Sobre a transferência do MNA para a Cordoaria

Um texto de Luís Raposo apresentado nas Jornadas do ICOM que se realizaram ontem e sobre o qual importa reflectir.

MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA: mudar, só para melhor

Uma vez que foi anunciada a intenção de fazer transitar rapidamente o Museu Nacional de Arqueologia (MNA) para a Cordoaria Nacional (CN), destinando-se o espaço dos Jerónimos à ampliação do Museu de Marinha ou a um novo museu, o Museu da Viagem, julgo já ser altura de dizer o que penso sobre o assunto. A tal me conduzem os deveres que tenho para com os visitantes, o Grupo de Amigos do MNA, as comunidades científicas e museológicas a que pertenço e sobretudo para com a minha própria consciência pessoal. Vejo, aliás, que o tema mobiliza as comunidades da arqueologia, da museologia e do património e começou a interessar os media. Ainda bem, porque o futuro de uma instituição centenária desta natureza é um assunto de cidadania, que ninguém poderia esperar, muito menos desejar, ficasse escondido dentro de gabinetes.

Como tenho repetido noutras ocasiões (v. por exemplo Publico, 23-12-2006), não sou, em absoluto, contra a transferência do MNA para outras instalações. Pertenci a equipas que procuraram essas alternativas e elas chegaram a estar prefiguradas em sucessivos PDMs de Lisboa (Alto do Restelo, Alto da Ajuda, terrenos anexos ao CCB, etc.). Tendo falhado todas estas hipóteses, optei na última década – e com eu todas as direcções do Instituto de tutela – por estudar, primeiro, e depois propor projectos de arquitectura muito sólidos, da autoria de Carlos Guimarães e Luís Soares Carneiro, alicerçados em sondagens e estudos geológicos realizados sob supervisão do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), visando a ampliação do MNA nos espaços já ocupados nos Jerónimos. Estes estudos e projectos foram desde 1998 acolhidos por todos os governos que precederam a actual legislatura e chegaram ser formalmente adoptados por um primeiro-ministro, que anunciou o calendário da sua execução.

Não posso deixar de considerar ser pena que se deitem agora à rua as dezenas, ou porventura centenas, de milhares de euros assim gastos. Mas, enfim, se a opção é de mudança de instalações, então o que importa assegurar é que ela seja claramente para melhor. Não podendo ser para edifício novo, pois que seja para um edifício histórico prestigiado, bem situado e sobretudo adequado às necessidades de um museu moderno, mormente daquele que é um dos mais visitados do Ministério da Cultura, o que possui colecções mais volumosas e vastas e ainda o que tem maior número de bens classificados como “tesouros nacionais”. E já agora, quanto ao espaço deixado livre nos Jerónimos, que se execute nele um projecto cultural que realmente valha a pena e honre a Democracia.

Ora, devo confessar que, não obstante a atitude positiva que sempre tenho em relação à mudança, o espírito construtivo e colaborante a que minha posição funcional me obriga e ainda a esperança que depositei na orientação política traçada pela actual Ministra da Cultura, tenho agora dúvidas que estes desideratos sejam de facto assegurados.
Em Novembro e Dezembro passados, após reuniões tidas com a tutela do MNA e directamente com a senhora Ministra da Cultura, foi traçado um caminho que me pareceu e continua a parecer sério e viável, a saber:
-mandar executar estudos geotécnicos, sob direcção de entidade idónea (que a senhora ministra anunciou à imprensa ser o LNEC), garantidores da viabilidade e condições de instalação do MNA na CN; destes estudos resultariam as obras de engenharia que fossem consideradas como condições prévias a qualquer projecto de arquitectura;
-execução de um projecto da arquitectura arrojado, respeitador da Cordoaria (ela própria classificada como monumento nacional e merecedora de todo o respeito) e do programa museológico do MNA;

-afectação de toda a CN ao MNA, reconfigurado institucionalmente de modo a incluir alguns serviços de arqueologia do Ministério da Cultura que nele poderiam desejavelmente ter lugar;
-não instalação antecipada na CN de serviços do MC, de modo a que o espaço estivesse totalmente disponível para a execução do projecto de arquitectura; correlativamente, não havendo necessidade de ocupação da CN por parte da Cultura, não entrega adiantada à Marinha de espaços nos Jerónimos, mantendo aqui o MNA toda a sua capacidade operacional, até que pudesse ser transferido para a CN, em boa e devida ordem.

Nos últimos dois meses parece que toda esta estratégia foi abandonada, sem que se perceba muito bem porquê. Talvez apenas pelo que se quer fazer nos Jerónimos e não propriamente pelo interesse na melhoria do MNA. Importa recordar que a ideia de afectar o sector oitocentista dos Jerónimos em exclusivo à Marinha, de forma clara (ampliação do Museu de Marinha) ou encapotada (Museu da Viagem, colocado em instalações alienadas para a Marinha, bem diferente do que seria um tal museu antropológico e civilista, sob tutela exclusiva da Cultura), limita-se a ressuscitar o antigo projecto do Estado Novo, sob impulso do almirante Américo Thomaz, que teve golpe de finados quando o Conselho da Revolução, em Janeiro de 1976 (no rescaldo do 25 de Novembro e quando País corria o risco de uma deriva cesarista), entendeu publicar um decreto hoje risível, no qual se impunha a transferência para a Marinha de todos os espaços dos Jerónimos não afectos ao culto. É irónico que este projecto seja retomado agora, mas… é a vida. Na condição em que subscrevo este texto, apenas me cumpre assinalar esta entorse cívica. Todavia, na mesma condição, cumpre-me mais, cumpre-me denunciar a extraordinária situação para que um museu mais do centenário e um acervo tão vasto e estruturante para o País são atirados, tratados como meros empecilhos para que uma opção política de regime possa rapidamente ser executada. Em ditaduras terceiro-mundistas não se faria diferente.

Quanto ao edifico da CN o problema não é tanto político mas técnico e altamente complexo, fazendo todo o sentido os cuidados na sua abordagem, acima sumariados. Trata-se de uma proposta que tem meio século, ressurge ciclicamente e foi sempre recusada com base em pareceres técnicos credíveis. Mudaram entretanto as circunstâncias ? Talvez. Mas apenas se alguém com competência bastante puder agora garantir a inexistência ou o adequado controlo dos riscos sísmicos, de inundação, impacte de marés, etc. que são reconhecidos naquele preciso local (edificado sobre o estuário do rio Seco num local, “Junqueira”, que significa pântanos de juncos) e arriscam conduzir a uma catástrofe para o acervo histórico nacional que o MNA guarda. E se outro alguém garantir depois a mobilização dos meios financeiros suficientes para a profunda requalificação do quarteirão inteiro da CN, onde nalguns sectores se verifica uma quase ruína e noutros as coberturas são em telha vã, os pavimentos são irregulares, estão saturadas em sais marinhos, etc., etc. Ora, a única coisa que até aqui me foi apresentado em sentido tranquilizador, foi um parecer dado a título individual por um antigo técnico LNEC, certamente competente, mas que não responsabiliza mais do o seu autor. O Grupo de Amigos do MNA obteve estudo de outro técnico muito credenciado e que vai em sentido contrário; eu próprio recolhi pareceres de dois dos mais reputados especialistas portugueses em engenharia sísmica – e todos concordam em alertar para o risco efectivo e elevado que existe no local da CN.

Talvez assim se compreenda melhor porque atribuo a esta matéria tanta importância. Talvez se entenda porque não posso em consciência, neste momento, considerar como definitivamente adquirida a transferência do MNA para CN. E, por outro lado, também assim se possa melhor perceber porque considero inaceitável executar desde já o despejo de parte do MNA nos Jerónimos – situação que seria sempre anómala (e desnecessária, porque não existem agora pressões para colocar quaisquer serviços da Cultura na CN), porque o que faria sentido, conforme o acordado inicialmente, era que o Museu apenas desocupasse os espaços actuais quando mudasse de instalações, após as obras profundas de arquitectura a que a CN deverá inevitavelmente ser submetida.

Continuo, pois, a aguardar a apresentação pública de estudos que garantam a segurança do acervo do MNA na CN. Aguardo, logo depois, a abertura de concurso público ou o convite a arquitecto consagrado para desenvolver o projecto que se impõe, tudo isto sem esquecer os estudos urbanísticos da zona envolvente, de modo a precaver, e potenciar, o fluxo das várias centenas de milhar de pessoas que passarão anualmente a frequentar uma zona em que se irão colocar lado a lado os dois mais visitados museus do Ministério da Cultura.

No entretanto, o MNA continuará a servir da melhor forma que puder os seus utilizadores, no cumprimento do programa cívico que Leite de Vasconcelos concebeu e Bernardino Machado adoptou. As iniciativas públicas já tomadas em torno do futuro do MNA, com especial relevo para o espírito combativo demonstrado pelo nosso Grupo de Amigos e para os oferecimentos de activa solidariedade por parte de personalidades as mais diversas, das associações científicas e profissionais, das universidades e das autarquias, reconfortam-me e dão fé de que a sociedade civil não está adormecida.

Luís Raposo
Director do Museu Nacional de Arqueologia, 29 de Março de 2010.

Não vai acabar bem

Leio hoje no Público que a Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas “colocou a hipótese de afastar também o director do Museu Nacional de Arqueologia (MNA), Luís Raposo, mas acrescentou que “tudo depende do director”. Considerou ser necessário fazer obras na Cordoaria para garantir que o edifício resiste à intervenção que vai ser feita e ao uso que lhe vai ser dado. Ao director caberá desenhar e projectar o novo modelo expositivo e adaptar o seu acervo ao novo espaço.”

Sabendo que Luis Raposo tem divergências bem claras sobre esta escolha da Cordoaria (eu concordo com ele… o espaço era bem mais apropriado para o Museu da Marinha), cheira-me o caso não vai ter um final feliz. O MNA, por tudo o que representa para a museologia e cultura portuguesas, não merecia esta história.

CIDOC – post final

O tema da conferência anual do CIDOC este ano foi a “Documentación Siglo XXI: preservando y conectando la información de los bienes culturales“. Devo dizer que é um tema que está cada vez mais em cima da mesa. Hoje em dia os museus não podem continuar isolados no que respeita à informação e conhecimento que produzem em relação a outros produtores do meio cultural como as bibliotecas e os arquivos. É sabido, no entanto, que estes dois últimos estão bastante mais avançados no que diz respeito à documentação das suas “colecções” por diversas razões que aqui não importa referir. Mas não é possível esquecer o enorme esforço feito na comunidade museológica, nomeadamente do CIDOC, para corrigir este atraso e dotar os museus de ferramentas que lhes permitam estar quase em pé de igualdade com todos os seus parceiros no que diz respeito a este tema.

Quase todas as comunicações apresentadas este ano eram dirigidas para os resultados em termos de investigações ou projectos práticos nos quais o objectivo era evidenciar as potencialidades da ligação entre diversos sistemas/bases de dados que permitiam uma complementariedade na informação que os museus disponibilizam na web. Desde apresentaçõe mais técnicas, como a do Bricks Projects que já se encontra online, até à apresentação do enorme e complexo projecto que se está a desenvolver no Chile para a tradução para espanhol do Art & Architecture Thesaurus do Getty Institute (a responsável é a Dr. Lina Nagel), passando por apresentações de projectos específicos de uma região, como o que eu e o Fernando Cabral fomos apresentar em parceria com o Paulo Lima da Direcção Regional de Cultura do Alentejo, ou de um país de que foi exemplo a apresentação do sistema central de documentação dos museus da Estónia. Tudo teve o seu lugar, mas nesta conferência os dois assuntos que mais me despertaram interesse foram o workshop sobre ObjectID e a grande discussão, acalentada e orientada pelas Dr.ª Murtha Baca e Drª Lina Nagel, sobre thesaurus e a sua importante contribuição para os sistemas de documetação de museus, blibliotecas e arquivos.

Quanto ao ObjectID, norma que penso ser já bastante conhecida de todos, a discussão centrou-se no objectivo principal desta norma: criar uma base de entendimento sobre informação mínima dos objectos que os permita identificar em caso de roubo. Ou seja cada museu ter, no seu sistema de informação, um conjunto de campos que identifiquem sem margem de erro todas as pelas da sua colecção que possa ser usado no caso de furto, por exemplo, para que as polícias possam desempenhar o seu papel.

No que diz respeito aos thesauri a discussão é bem mais ampla que a anterior. Ampla e interessante, penso eu. Em Portugal é um tema que teima em ser constantemente esquecido. Há alguns projectos pontuais, dos quais destacaria a publicação do thesaurus de objectos religiosos, os thesauri que são utilizados no âmbito dos Museus dos Açores e alguns projectos que agora estão a ser trabalhados como o dos instrumentos científicos (Doutora Marta Lourenço), da azulejaria (Doutor Vitor Serrão). Perdoem-me se me esqueço de algum, mas é por simples desconhecimento que existem*. No entanto, não há uma verdadeira aposta nesta importante área. A responsabilidade de criar este tipo de projectos, pela sua complexidade e importância, deve estar sempre da parte das tutelas dos museus, mas também poderia ser uma boa oportunidade para as associações profissionais promoverem a sua importância e reunirem o importante contributo dos seus associados nesta matéria. A criação destes projectos deveria ser, segundo me disseram durante a conferência, feita em parceria com universidades, dado que o tipo de conhecimentos que é necessário ser bastante alargado. Linguística, línguas, história, ciências exactas, informática, etc. são alguns dos importantes contributos que importa reunir para um projecto ser bem sucedido.

Na minha opinião há uma janela de oportunidade que se abre neste momento. Algo que pretendo propor à Universidade do Porto: a tradução do A&AT para português, em colaboração estreita com o Getty Institute. Penso que é projecto possível no âmbito da Universidade e para o qual seria relativamente simples arranjar fundos. Uma ideia que pretendo apresentar em breve, mas que fica já aqui expressa.

Para finalizar importa também referir que a conferência contou este ano com um importante patrocínio do Getty Institute que permitiu a um grupo relativamente extenso de pessoas participar nos trabalhos. Com estas bolsas o CIDOC conseguiu financiar a viagem e estadia (penso eu) de pessoas do Benim, India, Zimbabwe, Costa do Marfim, Zâmbia, Bangladesh e também de alguns países da américa do sul.

Para o ano a conferência realiza-se em Xangai, integra os trabalhos da conferência trienal do ICOM, e eu confesso que quero ir (embora ainda tenha presentes as 14 horas de avião até Santiago). Tem sido momentos importantes para aprender.

19 de Maio – Mesa Redonda Museus de Belém

Tinha anunciado aqui a realização desta importante discussão sobre os Museus de Belém e a intervenção que está planeada, a propósito do novo Museu dos Coches, para esta zona da capital. Hoje é chegado o dia da discussão, mas devido a outros compromissos não me será possível ir a Lisboa para participar na mesa redonda. No entanto, gostaria de ver discutidas algumas questões relevantes sobre esta matéria e saber a opinião dos directores dos museus envolvidos na polémica sobre vários dados que estão em cima da mesa.

As questões que me ocorrem são as seguintes:

1. o novo Museu dos Coches não obriga (ou obriga?) à deslocação do Museu Nacional de Arqueologia para fora das actuais instalações, pois não? E se obriga, quais os motivos que imperam nesta decisão, tendo em conta toda a história de ligação entre o MNA e o actual edifício, bem como o local que tem sido ventilado para hospedar o MNA, que me parece ser completamente errada?

2. Havendo possibilidade de investimento na recuperação de alguns dos museus envolvidos, porque é que não se opta por realizar os projectos há muito existentes para a ampliação do MNA e expansão do Museu da Marinha para os terrenos adjacentes?

3. Porque é que não se transfere o Museu da Marinha, a par do Arquivo Histórico e Biblioteca Central da Marinha (como parece ser já um dado concreto) para o edifício da Cordoaria, como bem afirmam Raquel Henriques da Silva e Luís Raposo?

4. Eu percebo a necessidade que existe em dotar o Museu dos Coches de melhores condições para a colecção e para os seus visitantes, mas percebo também que este não é o único museu que tem essas necessidades em Lisboa. Em pouco tempo recordo-me do Museu Nacional de Arte Antiga, do Museu da Cidade, do Museu do Azulejo, etc que sofrem desde há muito de falta de meios para cumprir a sua missão da melhor forma. Porque não investir num desses museus? A zona a intervir tem que ser Belém? (esta pergunta poderá ser um tanto ingénua, mas devo confessar que desconheço se a área a intervir é obrigatoriamente Belém e por isso pergunto).

6. Qual o relevância que pretendem dar ao Museu Nacional de Etnologia nesta nova área?

7. Será criado um novo museu da Viagem no antigo Museu de Arte Popular? A extinção deste último está decretada? O que será feito das colecções que lá estavam? Bem sei que é um museu associado a um período menos feliz da nossa história (que não deixa de ser a nossa história), mas representa de certa forma as expressões artísticas mais genuinamente portuguesas. E já agora fica aqui o link para um blog sobre este museu (bem haja).

8. Tendo em conta o muito que se tem feito na museologia portuguesa nos últimos anos, com a criação da Rede Portuguesa de Museus (em boa hora), a reabilitação de alguns museus tutelados pelo estado e autarquias, com a criação de bons cursos na área e consequente formação de técnicos capacitados na matéria, porque é que este processo tem sido impulsionado pelo Ministério da Economia e não pelo Ministério da Cultura como penso que seria normal? Terá o primeiro uma política cultural própria?

São várias as dúvidas que tenho sobre todo este processo e apenas disponho dos dados que vêm a público na comunicação social, portanto é com grande pena que não irei participar nesta mesa redonda e ouvir da parte dos principais actores as vantagens e desvantagens do processo. Espero que o ICOM.PT (os parabéns pelo excelente conjunto de iniciativas que têm levado a cabo nos últimos tempos) divulguem as conclusões desta reunião para os que não puderam comparecer.

Mesa Redonda sobre os Museus de Belém

Uma discussão importante sobre uma zona de Lisboa onde estão instalados alguns dos museus mais importantes do país será organizada pelo ICOM.PT no próximo dia 19 de Maio pelas 17:00H no auditório do Museu Berardo. A mesa redonda terá a participação dos directores dos museus daquela zona lisboeta.

Mesa redonda MUSEUS DE BELEM – perspectivas de futuro

Penso que é uma boa oportunidade para se reflectir profundamente sobre a política museológica que o país precisa ou quer.

A ausência de reclamações

E em relação aos museus? Continuam com falta de meios…

Nos últimos seis meses, quando é que ouviu essa queixa? Nunca.

Estamos a falar de técnicos superiores para áreas como a conservação e restauro, por exemplo.

Todos os directores de museus estão em concurso e têm vindo a ser substituídos.

Não estamos a falar dos directores.

Mas é por aí que começamos. Agora eles vão fazer o levantamento das necessidades. Têm de ser feitos para percebermos como é que os museus são geridos e de que tipo de pessoas precisamos. Precisamos de mais vigilantes e guardas ou de pessoas totalmente diferentes, de guias qualificados, voluntários? Temos de encontrar soluções que não passam por um aumento do pessoal, mas por uma gestão competente e racional. O levantamento está a ser feito em todos os museus. Precisamos de criar modelos de gestão integrados e dotados de autonomia. Não se resolvem essas questões sem mudar de gestão, sem mudar as direcções dos museus e sem se definir o modelo que se quer. E isso pode passar por parcerias. Há neste momento os meios suficientes para estabilizar a situação.

Tanto em termos humanos como orçamentais?

Sim. O que queremos é que este processo seja conduzido de uma forma mais rigorosa, mais organizada, mais eficaz e mais focada do ponto de vista da gestão. Queremos que os museus se abram e sejam invadidos pela população. Não acho que os museus cumpram adequadamente a sua função cultural. Têm de ser abrir.

É preciso que compreendamos que fazer política da cultura não é fazer política do esbanjamento. Trata-se de dinheiro público e de ser absolutamente rigoroso.

Excerto da Entrevista do Sr. Ministro da Cultura ao Público.

Nem sequer vou referir-me à mudança de instalações para a Cordoaria Nacional do Museu Nacional de Arqueologia. Sobre este assunto já me pronunciei em tempos ainda que o MNA não estivesse incluído na deslocação e preocupação da altura. Parece-me um erro enorme retirar de Belém, para um edifício que não tem, por enquanto, as condições necessárias para receber as colecções do MNA.

Aliás quero até frisar que, em alguns aspectos, concordo com Pinto Ribeiro. A língua era algo menor na nossa preocupação com o património e, embora não concorde com o acordo ortográfico (os países anglosaxónicos não precisam de nenhum acordo parecido para que a língua deles seja um motor cultural), agrada-me esta preocupação com o Português.

No entanto, não posso deixar passar uma frase sobre a falta de meios: “Nos últimos seis meses, quando é que ouviu essa queixa? Nunca.” Diz Pinto Ribeiro. E eu arrogo-me a responder: em todos os fóruns de debate sobre museus e museologia nacionais? Nas conversas com colegas de profissão? Na blogosfera? Em alguns jornais? Recordo que é um problema enorme e antigo dos museus (este Ministro levou com uma pesada herança), mas não se resolve apenas pelo facto de se achar que não há queixas nos últimos seis meses ou com a substituição dos actuais directores. Com os meios disponíveis actualmente e com o modelo de gestão actual (eu gostava que os museus portugueses pudessem ser geridos por uma comissão em que estivessem presentes os mecenas, por exemplo). Resolvem-se com uma restruturação de todo este sector no que diz respeito a esta matéria.

Mas isto é apenas a minha opinião, claro.