A Coleção Estudos de Museus, uma parceria entre a Direção-Geral do Património Cultural e a editora Caleidoscópio, acrescenta em 2020 4 novas edições, que procuram divulgar um conjunto de bons estudos e investigações sobre museus e Museologia que abordam diversos temas e perspectivas e saem da pena de 4 competentes colegas.
Os vídeos dos lançamentos anteriores podem ser (re)vistos na página da DGPC no Facebook. A coleção Estudos de Museus conta agora com 21 publicações (salvo erro) que representam um conjunto de estudos importantes e atuais sobre diversos aspectos dos museus e museologia em Portugal e tem sido um importante veículo do conhecimento produzido na academia para todos os que trabalham em museus, senão mesmo o mais importante veículo entre nós.
Espero muito sinceramente que a DGPC encontre sempre forma de manter esta importante parceria com a Caleidoscópio e, já agora, que venha daí um estudo sobre documentação em museus.
A minha boa amiga e colega Maria van Zeller, no âmbito do Doutoramento em Media Digitais da Universidade do Porto, está a desenvolver um projecto em que procura conhecer mais sobre a realidade aumentada no universo dos museus.
Para o efeito, criou este breve inquérito (tempo aproximado de preenchimento: 8 minutos) para o qual eu peço a vossa colaboração. O inquérito é sobre o “Grau de aceitação do uso de realidade aumentada em museus” e está disponível aqui.
Se tiverem alguma questão ou dúvida sobre o inquérito ou quiserem de alguma forma esclarecer algo com a Maria, podem enviar e-mail para mvanzeller@fe.up.pt.
Parece que foi ontem, sentado na mesa de reuniões da sala do Gabriel na Estação da Luz, em São Paulo, que tive a primeira conversa com a Ju. Parece que foi ontem, mas acho que aquilo aconteceu há uns bons 7 ou 8 anos atrás e, desde então, o mundo deu umas voltas grandes.
A Ju deu-me nesse dia o privilégio de poder ser orientador da tese de doutoramento que estava a pensar em fazer. Recordo-me bem de ter dito que achava muito interessante o tema e que teria todo o gosto em ajudar no que estivesse ao meu alcance. Hoje, a esta distância, vejo que foi a Ju que me ajudou bem mais e que é o sonho de qualquer orientador. Um poço de vontade e dedicação sem fundo, a mais organizada das investigadoras, a mais ciente das dificuldades e dos obstáculos pela frente, a mais trabalhadora, enfim… apenas a vontade de deixar tudo perfeito, conseguiu que se atrasasse na redação do texto e fez com que tivéssemos de andar a ler a tese a velocidade elevada para cumprir os prazos de entrega. No meio disto tudo foi mãe!
Se tal não bastasse para sentir o maior orgulho na Ju e no seu trabalho, durante o período de investigação colaborou com a BAD, com o CIDOC, comigo aqui e ali, com o Mu.SA, enfim… nem vos conto.
Agora que chegamos a este ponto, podem todos vocês assistir (online) e deixar os vossos parabéns à Ju, por esta excelência de trabalho que irá defender no próximo dia 26 de outubro de 2020 às 14h30m na Sala de Reuniões da FLUP e que podem seguir por Videoconferência – Plataforma Colibri/Zoom (mais informações).
A tese que a Juliana irá defender tem o título “Avaliação para gestão de coleções em museus: Uma proposta de indicadores de desempenho com basena norma SPECTRUM” e será uma excelente ferramenta para que os museus avaliem a qualidade da documentação das suas coleções.
O bom de receber um conjunto de listas de e-mails sobre museus, cultura e tecnologia é conhecer, por vezes, propostas bem interessantes. Os últimos dias tenho recebido muito boa informação por estes canais e tenho partilhado algumas coisas através do Facebook e Twitter, mas o Culture Fix merece uma atenção especial.
“Culture Fix” (ou seja Correção da Cultura ou também Cultura Fixa) é uma plataforma que nos permite a todos (sim, podemos também fazer submissões a partir deste velho rectângulo) enviar para a plataforma as mensagens e conteúdo que os museus e outras instituições do sector cultural, centralizando-as num único local, que ao mesmo tempo que as promove, e faz chegar a cada vez mais audiências, permite que as instituições possam utilizar ferramentas de doação (mais ou menos complicadas, já sabemos) para suportar estas instituições num tempo de quebra de receitas (de bilheteira ou outras).
So there’s no doubt, we’re in a bit of a fix. All of us.
Arts charities are seeing a potentially devastating loss of admissions and ticket sales revenue alongside reduced donations. Recent weeks have seen a mass of well-intentioned arts messaging, desperately trying to inform, encourage and console.
But with such torrential and competing content being broadcast through online channels, as well as the global noise and stress, there is a danger that much of this is rapidly becoming difficult to navigate, with useful information likely to be lost.
Can we fix this by having an easy-reference portal, with relevant routes to your cultural interests? We think we might, so we’ve built Culture Fix.
Here at Substrakt, we hope Culture Fix can also be a funding lifeline right now for arts and cultural organisations.
Sei que não podemos corrigir o actual estado das coisas. Sei também que serão tempos difíceis para o nosso sector, mas é nos tempos difíceis que temos que nos reinventar, criar modelos novos, não substitutos, porque as idas ao museu, ao teatro, ao cinema, às exposições, aos concertos e a todas as actividades culturais, mas sim alternativos que nos permitam ajudar e continuar a usufruir da qualidade e diversidade que a Cultura nos oferece!
Ontem visitei, por motivos profissionais, o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra e tive a oportunidade de visitar a exposição temporária “Visto De Coimbra – Os Jesuítas entre Portugal e o Mundo” que foca a atenção na actuação da Companhia de Jesus aproveitando o impacto mediático do recente filme de Scorcese, a visita a Portugal do Papa Francisco (um jesuíta, portanto) e as recentes, e muito interessantes, descobertas de documentação feitas na Sé Nova de Coimbra. Fui convidado e acompanhado na visita pelo Pedro Casaleiro, da direcção do Museu, e membro da equipa que produziu esta exposição, que noutra oportunidade já me tinha falado sobre a investigação e trabalho que estava a ser realizado para esta exposição.
Antes de vos falar sobre a exposição, devo dizer-vos que sou um apaixonado pela relação que a Companhia de Jesus, com os seus erros e méritos, tem com o mundo. Sabemos todos que vários abusos foram justificados pela catequização dos povos e pelo disseminação da fé católica e, a luz dos nossos dias, nada o pode justificar. No entanto, a Companhia de Jesus deixa-nos, ao longo dos séculos um legado extraordinário de descobertas, de ligação entre povos, de dados ciêntificos, de conhecimento que muito contribuiram para o desenvolvimento da sociedade.
Lua da autoria do padre Cristovão Borri (Coimbra, 1626)
É o que acontece exactamente com o objecto que dá o mote ao título da exposição. Uma gravura publicada na Colecta Astronomica (1629), da autoria do padre Cristovão Borri, representando a Lua vista de Coimbra e feita em 1626. A primeira ilustração científica na área da astronomia feita em Portugal, apenas precedida da de Galileu (Siderius Nuncius) feita 16 anos antes. Um documento que mostra o empenho da Companhia num projecto pedagógico global e centrado na divulgação de estudos científicos recentes, como podemos ler na apresentação da exposição na página do Museu da Ciência.
A exposição tem duas áreas distintas que abordam a história da Companhia de Jesus em Coimbra e as missões jesuítas no mundo. A história em Coimbra é fascinante e aborda de forma muito interessante o contributo da Companhia no ensino em Portugal até à sua expulsão pelo Marquês de Pombal. Uso para ilustração desta parte da exposição um excerto do texto sobre a exposição que mencionei acima:
Na primeira sala encontramos manuais do curso filosófico – os Conimbricenses, o livro de Álgebra (1567) de Pedro Nunes seguido pelo jesuíta matemático Clavius, um dos maiores responsáveis pela difusão da obra de Nunes na Europa, as peças de teatro das tragédias sacras acompanhadas de coros musicais encenadas pela primeira vez em Coimbra (1562), expressas em manuscritos originais do acervo da Biblioteca, entre outros
Na sala dedicada às missões jesuítas, centrada, como se compreende, na actuação da província portuguesa da Companhia, não consegui ficar indiferente, tendo em conta o tempo em que ocorreram (entre 1550 e 1650), às distâncias e lugares cobertos pelos missionários que saíam de Portugal e viajavam em condições difíceis de imaginar actualmente, literalmente até ao outro lado do mundo. A mancha que representa a província portuguesa no planisfério de Ortelius (1570) é reveladora da imensidão de mundo coberto nesta verdadeira globalização empreendida pelos jesuítas missionários.
De todos os objectos que tive a oportunidade de ver, gostava de vos referir um. Uma gramática da língua Cokwe (como falo sem notas, espero não estar enganado com a etnia) feita por um missionário que possibilitava depois, para cumprir com o designío de espalhar a fé cristã, a criação de catequismo na língua daquele povo. A mesma situação encontramos também para a língua geral usada no Brasil, o tupi.
Além destes, gostei também dos documentos encontrados dentro de um altar da Sé Nova, ali guardados a mando de um jesuíta após a extinção da ordem em Portugal, como forma de garantir a sua preservação e segurança face à certa destruição numa fogueira às ordens do Marquês. Nesses documentos, pelo que me disse o Pedro Casaleiro encontram-se verdadeiras raridades que estão a ser estudadas por diversos especialistas da Universidade.
Esta exposição temporária poderia muito bem ser um dos elementos a incluir na (desejada) ampliação do Museu da Ciência conimbricense. Introduzia-nos a história do desenvolvimento de uma das mais antigas universidades europeias e permitia explorar temas muito interessantes sobre a relação da fé com a ciência ao longo do tempo. Além disso, mostra-nos de forma inequívoca uma relação aberta entre Portugal e o Mundo apoiada no conhecimento ciêntifico e na presença em Coimbra de relevantes cientistas ao longo da existência da Universidade.
No decorrer da visita, lembrei-me de como as Universidades poderiam olhar para a sua própria história quando procuram ideias para se desenvolver. Esta relação com o mundo, com os melhores, é central neste ponto, não vos parece?
Não posso deixar de agradecer ao Pedro Casaleiro esta excelente oportunidade de visita e todas as informações que me deu sobre os objectos e a história que a exposição conta. Não posso também deixar de vos recomendar uma visita ao Museu da Ciência para que vejam a exposição “Visto de Coimbra – Os Jesuítas entre Portugal e o Mundo”.
Não se esqueçam que só está disponível até 18 de Março próximo.