I Encontro Património.pt – Gestao Pública e Gestão Privada de Recursos Culturais

I Encontro Património.pt – Gestao Pública e Gestão Privada de Recursos Culturais

É com prazer que divulgo esta informação sobre o I Encontro patrimonio.pt que pretende ver debatida a gestão pública e/ou privada dos recursos culturais do país. Não poderei infelizmente estar presente, mas desejo sinceramente todo o sucesso à iniciativa, embora tenha a certeza, dado a qualidade dos intervenientes, que será uma discussão interessante e proveitosa.

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Os Encontros patrimonio.pt, de periodicidade trimestral, pretendem pôr em discussão problemáticas da actualidade no sector do património em Portugal. Contando sempre com dois convidados, conheceremos as visões de experiências e formações diferentes sobre determinado tema. Querendo ser um espaço aberto a discussão e reflexão contar-se-á com a presença de todos aqueles que queiram participar.

Neste primeiro encontro, teremos a visão de dois profissionais – do sector público e privado – sobre diferentes formas de gestão de recursos culturais.

 

CONVIDADOS

Luís Raposo (Presidente do ICOM-Portugal)

Miguel Lago (ERA-Arqueologia)

 

MODERAÇÃO

José Maria Lobo de Carvalho

 

Luís Raposo é arqueólogo do Museu Nacional de Arqueologia (de que foi director entre 1996 e 2012). Professor Convidado do Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Presidente do ICOM Portugal e Membro da Direcção do ICOM Europa. Membro do Conselho Consultivo da Comissão Nacional da UNESCO. Antigo Presidente da Associação Profissional de Arqueólogos.

Miguel Lago é Arqueólogo e sócio fundador da ERA-Arqueologia, de que é Administrador Delegado. Desenvolve a sua actividade ao nível da prestação de serviços nas áreas da Arqueologia e do Património em geral, prosseguindo acções de implementação de projectos de investigação e valorização patrimonial, de que se destaca o caso do Complexo Arqueológico dos Perdigões. Ao longo dos anos, tem desenvolvido reflexões sobre questões relacionadas com a profissão e com o mercado que se tem consolidado na área do Património.

José Maria Lobo de Carvalho é Arquitecto, especializado na área do Património Construído e nos últimos 18 anos tem-se dedicado ao estudo, inventário, diagnóstico e intervenção em vários edifícios e centros históricos em Portugal e estrangeiro. É Doutorado pelo IST onde lecciona no Departamento de Engenharia Civil, Arquitectura e Georrecursos.

Declaração de Lisboa

Declaração de Lisboa

Quando comecei nesta vida dos museus tive a sorte de ter como directora do museu onde trabalhei uma pessoa que nos dizia sempre para escrever e dar a conhecer (não bastava, na sua opinião apenas dizer) as nossas opiniões, críticas e ideias. Na sua opinião conseguíamos assim melhor fundamentar o que pensávamos (a escrita tem essa enorme vantagem), reflectir quando o escrevíamos – e depois de o escrever – e, através da sua divulgação, deixar os outros reflectir sobre as nossas críticas e opiniões e, conforme o caso, contradizer ou concordar com o que escrevíamos. Commumente utilizava esta argumentação sobre o livro de reclamações da casa: “é melhor que escrevam lá, para que realmente se faça algo sobre o assunto!”

Hoje depois de ler com atenção a Declaração de Lisboa e ter constatado que ali estão expressas algumas ideias que julgo serem comuns à maioria dos cidadãos da Europa e do mundo Ocidental, dei comigo a pensar como é/foi importante que essas ideias, a meu ver bem fundamentadas, sejam passadas para o papel de forma a serem debatidas, criticadas, elogiadas (ou não), etc., pelo maior número de pessoas e instituições com responsabilidade e capacidade decisória no que diz respeito aos museus (e já agora também nos outros tipos de instituições do sector da cultura).

Eu assino por baixo a Declaração de Lisboa e congratulo-me por ser membro de um comité nacional do ICOM que teve um papel fundamental na sua criação.

Declaração de Lisboa (PDF)

Mais informação aqui.

 

Museus e Crise

Museus e Crise

A crise tem um impacto negativo em tudo o que nos rodeia.

Verdade absoluta? Ou haverá algo (tudo) nesta frase que pode ser rechaçado? Num dia como o de hoje, invernoso e chuvoso, em que a meteorologia nos aponta para avisos amarelos, parece ser impossível alterar o estado actual da crise em que os museus vivem, no entanto, a crise é, de acordo com a definição da palavra, um momento, uma conjuntura, não é definitiva, passará algum dia e por isso, mesmo num dia invernoso como este, eu mantenho o optimismo e o pensamento no futuro, ciente que temos a capacidade de ultrapassar a crise em que os museus, a cultura, o país e a Europa estão mergulhados.

No entanto, será que alguém pensa no que fazer para sair da crise e para evitar crises futuras? Alguém saberá como faremos para sair e evitar que entremos noutra crise? O que os museus farão para se instituírem definitivamente como elemento fundamental da cidadania e da sociedade em que se inserem? O que devemos então fazer?

Comecei a escrever estas palavras motivado pela informação sobre a realização de mais um Encontro Nacional  Museologia e Autarquias, organizado em S. Brás de Alportel, pela Câmara local e pelo MINOM, sob o mote “Viver na crise e melhorar os museus” e que pretende “centrar-se sobre as estratégias delineadas ou aquelas que os museus já estão implementando no terreno; lançar o debate sobre «smart» museologia; compreender, simplificar e construir recursos tecnológicos próprios, como a expografia digital; e lançar e definir o projeto de ação museal «Olhares sobre Crise na sociedade portuguesa», aberto a todos os museus sensíveis a estas problemáticas.” Comecei a escrever, porque pensei para mim que finalmente os museus começavam a debater o problema e congratulei-me por isso. Hoje fico a saber que a Câmara Municipal de Vila do Conde, através do Museu de Vila do Conde, promoverá no próximo dia 22 de Abril a 1.ª Jornada de Trabalho em Museologia dedicada ao tema da Gestão Museológica e Sustentabilidade de Museus (centrada na forma como os museus encaram os novos desafios e nos estudos dos públicos) e que o Expresso, juntamente com o BES, pretendem conhecer “O que faz falta aos museus portugueses?“* com um “debate em prol da valorização do património museológico nacional” onde participaram o Secretário de Estado da Cultura, o director do MNAA (António Filipe Pimentel), o sub-director do Reyna Sofia (João Fernandes) e ainda Tolentino Mendonça, moderado pelo director do Expresso (Ricardo Costa), sobre o qual ficaremos a conhecer mais na próxima edição do Expresso.

A situação é grave e por isso mesmo exige de nós maior atenção e uma reflexão que resulte em medidas práticas ou, pelo menos, que possa influenciar a decisão de as tomar. Ficam aqui os meus parabéns a estas iniciativas (e a outras do mesmo género que ainda não conheça) e aos seus responsáveis.

* Sobre esta iniciativa, que é de louvar, gostaria apenas de dizer que ficou a faltar ao debate alguém de um museu de tutela ou dimensão diferente.

Gosto

Gosto

Gosto quando o responsável por um museu (hoje em dia não podemos generalizar com o director, porque temos coordenadores e outros cargos para a mesma referência) começa as suas funções a avaliar as fraquezas e forças da colecção que passa a ter em mãos. É um bom sinal! A colecção do museu, independentemente da sua natureza, história e tipologia, é o seu coração, os seus pulmões, os seus órgãos. Sem ela, na minha opinião, não há museu ou o museu perde o seu sentido. A cultura material que os sustenta e está na sua génese não pode ser substituída e deve ser sempre a primeira preocupação para quem assume  responsabilidade máxima numa instituição do género.

Vem isto a propósito das declarações da nova directora do Museu de Serralves ao Diário de Notícias onde Suzanne Cotter afirma que “Agora é momento de avaliar as forças da coleção, ver as áreas em que tem de ser desenvolvida e as oportunidades, para, porventura, forjar novos pilares” tendo para tal a exposição “A substância do tempo” (A maior retrospetiva de desenhos de João Martins), que inaugura brevemente, servido para que Cotter possa “descobrir a coleção ao mesmo tempo que os visitantes a vão poder descobrir”. Uma excelente notícia para Serralves, no meu entender, e para o desenvolvimento da sua importante colecção de arte.

Uma situação que, tal como afirma Cotter, não tem que implicar qualquer desvalorização do papel relevante que Serralves tem tido a nível educativo, de desenvolvimento das artes, etc., mas sim uma avaliação desse papel a nível nacional e internacional em consonância com a globalização e a interacção entre artistas de todo o mundo, servindo a colecção como base para o restante trabalho do museu.

© Imagem: Artur Machado/Global Imagens

Incorporar e desincorporar, eis a questão!

Incorporar e desincorporar, eis a questão!

Um bom texto do New York Times (era bom ter alguns textos como este na imprensa nacional), sobre os problemas que o Brooklyn Museum tem com uma doação feita nos anos 30 do século passado, fez-me relembrar uma discussão que tive com colegas de museus, há muito tempo atrás, sobre a incorporação de colecções sem qualquer planeamento estratégico. Na altura, a discussão surgiu em torno de alguns exemplos concretos de colecções que eram doadas e aceites pelos museus sem qualquer avaliação das implicações daquele acto no curto, médio e longo prazo. Algo que é, de certa forma comum e tende, como bem salienta a Isabel Luna na sua tese de mestrado, a ser pouco discutido na museologia portuguesa.

O que é que os museus devem incorporar? Como o devem fazer? Porque o devem (ou não) fazer? O que devem ter em conta para aceitar uma doação? Têm os meios para o fazer? Estas e outras questões estiveram na base da mais clarividente medida, na minha opinião, da Rede Portuguesa de Museus (RPM) no processo de certificação dos museus portugueses: a exigência de uma política de incorporações escrita que passasse a determinar aquele acto nos museus portugueses. A exigência deste documento teve o mérito de suscitar alguma discussão em torno de um problema que se tem vindo a intensificar com a expansão das colecções nos museus e de criar, nos muitos museus da rede, um instrumento de apoio às decisões sobre esta matéria que devem ser tomadas tendo em conta as questões técnicas e financeiras, mais do que as de carácter político, com que o museu se confronta no médio e longo prazo. Ficaram assim os museus da RPM com um instrumento essencial que lhes permite, em última análise, recusar uma doação que não esteja de acordo com o estipulado formalmente pelo museu e assumido pela tutela.

No entanto, e quanto à desincorporação? Terão os museus pensado nas situações em que se vêm confrontados com a possibilidade de desincorporar um, ou vários, objectos das suas colecções? Eu sei que não é comum, mas se pensarmos um pouco sobre o assunto, percebemos a forte possibilidade de tal cenário se colocar aos responsáveis por determinado museu. Um ou mais objectos que não tenham qualquer ligação com o âmbito e missão do museu, um objecto que não seja possível restaurar, uma colecção que o museu não tenha condições para albergar com as condições exigidas em termos de conservação preventiva, a inexistência de espaço em reserva e dinheiro para comprar mais espaço, etc. são algumas das razões pelas quais poderemos justificar a desincorporação de objectos ou colecções de museus.

Sabendo que são raros, ou pouco conhecidos, os casos de desincorporação nos museus portugueses, ainda assim questiono: quantos museus prevêem essa situação na sua política de incorporações? Será que uma política de incorporações deve prever o seu oposto? Ou devemos pensar antes numa política, necessariamente mais extensa, sobre a gestão da colecção? Um documento que possa, com base na missão do museu, suportar todas as decisões relacionadas com a colecção seria bem mais útil. Julgo até, podendo estar enganado, que era esse o caminho que a RPM pretendia traçar. No entanto, esta é uma situação que não tem tido, fruto das circunstâncias, o desenvolvimento pretendido inicialmente pela RPM, por isso julgo ser da nossa responsabilidade (profissionais dos museus e as associações que nos representam) alertar os museus e as entidades responsáveis para o muito que ainda há para fazer (e já estamos atrasados) nesta matéria.

Que me dizem vocês? Já se confrontaram com situação semelhante à descrita no NYT? E os aspectos legais e financeiros envolvidos? Percebem as implicações que um acordo para uma doação pode ter? Não deveríamos ter outro tipo de precauções?