Cultura nas Redes: pós-conferência

Cultura nas Redes: pós-conferência

Ando num rodopio que por vezes me parece que sou o coelho da Alice no País das Maravilhas, sempre a correr e sempre atrasado, sem tempo para quase nada, tal a quantidade de assuntos e questões que tenho pendentes. No entanto, não queria deixar passar mais um dia sem deixar aqui registado um enorme agradecimento à Acesso Cultura pelo convite que me endereçou para participar na sua conferência anual, realizada na Fundação Calouste Gulbenkian, na passada segunda-feira, dia 14 de Outubro.

O agradecimento é devido não por me terem dado a oportunidade de partilhar a minha visão sobre Redes Sociais e Museus, mas sim pela oportunidade que me deram de aprender imenso com os outros oradores, entre os quais tenho de destacar, esperando que não me levem a mal os restantes, o Marc Sands (Tate) e a Linda Volkers (Rijksmuseum) e as excelentes apresentações que fizeram sobre o fantástico trabalho nas redes sociais daqueles dois museus. Eu tenho sempre presente que nada como um bom exemplo para aprender e melhorar a nossa actuação nessa área.

A Acesso Cultura e a Fundação Calouste Gulbenkian tiveram o cuidado de gravar a transmissão em directo da conferência (via Livestream) e os vídeos estão disponíveis aqui.

Publicado no repositório da UP

Publicado no repositório da UP

Tinha prometido aqui e como gosto de cumprir as minhas promessas aqui fica o link para o repositório da Universidade do Porto com a minha tese de doutoramento.

Alerto que não se encontra disponível (ainda) o documento relativo aos anexos, devido a uma situação que já comuniquei à secretaria da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e que espero seja resolvida brevemente. Em todo o caso, por motivos óbvios, o documento de anexos que ficará disponível on-line não conta com a tradução do SPECTRUM e com os seus requisitos de informação, uma vez que esses documentos terão que ser publicados, conforme estipulado no acordo entre a Collections Trust e o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, através do sítio institucional do projecto SPECTRUM PT (em breve terei notícias sobre este assunto). Aqui fica o resumo da tese:

A gestão do património cultural à guarda dos museus portugueses exige a atenção dos seus responsáveis e dos organismos estatais que definem a política museológica nacional. O elevado número de museus e o aumento assinalável de bens culturais que aqueles têm vindo a incorporar, bem como as mudanças significativas que o sector museológico sofreu nas últimas décadas, obrigam estas instituições e os seus profissionais a procurar os meios mais eficientes para realizar tarefas estruturantes da sua actividade: documentar e gerir as suas coleções. O SPECTRUM – The UK Museum Collections Management Standard tem vindo a afirmar-se, na comunidade museológica internacional, como uma das mais eficientes e bem elaboradas normas de procedimentos para gestão de coleções. O sucesso do processo de internacionalização desta norma, assim o comprova. Neste sentido, com este trabalho procuramos verificar a pertinência e vantagens daquela norma para os museus portugueses e para o relevante trabalho de digitalização, documentação e gestão dos acervos que a maioria tem em curso há alguns anos. Conhecendo as dificuldades existentes, no que diz respeito aos recursos humanos e financeiros destas instituições, é nossa pretensão disponibilizar uma ferramenta que, sendo simples de utilizar, sirva a preparação e execução da gestão do património museológico. Este documento resulta de três trabalhos que empreendemos nesse sentido. A tradução e adaptação do SPECTRUM à realidade e contexto legal nacionais, a verificação da compatibilidade da norma, através do estudo de caso da sua aplicação no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra e a adaptação e construção de um sistema de gestão de coleções compatível com aquela norma em colaboração com a empresa Sistemas do Futuro.

Uma vez mais a todos os que contribuíram para este trabalho um enorme obrigado!

Cultura nas Redes: pós-conferência

Acesso Cultura – Conferência 2013

O GAM – Grupo para a Acessibilidade nos Museus depois de 10 anos de profícuo e muito interessante trabalho como um grupo de trabalho informal que tinha como objectivo melhorar o acesso aos museus a todo o público com diversas necessidades especiais passou agora a ser Acesso Cultura. Uma “associação formal, que irá abranger todo o sector cultural, pretende alargar o seu espectro de acção e de prestar os seus serviços a um leque mais alargado de instituições e profissionais.”

Uma das suas primeiras actividades é a organização de uma conferência, a 14 de Outubro, na Fundação Calouste Gulbenkian (Auditório 3), em Lisboa, sobre o mote: Cultura nas Redes: Redes sociais, novos acessos à oferta cultural. A apresentação da conferência no site da Acesso Cultura é:

As redes sociais têm vindo a alterar profundamente a forma como as instituições culturais se relacionam com os seus públicos. Esta nova realidade, em constante desenvolvimento (por vezes difícil mesmo de acompanhar) apresenta um vasto leque de oportunidades, mas também enormes desafios, considerando a falta de meios (humanos, financeiros ou tecnológicos) em muitas instituições. Nesta conferência procuraremos conhecer melhor as possibilidades que as redes sociais nos oferecem, ouviremos profissionais que, com mais ou menos meios, exploram estas ferramentas e teremos ainda a oportunidade de receber algumas dicas práticas de especialistas em redes sociais.

Preço de inscrição
Sócios: €15 / Não sócios: €25
(para os sócios institucionais, o desconto é extensível a 5 funcionários)

A ficha de inscrição, programa e informações sobre os oradores podem ser encontradas aqui.

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A Maria Vlachou (grande dinamizadora deste trabalho) lançou-me o repto de ser um dos oradores da conferência (uma maldade tendo em consideração que irei anteceder o Marc Sands, da Tate Modern) através de uma reflexão sobre a utilização das redes sociais – PARTILHAR OU PARTILHAR? EIS A QUESTÃO. Um desafio ainda assim menor do que os Museus enfrentam neste novo mundo digital.

Espero ver-vos todos lá.

A distância que os separa – Maria Vlachou

A distância que os separa – Maria Vlachou

O Rijksmuseum disponibiliza 125.000 imagens de alta resolução de obras da sua colecção no Rijksstudio, uma secção interactiva no seu website que permite a qualquer pessoa descarregar estas imagens de grande qualidade para os fins que entender. O objectivo do Museu é adicionar todos os anos 40 mil novas imagens até disponibilizar online a colecção inteira. Lê-se num artigo no New York Times que, consciente da cada vez maior dificuldade em controlar a circulação e uso de imagens na Internet, o Museu, em vez de se agarrar a práticas, exigências e controlos de uma era que passou, considera de maior importância adaptar-se à nova realidade e procurar garantir a qualidade das imagens em circulação. Considera ainda que esta é mais uma forma de relacionamento entre as pessoas e a colecção. O Rijksmuseum pede aos utilizadores para se absterem do uso comercial das imagens, disponibilizando para compra fotografias com uma resolução ainda melhor. Através do mesmo artigo no New York Times, ficamos a saber que a National Gallery e o Smithsonian Institution seguem o mesmo caminho do Rijksmuseum.

Em França, a total proibição da fotografia no Musée d´Orsay (por razões questionáveis, como se poderá ver aqui) levou à criação de um movimento cívico, chamado Orsay Commons, que, através de acções que contrariam as regras instituídas, procura afirmar a oposição dos cidadãos perante a posição de um museu público que impede o acesso à colecção e pretende “ensinar” ao visitante a forma “aceitável” de se olhar para uma obra de arte.

Neste ambiente de debate aceso, a nível internacional, sobre a prática da fotografia nos museus, um debate que é exigido pela emergência de uma nova realidade, em constante desenvolvimento, no ciberespaço, à qual é preciso (urgente mesmo) os museus adaptarem-se, o Secretário de Estado da Cultura português apresenta-nos o Despacho nº 6891/2013, de 28 de Maio, relativo ao Regulamento de Utilização de Imagens de Museus, Monumentos, e outros Imóveis afectos à Direcção-Geral do Património Cultural. E assim, lê-se no despacho que “O presente Regulamento aplica-se a toda e qualquer utilização de imagens relativas aos edifícios e acervos dos Museus, Monumentos e outros imóveis afectos á DGPC, independentemente dos respectivos objecto, suporte e correspondentes formatos, finalidades e contextos de utilização.” (1.1); que “Os pedidos de cedência de imagens, captação de imagens e de filmagens devem ser formulados com uma antecedência não inferior a 15 dias.” (2.1), o que inclui “Os pedidos de captação de imagens (fotografias e/ou filmagem) para fins estritos de divulgação, sem fins comerciais…” (2.1.2); somos ainda informados (‘avisados’, diria) que “Qualquer utilização de imagens diversa da prevista no presente Regulamento, configura desrespeito pela legislação de enquadramento, designadamente o Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos, sendo passível de acção cível por parte da DGPC.” (3.7).

Uma das primeiras dúvidas que se me levantou foi o que é que se entenderá por “divulgação” neste despacho. Estaremos todos nós, que em websites, blogs e redes sociais, escrevemos sobre museus, partilhamos notícias sobre actividades e iniciativas, falamos de experiências vividas em âmbito profissional ou privado, fazemos críticas e comentários, todos nós que damos formação a profissionais da área, a prejudicar o Estado? Estaremos a prejudicar o cumprimento da missão da DGPC em particular, ao fazermos o que estamos a fazer e ao usarmos as nossas próprias imagens ou outras amplamente disponíveis na Internet, como no Google Art Project, onde já se encontram dois museus portugueses, ou no Wikimedia Commons? Estaremos nós a cometer um acto ilícito de divulgação à luz deste despacho; e, ao promovermos “ideias, princípios, iniciativas ou instituições”,  um acto ilícito de publicidade (14.1, nota 1)?

Uma dúvida maior ainda do que estas impõe-se: de que forma o actual debate a nível internacional sobre a prática da fotografia nos museus, e desenvolvimentos como os descritos no início deste texto, foram tomados em consideração na redacção do despacho assinado pelo Secretário de Estado da Cultura no passado dia 28 de Maio? Qual a visão que se tem para os museus portugueses no século XXI? Em que patamar é que a tutela os quer posicionar? Que relações se querem criar com as pessoas (os chamados “públicos”) e até que ponto foram considerados actuais hábitos e práticas na experiência de visitar um museu, literal e virtualmente? De que forma este despacho serve os museus e os cidadãos? Porque é que terei ficado com a sensação que nada disto foi tomado em consideração e que a distância que separa a tutela da realidade é mesmo muito grande?

Dean Mouhtaropoulos/Getty Images (via The New York Times)

Mais leituras
Carolina Miranda (2013), Why Can’t We Take Pictures in Art Museums?, in ARTnews.

Maria Vlachou (2013), Digam “Click!”, in blog Musing on Culture.

© imagem: Dean Mouhtaropoulos/Getty Images (via The New York Times)

Maria Vlachou é consultora em Gestão e Comunicação Cultural. Autora do blog bilingue Musing on Culture, onde escreve sobre cultura, as artes, museus, gestão cultural, marketing e comunicação, públicos. O livro Musing on Culture foi editado pela BYPASS Editions em Março 2013. Foi Directora de Comunicação do São Luiz Teatro Municipal (2006-2012) e Responsável de Comunicação do Pavilhão do Conhecimento – Ciência Viva (2001-2006). Membro dos Corpos Gerentes do ICOM Portugal desde 2005 e editora do boletim trimestral Informação ICOM.PT. Membro fundador do GAM – Grupo para a Acessibilidade nos Museus. Foi coordenadora geral do primeiro estudo em Portugal sobre museus e público sénior. É Fellow no Summer International Fellowship Program em Arts Management do Kennedy Center for the Performing Arts (Washington, EUA; 2011-2013); é Mestre em Museologia (University College London,1994) e licenciada em História e Arqueologia (Universidade de Ioannina, Grécia, 1992).
Discutir o fracasso!

Discutir o fracasso!

Nós vivemos num país, sociedade e tempo em que o fracasso raramente é discutido. O seu contrário, o sucesso, por seu turno tem honras de prime time, reconhecimento oficial, medalhas e condecorações, etc. que são óbvias e merecidas e com as quais, como deverão compreender, concordo inteiramente. Promover e premiar o sucesso é incentivar a mudança e a evolução. No entanto, já algum dos meus caros leitores pensou sobre a quantidade de vezes que um homem de sucesso teve que falhar para alcançar o el dorado? Alguém ainda acredita que basta mesmo uma boa ideia? E o trabalho para a pôr em prática? E as dezenas de experiências que temos de fazer para chegar a uma conclusão que aponta um possível caminho para a cura de uma doença difícil? E a quantidade de vezes que tenho de fazer sopas para me calhar uma como deve ser? O sucesso dá trabalho e é feito de uma boa (espera-se que não muito elevada) quantidade de insucessos, concordam?

Então e porque não o debatemos? Porque não aprendemos mais com o insucesso dos outros? Se um museu fez determinado caminho que se revelou um fracasso, porque razão não pode outro museu aprender com os erros feitos nesse caminho e lucrar com isso?

Vem este tema a propósito de um post no Museum Computer Group (Come and celebrate your failure with us!) na qual é anunciado um evento que pretende debater o fracasso e o que se seguiu ao fracasso, ou seja o que fazemos quando algo corre mal (a avaliação e posterior noção daquilo que correu mal e não teve sucesso seria por si só um interessante tema de discussão). Um evento que me parece muito semelhante ao World Failurists Congress que temos por cá (se não conhecem recomendo e já vai ter uma segunda edição).

E os meus caros amigos estão abertos para debater o insucesso? Eu sugeri no museologia.comes (um dos grupos do museologia.porto um almoço à volta do tema, que me dizem?

© Imagem: Daqui.