by Alexandre Matos | Jan 11, 2013 | Debate, Documentação
Uma das questões mais comuns nas discussões sobre documentação e desenvolvimento das colecções de museus prende-se com a inclusão de livros e outros documentos (a fotografia é um clássico nesta matéria) no acervo (ou seja a sua incorporação na colecção do museu) de diversas instituições. Esta semana apenas conversei com dois ou três colegas que me colocaram perante esta dúvida: “tenho uma colecção de documentos (livros, fotografias, etc) como devo fazer para os inventariar e documentar? Fazem parte da colecção? Entram como objectos no sistema de informação, ou devem ser registados nas tarefas relativas à documentação associada à colecção?”
A resposta não é simples. No entendimento mais comum o lugar de um livro é na biblioteca, de um documento (gráfico, fotográfico, cartográfico, etc.) é no arquivo, um e outro tratados de acordo com as normas e regras de documentação das respectivas áreas, no entanto, em alguns casos, um livro ou documento poderá também ser considerado um objecto de museu. Pela sua raridade, pela história específica que encerra, por uma marca que o torne singular entre os demais, pela forma como chega até nós, por ter sido pertença de uma entidade específica, entre outros e diversos motivos os documentos e livros podem e devem, na minha opinião, ser considerados no desenvolvimento das colecções dos museus.
Há alguns textos sobre esta matéria que nos podem mostrar diferentes perspectivas, o de Paul Goldman (não o tenho em digital) e este do National Park Service, são dois exemplos. Até vos poderia apontar para o Museo del Libro em Burgos. Mas o que motiva este post é colocar a questão aos meus leitores: que motivos presidem à decisão de classificar um livro ou documento como um objecto de museu? E após a incorporação que procedimentos adoptam na sua documentação?
by Alexandre Matos | Jan 8, 2013 | Debate
Através do Pportodosmuseus soube hoje das grandes opções do plano (as minúsculas são propositadas) que o Governo apresenta para o triénio 2012-2015 para a área da Cultura. Depois de ler atentamente o que é escrito na proposta de lei 31/XII voltei ao ponto 5.11 e reli:
Nos próximos anos é preciso afirmar uma visão clara do que deve ser o futuro da Cultura em Portugal. A cultura é um factor de coesão e de identidade nacional, assumindo-se como uma atitude perante a vida e as realidades nacionais. Ela constitui, hoje, um universo gerador de riqueza, de emprego e de qualidade de vida e, em simultâneo, um instrumento para a afirmação de Portugal na comunidade internacional.
E depois li novamente quais são as medidas concretas para que a Cultura possa ser um factor de coesão e identidade nacional e crie riqueza, emprego e qualidade de vida, não esquecendo a afirmação de Portugal na comunidade internacional. Leiam os meus caros amigos também:
5.11.7. Medidas
Cientes dos objectivos traçados no Documento de Estratégia Orçamental e em consonância com o Memorando de Entendimento sobre as Condicionalidades de Política Económica, promover-se-á a um novo Modelo Organizacional, com vista à redução dos custos para o Estado e o Contribuinte, a modelos mais eficientes de funcionamento e à reavaliação do papel do Estado na vida cultural através de uma reorganização e simplificação das estruturas e das entidades tuteladas, a saber:
– Fusão/extinção de organismos: reduzir-se-á o número de estruturas de 16 para 11, diminuindo-se o número de cargos de dirigentes de 191 para 122, o que se traduz numa redução de despesas com pessoal na ordem dos 2,6 milhões de euros.
– Alteração do modelo de gestão do Sector Empresarial do Estado, com a criação de um Agrupamento Complementar de Empresas (ACE), que permitirá uma gestão mais eficaz, a centralização de processos, a diminuição de despesas mediante uma gestão mais racional dos recursos humanos; a diminuição dos encargos com as contratações e serviços externos, a redução da despesa relacionada com processos internos e redução da despesa ao nível dos Conselhos de Administração. A criação do ACE libertará as Empresas Públicas Empresariais para aquilo que é verdadeiramente serviço público na área da cultura: programação artística, criação, difusão e itinerância.
– Contribuição para a meta transversal de redução de efectivos na Administração Central em cerca de 2%, limitando-se as admissões de pessoal.
– Reorganização e racionalização das instalações da propriedade da Secretaria de Estado da Cultura, permitindo uma maior eficiência e eficácia nos recursos financeiros, humanos e logísticos e redução dos encargos de locação de imóveis, através da rescisão de contratos de arrendamento. Estima-se uma redução que poderá atingir os 0,8 milhões de euros em 2012 e 2 milhões de euros em 2013.
– Centralização das Compras, nomeadamente através das aquisições agregadas na Unidade Ministerial de Compras, o que permitirá aquisições a preços mais competitivos e reduzidos.
– Avaliação do custo/benefício e da viabilidade financeira das fundações que beneficiem de transferências do Estado, bem como dos apoios financeiros concedidos no âmbito das actividades culturais, exigindo-se uma maior disciplina na utilização dos mesmos.
– Revisão do regime de gratuitidade dos museus e património cultural, diminuindo o período da sua aplicação e alteração dos seus horários de funcionamento, promovendo o aumento das receitas.
– Reforço do acompanhamento e monitorização da execução económica e financeira, numa base mensal, através da implementação de um sistema de suporte de informação uniformizado em todos os Serviços e Organismos da Secretaria de Estado da Cultura.
Se retirarmos a avaliação do custo/benefício e viabilidade financeira dos projectos que recebem apoios do Estado (eu sou completamente a favor da avaliação, mas ainda assim precisava de ter mais dados, como os critérios de avaliação e as condições para ter acesso aos apoios, para a considerar uma excelente medida), agradecia que me indicassem uma medida estrutural que apontasse claramente para uma estratégia para o sector. Conseguem? Eu não consegui ver para além de um pensamento a curto prazo.
E não quero com isto dizer que a Cultura deve ficar de fora dos cortes que toda a sociedade enfrenta. Nada disso, quero dizer apenas, com esta minha posição, que a falta de uma estratégia a médio e longo prazo para a área cultural (para a qual, sem sombra de dúvida, devem ser chamados a contribuir o Turismo, Ciência, Educação, Poder local, Igreja e todos os intervenientes da área, empresas incluídas) tem sido o calcanhar de Aquiles da Cultura e favorece a 100% o deplorável estado das coisas.
by Alexandre Matos | Jan 4, 2013 | Debate, Museus
É muito comum para mim revisitar museus com alguma frequência. Normalmente faço-o em visitas profissionais, ao “backstage” dos museus, nas quais sou frequentemente convidado a espreitar a parte pública acompanhado por um técnico ou pelo responsável da casa. Regalias da profissão que não me canso de agradecer. Menos comum é estar tanto tempo sem revisitar um museu, especialmente se for um museu de que gosto. Foi o que me aconteceu em relação ao Museu dos Coches.
A primeira vez que o visitei, como penso ter acontecido com a maioria das pessoas da minha geração, foi em contexto de visita de estudo. Coches, Jerónimos, Museu da Marinha, Museu Nacional de Arqueologia e Museu de Etnologia foram o percurso dessa visita, por volta de 1989, se a memória não me atraiçoa. Uns anos mais tarde, depois do curso de História, visitei-o com uns amigos. Uma segunda visita que me permitiu usufruir do museu com outra curiosidade e interesse. E depois, ao longo dos anos, voltei ao museu algumas vezes, por motivos profissionais ou pessoais, mas que raramente permitiram uma visita descontraída à exposição. Na semana passada consegui fazê-lo e pela primeira vez com a minha tropa atrás, ou seja, com a família.
Um pequeno ponto antes de falar sobre esta visita: não consigo compreender quem justifica a não ida a um museu com o carácter permanente das exposições dos museus. Eu descubro sempre algo de novo (e quando digo novo não quero necessariamente dizer bom), mas será sorte minha. Terei mais azar, certamente, num centro comercial.
A chegada ao Museu dos Coches não é propriamente a mais esplendorosa que existe ali em Belém, no entanto, eu aprecio muito o Jardim Afonso de Albuquerque e o próprio Palácio que embora não tenham a imponência dos Jerónimos, CCB, Praça do Império ou do Jardim de Belém, são monumentos que me agradam pessoalmente. A recepção do museu também não é o espaço mais acolhedor que esperaria de um museu com o elevado número de visitantes que normalmente este têm. Aliás, para um pai que conduzia um carrinho de bebé foi possível verificar um bom número de barreiras arquitectónicas. No entanto, a conversa inicial com o funcionário que estava na recepção responsável pela bilheteira, fez-nos esquecer as portas difíceis de abrir. “Os museus são as pessoas” e também as que lá trabalham, não é?
A exposição não me trouxe propriamente algo de novo, mas devo dizer que visitar o museu com os meus filhos e ter que lhes (principalmente ao mais velho) explicar um pouco sobre o que estávamos a ver se revelou um bom desafio. Não sei se estive à altura, mas a avaliar pela admiração e gozo com que viram os coches e os retratos expostos nas tribunas (o carrinho de bebé ficou estacionado perto da recepção) penso que não demos o tempo como perdido, julgo que foi um bom investimento.
O que ganhei de novo nesta visita ao museu foi ter conhecido e experimentado a aplicação “Coaches”, desenvolvida pela Exciting Space, que junta um guia de visita multimédia com um jogo de perguntas que nos vai permitindo acompanhar a visita aprendendo um pouco mais sobre a colecção e nos permite levar um pouco do museu para casa (uma boa ideia). Também ganhei algumas novas fotos do museu (galeria abaixo).
-
-
Vista geral do Picadeiro Real
-
-
O Coche dos Oceanos
-
-
Pormenor
-
-
Os buracos de balas do Regicídio
-
-
Um pouco de modernidade
-
-
Outra vez… fabuloso!
-
-
Visto de cima
À saída do museu, confrontado com o novo museu que emerge em frente, dei comigo a pensar “será que o Museu dos Coches continuará a ser o mesmo depois de passar para ali?” A colecção não corre riscos de perder o seu brilho e estatuto de uma das melhores, senão mesmo a melhor, do mundo (embora precise de um importante investimento para a sua conservação), mas e a envolvência? O que será feito com o Picadeiro Real depois de o museu passar para as novas instalações? Voltará à sua antiga função? Terá uma ligação (eu acho que a devia manter) com o museu? Confesso que não tenho qualquer informação sobre este assunto, mas tenho a certeza que a próxima visita ao novo museu perderá uma grande parte do seu encanto.
by Alexandre Matos | Nov 22, 2012 | Debate, Museus
A ouvir esta reportagem da TSF ficamos a saber que esta colecção interessantíssima e com um potencial (sem conhecer a colecção arrisco dizer) enorme, fruto como muitas outras da vontade, tempo e paixão de uma pessoa, se vai transformar num verdadeiro museu (a expensas do próprio, conforme ficamos a saber na reportagem).
Não querendo aqui discutir o mérito ou não deste caso particular (não teria condições para o fazer, porque desconheço quase tudo o que me permitiria formular uma opinião), sempre que me deparo com iniciativas de criação de novos museus, com tudo o que isso acarreta, penso sempre se não seria melhor criar as condições necessárias para que um outro museu (neste caso o Museu da Música, por exemplo) pudesse integrar esta colecção e a inestimável experiência e conhecimento que este (possível) doador certamente tem sobre os objectos que recolheu com paixão.
Repetindo uma vez mais que não pretendo discutir este caso particular, não posso deixar de questionar, quando confrontado com a criação de novos museus, se precisamos de novos museus? Ou melhor de que novos museus precisamos e o que fazer para melhorar os que já existem?
Alguém quer responder?
© Imagem: TSF/Margarida Serra
by Alexandre Matos | Nov 21, 2012 | Debate
É tão estranho (no sentido de raro) por cá ver um qualquer tema debatido, discutido e alvo de uma reflexão abrangente, que me causou alguma estranheza, devo confessar, esta iniciativa da Museums Association que pretende discutir o futuro e o impacto que os museus poderão ter no futuro do mundo.
Questões de género, igualdade, imigração, conflito de gerações, integração social, ambiente, educação, entre outras são o foco do debate e da consulta (paper e summary do Museums 2020) que a Museums Association realizou até ao passado dia 31 de Outubro (percebem agora os mais atentos, porque só agora falo neste assunto). Embora o período de consulta esteja já esgotado (no entanto as páginas sobre o assunto ainda estão disponíveis na net), é com bastante interesse que olho para esta iniciativa e que anseio pelos resultados (julgo que a MA tem publicado sempre) dos debates sobre este tema realizados na sua conferência anual que teve lugar, no início deste mês, em Edimburgo.
De alguns contributos e pontos de vista sobre o assunto que li até agora, gostava de destacar o da Collections Trust, uma instituição que admiro e que está directamente ligada à minha área de investigação, mas que ao longo dos últimos anos tem dado um importante contributo para o desenvolvimento dos museus no Reino Unido (e não só) nas mais diversas áreas. Desse contributo gostava de destacar um dos aspectos chave enunciados no blog da Collections Trust:
As it currently stands, Museums 2020 focuses exclusively on the impact of museums on current social welfare and social policy agendas. We are concerned that this fundamentally limits it both in terms of scope and long-term relevance. We strongly urge the Museums Association to take a broader view which encompasses both the celebration of museums as a tremendously important part of public life and the fact that their impact is uniquely rooted in material and intangible culture – the Collections they manage on behalf of the public.
E por cá? Quando discutiremos o futuro dos museus e o seu impacto e papel na saída da crise?
by Alexandre Matos | Nov 16, 2012 | Debate
Tenho a sensação de já ter, há algum tempo atrás, passado os olhos e lido alguns artigos, por este excelente portal brasileiro de opinião e discussão de diversos aspectos e temas ligados à Cultura e ao Mercado Cultural Brasileiros. No entanto, só ontem, depois de ler uma partilha no mural da Maria Vlachou (que suscitou uma discussão bem interessante), retornei a este local e li com algum interesse alguns artigos que ilustram uma realidade que está tão distante, como perto, em certa medida, da nossa. É um local muito interessante para quem quer conhecer melhor o contexto cultural brasileiro e debater, de forma directa, com alguns dos seus protagonistas.
Sem grandes comentários, proponho a leitura e discussão deste artigo sobre o futuro promissor? do gestor cultural. Que me dizem?