by Alexandre Matos | Set 14, 2010 | Debate, Museus
Não é discussão nova. Recordo que já em 1996 ou 97 quando trabalhava no Museu de Aveiro (um museu regional) se discutia, ainda que de forma pouco profunda, a possibilidade de os museus Regionais, pela sua ligação a determinadas regiões e à sua história, deixarem de estar sob a tutela do Instituto de Museus e Conservação e passarem para a tutela de uma entidade mais ligada à localidade/região onde estão inseridos. Esquecida durante uns tempos, embora eu a considere uma discussão essencial e até uma oportunidade de reflectir sobre o estado actual dos museus, o tema voltou à luz do dia com a inclusão no Eixo 1 do Plano estratégico para os Museus do Século XXI do seguinte ponto: “Transição faseada para tutelas municipais, ou afectação a Direcções Regionais de Cultura, de alguns dos 28 museus do MC/IMC, seleccionados com base em critérios patrimoniais e museológicos, e assente em contratos-programa.”
Antes de qualquer conversa devo dizer que sou favorável, por princípio, à descentralização deste tipo de serviços. No entanto, o planeamento de uma situação deste género deve ser bem pensada e reflectida através de um amplo debate com todos os intervenientes (tutela, museus e futura(s) tutela(s)), e também com a participação, ainda que numa fase prévia, dos diferentes agentes que têm como obrigação pensar e reflectir sobre as questões essenciais da museologia portuguesa.
Digo isto porque já se começam a ler algumas notícias referentes a esta matéria, como esta que reporta o discurso e intenção do Dr. Sérgio Gorjão (a quem aproveito para desejar o maior sucesso na direcção do Museu de Grão Vasco) de obter a classificação de Museu Nacional para o Museu que agora dirige. O assunto merece toda a atenção e é certo que irá criar um precedente na forma como outros museus encaram esta situação, no entanto, esta pretensão é, na minha opinião, justificada por alguns dos motivos que o próprio apontou e são reportados na notícia do Público.
Porém importa não utilizar alguns argumentos que poderão indicar, ainda que de forma não intencional, uma classificação que assegure qualquer tipo de superioridade em relação aos restantes museus na mesma posição. Não se pode, no meu entender, ver esta situação como uma distinção entre os museus nacionais (como tudo o que acarreta uma designação destas) e os restantes que passarão para uma categoria “inferior”! Repito que considero que a passagem de tutela pode ser uma excelente oportunidade para os museus.
Não me parece que esta situação seja apenas uma questão de “despacho” simples e rápido, como refere Elísio Summavielle, é bem mais do que isso, porque não se pode chamar a um Museu Nacional de forma leviana e não lhe permitir, posteriormente, ser um museu nacional.
by Alexandre Matos | Jun 17, 2010 | Debate, Geral
As mais recentes notícias sobre o Museu da Ciência da Universidade de Lisboa são preocupantes e merecem de todos nós uma reflexão profunda que poderá ser aproveitada para reflectir também sobre o estado dos museus e museologia em Portugal.
Em primeiro lugar importa destacar um momento importante no actual contexto museológico que foi a divulgação de um documento estratégico para os museus. Importante porque marca uma posição de preocupação por parte do sector político (e isso é de louvar), mas também porque decorre numa altura em que os compromissos políticos com a área cultural são cada vez menores e agravados dia a dia com a (desculpa da) crise. Tenho noção que o documento estratégico que o IMC apresentou não é especialmente afirmativo, mas demonstra linhas orientadoras que podem ser debatidas, contestadas, apoiadas ou simplesmente esquecidas, mas que existem e são conhecidas do grande público e da comunidade museológica. A respeito deste plano gostava ainda de destacar o excelente texto que a Maria Vlachou publicou no Musing on Culture (os meus parabéns pelo blog, Maria) e com o qual concordo quase na integra. O debate sobre uma nova estratégia(s) para os museus é importante e cabe ao IMC, mas também a todos nós, a sua promoção e concretização.
No entanto, este momento importante não evita situações como a que nos faz escrever este texto ou como a que aconteceu e está a ser também amplamente difundida sobre o encerramento do Museu da Cortiça da Fábrica do Inglês, em Silves, devido a dificuldades financeiras. Não as evita, porque devia ter acontecido há mais tempo. Porque os modelos de gestão, a capacidade das tutelas em termos financeiros, a proliferação desmesurada de museus por todo o país, entre outros factores não foram discutidos, pensados, planeados com antecedência e critério. Assim todos os esforços que a Rede Portuguesa de Museus empreendeu, sem grande força e meios (como acontece por exemplo com as bibliotecas e arquivos), são infrutíferos de uma forma geral.
Falta saber então porque razão está agora ameaçada a continuidade do Museu da Ciência da Universidade de Lisboa, no âmbito da restruturação do Parque Mayer e zona envolvente na qual estão envolvidos os museus da politécnica.
Segundo penso ter percebido da leitura do relatório (poderei estar enganado, mas corrijam-me se for o caso), o museu acaba por não ter uma colecção significativa quando comparada com alguns dos seus similares europeus (que me apontem um museu português que o consegue) e por isso não deve ser considerado um museu e ter estrutura autónoma, mas sim ser integrado, como uma ala, no contexto de um novo e alargado Museu Nacional de História Natural.
Logo à partida a premissa parece-me errada. O Museu da Ciência, para além da história enquanto instituição, preserva história da Universidade (vejam-se os casos dos restauros dos laboratórios históricos) que não pode ser integrada, na minha opinião, num museu de História Natural. Por outro lado, o factor colecção não pode ser a único ponto de avaliação que permite uma opção como a mencionada. As colecções constróiem-se, completam-se, estão sempre em crescendo. Juntando isso à capacidade que tem sido demonstrada, referida pelo próprio relatório, sobre a capacidade de preservação e cuidado com a colecção que é assegurada pela equipa do museu, vemos que é um argumento que me parece pouco válido.
Na minha opinião não se devia seguir este caminho. Deveria seguir-se o caminho já seguido, a meu ver com sucesso, pela Universidade de Coimbra, embora com algumas adaptações à realidade histórica dos museus da UL e da própria Universidade. Um museu, ou conjunto de museus, com uma unidade de gestão única, com verdadeira capacidade de planeamento, com boas equipas, integrado no trabalho e investigação que a UL desenvolve hoje em dia, enfim… um museu (ou um conjunto de museus sobre a mesma unidade de gestão, repito), como o que se poderia repetir também na Universidade onde estudo, que poderia trazer reais benefícios à comunidade científica e ao público em geral por ter a capacidade de ligar estes dois sectores através de uma comunicação eficiente.
Não sei se poderei estar em Lisboa no debate no próximo dia 22, mas deixo desde já expresso um sincero agradecimento ao Prof. Doutor António Sampaio da Nóvoa, Reitor da UL, por esta iniciativa. Espero que seja participada conforme merece.
by Alexandre Matos | Mai 18, 2010 | Debate
Devo confessar que é um tema muito interessante, mas sobre o qual não tenho dados para me pronunciar a favor ou contra. Por princípio inclino-me para a gratuitidade no acesso às exposições permanentes dos museus e pela cobrança de bilhetes nas exposições temporárias que os museus normalmente organizam, mas confesso que me preocupa a fonte de rendimento proveniente dos acessos (será uma percentagem pequena, mas num orçamento pequeno é relevante) ser posta de lado sem qualquer alternativa. No entanto é de salientar e de louvar o simples facto do Ministério da Cultura e do Instituto dos Museus e Conservação estarem a considerar essa hipótese (conforme li aqui e aqui).
Eu proponho que se faça uma parceria com a Santa Casa da Misericórdia e se desvie o dinheiro que os jogos da sorte atribuem ao futebol para a cultura e especificamente para os museus e património em geral. Parece-me muito mais útil do que financiar um produto que já devia ter pernas próprias para andar e aproveitavam-se recursos para promover e preservar a nossa herança cultural. É apenas uma ideia.
by Alexandre Matos | Abr 20, 2010 | Debate
Um ponto prévio que importa ressalvar. Quando soube da decisão da Ministra da Cultura relativamente à mudança de direcção do Museu Nacional de Arte Antiga não fiquei muito contente. Não tinha ficado contente também quando foi demitida a anterior directora, mas não porque conhecesse algum dos responsáveis, antes porque acho que um projecto para o MNAA deve ser pensado a longo prazo, numa situação ideal em que as mudanças de elenco governativo, não impliquem mudanças neste (e já agora noutros) museu. O planeamento estratégico a isso obriga. Esperemos que assim seja.
No entanto, a entrevista dada pelo actual director ao Público deixou-me de certa forma confiante no destino da instituição. Notei, com agrado, que António Filipe Pimentel tem algumas ideias sólidas daquilo que lhe compete definir e uma perspectiva de futuro para o museu assente numa visão estratégica do que o museu representa, ou deveria representar, para a cidade e país.
Embora saiba que tem em mãos uma tarefa gigante e difícil, desejo-lhe a bem do MNAA o maior sucesso na modernização do museu e na sua transformação numa instituição que concorra, porque o merece, com os citados museus em que o estado participa como parceiro.
by Alexandre Matos | Abr 14, 2010 | Debate, Eventos
Os seminários de Estudos de Caso de Cultura Material são um excelente momento de debate e aprendizagem para os seus participantes (público ou oradores). Devo confessar que foi um dos seminários que mais prazer me deram pela discussão que normalmente se gera na sala.
O deste mês é sobre o Museu da Marinha. José Vale irá apresentar o resultado do seu trabalho de mestrado intitulado “Museu de Marinha: Contributos para a definição de um projecto cultural” que apresentou recentemente à FCSH-UNL e certamente será um momento para se poder reflectir sobre uma importante questão para a museologia nacional.
Infelizmente não poderei estar presente (terei que arranjar uma forma de marcar uma ida a Lisboa nas datas destes seminários), mas quero desde já desejar o maior dos sucessos a esta iniciativa e agradecer à Dr.ª Marta Lourenço pelo enorme papel que tem desempenhado na discussão de temas interessantes da museologia nacional.
Programa
by Alexandre Matos | Mar 31, 2010 | Debate, Museus
Sobre o post anterior gostava ainda de acrescentar o link para a petição adoptada pela Comissão Portuguesa do ICOM e que já tive a oportunidade de subscrever. Leiam, divulguem e assinem caso concordem, como é óbvio.
http://peticao.com.pt/mna