Foge cão que te fazem Barão…

Foge cão que te fazem Barão…

A actualidade lembra-me um velho ditado, nascido do enorme reconhecimento pela dedicação à pátria dos liberais, cunhado por Garrett: “Foge cão que te fazem Barão! Para onde se me fazem Visconde!” Será talvez exagerada a comparação e o assunto é sério demais para brincadeiras, mas nesta semana passamos a ter dois novos museus nacionais: Évora (que ao que leio passará a chamar-se Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo) e Conímbriga.

Antes de qualquer outra questão devo dizer que não discordo da atribuição da categoria Nacional a ambos os museus. Além disso quero também dizer, para que não restem dúvidas, que também não concordo com a atribuição da categoria Nacional a estes museus. Confusos? Eu explico!

Esta minha posição prende-se com o facto de não ser claro para mim exactamente o que é um Museu Nacional. A única referência que encontro na legislação que disponho é a que está vertida na lei quadro dos museus e apenas menciona o facto dessa atribuição ser da responsabilidade do Sr. Ministro da Cultura (quando o temos), após consulta ao Conselho de Museus (Art. 98º), mas os critérios que o museu deve obedecer para poder ser elevado ao estatuto não os encontro em lado nenhum.

Museus Nacionais – Uma discussão nova?

Não tenho qualquer questão de príncipio sobre o estatuto “Nacional”, mas a confusão em que está instalada a nova proposta administrativa (sim… já temos nova reforma administrativa a ser encaminhada) com um considerável aumento do peso político das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional, as quais passarão a ser eleitas por colégio eleitoral de autarcas*, e a passagem para estas renovadas entidades de diversos serviços como as Direcções Regionais de Cultura e, ao que se diz, mesmo da DGPC, dificultarão ainda mais a fixação de um estatuto com critérios objectivos para a atribuição daquela categoria aos museus. E já nem sequer me alongo sobre a possibilidade de implementação, neste novo quadro, de uma verdadeira política nacional de museologia e museus.

Museu de Aveiro - Museus Nacionais

By David Machado (Own work) [CC BY-SA 3.0 (http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0)], via Wikimedia Commons

Ainda que reconhecendo que a proposta em cima da mesa possa ter os seus méritos, intriga-me o facto de não haver qualquer estudo (pelo menos que seja público) sobre a forma de administração dos museus em Portugal. Todos nós sabemos que os modelos de gestão adoptados até agora têm diversas falhas e exigem um esforço enorme aos responsáveis e equipas dessas instituições, mas se a mudança é necessária, porque raio é que não se estudam e aplicam modelos, ou porque raio ganham Conímbriga e Évora o estatuto de Museu Nacional e o Museu de Aveiro foi entregue à tutela da autarquia? E Lamego como vai ficar?

Tal como diz a Maria José de Almeida, neste texto do Speakers Corner, não vejo o estado Central como o salvador da pátria ou as autarquias como o mau da fita da gestão da coisa pública (conheço muitos exemplos em que um e outro dão cartas na gestão e o seu contrário), mas a questão que importa discutir de forma ampla é: “Onde queremos ter os Museus Portugueses daqui a 20 anos?” Já o fizemos no passado, mas tendo em conta a forma como os nossos governantes encaram a Lei Quadro de Museus e a Rede Portuguesa de Museus, acho que precisamos de o fazer de novo. Urgentemente!

* um conjunto interessante de notícias sobre o tema pode ser lido aqui e aqui.

© Imagem: maxpixel

Um novo modelo de gestão para o MNAA

Um novo modelo de gestão para o MNAA

É um assunto recorrente, como quase todos os estruturais na Cultura, nos museus nacionais: que modelo de gestão podemos adoptar para melhor a performance dos museus?

Sinceramente, sem ter de consultar algum do histórico que vou guardando de notícias, recordo-me de ler sobre o assunto sempre que mudamos de governo (para o bem ou para o mal), sempre que há uma polémica na nomeação/exoneração de um dirigente ou sempre que se fala dos exíguos orçamentos para a Cultura e das maravilhosas intenções de todos os responsáveis políticos de chegarmos ao mítico 1%!

By Fulviusbsas (personal archive) [GFDL (http://www.gnu.org/copyleft/fdl.html) or CC-BY-SA-3.0 (http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/)], via Wikimedia Commons

By Fulviusbsas (personal archive) [GFDL (http://www.gnu.org/copyleft/fdl.html) or CC-BY-SA-3.0 (http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/)], via Wikimedia Commons

A discussão sobre o(s) modelo(s) de gestão é agora trazida à ribalta pelas declarações do novo Ministro da Cultura sobre o caso específico do Museu Nacional de Arte Antiga. Segundo Castro Mendes está a ser pensado um novo estatuto jurídico, que no futuro poderá ser alargado aos restantes museus, com o objectivo de libertar a direcção do museu dos constrangimentos impostos pela pesada máquina burocrática do Estado, excluindo a possibilidade de uma concessão a privados como uma das opções em estudo.

No imediato li e ouvi a reacção de diversos colegas e personalidades sobre este anúncio e gostaria de destacar, pela densidade e contexto, as reflexões de Nuno Vassalo e Silva (um brilhante texto com argumentos muito importantes que devem ser observados), de Maria Isabel Roque (com um contexto internacional interessante e alertando para a necessidade de uma análise mais global sobre esta matéria), de Raquel Henriques da Silva (com bons argumentos sobre uma decisão que se arrasta há tempos e que é mais do que merecida pelo MNAA), de Luís Raposo (a lembrar que não é um caso único o MNAA e não deve ser visto assim), de Maria Vlachou (onde elenca uma série de questões muito importantes para a discussão criada) e, por fim, este interessante texto de Foteini Vlachou. No entanto, e percebendo toda a complexidade deste exercício de procura de um novo estatuto ou modelo, não consigo ficar descansado quando me dizem que está a ser pensado um novo modelo/estatuto, mas em boa verdade esse modelo não é discutido de forma aberta e clara em diversos fóruns públicos.

Imagino, ou melhor, espero sinceramente que esta discussão esteja a ser discutida entre a tutela e o museu, que sejam até convidados alguns especialistas para discutir um novo modelo, que exista de todas as partes a melhor das intenções, mas, por experiência, sei que o modelo de gestão só será tornado público quando tiver uma forma definitiva e, frequentemente, “difícil de alterar”. A municipalização de vários museus anteriormente geridos pelo estado central (concorde-se ou não com esta passagem) foi, em grande parte, assim conseguida.

Acreditem que compreendo o constante apelo da direcção e equipa do MNAA por um novo modelo que lhe permita gerir a instituição sem as restrições impostas pela condição actual. É justo que o peçam e é justo haja uma reflexão sobre o assunto. Mas será justo que essa reflexão seja feita apenas para o MNAA? E o Soares dos Reis e o Machado de Castro? E os restantes museus nacionais? Ficam sujeitos às restrições actuais (suas e do MNAA), porque não são o primeiro dos museus portugueses? Não me parece justo, bem como também não me parece comparável a situação portuguesa, com a Inglesa, Francesa ou Espanhola, na qual se pretende equivaler o MNAA com o British, Louvre ou Prado, porque a realidade e o contexto são diferentes e o MNAA não é um museu enciclopédico, as suas colecções têm um âmbito específico.

É um museu extraordinariamente importante em Portugal, mas integrado numa rede de museus nacionais que tem o mérito da complementariedade. É exactamente este ponto, em meu entender, que justifica uma discussão sobre modelos de gestão para os museus portugueses e não apenas para um deles.

 

Que novo modelo?

Mas então que novo modelo procuramos? Não é, segundo recordo das palavras do Ministro da Cultura, uma “privatização” da gestão e também não se trata do modelo fundação (aliás o modelo fundação é, se seguido o exemplo do Côa, algo a que devemos fugir com muita convicção). Será um modelo completamente novo, baseado numa “entidade cuja natureza jurídica está a ser estudada” com “maior autonomia administrativa e financeira” e que permitirá “o mecenato, mas de maneira nenhuma será uma concessão a privados”, ou seja, um modelo difícil de encontrar, mas que obedecendo a estas condições terá, em minha opinião, sérias possibilidades de ser um enorme sucesso. Aguardemos pois então por este novo estatuto, no entanto, algumas coisas que julgo devem merecer a atenção de quem o está a equacionar:

  1. Quadro de pessoal: que condições terá o museu para se dotar dos recursos humanos necessários ao cumprimento da sua missão? Será capaz de renovar a equipa? Nos mesmos termos da contratação pública? Com as mesmas exigências? Quem avalia e define qual é, ou deve ser, a constituição da equipa? Se discutido isoladamente o novo estatuto do MNAA, será que técnicos de outros museus poderão concorrer a novos lugares? E será que o quadro de pessoal será aberto a pessoas sem vínculo à função pública? permitirá este novo estatuto uma maior empregabilidade no sector museológico? Esta questão é contemplada na discussão?
  2. Desenvolvimento da colecção: Que dotação será dada pelo Estado para aquisições para a colecção? Qual será o enquadramento legal para novas incorporações? Que meios terá o museu para assegurar a gestão da colecção e como é que o novo estatuto irá lidar com essa questão?
  3. Avaliação: de que forma será feita a avaliação do novo modelo/estatuto jurídico? Se este falhar como irá o Estado intervir na questão? Se a avaliação suscitar questões relevantes que implicam alterações ao modelo/estatuto, como as concretizar?

 

Estas são apenas algumas questões que gostaria de lançar para debate, mas julgo que o tema (interessante e vasto) não pode, ou pelo menos não deve, ser tratado em portas fechadas. Muitas mais questões poderiam ser levantadas e observadas através da discussão de modelos implementados em países como o Brasil ou Itália, entre outros. Não creio que tenhamos essa possibilidade, mas este debate deveria ser aberto e amplo para bem dos museus e do sector museológico português.

ICOM 2016 Milão – Notas da Conferência Geral

ICOM 2016 Milão – Notas da Conferência Geral

ICOM 2016 - Entrada

ICOM 2016 – Entrada

A Conferência Geral do ICOM teve lugar este ano em Milão, Itália, entre os dias 3 e 9 de Julho, no Centro de Congressos daquela cidade, tendo como mote “Museus e Paisagens Culturais”, tema que tinha já servido para as celebrações do Dia Internacional de Museus este ano. A conferência geral é sempre uma oportunidade para aprender e conhecer mais sobre a comunidade profissional dos museus. Este ano, pela proximidade a Portugal e pela presença maciça (mais de 3000) colegas das mais diferentes regiões do mundo, o ICOM 2016 foi uma excelente ocasião para alargar horizontes e percepcionar as diferenças e semelhanças em museus de todo o mundo.

Neste texto procurarei falar de duas realidades distintas: a participação portuguesa na conferência geral e as actividades, bem como a minha participação, no comité internacional de documentação, o CIDOC. Começo pela primeira, por razões óbvias.

 

A participação portuguesa no ICOM 2016

Tal como disse acima, este ano o local e tema da conferência proporcionaram as condições para uma participação considerável de colegas portugueses. Assim de repente, sem puxar muito pela memória, estive com mais de uma dezena de colegas portugueses em Itália. Destaco alguns em seguida.

Desde logo o Presidente do nosso Comité Nacional, José Alberto Ribeiro, que juntamente com a Joana Sousa Monteiro, o Mário Antas e a Dália Paulo nos representaram nas tarefas mais administrativas da conferência, participando nas assembleias gerais, votações e discussões sobre o futuro do ICOM a nível internacional. Uma tarefa de enorme responsabilidade que desempenharam, como sempre, com a maior dedicação e empenho. A juntar a este importante trabalho é importante salientar que a Joana e o Mário foram eleitos para cargos de direcção nos comités internacionais de que fazem parte. A Joana Sousa Monteiro foi eleita Presidente do CAMOC e o Mário Antas Vice-presidente do CECA. Dois comités internacionais muito relevantes no contexto internacional e que serão exigentes para ambos. Os meus votos de sucesso para ambos.

A seguir, não o posso deixar de referir, o Luís Raposo, agora presidente da Aliança Regional ICOM Europa, que fez um notável trabalho a apresentar uma linha de acção para revitalizar o trabalho desta importante aliança de diversos comités nacionais do ICOM. Aproveito para desejar ao Luís o maior sucesso nesta grande tarefa que tomou como sua e para lhe dar os parabéns por este importante cargo que deve ser visto como um orgulho para a comunidade museológica nacional.

Uma outra amiga e colega que não posso deixar de referir é a Marta Lourenço, arguente principal na minha tese de doutoramento, agora empossada como Presidente do UMAC, secretária da anterior direcção do ICOM Portugal e uma das vozes mais sábias que conheço sobre colecções e museus universitários. É a certeza, tal como acontece nos outros 3 casos, que o UMAC estará muito bem entregue, pelo menos, nos próximos 3 anos. Sucesso é o que desejo, uma vez mais, nas suas funções.

Além destes que merecem um destaque pelas funções que agora assumem, tive também o grato prazer de rever e conversar um pouco com bons amigos e colegas como a Aida Rechena, o Pedro Pereira Leite, o Mário Moutinho, a Lorena Sancho Querol, o Manuel Furtado Mendes, a Beatriz Crespo, entre alguns outros que vi nos corredores. A estes juntam-se os companheiros habituais de viagem, Fernando Cabral e a Natália Jorge, e a amiga Juliana Rodrigues Alves que sendo brasileira, juntou-se à comitiva portuguesa por ser aluna no doutoramento de Museologia da FLUP.

Foi, do que conheço, uma das melhores e mais profícuas participações portuguesas nas conferências gerais do ICOM. Não só pelas conquistas conseguidas pela museologia portuguesa, mas acima de tudo pela competência demonstrada e pela enorme participação relevante que tivemos em diversas áreas do panorama museológico internacional. Diria, que se não fosse as famosas “lunch-boxes” o ICOM 2016 teria sido perfeito.

Podem consultar aqui um pouco do que se passou em Milão através da #ICOMilano2016.

 

O CIDOC e ainda a participação portuguesa no ICOM 2016

CIDOC AMG

© Gabriel Bevilacqua

Tal como já tinha escrito aqui, este ano apresentei a minha candidatura à direcção do CIDOC. Não vou enumerar de novo as razões que me levaram a tomar esta decisão, poderão ler a minha declaração no link anterior, mas o certo é que consegui convencer os membros deste comité internacional, onde tanto já aprendi, a votar em mim. Ora portanto, este vosso amigo é agora membro ordinário (nunca tive um nome de cargo tão apropriado) da direcção do CIDOC.

É, antes de mais, um enorme orgulho para mim esta eleição. Mas acima de tudo é uma enorme responsabilidade que espero saber cumprir com a maior dedicação. A documentação de museus, tal como vários colegas frisaram, é uma tarefa fundamental para todas as actividades dos museus. No entanto, pode e deve servir o seu propósito de maneira mais eficiente e capaz, procurando lidar com as questões da gestão de informação nos museus de uma forma integradora e aberta, promovendo a acessibilidade e a utilização das colecções pelo público nas mais variadas formas e contextos. O contributo que tentarei dar diz respeito a uma maior cooperação entre comités internacionais e nacionais no sentido de todos contribuírem para melhorar a forma como documentamos e gerimos os nossos museus e colecções em benefício do público.

Estarei sempre à disposição de todos os que necessitarem de algo em que o CIDOC possa ser útil e terei todo o gosto ser o vosso canal de acesso à direcção deste comité internacional do ICOM.

 

A Conferência Anual do CIDOC

Importa salientar que os comités internacionais do ICOM aproveitam a conferência geral para realizar as suas próprias conferências anuais nos anos correspondentes. Esta situação tem algumas vantagens, mas no caso do CIDOC, um comité iminentemente técnico, levanta algumas questões operacionais por causa das reuniões dos grupos de trabalho. Pese embora estes constrangimentos, este ano o comité decidiu seguir o modelo de conferência completo, com reuniões de grupos de trabalho, chamada para artigos e assembleia geral. Além desta intensa actividade, decidiu também pela realização de um evento, fora de Milão, que procurou explorar, de forma mais prática algumas das questões em debate na documentação de museus. Ambos os programas (conferência e workshop) podem ser consultados na página do CIDOC.

Este ano tive a oportunidade de apresentar, com a Renata Motta, coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico (UPPM), da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, uma comunicação intitulada “Implementing Standards at Sao Paulo State Secretariat of Culture museums”. Nela procuramos mostrar o enorme trabalho de estudo e implementação de normas que a SEC-SP tem desenvolvido na última década, efectivado recentemente pela aquisição de um novo sistema de gestão de colecções para os museus que tutela, para o qual a utilização de diferentes normas (terminologias e procedimentos) tem sido um eixo de actuação central.

Além da nossa comunicação, como poderão ver no programa da conferência, foram apresentados trabalhos muito interessantes nas diferentes áreas da documentação museológica. Em breve darei nota mais detalhada sobre as diferentes sessões num texto que será publicado no boletim do ICOM Portugal. No entanto, quero aproveitar a ocasião para vos dizer que muito mais do que saber destas actividades por voz de terceiros, é fundamental que todos os que se interessem por esta (ou outras temáticas) participem nas conferências anuais dos diferentes comités. São momentos de partilha e aprendizagem fundamentais para todos os profissionais de museus.

Para melhor perceberem o que perderam aqui fica o que foi dito nas redes sociais com a #CIDOC2016.

 

Um agradecimento final

Antes de concluir este texto, não posso deixar de agradecer profundamente a todos quantos me felicitaram nos últimos tempos por telefone, mail, redes sociais, etc. pela minha eleição. É importante ter o vosso apoio, mas mais importante será conseguir que mais alguns possam participar activamente nos trabalhos que se desenvolvem no âmbito do comité. Para deixar apenas um exemplo da forma como podem participar, indico-vos o trabalho que está a ser desenvolvido pelo CIDOC na criação de uma Enciclopédia da Prática Museológica (Encyclopaedia of Museum Practice* no original) e que tem como objectivo reunir os termos e conceitos utilizados na nossa prática, apresentando as suas definições em diversas línguas. E sim… já temos lá o nosso Português e o Português do Brasil. Só faltam vocês a contribuir.

Acabou o ICOM 2016 e já se prepara o ICOM 2019 (será em Kyoto no Japão, por isso comecem a poupar).

* a ideia de criar esta Enciclopédia teve origem nesta importante, mas esquecida obra do ICOM Hungria e CIDOC.

9º Encontro de Utilizadores – Sistemas do Futuro

9º Encontro de Utilizadores – Sistemas do Futuro

A Sistemas do Futuro organiza, de dois em dois anos, o seu Encontro de Utilizadores que tem como principal objectivo dar a conhecer os projectos que desenvolve com e para os seus clientes e parceiros e possibilitar a troca de experiências e conhecimentos com a comunidade museológica e científica na área do património cultural. Desde sempre estes encontros foram gratuitos e, ao longo dos anos, vários profissionais de museus participaram e contribuíram para a extraordinária rede de conhecimento criada à volta das questões da documentação e gestão do património.

Sessão de Abertura do 9º Encontro de Utilizadores

Sessão de Abertura do 9º Encontro de Utilizadores

Este ano o Encontro de Utilizadores, já na sua 9ª edição, foi organizado em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e decorreu no auditório desta instituição nos dias 19 e 20 de Maio. O programa foi extenso e contou com várias apresentações interessantes (recordo que a minha opinião poderá ser parcial) de projectos brasileiros e portugueses nas quais é evidente um enorme esforço das instituições para resolver questões práticas na documentação e gestão de um património vasto e riquíssimo.

Não vou, dado que esperamos em breve ter autorização para a publicação dos vídeos das apresentações, elogiar ou focar uma apresentação específica. Todas elas têm pontos muito interessantes, com soluções e problemas, com diferentes abordagens e metodologias, mas importa-me referir um ponto comum a todas elas, a importância dada às normas. Pode parecer-vos uma questão óbvia, tratando-se de documentação, mas não é. Tanto não é que ainda hoje assisto à apresentação de projectos, leio artigos e vejo online alguns produtos de processos de documentação em que a normalização existente é a mesma do que a quantidade de água no deserto de Atacama. É isso que me faz sentir que o caminho, embora longo e difícil, está a ser bem trilhado por muitas instituições com grandes responsabilidades nesta matéria.

Auditório da SEC-SP

Auditório da SEC-SP

Estes dois dias foram também um excelente momento de aprendizagem, de partilha e de construção de boas amizades com muitos colegas brasileiros que, num momento particularmente difícil, trabalham todos os dias em prol da nossa herança cultural tornando-a acessível, física e intelectualmente, à grande comunidade da lusofonia. Para ser um encontro perfeito só faltou a presença de muitos colegas portugueses que costumam marcar presença nestes momentos e dos quais senti(mos) a falta.

Espero ver todos numa próxima oportunidade.

Apelo à participação – Diagnóstico aos Sistemas de Informação dos Museus

Apelo à participação – Diagnóstico aos Sistemas de Informação dos Museus

Aproveito o texto dos colegas que estão a tratar da divulgação deste 1.º diagnóstico aos sistemas de informação dos museus para vos transmitir estas informações muito importantes e chamar a vossa atenção para a necessidade de contar com o apoio de todos para este trabalho.

“Como possivelmente é já do vosso conhecimento, o Grupo de Trabalho – Sistemas de Informação em Museus (GT-SIM), da Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas (BAD), está a realizar um inquérito aos museus portugueses no âmbito do projeto Diagnóstico aos Sistemas de Informação dos Museus.

Este projeto tem como objetivo central o levantamento e a caracterização dos museus portugueses no que diz respeito às áreas da gestão da informação dos vários tipos de bens patrimoniais.

Os resultados do projeto possibilitarão, por um lado, conhecer a realidade portuguesa atual no que diz respeito à gestão da informação dos acervos nos museus e, por outro lado, constituirão o fundamento para orientar o trabalho futuro do GT-SIM.

No final do mês de março foi enviado por correio eletrónico um convite à participação no estudo. Se por alguma razão não o recebeu por favor contate o seguinte endereço eletrónico: diagnostico.si.museus@gmail.com.

A resposta ao questionário é feita online.

A sua participação é muito importante!

Obrigado desde já pela sua colaboração.”

Não será demais dizer que o conhecimento da realidade que temos permite enfrentar melhor os desafios que temos pela frente. Chamo portanto a vossa atenção e peço a vossa paciência para nos ajudarem neste processo que será importante para todos nós.

Notícia BAD

5 motivos para ser membro do ICOM

5 motivos para ser membro do ICOM

icomcard

Uma colecção de vinhetas

Este ano, segundo as vinhetas que estão na parte de trás do meu cartão do ICOM, faz 12 anos que sou membro desta organização filiada da UNESCO que reúne mais de 35.000 membros entre instituições e profissionais de museus de 136 países/territórios, que conta com 119 comités nacionais e 30 comités internacionais dedicados a diversas áreas de interesse/estudo/investigação em museus e museologia.

Ao longo destes 12 anos aprendi imenso nesta organização, mas gostava de partilhar com vocês os motivos que justificam, na minha opinião, a adesão e manutenção como membro de uma organização desta natureza.

 

Uma lista com os meus 5 motivos

 

1. A ética profissional – O ICOM é uma rede de profissionais de museus que se assume como uma força de liderança em termos de ética profissional. Ou seja, o ICOM é a instituição que mais se aproxima das características de uma Ordem profissional, com a vantagem de o ser a nível internacional, sem alguns dos aspectos negativos relacionados com um corporativismo fechado e centrado apenas nos aspectos de defesa de determinada profissão. A publicação do Código de Ética do ICOM (PT) e a sua tradução por vários comités nacionais (recordo que a organização apenas tem 3 línguas oficiais – Inglês, Francês e Espanhol) tem permitido, ao longo dos anos, uma consistência e regulação informal daquilo que são os deveres profissionais de quem trabalha em museus.

 

2. O desenvolvimento da Sociedade através dos Museus – O ICOM é, apesar das dificuldades, um fórum de debate e reflexão com diferentes perspectivas sobre o papel social que o museu pode e deve desempenhar na sociedade actual. Promove um debate, ainda que com algumas falhas, sobre o papel de mediação que o museu deve assumir entre o património cultural e o público, tem programas associados com o turismo cultural, procura debater, recorrendo em grande medida à celebração do Dia Internacional de Museus, temas que promovem a mudança e a procura de uma sociedade mais aberta e equitativa.

 

3. A formação dos novos profissionais – O simples facto de ser uma rede de profissionais, ou seja de pares, é relevante para que alguém que se inicie na profissão se torne membro. Haverá melhor forma de aprender com o exemplo de outros colegas, com o debate que uma rede desta natureza pode promover ou com o conhecimento partilhado por colegas de todo o mundo que lidam, ou já lidaram, com os problemas que nos são colocados no início da carreira? Eu aprendi as bases sobre documentação em museus com os artigos e apresentações de outros membros do CIDOC e muito sobre outras áreas com colegas do comité nacional português que a elas se dedicam!

 

4. Normas e guias práticos – no seguimento do ponto anterior (e talvez aquilo que é mais procurado por um novo profissional o ICOM), o desenvolvimento, pelos comités internacionais de diferentes especialidades, de normas e guias práticos que nos auxiliam a cumprir com rigor as tarefas atríbuídas aos profissionais de museus. Não só dos que são reconhecidos pelo conselho executivo do ICOM, mas também por outros, de carácter mais específico, que são desenvolvidos e publicados por comités internacionais e nacionais, como é o caso da Declaração de Princípios de Documentação em Museus publicada em 2012 pelo CIDOC (e traduzida para Português pelos colegas do SISEM-SP em São Paulo, Brasil).

 

5. A rede de profissionais (e amigos) – não será o último dos motivos que poderia ainda apontar, mas é, talvez a par da ética profissional, um dos mais relevantes para mim. Ao longo deste ano conheci e aprendi com inúmeros profissionais de museus de todo o mundo que me fizeram olhar para a minha profissão de forma mais aberta e abrangente. Conhecer pessoas de outras latitudes e longitudes, com outras expectativas, com formação distinta, das mais diversas culturas fazem-nos crescer a nível profissional e, principalmente, a nível pessoal. Em boa verdade, nestes 12 anos, conheci profissionais de países como o Bangladesh, Japão, Chile, Quénia, Zimbabwe, África do Sul, Angola, Moçambique, Brasil, Espanha, Reino Unido, Suíca, Alemanha, Estados Unidos da América, Canadá, França, Estónia, Índia, Rússia, Itália, Grécia, Marrocos, Emiratos Árabes Unidos, Austrália, Eslovénia, Dinamarca, Roménia, Bulgária, China, entre outros. Também nestes 12 anos e por conta da participação em conferências internacionais do CIDOC ou noutros fóruns que conheci através do CIDOC estive em e conheci (ainda que brevemente) países como o Chile, a Roménia, a Grécia, o Reino Unido, o Brasil ou a Alemanha e fico roído por não poder ter ido no ano passado à Índia! O que aprendi com essas pessoas e nestes países dá-me uma visão mais completa sobre as exigências da minha profissão! Os amigos que fiz nestas andanças, fazem de mim, sem qualquer falsa modéstia, muito melhor pessoa.

 

Certamente poderia apontar mais motivos. Estes são os 5 primeiros que me ocorrem sempre que me perguntam porque faço parte do ICOM e, porventura, não serão os que vos farão aderir ao ICOM ou os que fazem com que outros membros se tenham inscrito e se mantenham membros, mas se precisarem de outros poderão ver as 3 razões que o próprio ICOM aponta para ser membro (entre elas há descontos nos museus e nas lojas dos museus) e, ainda, o facto de ser dada preferência às inscrições dos membros em eventos tão interessantes (e importantes) como a conferência internacional “Museums: one object, many visions?” que terá lugar no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, no próximo dia 22 deste mês e que trará a Portugal o presidente do ICOM.

Se este texto suscitou o vosso interesse em ser membro do ICOM, vejam como podem fazer a inscrição e as condições exigidas aqui.