by Alexandre Matos | Jul 27, 2012 | Debate
Perdoem-me o título dramático deste post, mas não me recordo de outro que assente tão bem para um texto onde falamos sobre a (mais que anunciada) saída do Dr. Luís Raposo da direcção do Museu Nacional de Arqueologia. Já em Janeiro tinha sido anunciada como podem ver aqui e aqui, mas a decisão não se concretizou porque foi dado provimento ao recurso que interpôs junto da Secretaria de Estado da Cultura. No entanto, com a entrada em vigor da nova lei orgânica da DGPC, diz o bom senso que todos os lugares de direcção devem cessar funções e deve a tutela abrir concursos para os respectivos cargos. Porém, o que é comum neste tipo de situações é recorrer à nomeação temporária das pessoas que cessam funções para gerir o museu durante o período em que decorre o concurso. Imaginam os meus caros amigos o que aconteceu no caso do Director do MNA (Luís Raposo)?
Nem mais. Foi informado que não continuará a desempenhar aquelas funções nem sequer no período transitório.
Quanto mais não fosse pelo respeito pelo excelente trabalho que Luís Raposo desempenhou no MNA, não raras vezes com poucos recursos, durante os 15 anos à frente da sua direcção, seria de esperar que o bom senso imperasse e aguardassem um pouco mais pela sua saída.
Ao Dr. Luís Raposo queria daqui endereçar um cumprimento e reconhecimento pelo trabalho que desempenhou no MNA e pela abertura e disponibilidade que sempre demonstrou comigo.
by Alexandre Matos | Jul 2, 2012 | Debate
A ler com atenção o importante comunicado das Comissões Nacionais Portuguesas do ICOM e ICOMOS sobre as recentes alterações legislativas no sector que afectarão o futuro de todos os profissionais de museus e instituições de uma forma dramática.
Não me canso de referir que uma alteração desta natureza, com tantas implicações no sector, e, como é também referido no comunicado, para a qual não foram sequer ouvidas diferentes organizações que representam as comunidades profissionais do sector, devia ser alvo de um consenso generalizado e de uma reflexão séria que poderia ter respeitado à mesma os prazos apertados impostos pela reestruturação do Estado.
No entanto, é importante dizer que este tipo de alterações estruturais de fundo (não me parece que sejam meras reorganizações nas instituições do Estado que têm a obrigação de cuidar do nosso património), não deviam ser suscitadas com o simples argumento da crise financeira que o país vive. O património cultural português é muito mais importante do que uma reestruturação orgânica feita à pressa para cumprir objectivos de curto prazo que poderão ter implicações sérias e irreversíveis no futuro do sector e do país.
by Alexandre Matos | Jun 6, 2012 | Debate, Documentação, Normalização
Num sentido amplo, os serviços de documentação e inventário dos museus difundem informação e viabilizam o conhecimento dos bens culturais, a sua interpretação e apropriação por parte dos públicos. Desempenham um papel de interface específico e relevante com a comunidade, desde os estudantes e os docentes até aos especialistas e investigadores, passando pelos curiosos e amantes do conhecimento. A relevância que os sistemas de informação assumem no Museu, enquanto função museológica fundamental, espelha-se na interação com a investigação, a conservação, as exposições e a educação patrimonial, uma vez que integram o próprio conceito de Museu, definido na Lei-Quadro dos Museus Portugueses.
São estas as palavras com que Conceição Serôdio introduz o Grupo de Trabalho Sistemas de Informação em Museus que recentemente foi aprovado pela Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas e que pretende constituir-se como uma “plataforma de diálogo entre os profissionais de informação que trabalham nomeadamente em museus, palácios e monumentos” que pretendam assumir-se como “interlocutores das tutelas no domínio do património e desenvolver iniciativas de valorização profissional, de intercâmbio e de parcerias, promovendo a pluridisciplinaridade e a produção do conhecimento em museus” e instituições similares.
Esta iniciativa da BAD, associação com uma história consolidada e experiência única nas matérias tratadas pela ciência da Informação, será certamente aproveitada pelos profissionais de museus que todos os dias se dedicam a essa enorme (e por vezes complicada) tarefa que é a documentação e gestão das colecções guardadas nos museus. Esta parte importante do trabalho desenvolvido nos museus não é a mais visível para o público, e para as tutelas ou investidores já agora, mas dela depende em grande parte o sucesso das restantes tarefas museais. Não me parece que um museu possa conservar, expor, divulgar ou comunicar as suas colecções sem as conhecer previamente, certo? No entanto, este trabalho ocupa tempo, recursos humanos e financeiros e raras vezes tem sido (pelas mais diversas razões) visto como uma prioridade. Assim, não posso deixar de louvar esta iniciativa e de tentar contribuir com a minha experiência para ajudar o Grupo a atingir os objectivos a que se propõe.
Uma vez mais nas palavras da Conceição, no grupo que entretanto foi criado no Facebook, ficam aqui expressos os objectivos (ambiciosos, devo dizer) propostos:
- Constituir-se como uma plataforma de dinamização do diálogo e articulação entre todos os profissionais que trabalham em museus e outros espaços patrimoniais (monumentos, palácios, sítios);
- Promover o levantamento nacional dos recursos existentes nas áreas da informação, documentação e reservas em museus, de modo a desenhar um quadro global desta realidade, das suas potencialidades e debilidades;
- Desenvolver iniciativas de valorização profissional, nomeadamente encontros nacionais, sectoriais e ações de formação;
- Constituir-se como interlocutor das direções dos museus e das tutelas da área do património no que diz respeito à gestão da informação e à sua importância estratégica na vida dos espaços museológicos, da sua relação com as comunidades e com a produção e divulgação do conhecimento produzido no Museu.
Destaco, pela pertinência que tal trabalho terá, o levantamento nacional dos recursos existentes nas áreas de informação, documentação e reservas dos museus, porque é o primeiro passo (o mais acertado) para que se possam definir linhas estratégicas de actuação e criar propostas que possam contribuir para que possamos apresentar nesta área resultados mais animadores dos que se têm verificado até ao momento.
Por fim, importa também destacar que este interesse da APBAD pela área da documentação em museus permitirá também um intercâmbio acentuado de experiência e aprendizagem entre os profissionais da informação de distintas instituições (Museus, Bibliotecas e Arquivos) que em muito beneficiará o património cultural português.
Em especial à Conceição Serôdio, à Fernanda Serrano e ao Rui Ferreira da Silva aqui fica expresso o meu agradecimento por esta iniciativa.
Aproveito ainda para dizer a todos os interessados que se poderão inscrever no Grupo de Trabalho através do formulário disponível no site da APBAD e que o grupo terá a sua primeira reunião em Lisboa, dia 19 de Junho, às 18:00, na sede da BAD em Lisboa, a qual poderá ser seguida através de vídeo conferência. Para mais informações consultem o Grupo no Facebook.
by Alexandre Matos | Abr 18, 2012 | Debate
A Guerra, todos os sabemos, não é boa. Mesmo com a melhor das justificações o sofrimento causado, as vidas perdidas, os sonhos desfeitos, a tragédia geral que a guerra provoca, são difíceis de aceitar. Conto-vos isto após uma visita que ontem tive o privilégio de fazer ao Museu Militar de Lisboa, acompanhado pelo actual director, o Sr. Coronel Albuquerque, e por uma comitiva de militares argelinos que trabalham no Museu das Forças Armadas da Argélia e onde revi uma das peças do museu que sempre me causou admiração. Nas salas da Grande Guerra, ao lado das impressionantes pinturas do mestre Sousa Lopes, encontra-se uma Cruz, recolhida num cemitério alemão, da campa de um soldado Português morto na famosa Batalha de La Lys, na qual podemos ler a seguinte inscrição:
“Hier ruht ein tapferer Portugiesisch”
Ou seja, “aqui jaz um bravo soldado português”! Sempre que revejo esta sala e esta peça em particular fico a imaginar a história por trás daquela inscrição e homenagem do inimigo. Que teria feito aquele bravo soldado? Ou por outro lado quem teria feito a inscrição e porquê a teria feito? E a história que normalmente me vem à cabeça é a de dois homens que foram lutar pelo seu país, pelos seus, dois homens com H maiúsculo. Um que faleceu a lutar por aquilo em que acreditava e outro que vendo naquela morte um acto de honra resolve fazer uma das mais tocantes homenagens que conheci.
É por isto que eu gosto de trabalhar em Museus e com Museus.
by Alexandre Matos | Mar 16, 2012 | Debate
Sabendo eu que há alguns casos como o que é noticiado pelo Público hoje, o que fariam vocês se fizessem parte das colecções do vosso museu peças que, comprovadamente, pertenceram a alguém a quem as tivessem roubado?
Entregavam sem questões? Sabiam como elas chegaram ao Museu? Têm um documento que atesta a propriedade legal de todos os vossos objectos? Ou simplesmente acham que isso nunca poderia acontecer no vosso museu?
Que vos parece? Comentem abaixo.
Imagem: © AP via Público.
by Alexandre Matos | Mar 14, 2012 | Debate, Museus
Felizmente vou conhecendo alguns casos em que pessoas e instituições demonstram durante a presente crise uma grandeza tal que até parece ser mentira. Vou conhecendo alguns, mas queria falar-vos de dois apenas: o desta senhora e o deste fabuloso museu.
A Sr.ª Manuela Almeida, que faz parte do projecto “Um ano na crise” do Público, serve apenas para demonstrar quão grande se consegue ser apesar das dificuldades. Grande porque não vira a cara à luta, enfrenta-a com um sorriso e com um blog onde vende os seus mimos.
O deste museu, um dos meus favoritos em Lisboa, que é casa de uma importante colecção dessa grande artista que foi a Vieira da Silva, porque apesar das adversidades, das dificuldades financeiras, dos problemas conhecidos com os herdeiros da colecção Manuel de Brito, etc. consegue apresentar um projecto tão interessante e importante para o conhecimento da vida e obra de pintora e do seu marido, também artista, Arpad Szenes. Neste caso a criação de um blog de pouco servirá como alento ou ocupação, mas o constante alerta para estas situações torna-se absolutamente necessário, num país que não tem sabido, na minha opinião, distribuir os poucos recursos que tem de uma forma mais igualitária.
Espero sinceramente que a Fundação consiga levar por diante este importante projecto e que o museu continue aberto e nos permita, depois de maravilhados com as obras da artista, mais uns fins de tarde na esplanada do Jardim das Amoreiras.
Imagem: © FASVS