Já há algum tempo que ando a pensar sobre os desafios que temos pela frente (os já visíveis e os que podemos prever) no âmbito da documentação em museus. A exploração deste tema é, a meu ver, importante ou mesmo essencial para que nos preparemos para o futuro, dotando os museus e os seus profissionais das ferramentas necessárias para agir quando confrontados com um desses desafios, mesmo que isso signifique estar quieto, sem acção – que por vezes é o mais avisado.
Esta exploração começou, de certa forma com o projecto Mu.SA e com a reflexão que fizemos para o projecto e para o desenvolvimento do percurso formativo aí criado, no entanto, há desafios técnicos e éticos que não se resumem só às competências a adquirir. Há políticas, procedimentos, avaliações, etc., sobre as quais precisamos de focar a nossa atenção e discutir abertamente como podemos, enquanto comunidade, enfrentar os novos desafios, presentes e futuros, que nos serão (ou estão a ser já, em muitos casos) colocados. No seminário que apresentarei com a Acesso Cultura é exatamente isso que pretendo discutir e trazer à liça! Descrevi-o assim:
A documentação em museus é uma das tarefas mais relevantes e necessárias face à transformação da sociedade e aos desafios que esta enfrenta com a transformação digital. Neste seminário abordamos os desafios que se colocam aos profissionais de informação e documentação nos museus face às questões técnicas, como a normalização, a evolução tecnológica, a massificação da procura e a diversidade de meios existentes e, da mesma forma, face às questões éticas como a acessibilidade, a inclusão, a equidade, a polifonia, o legado colonial e as minorias.
Espero estar à altura deste desafio e convido todos a juntarem-se a mim online (Zoom) no próximo dia 4 de Abril, das 18h às 21h. Todas as informações sobre o seminário estão disponíveis na página da Acesso Cultura.
“Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você”
Nietzsche, Friedrich, Além do Bem e do Mal – Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal – 31. 3ª edição. Editora Escala, 2011.
Li pela primeira vez esta frase de Nietzsche, acreditem ou não, num livro da Marvel chamado “Guerra Infinita” (vai ter direito a filme no próximo ano) publicado há muitos anos atrás e recordo-a sempre que vejo alguém combater um problema, com um outro problema ou criando um problema ainda maior. É, ou melhor tem sido, o que acontece com a migração e os migrantes actualmente. Olhamos de forma indignada para a monstruosidade que causa a migração em massa, mas a inércia que temos face a este problema tem um potencial enorme para nos transformar em monstros. Não me tomem à letra. Eu sei que é uma questão complexa, mas sinceramente não deveríamos fazer mais para resolver isto?
Não se cansem que eu próprio respondo. Devíamos!
E foi isso mesmo que a Acesso Cultura fez com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. Uma publicação intitulada A Inclusão de Migrantes e Refugiados: O Papel das Organizações Culturais que pretende ser uma ferramenta de apoio para que as instituições culturais (museus e não só) possam ter um papel activo no esforço para a inclusão das pessoas que se vêem obrigadas a migrar ou forçadas a procurar asilo fora e longe dos seus países. Um documento que contém entrevistas, recomendações, contactos úteis, referências bibliográficas sobre o tema, etc. que nos ajudam na procura das respostas às questões iniciais: Por onde começar? O que é preciso saber? O que fazer e como?.
À Maria Vlachou vai daqui um enorme obrigado por este excelente trabalho. Obrigado esse que estendo à Ana Carvalho, à Ana Braga e ao Hugo Sousa e a todos os envolvidos neste excelente contributo.
A publicação pode (e deve) ser descarregada aqui (em Português e Inglês).
Toda a gente sabe que uma maldade nunca vem só! Quer dizer, por vezes vem, mas não é o caso. A Acesso Cultura organiza este ano alguns eventos dedicados a um tema que me é caro: o acesso aberto! Vai daí resolvem convidar-me para ser moderador duas vezes para mal dos vossos pecados! Uma primeira que acontece já a 20 de Junho e uma segunda que acontecerá em Outubro. Vejam lá bem o azar de quem não quer perder a oportunidade de debater estas questões.
A primeira vez em que irei moderar um debate será no próximo dia 20 de Junho. Nesta têm alguma sorte. Podem escolher dar um salto a Lisboa, Évora ou Olhão e particpar num dos debates simultâneos que a AC organiza também naquelas cidades. No entanto, se quiserem participar no do Porto, podem (e devem) dar um salto ao nosso Museu Nacional Soares dos Reis e juntar-se a mim, à Ângela Carvalho (Centro Português De Fotografia), à Manuela Barreto Nunes (Biblioteca Geral da Universidade Portucalense), à Olinda Cardoso (Arquivo Distrital do Porto) e ao Pedro Príncipe (Universidade do Minho) pelas 18:30h para discutir este tema. A AC colocou-nos o seguinte mote:
A digitalização de colecções museológicas e de outros acervos culturais alcançou uma escala sem precedentes. De que forma as instituições culturais portuguesas enfrentam esta nova realidade? O que é que está a ser feito no sentido de criar condições de acesso aberto? A quem se destinam estes recursos digitais e para que servem? Que dúvidas persistem? Que preocupações?
A segunda vez que irei moderar será uma mesa redonda da conferência da Acesso Cultura (será em Lisboa, a 16 de Outubro). É logo a seguir à conferência de abertura pela Merete Sanderhoff (Statens Museum for Kunst – Danish National Gallery) e terá a participação da Merete Sanderhoff (National Gallery Denmark), do David Santos (Direcção-Geral do Património Cultural), do Eloy Rodrigues (Universidade do Minho) e do Silvestre Lacerda (Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas) e será uma excelente oportunidade para debater e aprender com estes excelentes profissionais sobre acesso aberto.
Eu julgo que seria bom, numa e noutra oportundiade, discutir a questão sob duas perspectivas (mas digam-me vocês se concordam): Política e Técnica.
Na primeira uma abordagem sobre os caminhos e tendências que o Acesso Aberto segue nas instituições de referência, na visão estratégica de governos ou Comissão Europeia, por exemplo e na segunda abordar as condições, tecnologia, questões legais (embora estas possam também se ligar à primeira questão das políticas), etc. que devem ser tidas em conta pelas instituições que procuram informação de caracter mais prático sobre este assunto. Que vos parece? Estou aberto a outras perspectivas interessantes.
Eu sei que o tema é vasto e, ao que tenho ouvido, ainda pouco explorado entre nós. Por isso gostava que se procurassem respostas (mesmo sabendo que não há respostas definitivas) a questões como: O que é isso do Acesso Aberto? Que questões legais se levantam? Que políticas deve a minha instituição definir sobre esta matéria? Que materiais/informação deve/pode ter acesso aberto? Como mudar o panorama actual de acesso restrito em áreas fundamentais como a investigação científica? Que política(s) de financiamento devemos definir para esta matéria? Qual a diferença entre Acesso Aberto e Software Livre? O que precisamos para dar acesso livre à informação gerida por museus, bibliotecas e arquivos?
Se quiserem podem deixar abaixo (nos comentários) perguntas ou levantar temas para o debate e para a mesa redonda. Prometo que irei, dentro dos limites de tempo que teremos, levar comigo as vossas sugestões.
E já agora respirem fundo e participem. É um tema importante e interessante para todos nós!
Não é uma resolução de ano novo, é uma resolução com já algum tempo, amadurecida portanto, mas que esperava pela chegada deste ano (não me perguntem porquê, mas é assim que este meu cérebro funciona nestas coisas). É uma resolução que tomo consciente de alguns princípios que utilizo para ajuizar a minha inscrição em determinada instituição/associação e que se prendem, fundamentalmente, com a actuação dessa instituição na comunidade museológica, com o mérito dessa actuação e, também, com aquilo que o contributo que poderei dar a essa associação. Foi assim que decidi a inscrição no ICOM e na APOM, as outras associações (profissionais) da área da cultura a que pertenço e foram estas as razões que me fizeram inscrever na Acesso Cultura. Contam outros critérios, claro… mas esses ficaram quase esgotados com a inscrição como sócio do Glorioso.
Acompanho o trabalho da Acesso Cultura desde a sua fundação como GAM – Grupo para a Acessibilidade nos Museus. Desde aí é perceptível como a nossa consciência (enquanto comunidade), relativamente às questões da acessibilidade na área dos museus (e cultura), se modificou, alertando-nos e , acredito, tornando-nos mais preparados para lidar com o conjunto de desafios que são colocados nesta área. Tive o privilégio de ser convidado para uma das suas reuniões anuais, já como Acesso Cultura, onde se debateu o papel das redes sociais na acessibilidade (poderão assistir ainda à gravação da conferência aqui) com a participação do Marc Sands (da Tate) e de diversos colegas com um trabalho notável nesta área e de ter sido convidado para “moderar” dois debates (edição Porto) sobre o importante tema da fotografia nos museus. Acredito que o futuro será ainda melhor para a Acesso Cultura e que esta é uma associação necessária em Portugal na área da Cultura. Ontem recebi a aprovação da minha inscrição como sócio e, dentro das minhas capacidade e possibilidades, darei o meu melhor à associação.
Aproveito para desafiar a todos os que estão desse lado para se inscreverem como sócios e, acima de tudo, para participarem nas actividades da Acesso Cultura. É a melhor forma de perceber que vale a pena associarem-se (informação sobre como se podem inscrever como sócios).
Aqui fica a Missão da Acesso Cultura:
A Acesso Cultura promove a melhoria das condições de acesso – nomeadamente físico, social e intelectual – aos espaços culturais e à oferta cultural, em Portugal e no estrangeiro.