Gosto

Gosto

Gosto quando o responsável por um museu (hoje em dia não podemos generalizar com o director, porque temos coordenadores e outros cargos para a mesma referência) começa as suas funções a avaliar as fraquezas e forças da colecção que passa a ter em mãos. É um bom sinal! A colecção do museu, independentemente da sua natureza, história e tipologia, é o seu coração, os seus pulmões, os seus órgãos. Sem ela, na minha opinião, não há museu ou o museu perde o seu sentido. A cultura material que os sustenta e está na sua génese não pode ser substituída e deve ser sempre a primeira preocupação para quem assume  responsabilidade máxima numa instituição do género.

Vem isto a propósito das declarações da nova directora do Museu de Serralves ao Diário de Notícias onde Suzanne Cotter afirma que “Agora é momento de avaliar as forças da coleção, ver as áreas em que tem de ser desenvolvida e as oportunidades, para, porventura, forjar novos pilares” tendo para tal a exposição “A substância do tempo” (A maior retrospetiva de desenhos de João Martins), que inaugura brevemente, servido para que Cotter possa “descobrir a coleção ao mesmo tempo que os visitantes a vão poder descobrir”. Uma excelente notícia para Serralves, no meu entender, e para o desenvolvimento da sua importante colecção de arte.

Uma situação que, tal como afirma Cotter, não tem que implicar qualquer desvalorização do papel relevante que Serralves tem tido a nível educativo, de desenvolvimento das artes, etc., mas sim uma avaliação desse papel a nível nacional e internacional em consonância com a globalização e a interacção entre artistas de todo o mundo, servindo a colecção como base para o restante trabalho do museu.

© Imagem: Artur Machado/Global Imagens

Os Tesouros dos Museus

Os Tesouros dos Museus

As imagens que ilustram este post provêm de um artigo no The Telegraph sobre um livro de Molly Oldfield intitulado “The Secret Museum” no qual são revelados alguns dos tesouros dos museus que estão “escondidos” por questões de salvaguarda, segurança e preservação. Embora esta seja uma situação comum nos museus – a falta de dinheiro para assegurar os processos de restauros que permitiriam mostrar estas peças ou mesmo a impossibilidade de os restaurar por questões técnicas, assim o determinam – são vários os museus que procuram/encontram outras alternativas de os mostrar ao público. As colecções on-line são uma delas, livros como o que origina o artigo outros, catálogos da colecção ainda outra possibilidade à qual poderíamos ainda juntar uma boa quantidade de iniciativas neste sentido. O acesso, ainda que condicionado, a estes objectos únicos é tido como essencial para uma boa parte dos museus.

Reserva

Com isto em mente lembrei-me de propor uma nova iniciativa aqui no Mouseion: a Reserva. Uma categoria de posts convidados para os museus que possam ter interesse em divulgar e dar destaque, através desta vossa casa, a um objecto da sua colecção que não possa ser mostrado ao público fisicamente, mas que possa e deva ser divulgado on-line com imagens e texto sobre a sua história. Algo semelhante ao Speaker’s Corner, portanto.

Conhecem algum museu que aceite o desafio? Importam-se de divulgar esta nova iniciativa ao maior número de museus possível? Agradeço desde já o vosso interesse e acima de tudo a participação. Podem ser objectos de museus portugueses, brasileiros, moçambicanos, angolanos, timorenses, da Guiné, de Macau, etc. ou de outros países  interessados (há excelentes objectos ligados a Portugal e à sua história em muitos museus por esse mundo fora), mas o texto sobre o objecto e a sua história deve ser escrito em português.

Para os museus interessados em participar basta que me enviem essa intenção, juntamente com o texto e imagens do objecto (cuidando eu dos devidos créditos na publicação, como é óbvio) através dos comentários.

Editado: acrescentou-se a indicação sobre a participação de museus de outros países para além de Portugal que possam estar interessados nesta iniciativa.

Entregue e aprovado!

Entregue e aprovado!

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“Aprovado com distinção e por unanimidade!”

Foi com estas palavras que se concluiu uma importante fase da minha vida. Aliciante, estimulante, desafiadora, mas também extenuante e exigente, são alguns dos adjectivos que usaria para descrever o percurso que tracei ao longo deste período em que procurei estudar e investigar a possibilidade de utilização de uma norma de gestão de colecções, o SPECTRUM, pelos museus portugueses, através da sua tradução e adaptação, da sua aplicação num contexto prático (estudando o caso do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra) e, finalmente, criando com a Sistemas do Futuro uma aplicação compatível com essa norma que facilite a sua utilização e disseminação pelos museus. Espero que o resultado possa ser útil aos museus e a todos os seus profissionais que se dedicam à gestão das colecções. No entanto, como todo o fim é o começo de algo novo, em breve trarei aqui notícias de futuros projectos que o desenvolvimento deste trabalho proporcionou e que serão, na minha perspectiva, importantes para a utilização das colecções dos nossos museus.

No entanto, queria aproveitar uma vez mais para deixar aqui expresso o devido reconhecimento e agradecimento a todos os colegas, amigos, família, professores e instituições que de alguma forma contribuíram para este momento.

Desde logo ao Prof. Doutor Pedro Casaleiro e à Prof.ª Doutora Marta Lourenço, arguentes da tese, pelos elogios, questões e, acima de tudo, importantes reparos, que procurarei incorporar na versão final (com correcções) de acordo com as sugestões feitas. Foi um privilégio para mim poder ser avaliado por duas pessoas com um percurso académico e profissional de excelência como é o do Prof. Pedro Casaleiro e da Prof.ª Marta Lourenço.

Um segundo cumprimento é devido ao meu caro amigo (perdoar-me-à a quebra da formalidade) Rui Centeno, meu orientador no mestrado e agora, pelo importante contributo científico que deu ao meu trabalho e, acima de tudo, por estar sempre presente quando necessário. Foi um suporte essencial para este percurso, obrigado. Terá sempre aqui um amigo disponível.

Um agradecimento é também devido ao Prof. Doutor Gonçalo Vilas-Boas, presidente do júri, pelos cumprimentos e elogios.

Ao Prof. Armando Coelho um agradecimento enorme pelo apoio que sempre foi para mim e, especialmente, pela dedicação que entregou sempre ao curso de Museologia. Todos os que lá passamos devemos-lhe essa homenagem.

À Prof. Alice Semedo o agradecimento pelo elogio que fez a mim e ao trabalho que apresentei, o qual me deixou muito sensibilizado, mas principalmente pelo papel importante que a Alice desempenhou (desempenha) enquanto professora do curso de museologia. Já tive a oportunidade de escrever num agradecimento que uma importante parte do trabalho que defendi na segunda-feira a ela se deve. Obrigado.

Ao Museu da Ciência da Universidade de Coimbra e à Sistemas do Futuro é devido um enorme agradecimento por terem, enquanto instituições relevantes no panorama português, acreditado e apoiado este projecto mesmo na fase difícil que o país atravessa.

Ao Prof. Paulo Gama Mota, director do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, um agradecimento especial, por acreditar que este projecto e o SPECTRUM poderão ser importantes para o desenvolvimento do museu e por ter colocado à minha disposição tudo o que foi preciso para a execução do trabalho.

Ao meu amigo Fernando Cabral, director da Sistemas do Futuro, por ter acreditado neste projecto desde 2008 e por incentivar sempre a procura de conhecimento. É a ele que se devo agradecer, antes de mais, todos os recursos que tive à minha disposição neste projecto e também o investimento que a empresa faz em mim e neste projecto. Obrigado, meu caro, terá sempre aqui um amigo para o que der e vier.

Aos meus amigos Natália, Sónia, Maria, António, Hugo, Armindo e Adão um agradecimento por me terem aturado diariamente ao longo destes anos e pelo vosso importante contributo (directo e indirecto) para a conclusão deste trabalho. Espero conseguir retribuir da mesma medida.

À Collections Trust, em especial ao Nick Poole, ao Gordon McKenna, à Alex Dawson e à Susanna Hillhouse por terem acreditado que este era um projecto interessante e confiarem em mim para a sua execução.

À Fundação para a Ciência e Tecnologia que apoiou financeiramente este projecto através do programa de bolsas de doutoramento em empresa um reconhecimento especial e os votos para que possa continuar apoiar, na área dos museus e património, projectos feitos em parceria com as empresas do sector.

A todos os colegas e professores com quem aprendi e continuarei a aprender, com um especial carinho pelos que puderam estar presentes fisicamente, um enorme obrigado pela vossa força e ensinamentos.

Uma vez mais a todos os amigos, com uma particular dedicatória a todos os que atravessam momentos mais difíceis, com a esperança que sejam momentos que acabem brevemente, fica aqui o meu agradecimento pelos parabéns em forma de mensagem, redes sociais, telefonemas, etc. e também o reconhecimento do papel importante que vocês desempenham na minha vida. À Zé um obrigado especial não só pelos km que fez para estar presente, mas pelo bloco de notas em branco…

Aos meus pais e irmãos um beijo do tamanho do mundo. Nada do que possa fazer é agradecimento suficiente para o que vocês me deram e continuam a dar.

Aos meus sogros, cunhados, cunhadas e sobrinho um beijo muito especial por estarem sempre presentes e serem um apoio sem igual.

À minha mulher, para quem devem ir todos os elogios feitos à clareza e rigor da escrita, o maior dos agradecimentos. Sem ti não era mesmo possível. Obrigado por TUDO!

À Inês e ao João fica a dedicatória deste trabalho por terem sido cúmplices deste projecto com os mimos e amor que o tornaram possível.

Obrigado por tudo e agora vamos em frente que atrás vem gente!

Nota: Assim que tiver a tese publicada (no repositório da UP) aviso e coloco o link.

Colecções, colecções e mais colecções

Colecções, colecções e mais colecções

Por motivos profissionais tenho procurado, com mais atenção do que costume, alguma informação sobre o estado da arte das colecções, dos processos de digitalização, de normas e procedimentos para a sua utilização, da sua publicação online, da utilização que é dada pelos museus aos conteúdos online, etc. Dessa pesquisa encontrei algumas informações que importa reter e divulgar para os potenciais interessados. Assim sendo, aqui vai:

Uma primeira referência apanhada no Twitter do @m1ke_ellis (poderão conhecer do Electronic Museum) para um documento que lista alguns dos bons exemplos de utilização inovadora e interessante das colecções on-line. Pelo que percebi é um documento em aberto e assim, caso pretendam contribuir, poderão enviar alguma informação, via twitter, para @m1ke_ellis.

Um artigo muito interessante no blog de Paul Rowe (CEO da Vernon Systems) sobre alguns dos melhores exemplos de colecções on-line de 2012 tendo em conta a procura da contribuição dos utilizadores para o conhecimento e reutilização da informação das colecções dos museus nas mais diversas plataformas. Do artigo destaco o exemplo dado sobre o Rijksmusueum (sobre o qual já falei aqui) e o da National Trust Collections (pelo volume de informação e clareza do interface). O blog do Paul Rowe é excelente. Aconselho a subscrição.

O ponto anterior (reutilização dos conteúdos) leva-nos a um outro assunto que, mais tarde ou mais cedo, teremos que encarar: os direitos associados a este tipo de conteúdos. Para reflectirem sobre o assunto aconselho consultarem o OpenGLAM (onde poderão consultar exemplos de colecções de conteúdo “aberto”) e aceder/participar numa rede de discussão sobre o assunto.

Sobre um assunto que destaquei na minha intervenção no último congresso da BAD, o estado da digitalização das colecções na Europa, importa também destacar, ainda no blog do projecto OpenGLAM, este artigo. Este é um assunto que os museus, bibliotecas e arquivos deveriam seguir, na minha opinião, com a maior das atenções. Até porque há vida para além da crise :).

Ainda sobre colecções, não posso deixar de destacar, na área da mobilidade e utilização das colecções europeias, este importante relatório sobre maneiras práticas de reduzir os custos com o empréstimo de objectos entre países da União Europeia, acompanhado por um “toolkit” nos quais os profissionais de museus encontrarão informação extremamente útil para orientar e auxiliar nos procedimentos necessários num processo de empréstimo. Um e outro são da responsabilidade do Open Method of Coordination (OMC) Working Group of eu Member States Experts on the Mobility of Collections, mas tomei conhecimento destes documentos através do site da Museums Association.

Por fim, para os interessados no assunto, recomendo ainda que possam seguir com atenção os nomeados/vencedores dos prémios “Best Practice in Collections 2013” instituídos pela Collections Trust para se celebrar as melhores práticas nesta matéria (penso que é um prémio limitado ao Reino Unido por enquanto).

E vocês? Têm alguma sugestão que possa acrescentar a este rol?

© Imagem daqui.

Incorporar e desincorporar, eis a questão!

Incorporar e desincorporar, eis a questão!

Um bom texto do New York Times (era bom ter alguns textos como este na imprensa nacional), sobre os problemas que o Brooklyn Museum tem com uma doação feita nos anos 30 do século passado, fez-me relembrar uma discussão que tive com colegas de museus, há muito tempo atrás, sobre a incorporação de colecções sem qualquer planeamento estratégico. Na altura, a discussão surgiu em torno de alguns exemplos concretos de colecções que eram doadas e aceites pelos museus sem qualquer avaliação das implicações daquele acto no curto, médio e longo prazo. Algo que é, de certa forma comum e tende, como bem salienta a Isabel Luna na sua tese de mestrado, a ser pouco discutido na museologia portuguesa.

O que é que os museus devem incorporar? Como o devem fazer? Porque o devem (ou não) fazer? O que devem ter em conta para aceitar uma doação? Têm os meios para o fazer? Estas e outras questões estiveram na base da mais clarividente medida, na minha opinião, da Rede Portuguesa de Museus (RPM) no processo de certificação dos museus portugueses: a exigência de uma política de incorporações escrita que passasse a determinar aquele acto nos museus portugueses. A exigência deste documento teve o mérito de suscitar alguma discussão em torno de um problema que se tem vindo a intensificar com a expansão das colecções nos museus e de criar, nos muitos museus da rede, um instrumento de apoio às decisões sobre esta matéria que devem ser tomadas tendo em conta as questões técnicas e financeiras, mais do que as de carácter político, com que o museu se confronta no médio e longo prazo. Ficaram assim os museus da RPM com um instrumento essencial que lhes permite, em última análise, recusar uma doação que não esteja de acordo com o estipulado formalmente pelo museu e assumido pela tutela.

No entanto, e quanto à desincorporação? Terão os museus pensado nas situações em que se vêm confrontados com a possibilidade de desincorporar um, ou vários, objectos das suas colecções? Eu sei que não é comum, mas se pensarmos um pouco sobre o assunto, percebemos a forte possibilidade de tal cenário se colocar aos responsáveis por determinado museu. Um ou mais objectos que não tenham qualquer ligação com o âmbito e missão do museu, um objecto que não seja possível restaurar, uma colecção que o museu não tenha condições para albergar com as condições exigidas em termos de conservação preventiva, a inexistência de espaço em reserva e dinheiro para comprar mais espaço, etc. são algumas das razões pelas quais poderemos justificar a desincorporação de objectos ou colecções de museus.

Sabendo que são raros, ou pouco conhecidos, os casos de desincorporação nos museus portugueses, ainda assim questiono: quantos museus prevêem essa situação na sua política de incorporações? Será que uma política de incorporações deve prever o seu oposto? Ou devemos pensar antes numa política, necessariamente mais extensa, sobre a gestão da colecção? Um documento que possa, com base na missão do museu, suportar todas as decisões relacionadas com a colecção seria bem mais útil. Julgo até, podendo estar enganado, que era esse o caminho que a RPM pretendia traçar. No entanto, esta é uma situação que não tem tido, fruto das circunstâncias, o desenvolvimento pretendido inicialmente pela RPM, por isso julgo ser da nossa responsabilidade (profissionais dos museus e as associações que nos representam) alertar os museus e as entidades responsáveis para o muito que ainda há para fazer (e já estamos atrasados) nesta matéria.

Que me dizem vocês? Já se confrontaram com situação semelhante à descrita no NYT? E os aspectos legais e financeiros envolvidos? Percebem as implicações que um acordo para uma doação pode ter? Não deveríamos ter outro tipo de precauções?