Pintura. Coordenou cientificamente o 3.º Volume da Monografia Digital Ensaios e Práticas em Museologia e atualmente administra e gere a plataforma Museologia.Porto.