CIDOC 2017 – apresentações online

CIDOC 2017 – apresentações online

Não falei antes do CIDOC 2017, em Tbilisi, decorrido em Setembro do ano passado, mas hoje tenho um excelente motivo para voltar à nossa conferência anual e dar-vos a conhecer um pouco da experiência deste ano na Geórgia. O motivo, aliás, o excelente motivo é a partilha das apresentações feitas nas diversas sessões (workshops e sessões convidadas) do extenso programa deste ano, subordinado ao tema “Documentation – Past, Present, Future…”

Uma breve nota sobre o CIDOC 2017

A conferência deste ano permitiu-me ir, pela primeira vez (uma miséria bem sei), a um país que ficava atrás da Cortina de Ferro e vivenciou, de uma outra perspectiva, aquilo que para um jovem adolescente ocidental como eu representava uma espécie de Tratado de Tordesilhas nuclear com ameaças entre duas grandes superpotências (na versão de Hollywood chamadas de Rocky Balboa e Ivan Drago) que nunca se iriam entender. Um mundo distante, felizmente, porque me permitiu conhecer brevemente uma cidade vibrante, com boa comida e bebida, e excelentes pessoas.

Este ano, o tema da conferência procurou explorar o que foi, o que é e para onde caminha a área da documentação em museus. O tema, proposto pelo comité de organização local, à partida parece ser simplista, mas é muito mais desafiador do que pensei. Rever o nosso passado enquanto comunidade, os nossos sucessos e insucessos (principalmente estes), o caminho traçado, os obstáculos, etc. é, em boa medida, algo que todas as instituições ou comunidades deveriam fazer de tempos a tempos. Permite recentrar a energia, alinhar o foco e considerar o presente ao abrigo do que positivo e negativo fizemos. Com essa análise e com os recursos e potencialidades que temos agora, no presente, podemos construir e planear um futuro ainda melhor, com uma resposta mais capaz aos enormes desafios que este sector dos museus tem pela frente.

No CIDOC 2017 revi um conjunto de colegas, de mestres, de parceiros de discussões intermináveis sobre normas e procedimentos e tecnologias, mas também conheci novos colegas, de novas geografias (sim que o ICOM é muito eurocêntrico ainda), com outras perspectivas e desafios. Discutimos entre todos, em sessões sobre terminologias, procedimentos, imagem, gestão do conhecimento, passado da documentação, novos desafios e outras, aquilo que podemos dar à comunidade museológica para que os museus e seus profissionais possam contribuir para uma sociedade melhor. Tivemos o privilégio, nessas sessões de ouvir e conhecer o trabalho de colegas de diversas áreas, com diferentes preocupações e pontos de vista de entre os quais gostaria de destacar, agora que as apresentações estão publicadas, os que me chamaram mais a atenção.

Os meus destaques do CIDOC 2017

IMG 6406Não vou ser muito extenso na análise e esta minha opinião sobre o que melhor se viu no CIDOC 2017 está condicionada às sessões em que participei e assisti (algumas são sessões paralelas), mas convido todos a percorrerem as diferentes apresentações e partilharem as que mais interessantes lhes parecem. A lista está disponível na área das conferências passadas da página do CIDOC no link 2017, Tbilisi.

No topo, até porque não é a minha área de investigação preferida, colocaria as excelentes apresentações feitas pelo Gregg Garcia e pelo Jonathan Ward sobre o programa Getty Vocabularies. Vão desde a revisão e utilização dos conteúdos dos diversos thesauri e vocabulários, passando por um programa de acessibilidade sustentado por uma política de Linked Open Data até à apresentação de exemplos de utilização e iniciativas futuras. Alguns poderão achar densos e muito técnicas as apresentações, mas para quem se interessa por terminologia são essenciais para acompanhar o trabalho de quem lidera internacionalmente esta área da documentação. Podem encontrar as apresentações na SESSION 7 – Getty Vocabularies.

A segunda escolha recai na comunicação do Hassan Ghaseminejad Raieni, do Irão. A apresentação intitula-se Experiences in museum objects documentation with regard to ethical and cultural principles in Iran e explora um tema muito sensível na documentação de museus: a objectividade e as influências do processo de documentação na(s) história(s) que contamos com os objectos. Confesso que além do tema e da forma como foi apresentado, admirei a coragem do Hassan em levar um assunto destes a uma conferência internacional, sendo ele de um país que não é famoso pela abertura à crítica.

Uma terceira escolha vai direitinha para a apresentação do Axel Ermet. Aborda uma norma ISO, uma daquelas coisas com que nós, os maluquinhos das normas, gostamos de nos entreter e que, para quem não é um dos nossos, gostamos de recomendar para utilizar como se de uma bíblia se tratasse. Vejam lá se não vos daria jeito uma norma como esta: (ISO): The vocabulary ISO 5127 as a basic vocabulary for documentation. Define um vocabulário comum para que todos vós, os incrédulos, percebam o que nós, os crentes, queremos dizer com expressões como XML, bases de dados, subsets, modelos conceptuais, etc. Um instrumento de utilização diária sobre o qual escreverei um destes dias.

Um quarto lugar para a apresentação do Reem Weeda sobre o ICONCLASS e a ligação deste, ou melhor, o enriquecimento deste com a ligação a conceitos do AT&T. A apresentação, um pouco técnica mas muito útil, está disponível aqui.

Por último não posso deixar de referir e destacar as apresentações da Natália Jorge, do Fernando Cabral, da Juliana Rodrigues Alves (pesquisem os nomes na página) sobre importantes trabalhos realizados aqui em Portugal na área da documentação do património cultural e, sem falsas modéstias, a apresentação que eu fiz, em representação de uma equipa fabulosa, sobre o contributo do Grupo de Trabalho de Sistemas de Informação em Museus da BAD nos últimos anos em Portugal.

Com este texto pretendo destacar as minhas escolhas, mas quero dizer-vos que se percorrerem as apresentações vão encontrar um conjunto de trabalhos notável e útil para quem é confrontado com os trabalhos de documentação em museus ou em outras instituições culturais. Se quiserem partilhar as vossas preferidas, ou as que lhes parecem mais interessantes, vão à página das apresentações e digam coisas nos comentários a este post.

Boas leituras!

Acesso Aberto – Debate e Conferência da Acesso Cultura

Acesso Aberto – Debate e Conferência da Acesso Cultura

Toda a gente sabe que uma maldade nunca vem só! Quer dizer, por vezes vem, mas não é o caso. A Acesso Cultura organiza este ano alguns eventos dedicados a um tema que me é caro: o acesso aberto! Vai daí resolvem convidar-me para ser moderador duas vezes para mal dos vossos pecados! Uma primeira que acontece já a 20 de Junho e uma segunda que acontecerá em Outubro. Vejam lá bem o azar de quem não quer perder a oportunidade de debater estas questões.

Debate Acesso Cultura - Acesso AbertoA primeira vez em que irei moderar um debate será no próximo dia 20 de Junho. Nesta têm alguma sorte. Podem escolher dar um salto a Lisboa, Évora ou Olhão e particpar num dos debates simultâneos que a AC organiza também naquelas cidades. No entanto, se quiserem participar no do Porto, podem (e devem) dar um salto ao nosso Museu Nacional Soares dos Reis e juntar-se a mim, à Ângela Carvalho (Centro Português De Fotografia), à Manuela Barreto Nunes (Biblioteca Geral da Universidade Portucalense), à Olinda Cardoso (Arquivo Distrital do Porto) e ao Pedro Príncipe (Universidade do Minho) pelas 18:30h para discutir este tema. A AC colocou-nos o seguinte mote:

A digitalização de colecções museológicas e de outros acervos culturais alcançou uma escala sem precedentes. De que forma as instituições culturais portuguesas enfrentam esta nova realidade? O que é que está a ser feito no sentido de criar condições de acesso aberto? A quem se destinam estes recursos digitais e para que servem? Que dúvidas persistem? Que preocupações?

Conferência Acesso Cultura - Acesso AbertoA segunda vez que irei moderar será uma mesa redonda da conferência da Acesso Cultura (será em Lisboa, a 16 de Outubro). É logo a seguir à conferência de abertura pela Merete Sanderhoff (Statens Museum for Kunst – Danish National Gallery) e terá a participação da Merete Sanderhoff (National Gallery Denmark), do David Santos (Direcção-Geral do Património Cultural), do Eloy Rodrigues (Universidade do Minho) e do Silvestre Lacerda (Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas) e será uma excelente oportunidade para debater e aprender com estes excelentes profissionais sobre acesso aberto.

Eu julgo que seria bom, numa e noutra oportundiade, discutir a questão sob duas perspectivas (mas digam-me vocês se concordam): Política e Técnica.

Na primeira uma abordagem sobre os caminhos e tendências que o Acesso Aberto segue nas instituições de referência, na visão estratégica de governos ou Comissão Europeia, por exemplo e na segunda abordar as condições, tecnologia, questões legais (embora estas possam também se ligar à primeira questão das políticas), etc. que devem ser tidas em conta pelas instituições que procuram informação de caracter mais prático sobre este assunto. Que vos parece? Estou aberto a outras perspectivas interessantes.

Eu sei que o tema é vasto e, ao que tenho ouvido, ainda pouco explorado entre nós. Por isso gostava que se procurassem respostas (mesmo sabendo que não há respostas definitivas) a questões como: O que é isso do Acesso Aberto? Que questões legais se levantam? Que políticas deve a minha instituição definir sobre esta matéria? Que materiais/informação deve/pode ter acesso aberto? Como mudar o panorama actual de acesso restrito em áreas fundamentais como a investigação científica? Que política(s) de financiamento devemos definir para esta matéria? Qual a diferença entre Acesso Aberto e Software Livre? O que precisamos para dar acesso livre à informação gerida por museus, bibliotecas e arquivos?

Se quiserem podem deixar abaixo (nos comentários) perguntas ou levantar temas para o debate e para a mesa redonda. Prometo que irei, dentro dos limites de tempo que teremos, levar comigo as vossas sugestões.

E já agora respirem fundo e participem. É um tema importante e interessante para todos nós!

ICOM 2016 Milão – Notas da Conferência Geral

ICOM 2016 Milão – Notas da Conferência Geral

ICOM 2016 - Entrada

ICOM 2016 – Entrada

A Conferência Geral do ICOM teve lugar este ano em Milão, Itália, entre os dias 3 e 9 de Julho, no Centro de Congressos daquela cidade, tendo como mote “Museus e Paisagens Culturais”, tema que tinha já servido para as celebrações do Dia Internacional de Museus este ano. A conferência geral é sempre uma oportunidade para aprender e conhecer mais sobre a comunidade profissional dos museus. Este ano, pela proximidade a Portugal e pela presença maciça (mais de 3000) colegas das mais diferentes regiões do mundo, o ICOM 2016 foi uma excelente ocasião para alargar horizontes e percepcionar as diferenças e semelhanças em museus de todo o mundo.

Neste texto procurarei falar de duas realidades distintas: a participação portuguesa na conferência geral e as actividades, bem como a minha participação, no comité internacional de documentação, o CIDOC. Começo pela primeira, por razões óbvias.

 

A participação portuguesa no ICOM 2016

Tal como disse acima, este ano o local e tema da conferência proporcionaram as condições para uma participação considerável de colegas portugueses. Assim de repente, sem puxar muito pela memória, estive com mais de uma dezena de colegas portugueses em Itália. Destaco alguns em seguida.

Desde logo o Presidente do nosso Comité Nacional, José Alberto Ribeiro, que juntamente com a Joana Sousa Monteiro, o Mário Antas e a Dália Paulo nos representaram nas tarefas mais administrativas da conferência, participando nas assembleias gerais, votações e discussões sobre o futuro do ICOM a nível internacional. Uma tarefa de enorme responsabilidade que desempenharam, como sempre, com a maior dedicação e empenho. A juntar a este importante trabalho é importante salientar que a Joana e o Mário foram eleitos para cargos de direcção nos comités internacionais de que fazem parte. A Joana Sousa Monteiro foi eleita Presidente do CAMOC e o Mário Antas Vice-presidente do CECA. Dois comités internacionais muito relevantes no contexto internacional e que serão exigentes para ambos. Os meus votos de sucesso para ambos.

A seguir, não o posso deixar de referir, o Luís Raposo, agora presidente da Aliança Regional ICOM Europa, que fez um notável trabalho a apresentar uma linha de acção para revitalizar o trabalho desta importante aliança de diversos comités nacionais do ICOM. Aproveito para desejar ao Luís o maior sucesso nesta grande tarefa que tomou como sua e para lhe dar os parabéns por este importante cargo que deve ser visto como um orgulho para a comunidade museológica nacional.

Uma outra amiga e colega que não posso deixar de referir é a Marta Lourenço, arguente principal na minha tese de doutoramento, agora empossada como Presidente do UMAC, secretária da anterior direcção do ICOM Portugal e uma das vozes mais sábias que conheço sobre colecções e museus universitários. É a certeza, tal como acontece nos outros 3 casos, que o UMAC estará muito bem entregue, pelo menos, nos próximos 3 anos. Sucesso é o que desejo, uma vez mais, nas suas funções.

Além destes que merecem um destaque pelas funções que agora assumem, tive também o grato prazer de rever e conversar um pouco com bons amigos e colegas como a Aida Rechena, o Pedro Pereira Leite, o Mário Moutinho, a Lorena Sancho Querol, o Manuel Furtado Mendes, a Beatriz Crespo, entre alguns outros que vi nos corredores. A estes juntam-se os companheiros habituais de viagem, Fernando Cabral e a Natália Jorge, e a amiga Juliana Rodrigues Alves que sendo brasileira, juntou-se à comitiva portuguesa por ser aluna no doutoramento de Museologia da FLUP.

Foi, do que conheço, uma das melhores e mais profícuas participações portuguesas nas conferências gerais do ICOM. Não só pelas conquistas conseguidas pela museologia portuguesa, mas acima de tudo pela competência demonstrada e pela enorme participação relevante que tivemos em diversas áreas do panorama museológico internacional. Diria, que se não fosse as famosas “lunch-boxes” o ICOM 2016 teria sido perfeito.

Podem consultar aqui um pouco do que se passou em Milão através da #ICOMilano2016.

 

O CIDOC e ainda a participação portuguesa no ICOM 2016

CIDOC AMG

© Gabriel Bevilacqua

Tal como já tinha escrito aqui, este ano apresentei a minha candidatura à direcção do CIDOC. Não vou enumerar de novo as razões que me levaram a tomar esta decisão, poderão ler a minha declaração no link anterior, mas o certo é que consegui convencer os membros deste comité internacional, onde tanto já aprendi, a votar em mim. Ora portanto, este vosso amigo é agora membro ordinário (nunca tive um nome de cargo tão apropriado) da direcção do CIDOC.

É, antes de mais, um enorme orgulho para mim esta eleição. Mas acima de tudo é uma enorme responsabilidade que espero saber cumprir com a maior dedicação. A documentação de museus, tal como vários colegas frisaram, é uma tarefa fundamental para todas as actividades dos museus. No entanto, pode e deve servir o seu propósito de maneira mais eficiente e capaz, procurando lidar com as questões da gestão de informação nos museus de uma forma integradora e aberta, promovendo a acessibilidade e a utilização das colecções pelo público nas mais variadas formas e contextos. O contributo que tentarei dar diz respeito a uma maior cooperação entre comités internacionais e nacionais no sentido de todos contribuírem para melhorar a forma como documentamos e gerimos os nossos museus e colecções em benefício do público.

Estarei sempre à disposição de todos os que necessitarem de algo em que o CIDOC possa ser útil e terei todo o gosto ser o vosso canal de acesso à direcção deste comité internacional do ICOM.

 

A Conferência Anual do CIDOC

Importa salientar que os comités internacionais do ICOM aproveitam a conferência geral para realizar as suas próprias conferências anuais nos anos correspondentes. Esta situação tem algumas vantagens, mas no caso do CIDOC, um comité iminentemente técnico, levanta algumas questões operacionais por causa das reuniões dos grupos de trabalho. Pese embora estes constrangimentos, este ano o comité decidiu seguir o modelo de conferência completo, com reuniões de grupos de trabalho, chamada para artigos e assembleia geral. Além desta intensa actividade, decidiu também pela realização de um evento, fora de Milão, que procurou explorar, de forma mais prática algumas das questões em debate na documentação de museus. Ambos os programas (conferência e workshop) podem ser consultados na página do CIDOC.

Este ano tive a oportunidade de apresentar, com a Renata Motta, coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico (UPPM), da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, uma comunicação intitulada “Implementing Standards at Sao Paulo State Secretariat of Culture museums”. Nela procuramos mostrar o enorme trabalho de estudo e implementação de normas que a SEC-SP tem desenvolvido na última década, efectivado recentemente pela aquisição de um novo sistema de gestão de colecções para os museus que tutela, para o qual a utilização de diferentes normas (terminologias e procedimentos) tem sido um eixo de actuação central.

Além da nossa comunicação, como poderão ver no programa da conferência, foram apresentados trabalhos muito interessantes nas diferentes áreas da documentação museológica. Em breve darei nota mais detalhada sobre as diferentes sessões num texto que será publicado no boletim do ICOM Portugal. No entanto, quero aproveitar a ocasião para vos dizer que muito mais do que saber destas actividades por voz de terceiros, é fundamental que todos os que se interessem por esta (ou outras temáticas) participem nas conferências anuais dos diferentes comités. São momentos de partilha e aprendizagem fundamentais para todos os profissionais de museus.

Para melhor perceberem o que perderam aqui fica o que foi dito nas redes sociais com a #CIDOC2016.

 

Um agradecimento final

Antes de concluir este texto, não posso deixar de agradecer profundamente a todos quantos me felicitaram nos últimos tempos por telefone, mail, redes sociais, etc. pela minha eleição. É importante ter o vosso apoio, mas mais importante será conseguir que mais alguns possam participar activamente nos trabalhos que se desenvolvem no âmbito do comité. Para deixar apenas um exemplo da forma como podem participar, indico-vos o trabalho que está a ser desenvolvido pelo CIDOC na criação de uma Enciclopédia da Prática Museológica (Encyclopaedia of Museum Practice* no original) e que tem como objectivo reunir os termos e conceitos utilizados na nossa prática, apresentando as suas definições em diversas línguas. E sim… já temos lá o nosso Português e o Português do Brasil. Só faltam vocês a contribuir.

Acabou o ICOM 2016 e já se prepara o ICOM 2019 (será em Kyoto no Japão, por isso comecem a poupar).

* a ideia de criar esta Enciclopédia teve origem nesta importante, mas esquecida obra do ICOM Hungria e CIDOC.

Atenas e novos perfis de trabalho nos museus

Atenas e novos perfis de trabalho nos museus

Voltar a Atenas é um privilégio. Voltar a Atenas numa data em que os gregos decidiam o seu futuro como nação é uma oportunidade única e imperdível, por isso, devo confessar, estive em alerta durante a semana anterior à viagem para certificar que não ficaria em terra por overbooking, greves e demais problemas que as companhias aéreas costumeiramente nos levantam.

A viagem aconteceu, como calculam, há já algum tempo, mas só agora consegui tempo e disponibilidade para vos contar. A motivação foi profissional, tem sido quase sempre, mas já meti na cabeça que a próxima ida à Grécia, espero que com Atenas pelo meio, seja em férias para que possa aproveitar aquele mar e praias fabulosas que o amigo Ika tem postado frequentemente no Facebook. A motivação profissional prende-se com um convite que me foi endereçado pela Mapa das Ideias, há uns tempos atrás, que em boa hora aceitei, para participar no “advisory board” de um projecto europeu que tinha como propósito definir perfis de competência para as novas profissões que a ligação entre a Cultura e o Digital está a criar.

eCultSkills

O projecto designa-se eCult Skills, é um projecto co-financiado pela União Europeia, de transferência de inovação que procurou, através da investigação em 6 países europeus, empregos novos e emergentes que envolvam a utilização de tecnologia na área cultural para definir novos perfis profissionais que pudessem ser aplicados no contexto nacional e europeu tendo como perspectiva a integração deste novo tipo de profissões no contexto dos objectivos definidos pela União para 2020. O projecto é apresentado pelos responsáveis da seguinte forma:

Culture Industry development policies need to place strategic goals of a broader context, seeking enhanced quality of service that will enforce the existing workforce and eventually attract young people to the profession. In addition, European Training systems have to adapt and to anticipate actual and future employment opportunities in Cultural Jobs as they will represent an important and growing number of jobs over the coming years. In parallel, the use of ICT for access to cultural heritage is a societal demand supported by European policy makers. Existing professional and new recruits need to acquire ICT skills and attitudes of the ideal eCulture professional such as the abilities to be creative, versatile, able to manage digital knowledge, quality and excellence, technical and humanistic training. Thus Culture Jobs need to be enhanced with eSkills to become eCulture Jobs.

O resultado do projecto são os perfis de especialistas no sector cultural e as linhas orientadoras para a formação de profissionais nestes perfis que permitirão, no contexto europeu, a definição de programas de formação, comparação de currículos e de competências profissionais para processos de contratação nas entidades deste sector. Uns e outros resultados podem ser encontrados na página dos resultados do projecto e estão disponíveis em diversas línguas.

Estes resultados foram apresentados na reunião final do projecto, em formato de conferência internacional, onde também foram discutidos, de forma bem alargada por diversos profissionais do sector, os desafios digitais que se colocam actualmente aos profissionais de museus. O tema da conferência era “Digital Challenges for Museum Experts” e o programa, apesar de muito extenso para o pouco tempo, foi muito interessante e estimulou um conjunto de tópicos de discussão muito relevantes relativamente à indefinição que se sente existir sobre a aplicação da tecnologia (que tecnologia, quando aplicar, que papel deve ter nas instituições, que competências são necessários, etc.) no sector cultural.

Eu tive o prazer de apresentar (e depois discutir) uma comunicação intitulada “Museum Documentation: New Skills for a Digital World” e de presidir a uma mesa que discutia novas tendências e desafios nas competências necessárias para a cultura face ao desenvolvimento tecnológico. Numa e outra oportunidade a experiência foi muito enriquecedora e permitiu confirmar e conhecer desafios emergentes colocados, principalmente, pela definição do papel da tecnologia nas instituições, ou seja, a velha discussão sobre a visão da tecnologia como um instrumento e não um fim em si mesmo. Fiquei com a ideia que a primeira está, felizmente, a ganhar cada vez mais terreno!

Julgo que a organização ficou bem contente com os resultados da conferência. O nível de participação foi muito alto e, como poderão ver pelas caras de algumas das fotos, julgo que a satisfação dos participantes também foi alta.

O Museu da Acrópole

Selfie em Atenas

Selfie com as meninas Atenienses

Além da conferência tive, desta vez, a oportunidade de visitar o Museu da Acrópole que ainda estava em construção (ou em projecto) da última vez que visitei Atenas. O museu tem uma ligação espacial com a Acrópole que é muito bem conseguida. Em qualquer momento vemos o local de origem das peças que temos à nossa frente e quando isso não acontece, damos alguns passos e temos essa sensação de pertença. A parte em que me emocionei (gosto sempre de me emocionar num museu) foi quando estive ao lado das Cariátides (do Erecteion) que quase me fizeram chumbar numa oral de História de Arte por ter a pior memória do mundo para nomes (este nunca mais esqueci)! Tirei uma selfie para mais tarde recordar e partilho-a com vocês agora!

Embora tivesse gostado muito do museu, da organização da exposição (um pouco caótica, mas interessante) e de algumas soluções de museografia, não gostei nada, mesmo nada, da ausência de informação nas tabelas de cada objecto. Apenas continham nome, data, local de origem e pouco mais… muito pouco para quem, como eu, tem um conhecimento mínimo do contexto e história do local.

Uma nota final para três coisas: pessoas, comida e bebida! Cada vez mais fã da gastronomia grega e fã, por completo, do bom vinho que por lá se bebe. As pessoas, já o sabia, são determinadas, trabalhadoras, inteligentes e merecedoras do nosso apoio… não é por culpa do povo Grego que o país está naquela situação!

MUX.2015 – Universidade de Aveiro

MUX.2015 – Universidade de Aveiro

Um excelente dia de trabalho e partilha com colegas da Universidade de Aveiro (e de outros locais) começou de forma excelente com a apresentação do Sam Brenner sobre o trabalho que o Cooper Hewitt desenvolveu, enquanto se encontrava encerrado ao público para obras, para conceber uma nova experiência na visita ao museu que permitisse uma exploração da colecção de forma imersiva e sem grandes distrações.

A “New Cooper Hewitt Experience” é apresentada assim no site do do museu:

Explore the digitized collection on large touchscreen tables; draw your own wallpaper designs in the Immersion Room; solve real-world design problems in the Process Lab; discover how the Carnegie Mansion worked as house; and understand how donors have influenced the museum’s collection over the last 100 years.

“Play designer” on 4K resolution touchscreen tables, developed by Ideum, and feature specialized interactive software designed by Local Projects. The 84-, 55-, and 32-inch tables use projected capacitive touch technology – the same technology found in popular tablets and smart phones. The ultra-high-definition resolution allows you to zoom in on objects to see minute details like never before.

The Collection Browser is available on seven tables installed throughout all floors of the museum, giving you access to thousands of objects in the museum’s collection, including those currently on view in the galleries. The largest tables allow up to six visitors to simultaneously explore high resolution images of collection objects, select items from the “object river” that flows down the center of each table, zoom in on object details, learn about its history, and related objects organized by design theme and motif. You can also draw a shape that will bring up a related collection object, or try their hand at drawing simple three-dimensional forms.

In the Hewitt Sisters Collect exhibition on the second floor, the People Browser application, focuses on the relationship between donors and objects in the collection. You can navigate by donor, read biographical details and learn about how objects were collected in the early 20th century.

Another screen on the second floor reveals the history of the Carnegie Mansion before it became the Cooper Hewitt. You can navigate the Mansion History application using the original floor plan of the building and browse through architectural details, original fittings and fixtures, and the quirks of the mansion’s original residents.

Esta nova experiência tem como aparelho de eleição uma “pen” que permite criar (através da interacção com os dispositivos do museu) e coleccionar os objectos que mais interessam a cada visitante. O conceito é, na minha opinião, fabuloso (e dispendioso também segundo uns cálculos simples que fiz) e representa o que de melhor se pode fazer na ligação do visitante com a colecção física e virtual (ou online se preferirem). Melhor do que poderei dizer para falar sobre esta nova experiência no Cooper Hewitt, vejam os seguintes vídeos e digam de vossa justiça.

https://vimeo.com/121152071

É tão “cool” não é? (mesmo sabendo das críticas que se podem fazer). Mas vejam lá este sobre o conceito da “pen” de que vos falei acima.

Levante a mão quem quiser dar um salto à 5ª Avenida e trocar o Guggenheim por uma tarde no Cooper Hewitt!

Além deste interessante projecto (já concretizado) os resultados do trabalho desenvolvido até agora pelo projecto CIDES.PT, com um interessante produto, apresentado pelo Vasco Branco, para explorar virtualmente as colecções de design português, que têm vindo a ser exploradas como tema principal através de diversas abordagens (museologia, design, museografia, etc.) também apresentadas na conferência pelos diferentes investigadores do projecto (um especial destaque para a apresentação do Gonçalo Gomes intitulada “Uma História Participada do Design Português: o contributo das tecnologias sociais.” com uma abordagem muito interessante sobre o papel dos media sociais num projecto de investigação que irei reter para futuro) e o excelente trabalho em curso nos serviços de documentação e museologia da UA com a documentação das colecções da Universidade fizeram com que o dia de ontem tenha sido de aprendizagem constante!

Um enorme obrigado à organização (abraço Rui e Cristina)! Hoje não pude ir, mas certamente vou arrepender-me!

Design, tecnologia, comunicação e museus – MUX.2015

Design, tecnologia, comunicação e museus – MUX.2015

Nunca um título de um post meu resumiu de forma tão linear alguns dos tópicos que mais me interessam. Design, tecnologia, comunicação em museus é o tema do MUX.2015 – Museus em experiência que terá lugar na Universidade de Aveiro (com entrada livre… toca a aproveitar) nos próximos dias 29 e 30.

Este encontro, que é uma organização conjunta do DECA – Departamento de Comunicação e Arte e dos Serviços de Biblioteca, Informação Documental e Museologia da UA, pretende “… reunir especialistas, investigadores e profissionais nas áreas da museologia, do design, das ciências e tecnologias da comunicação para debater e refletir sobre o presente e o futuro da relação entre a museologia e da museografia em Portugal.” E como se tal não bastasse para despertar o vosso interesse, acrescenta ainda a organização: “A integração a montante do design e das tecnologia da comunicação nas estratégias museológicas é cada vez mais determinante para cativar e envolver novos públicos de uma forma mais interativa com os artefactos, os temas e as narrativas museológicas.”

Do programa permitam-me que destaque (sem qualquer desprimor para as restantes intervenções) a participação de Sam Brenner (Interactive Media Developer na Cooper Hewitt, Smithsonian Design Museum) pela oportunidade de ouvirmos alguém de uma instituição que tem sido determinante na mudança de paradigma na relação entre museus, web e tecnologia (incluíndo aqui também o design e a comunicação). No entanto, há mais… muito mais e com a elevada qualidade com que o DECA nos tem vindo a habituar.

Eu estarei por lá a falar sobre o futuro do SPECTRUM PT (a seguir ao almoço e antes do intervalo é uma maldade que me fazem) e espero pela vossa presença e contributo para o debate que possa suscitar a minha intervenção.

Não percam!