O Lugar dos Jovens nos Museus – Marta Ornelas

O Lugar dos Jovens nos Museus – Marta Ornelas

O debate “Museus Hoje e Amanhã: Qual o Lugar dos Jovens?” teve lugar na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva no passado dia 30 de Novembro de 2014 e foi organizado pelo colectivo de jovens FAZ 15-25.

Neste debate, para além de ouvirmos o testemunho dos jovens implicados neste colectivo, ouvimos também as propostas do Colectivo Tempos de Vista, do Programa de Estágios Jovens Animadores do Museu da Eletricidade, do Carpe Diem Arte e Pesquisa, da Escola Superior de Educação de Lisboa, do Professor Ricardo Bak Gordon e da artista Ana Vidigal. Todas estas pessoas e grupos explicaram-nos como é valioso trabalhar em conjunto com jovens, potenciando uma relação empática e engrenada entre estes e os museus. Para estes jovens foi possível desmistificar a ideia do artista como génio e do museu como espaço sacralizado, convertendo, tanto os artistas como os museus, em algo acessível e humanizado.

No espaço de debate concluímos que existem constrangimentos à frequência de jovens nos museus muito semelhantes aos das décadas de 60, 70 e 80, tal como nos contaram os adultos que nessa época eram jovens, nomeadamente a acessibilidade geográfica e intelectual, numa sociedade social e economicamente segregada. Relevou-se, no entanto, o importante papel da Sociedade Nacional de Belas Artes e da Fundação Gulbenkian, nos anos 70, na mudança de mentalidades e na criação de condições para a acessibilidade dos jovens ao mundo artístico. Referiu-se ainda que na década de 70 não existiam museus de arte contemporânea em Portugal.

Tal como nas décadas anteriores, hoje ainda se assiste a a uma forte presença de públicos jovens nos museus estrangeiros, ao contrário do que acontece em Portugal, onde as visitas de jovens a museus são pautadas pela intervenção da escola. A escola, no entanto, apresenta hoje muitas dificuldades em levar os estudantes aos museus, sobretudo por questões económicas relacionadas, não tanto com o custo da entrada nos museus, mas mais com o custo do transporte necessário para lá chegar. Estes constrangimentos implicam, muitas vezes, que as deslocações de escolas em visitas de estudo combinem a ida a vários museus no mesmo dia, algo que se torna cansativo para os jovens (tal como acontece com muitas outras pessoas não jovens que se submetem a este tipo de experiência), que acabam por ter um desfrute pautado pelo cansaço e consequente desinteresse.

Os participantes adultos no debate contaram-nos como na década de 80 os visitantes eram acarinhados nos museus estrangeiros, tendo tido, por isso, a possibilidade, enquanto jovens, de usufruir de experiências mais interessantes fora do país.

Relevou-se a importância dos Serviços Educativos para uma maior abertura dos museus aos jovens, salientando-se ainda o facto de os museus públicos contarem com verbas menores do que as dos museus privados para o sector educativo. Assim, este factor compromete a qualidade da resposta que os museus públicos podem oferecer, sobretudo pela escassez de recursos humanos.

Houve ainda vozes que se manifestaram pela importância do papel das universidades como instituições formadoras que deveriam ser mais activas e ter um papel mais relevante na relação com as comunidades, nomeadamente com as instituições culturais.

Referiu-se ainda o desinvestimento governamental que nos últimos anos tem sido feito na Educação Artística, facto que compromete a acessibilidade de todos os jovens, deixando lugar a que apenas aqueles cujas famílias valorizam as componentes artísticas da sociedade e que possuem situações económicas sustentáveis possam, de forma regular, participar em actividades artísticas, seja nos museus ou noutras instituições que trabalham com pressupostos artísticos.

Ainda que, neste contexto, haja poucos jovens com interesse em áreas culturais e artísticas, salienta-se o esforço de muitos educadores que continuam a levar os seus alunos aos museus, algo que deve ser um trabalho contínuo, tanto quanto possível.

Foi também referido que muitos museus não têm sensibilidade para atrair os jovens, na medida em que continuam a optar por modelos tradicionais de visita guiada, em regime de fala-escuta unilateral, muitas vezes em tom monocórdico e sem lugar à participação colectiva. Referiu-se o termo “visita mediada” como algo diferente e mais aliciante. Por outro lado, o projecto expositivo tradicional do “quadro na parede” também parece não ser muito atractivo para os jovens, requerendo-se também novas ideias para expor.

Apesar de haver algumas opiniões contra a ideia de que o museu possa expor em locais públicos, como por exemplo em centros comerciais, os jovens referiram que este tipo de inicativas é positivo, pois o museu deve ser levado “à praça pública”.

Concluímos também que a importância dada à participação dos jovens na programação dos museus é, em Portugal, ainda um pouco negada, embora estes projectos pontuais possam ser o motor de iniciação a novas práticas, implicando os jovens de forma a que valorizem as áreas culturais e artísticas, atribuindo-lhe um papel emancipador e transformador.

Colectivos, plataformas artísticas, serviços educativos, residências, redes e parcerias parecem ser palavras-chave para atrair os jovens aos museus. Os museus devem, então, manifestar interesse numa abertura a novas propostas que considerem, valorizem e integrem o pensamento dos jovens.

Os organizadores deste debate fazem parte do FAZ 15-25, um colectivo de jovens entre os 15 e os 25 anos com formação em áreas diversas que estão envolvidos na programação da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva. Possibilitando uma flexibilidade no grau de envolvimento de cada membro do colectivo, o FAZ 15-25 tem como objectivo dar oportunidades aos jovens para se implicarem na concepção e prática de actividades que lhes permitam desenvolver competências artísticas, de organização, de comunicação e de empreendedorismo. O colectivo trabalha directamente com profissionais de várias áreas artísticas e convive com os visitantes do museu. Desenvolve ainda redes sociais, blogs e apps, também com o intuito de chamar ao museu outros jovens.

A participação dos jovens na programação do museu parece ser uma importante mais-valia do FAZ 15-25. A coordenadora deste interessante projecto, Filipa Alves de Sousa, explica-nos a importância de uma metodologia para o programa que implica, por um lado, ter as necessidades e interesses dos jovens como ponto de partida para a programação, e por outro lado, a responsabilização dos membros envolvidos. O programa tem que ser flexível, aberto e com uma dinâmica social, ao mesmo tempo disciplinado, estruturado e com estratégias bem definidas. O seu papel como coordenadora é ser a mediadora entre o grupo e o Museu e fazer com que as coisas aconteçam. Para isso, é necessária uma mentoria próxima com os membros do colectivo, bem como a preparação de conteúdos atractivos. Um dos principais objectivos do projecto é também proporcionar momentos de encontro e conversa informal entre profissionais inspiradores, já que os jovens são muitas vezes movidos por pessoas com histórias reais que quebrem barreiras sociais e hierárquicas e lhes apresentem possibilidades de percursos pessoais e profissionais.

Alguns jovens deram-nos o seu testemunho, que aqui reproduzimos:

“Para mim, o mais importante tem sido o trabalho em equipa. Eu ando há muito habituado a trabalhar sozinho, individualmente, e não gostava tanto de trabalhar em equipa. O FAZ incutiu-me o gosto de trabalhar em equipa, em colectivo. Tudo o que fazemos é em grupo. O trabalho individual é, aqui, um conceito estranho. As experiências, além de contínuas, são intensas e destacam-se pela partilha de conhecimentos e a fluidez das ideias. Descontraidamente dedicados, trabalhamos.” (Pedro, 25 anos – Licenciado e Pós-graduado em Antropologia)

“A mais-valia tem sido a oportunidade de desenvolver trabalho na dinamização cultural num contexto. Aprendemos uns com os outros, há uma inter-ajuda. É a possibilidade de ser num contexto e não sozinhos e ter esse apoio tem sido um factor diferenciador.” (Sofia, 21 anos – Estudante de Design de Equipamento)

“Eu estou aqui há pouco tempo, há um mês. Mas aquilo que eu procuro no FAZ, e que tenho encontrado até agora, é ter espaço para expormos as nossas ideias. Nós borbulhamos ideias todos os dias. Aqui podemos partilhá-las e ter um espaço para desenvolvê-las, sermos ouvidos e fazermos coisas. Tornarmo-nos activos, tornar essas ideias em realidade, em coisas concretas.” (Rebeca, 24 anos – Licenciada em Jornalismo e com um Curso Profissional de Fotografia)

“O que mais me tem feito sentir realizada por estar no FAZ foi poder tomar consciência de competências que eu já tinha, mas que tinham sido pouco desenvolvidas, como é o caso da competência para falar em público, através da realização de visitas guiadas. Fazer visitas guiadas no Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva foi uma forma de eu perceber que era, de facto, capaz de falar em frente a uma assistência. Isso foi muito importante para mim, perceber que competências é que eu tenho a dar ao grupo e ao Museu, para além daquilo que eu tenho a aprender com colegas de outras áreas, como por exemplo dos audiovisuais, ou colegas mais novos, como a Beatriz C. e a Daniela, cuja cultura geral, entusiasmo e maturidade me supreenderam muito.” (Inês, 24 anos – Mestre em História de Arte)

“Aquilo que considero fulcral no FAZ é a bagagem que nos dá, não só a nível de responsabilidade, pois temos de contactar com o público, mas também ao nível do trabalho em grupo, que não é uma coisa a que esteja propriamente habituada. Para além destes factores, foi muito bom encontrar pessoas com os mesmos interesses que eu e com vontade de mudar aquilo que são os museus em Portugal actualmente. O FAZ trouxe mais à minha vida do que eu esperava, para além da vontade de fazer coisas diferentes no âmbito museológico, trouxe-me amigos.” (Margarida, 22 anos – Mestranda em Museologia)

“O que me fez vir para o FAZ foi poder colaborar com um museu de que gosto, e poder fazê-lo entre amigos. Comecei por ir a uma sessão Conversa com Eles com uma amiga após a qual os actuais colegas foram carinhosamente chatos com o ”vem vem”! Quanto às mais-valias do projecto, acima de tudo experiência, a diferentes níveis, e oportunidades de formação gratuita ou com desconto associadas ao networking no mundo artístico.” (Paula, 24 anos – Licenciada em História de Arte)

“Juntei-me ao FAZ por sugestão de uma amiga e o que me prendeu desde logo foram as reuniões. Nas Conversas com Eles temos oportunidade de falar com pessoas da área cultural e artística e há uma enorme partilha de experiências e aprendizagem do mundo real, entre aspas. Eu sou da área das Humanidades e das Artes e o FAZ complementa a minha formação, porque nos põe em contacto directo com o Museu. Acaba por ser uma parte prática que a faculdade não me dá. Aqui temos a liberdade para elaborar projectos relacionados com os nossos interesses e temos contacto com o público. É um grupo que, apesar das várias áreas de formação, temos todos o mesmo interesse e acho que isso se sente cada vez mais na união do colectivo. Nós somos um grupo de jovens que quer mudar e dinamizar esta ideia de Museu que há em Portugal e aqui nós temos um sítio onde somos ouvidos e apoiados nas nossas ideias. O Museu acaba por ganhar com isso, já que nós fazemos de tudo para atrair todos os tipos de públicos, principalmente os jovens como nós.” (Teresa, 22 anos – Estudante de Licenciatura em Estudos Artísticos)

“Há duas razões maioritárias que me mantêm aqui. Primeiro porque temos acesso a artistas em conversas informais. Por isso, a maneira como falamos e exploramos aquilo que queremos saber é completamente diferente. E segundo, porque participamos em várias coisas no museu. E isso permite-nos ver o que é que está por detrás do pano, o que é que se passa, como é que as coisas acontecem. Isso é muito importante para quem está no mundo das artes. Tem sido fantástico até aqui, estou sempre a aprender! Com a ajuda da Filipa e do museu, damos ideias e fazemos as coisas à nossa maneira. Somos nós que tentamos, ao máximo, contribuir com o nosso trabalho.” (Daniela, 17 anos – Estudante de Artes Visuais no Ensino Secundário)

“As mais-valias deste projecto são para mim a possibilidade de contactarmos com pessoas que à partida estão muito distantes de nós, como por exemplo artistas, curadores, designers… É muito importante perceber os percursos deles e perceber que nem sempre foram percursos lineares. Estar aqui no museu, ter acesso a esta realidade permitiu-me perceber muita coisa. É que a museologia teórica que aprendemos na faculdade é uma coisa, estar aqui é outra completamente diferente. As conversas que nós temos com o público que denominamos Conversas Connosco ensinaram-me muitas coisas, entre elas a ter um maior à-vontade para falar em público. A colaboração com os artistas foi também uma das experiências mais importantes para mim, nomeadamente a participação em performance. Aprendi muito no contacto com os meus colegas, que são maioritariamente das áreas das artes, mas de escolas e cursos diferentes. A multiplicidade de perspectivas no grupo contribui de facto para o enriquecimento dos nossos projectos. São projectos que nós pensamos, estruturamos e gerimos durante as nossas reuniões, mas que só são possíveis com a ajuda do museu.” (Teresa, 24 anos – Estudante de Licenciatura em História de Arte)

Mais informações sobre projecto FAZ 15-25 estão disponíveis na internet através de diversos canais, como o Facebook, o WordPress ou o YouTube. São recursos criados pelo colectivo e que podem ser consultados mediante uma pesquisa simples por “FAZ 15-25” num motor de busca como o Google.

MartaOrnelas
Marta Ornelas é doutoranda em Artes y Educación – Pedagogías Culturales en Museos na Universidade de Barcelona. Foi professora de Artes Visuais no ensino secundário e no ensino superior e tem uma especialização em ensino de artes pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, em Lisboa. É licenciada em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa e Mestre em Museologia pela Universidade Nova de Lisboa.

É membro da direcção da APECV (Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual) e membro fundador da Acesso Cultura. É também é membro da InSEA (International Society for Education Through Art), da Rede Ibero-Americana de Educação Artística e do GEM (Group for Education in Museums, UK). Coordenou projectos em escolas com a presença de artistas. Participou no projecto europeu ITEMS (Innovative Teaching for European Museum Strategies), com colegas de Itália, França, Hungria, Letónia e Luxemburgo. Coordenou uma equipa de trabalho para uma publicação sobre projectos escolares com museus, a ser editada pelo Ministério da Educação. Tem publicado artigos e apresentado comunicações no âmbito da educação artística e da educação em museus.

No photo… please! No photo!

No photo… please! No photo!

O título deste post retrata uma história que recordo sempre que o tema da fotografia dos museus vem à baila. É automático, sempre que alguém inicia uma conversa sobre o tema lembro-me sempre da zelosa funcionária do Convento de Cristo em Tomar que “circulava” entre algumas dezenas de visitantes no espaço da Charola sempre a dizer, num tom ameaçador: “No photo! No photo, please!”

Devo dizer que, de certa forma, compreendi a freima daquela senhora. Compreendi porque, tendo alguns conhecimentos de conservação preventiva e sabendo que as pinturas daquele espaço estavam a ser ou tinham sido restauradas, imaginei que as estritas regras em relação à fotografia naquele espaço se deviam a questões de conservação. No entanto, sempre achei que nesses casos (de difícil justificação, segundo alguns estudos), mais valia ter sintética apropriada que pudesse explicar, de forma resumida, os potenciais perigos para o património e fazer com que a funcionária interviesse apenas quando visse alguém a tentar tirar uma fotografia com flash (as sem flash não teriam problemas neste tipo de casos, imagino eu).

Há uns tempos atrás, o ICOM Portugal e a Acesso Cultura motivados pela publicação do despacho que publica a regulamentação para “Utilização de Imagens de Museus, Monumentos, e outros Imóveis afectos à Direcção-Geral do Património Cultural” e por diversas reflexões sobre o tema como a da Maria aqui e no Público (não tenho o link) ou sobre o mesmo tema em países como a França (que podem ser lidas aqui e aqui), decidiram levar o assunto a debate, organizando duas sessões simultâneas em Lisboa e Porto.

As conclusões (poucas devo dizer no caso do Porto) e questões abordadas (muitas devo dizer) no debate já foram entretanto publicadas pela Acesso Cultura e não pretendo com este post falar sobre o debate em si, mas antes deixar apenas a minha opinião sobre o tema, ainda que esta esteja “infectada” com as interessantes intervenções dos convidados.

Em primeiro lugar um ponto que é, na minha opinião, fundamental: quaisquer tipos de direitos (autoria, conexos, propriedade, etc.) devem ser sempre respeitados, sejam eles mais restritos, como me parece ser o caso da maior parte das instituições em Portugal, ou declaradamente abertos, como é o caso, quase sempre mencionado do Rijskmuseum, com a utilização de licenças Creative Commons (uma prática a seguir por cá, digo eu!).

Colocando esse ponto como premissa essencial subsistem outras questões. O que é a utilização comercial de uma fotografia? Implica que haja um proveito direto da sua utilização? O valor pedido em Portugal é exagerado? As regras de acesso são restritivas e demasiado burocráticas? Será que a utilização comercial das imagens das colecções e património edificado é, em si, um negócio rentável? Paga, pelo menos, os recursos que o trabalho de digitalização exige? Eu tenho uma opinião muito relutante sobre este ponto, julgo que não é, pelo menos o modelo de negócio actual, rentável ou capaz, pelo menos, de assegurar os custos com a digitalização do património. No entanto, não tenho uma ideia luminosa para resolver o “problema”! Este é um ponto que não deveria ser debatido (o debate previa apenas a utilização sem fins comerciais), mas foram vários os intervenientes a colocar este ponto em cima da mesa.

Por outro lado, e tendo em conta a discussão internacional sobre este assunto e a crescente disponibilização de imagens das colecções por parte de diversas instituições em “open access” (Getty, Rijksmuseum, etc.), em que ponto ficamos em relação à utilização das imagens das colecções e edifícios para uso privado? Ficamos confusos, a acreditar no que leio no despacho. Em primeiro lugar gostaria de perceber o que se entende por uso privado. Posso utilizar uma foto no “desktop” do meu computador? Posso usar essa foto para ilustrar um post meu aqui no Mouseion? Posso partilhar a foto nas redes sociais? E se lhe quiser colocar um comentário? Posso alterar e ainda assim utilizar essa imagem? A utilização, sem custos, mas ainda assim com autorização, apenas está prevista para os casos de trabalhos científicos e académicos, o que me parece ser um impedimento para a sua utilização, no entanto, alguns dos nossos museus/palácios têm as suas colecções (re)publicadas no Google Art (e bem) e a pergunta que se impõe é: o Google estará a infrigir as regras ao promover a partilha nas redes sociais daquelas imagens? Se partilhar via Art Project não preciso de pedir autorização?

São diversas questões que se levantam quando penso neste assunto e, como é óbvio, julgo que ninguém terá resposta pronta e eficiente para todas as questões, no entanto, e saltando uma questão importante que é a conservação dos bens culturais que me parece apenas uma questão de bom senso e não uma desculpa para proibir as fotografias, a maior questão que este tema levanta para mim relaciona-se com o controlo e avaliação da utilização das fotografias (uma tarefa quase impossível, segundo ouço dizer) de forma ilícita. Questão que se levanta para as políticas mais restritivas e para as mais abertas, mas que está facilitada, no meu entender, no segundo caso, dado que o controlo pode ser mais direccionado para meios que implicam maior qualidade das imagens.

Se eu tivesse a meu cargo a direcção de um museu faria tudo ao meu alcance para que a política de utilização de imagens das colecções e edifício desse museu fossem tão abertas quanto possível, tal como defende Nina Simon. Perderia certamente alguns euros, mas tenho a certeza que teria um retorno bem mais proveitoso na participação e envolvimento da comunidade no quotidiano do museu.

© imagem: Alexandre Matos (tive algum receio de utilizar imagens indevidamente 🙂 )

Discutir o fracasso!

Discutir o fracasso!

Nós vivemos num país, sociedade e tempo em que o fracasso raramente é discutido. O seu contrário, o sucesso, por seu turno tem honras de prime time, reconhecimento oficial, medalhas e condecorações, etc. que são óbvias e merecidas e com as quais, como deverão compreender, concordo inteiramente. Promover e premiar o sucesso é incentivar a mudança e a evolução. No entanto, já algum dos meus caros leitores pensou sobre a quantidade de vezes que um homem de sucesso teve que falhar para alcançar o el dorado? Alguém ainda acredita que basta mesmo uma boa ideia? E o trabalho para a pôr em prática? E as dezenas de experiências que temos de fazer para chegar a uma conclusão que aponta um possível caminho para a cura de uma doença difícil? E a quantidade de vezes que tenho de fazer sopas para me calhar uma como deve ser? O sucesso dá trabalho e é feito de uma boa (espera-se que não muito elevada) quantidade de insucessos, concordam?

Então e porque não o debatemos? Porque não aprendemos mais com o insucesso dos outros? Se um museu fez determinado caminho que se revelou um fracasso, porque razão não pode outro museu aprender com os erros feitos nesse caminho e lucrar com isso?

Vem este tema a propósito de um post no Museum Computer Group (Come and celebrate your failure with us!) na qual é anunciado um evento que pretende debater o fracasso e o que se seguiu ao fracasso, ou seja o que fazemos quando algo corre mal (a avaliação e posterior noção daquilo que correu mal e não teve sucesso seria por si só um interessante tema de discussão). Um evento que me parece muito semelhante ao World Failurists Congress que temos por cá (se não conhecem recomendo e já vai ter uma segunda edição).

E os meus caros amigos estão abertos para debater o insucesso? Eu sugeri no museologia.comes (um dos grupos do museologia.porto um almoço à volta do tema, que me dizem?

© Imagem: Daqui.

I Encontro Património.pt – Gestao Pública e Gestão Privada de Recursos Culturais

I Encontro Património.pt – Gestao Pública e Gestão Privada de Recursos Culturais

É com prazer que divulgo esta informação sobre o I Encontro patrimonio.pt que pretende ver debatida a gestão pública e/ou privada dos recursos culturais do país. Não poderei infelizmente estar presente, mas desejo sinceramente todo o sucesso à iniciativa, embora tenha a certeza, dado a qualidade dos intervenientes, que será uma discussão interessante e proveitosa.

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Os Encontros patrimonio.pt, de periodicidade trimestral, pretendem pôr em discussão problemáticas da actualidade no sector do património em Portugal. Contando sempre com dois convidados, conheceremos as visões de experiências e formações diferentes sobre determinado tema. Querendo ser um espaço aberto a discussão e reflexão contar-se-á com a presença de todos aqueles que queiram participar.

Neste primeiro encontro, teremos a visão de dois profissionais – do sector público e privado – sobre diferentes formas de gestão de recursos culturais.

 

CONVIDADOS

Luís Raposo (Presidente do ICOM-Portugal)

Miguel Lago (ERA-Arqueologia)

 

MODERAÇÃO

José Maria Lobo de Carvalho

 

Luís Raposo é arqueólogo do Museu Nacional de Arqueologia (de que foi director entre 1996 e 2012). Professor Convidado do Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Presidente do ICOM Portugal e Membro da Direcção do ICOM Europa. Membro do Conselho Consultivo da Comissão Nacional da UNESCO. Antigo Presidente da Associação Profissional de Arqueólogos.

Miguel Lago é Arqueólogo e sócio fundador da ERA-Arqueologia, de que é Administrador Delegado. Desenvolve a sua actividade ao nível da prestação de serviços nas áreas da Arqueologia e do Património em geral, prosseguindo acções de implementação de projectos de investigação e valorização patrimonial, de que se destaca o caso do Complexo Arqueológico dos Perdigões. Ao longo dos anos, tem desenvolvido reflexões sobre questões relacionadas com a profissão e com o mercado que se tem consolidado na área do Património.

José Maria Lobo de Carvalho é Arquitecto, especializado na área do Património Construído e nos últimos 18 anos tem-se dedicado ao estudo, inventário, diagnóstico e intervenção em vários edifícios e centros históricos em Portugal e estrangeiro. É Doutorado pelo IST onde lecciona no Departamento de Engenharia Civil, Arquitectura e Georrecursos.

Museus e Crise

Museus e Crise

A crise tem um impacto negativo em tudo o que nos rodeia.

Verdade absoluta? Ou haverá algo (tudo) nesta frase que pode ser rechaçado? Num dia como o de hoje, invernoso e chuvoso, em que a meteorologia nos aponta para avisos amarelos, parece ser impossível alterar o estado actual da crise em que os museus vivem, no entanto, a crise é, de acordo com a definição da palavra, um momento, uma conjuntura, não é definitiva, passará algum dia e por isso, mesmo num dia invernoso como este, eu mantenho o optimismo e o pensamento no futuro, ciente que temos a capacidade de ultrapassar a crise em que os museus, a cultura, o país e a Europa estão mergulhados.

No entanto, será que alguém pensa no que fazer para sair da crise e para evitar crises futuras? Alguém saberá como faremos para sair e evitar que entremos noutra crise? O que os museus farão para se instituírem definitivamente como elemento fundamental da cidadania e da sociedade em que se inserem? O que devemos então fazer?

Comecei a escrever estas palavras motivado pela informação sobre a realização de mais um Encontro Nacional  Museologia e Autarquias, organizado em S. Brás de Alportel, pela Câmara local e pelo MINOM, sob o mote “Viver na crise e melhorar os museus” e que pretende “centrar-se sobre as estratégias delineadas ou aquelas que os museus já estão implementando no terreno; lançar o debate sobre «smart» museologia; compreender, simplificar e construir recursos tecnológicos próprios, como a expografia digital; e lançar e definir o projeto de ação museal «Olhares sobre Crise na sociedade portuguesa», aberto a todos os museus sensíveis a estas problemáticas.” Comecei a escrever, porque pensei para mim que finalmente os museus começavam a debater o problema e congratulei-me por isso. Hoje fico a saber que a Câmara Municipal de Vila do Conde, através do Museu de Vila do Conde, promoverá no próximo dia 22 de Abril a 1.ª Jornada de Trabalho em Museologia dedicada ao tema da Gestão Museológica e Sustentabilidade de Museus (centrada na forma como os museus encaram os novos desafios e nos estudos dos públicos) e que o Expresso, juntamente com o BES, pretendem conhecer “O que faz falta aos museus portugueses?“* com um “debate em prol da valorização do património museológico nacional” onde participaram o Secretário de Estado da Cultura, o director do MNAA (António Filipe Pimentel), o sub-director do Reyna Sofia (João Fernandes) e ainda Tolentino Mendonça, moderado pelo director do Expresso (Ricardo Costa), sobre o qual ficaremos a conhecer mais na próxima edição do Expresso.

A situação é grave e por isso mesmo exige de nós maior atenção e uma reflexão que resulte em medidas práticas ou, pelo menos, que possa influenciar a decisão de as tomar. Ficam aqui os meus parabéns a estas iniciativas (e a outras do mesmo género que ainda não conheça) e aos seus responsáveis.

* Sobre esta iniciativa, que é de louvar, gostaria apenas de dizer que ficou a faltar ao debate alguém de um museu de tutela ou dimensão diferente.