ICOM 2016 Milão – Notas da Conferência Geral

ICOM 2016 Milão – Notas da Conferência Geral

ICOM 2016 - Entrada

ICOM 2016 – Entrada

A Conferência Geral do ICOM teve lugar este ano em Milão, Itália, entre os dias 3 e 9 de Julho, no Centro de Congressos daquela cidade, tendo como mote “Museus e Paisagens Culturais”, tema que tinha já servido para as celebrações do Dia Internacional de Museus este ano. A conferência geral é sempre uma oportunidade para aprender e conhecer mais sobre a comunidade profissional dos museus. Este ano, pela proximidade a Portugal e pela presença maciça (mais de 3000) colegas das mais diferentes regiões do mundo, o ICOM 2016 foi uma excelente ocasião para alargar horizontes e percepcionar as diferenças e semelhanças em museus de todo o mundo.

Neste texto procurarei falar de duas realidades distintas: a participação portuguesa na conferência geral e as actividades, bem como a minha participação, no comité internacional de documentação, o CIDOC. Começo pela primeira, por razões óbvias.

 

A participação portuguesa no ICOM 2016

Tal como disse acima, este ano o local e tema da conferência proporcionaram as condições para uma participação considerável de colegas portugueses. Assim de repente, sem puxar muito pela memória, estive com mais de uma dezena de colegas portugueses em Itália. Destaco alguns em seguida.

Desde logo o Presidente do nosso Comité Nacional, José Alberto Ribeiro, que juntamente com a Joana Sousa Monteiro, o Mário Antas e a Dália Paulo nos representaram nas tarefas mais administrativas da conferência, participando nas assembleias gerais, votações e discussões sobre o futuro do ICOM a nível internacional. Uma tarefa de enorme responsabilidade que desempenharam, como sempre, com a maior dedicação e empenho. A juntar a este importante trabalho é importante salientar que a Joana e o Mário foram eleitos para cargos de direcção nos comités internacionais de que fazem parte. A Joana Sousa Monteiro foi eleita Presidente do CAMOC e o Mário Antas Vice-presidente do CECA. Dois comités internacionais muito relevantes no contexto internacional e que serão exigentes para ambos. Os meus votos de sucesso para ambos.

A seguir, não o posso deixar de referir, o Luís Raposo, agora presidente da Aliança Regional ICOM Europa, que fez um notável trabalho a apresentar uma linha de acção para revitalizar o trabalho desta importante aliança de diversos comités nacionais do ICOM. Aproveito para desejar ao Luís o maior sucesso nesta grande tarefa que tomou como sua e para lhe dar os parabéns por este importante cargo que deve ser visto como um orgulho para a comunidade museológica nacional.

Uma outra amiga e colega que não posso deixar de referir é a Marta Lourenço, arguente principal na minha tese de doutoramento, agora empossada como Presidente do UMAC, secretária da anterior direcção do ICOM Portugal e uma das vozes mais sábias que conheço sobre colecções e museus universitários. É a certeza, tal como acontece nos outros 3 casos, que o UMAC estará muito bem entregue, pelo menos, nos próximos 3 anos. Sucesso é o que desejo, uma vez mais, nas suas funções.

Além destes que merecem um destaque pelas funções que agora assumem, tive também o grato prazer de rever e conversar um pouco com bons amigos e colegas como a Aida Rechena, o Pedro Pereira Leite, o Mário Moutinho, a Lorena Sancho Querol, o Manuel Furtado Mendes, a Beatriz Crespo, entre alguns outros que vi nos corredores. A estes juntam-se os companheiros habituais de viagem, Fernando Cabral e a Natália Jorge, e a amiga Juliana Rodrigues Alves que sendo brasileira, juntou-se à comitiva portuguesa por ser aluna no doutoramento de Museologia da FLUP.

Foi, do que conheço, uma das melhores e mais profícuas participações portuguesas nas conferências gerais do ICOM. Não só pelas conquistas conseguidas pela museologia portuguesa, mas acima de tudo pela competência demonstrada e pela enorme participação relevante que tivemos em diversas áreas do panorama museológico internacional. Diria, que se não fosse as famosas “lunch-boxes” o ICOM 2016 teria sido perfeito.

Podem consultar aqui um pouco do que se passou em Milão através da #ICOMilano2016.

 

O CIDOC e ainda a participação portuguesa no ICOM 2016

CIDOC AMG

© Gabriel Bevilacqua

Tal como já tinha escrito aqui, este ano apresentei a minha candidatura à direcção do CIDOC. Não vou enumerar de novo as razões que me levaram a tomar esta decisão, poderão ler a minha declaração no link anterior, mas o certo é que consegui convencer os membros deste comité internacional, onde tanto já aprendi, a votar em mim. Ora portanto, este vosso amigo é agora membro ordinário (nunca tive um nome de cargo tão apropriado) da direcção do CIDOC.

É, antes de mais, um enorme orgulho para mim esta eleição. Mas acima de tudo é uma enorme responsabilidade que espero saber cumprir com a maior dedicação. A documentação de museus, tal como vários colegas frisaram, é uma tarefa fundamental para todas as actividades dos museus. No entanto, pode e deve servir o seu propósito de maneira mais eficiente e capaz, procurando lidar com as questões da gestão de informação nos museus de uma forma integradora e aberta, promovendo a acessibilidade e a utilização das colecções pelo público nas mais variadas formas e contextos. O contributo que tentarei dar diz respeito a uma maior cooperação entre comités internacionais e nacionais no sentido de todos contribuírem para melhorar a forma como documentamos e gerimos os nossos museus e colecções em benefício do público.

Estarei sempre à disposição de todos os que necessitarem de algo em que o CIDOC possa ser útil e terei todo o gosto ser o vosso canal de acesso à direcção deste comité internacional do ICOM.

 

A Conferência Anual do CIDOC

Importa salientar que os comités internacionais do ICOM aproveitam a conferência geral para realizar as suas próprias conferências anuais nos anos correspondentes. Esta situação tem algumas vantagens, mas no caso do CIDOC, um comité iminentemente técnico, levanta algumas questões operacionais por causa das reuniões dos grupos de trabalho. Pese embora estes constrangimentos, este ano o comité decidiu seguir o modelo de conferência completo, com reuniões de grupos de trabalho, chamada para artigos e assembleia geral. Além desta intensa actividade, decidiu também pela realização de um evento, fora de Milão, que procurou explorar, de forma mais prática algumas das questões em debate na documentação de museus. Ambos os programas (conferência e workshop) podem ser consultados na página do CIDOC.

Este ano tive a oportunidade de apresentar, com a Renata Motta, coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico (UPPM), da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, uma comunicação intitulada “Implementing Standards at Sao Paulo State Secretariat of Culture museums”. Nela procuramos mostrar o enorme trabalho de estudo e implementação de normas que a SEC-SP tem desenvolvido na última década, efectivado recentemente pela aquisição de um novo sistema de gestão de colecções para os museus que tutela, para o qual a utilização de diferentes normas (terminologias e procedimentos) tem sido um eixo de actuação central.

Além da nossa comunicação, como poderão ver no programa da conferência, foram apresentados trabalhos muito interessantes nas diferentes áreas da documentação museológica. Em breve darei nota mais detalhada sobre as diferentes sessões num texto que será publicado no boletim do ICOM Portugal. No entanto, quero aproveitar a ocasião para vos dizer que muito mais do que saber destas actividades por voz de terceiros, é fundamental que todos os que se interessem por esta (ou outras temáticas) participem nas conferências anuais dos diferentes comités. São momentos de partilha e aprendizagem fundamentais para todos os profissionais de museus.

Para melhor perceberem o que perderam aqui fica o que foi dito nas redes sociais com a #CIDOC2016.

 

Um agradecimento final

Antes de concluir este texto, não posso deixar de agradecer profundamente a todos quantos me felicitaram nos últimos tempos por telefone, mail, redes sociais, etc. pela minha eleição. É importante ter o vosso apoio, mas mais importante será conseguir que mais alguns possam participar activamente nos trabalhos que se desenvolvem no âmbito do comité. Para deixar apenas um exemplo da forma como podem participar, indico-vos o trabalho que está a ser desenvolvido pelo CIDOC na criação de uma Enciclopédia da Prática Museológica (Encyclopaedia of Museum Practice* no original) e que tem como objectivo reunir os termos e conceitos utilizados na nossa prática, apresentando as suas definições em diversas línguas. E sim… já temos lá o nosso Português e o Português do Brasil. Só faltam vocês a contribuir.

Acabou o ICOM 2016 e já se prepara o ICOM 2019 (será em Kyoto no Japão, por isso comecem a poupar).

* a ideia de criar esta Enciclopédia teve origem nesta importante, mas esquecida obra do ICOM Hungria e CIDOC.

Atenas e novos perfis de trabalho nos museus

Atenas e novos perfis de trabalho nos museus

Voltar a Atenas é um privilégio. Voltar a Atenas numa data em que os gregos decidiam o seu futuro como nação é uma oportunidade única e imperdível, por isso, devo confessar, estive em alerta durante a semana anterior à viagem para certificar que não ficaria em terra por overbooking, greves e demais problemas que as companhias aéreas costumeiramente nos levantam.

A viagem aconteceu, como calculam, há já algum tempo, mas só agora consegui tempo e disponibilidade para vos contar. A motivação foi profissional, tem sido quase sempre, mas já meti na cabeça que a próxima ida à Grécia, espero que com Atenas pelo meio, seja em férias para que possa aproveitar aquele mar e praias fabulosas que o amigo Ika tem postado frequentemente no Facebook. A motivação profissional prende-se com um convite que me foi endereçado pela Mapa das Ideias, há uns tempos atrás, que em boa hora aceitei, para participar no “advisory board” de um projecto europeu que tinha como propósito definir perfis de competência para as novas profissões que a ligação entre a Cultura e o Digital está a criar.

eCultSkills

O projecto designa-se eCult Skills, é um projecto co-financiado pela União Europeia, de transferência de inovação que procurou, através da investigação em 6 países europeus, empregos novos e emergentes que envolvam a utilização de tecnologia na área cultural para definir novos perfis profissionais que pudessem ser aplicados no contexto nacional e europeu tendo como perspectiva a integração deste novo tipo de profissões no contexto dos objectivos definidos pela União para 2020. O projecto é apresentado pelos responsáveis da seguinte forma:

Culture Industry development policies need to place strategic goals of a broader context, seeking enhanced quality of service that will enforce the existing workforce and eventually attract young people to the profession. In addition, European Training systems have to adapt and to anticipate actual and future employment opportunities in Cultural Jobs as they will represent an important and growing number of jobs over the coming years. In parallel, the use of ICT for access to cultural heritage is a societal demand supported by European policy makers. Existing professional and new recruits need to acquire ICT skills and attitudes of the ideal eCulture professional such as the abilities to be creative, versatile, able to manage digital knowledge, quality and excellence, technical and humanistic training. Thus Culture Jobs need to be enhanced with eSkills to become eCulture Jobs.

O resultado do projecto são os perfis de especialistas no sector cultural e as linhas orientadoras para a formação de profissionais nestes perfis que permitirão, no contexto europeu, a definição de programas de formação, comparação de currículos e de competências profissionais para processos de contratação nas entidades deste sector. Uns e outros resultados podem ser encontrados na página dos resultados do projecto e estão disponíveis em diversas línguas.

Estes resultados foram apresentados na reunião final do projecto, em formato de conferência internacional, onde também foram discutidos, de forma bem alargada por diversos profissionais do sector, os desafios digitais que se colocam actualmente aos profissionais de museus. O tema da conferência era “Digital Challenges for Museum Experts” e o programa, apesar de muito extenso para o pouco tempo, foi muito interessante e estimulou um conjunto de tópicos de discussão muito relevantes relativamente à indefinição que se sente existir sobre a aplicação da tecnologia (que tecnologia, quando aplicar, que papel deve ter nas instituições, que competências são necessários, etc.) no sector cultural.

Eu tive o prazer de apresentar (e depois discutir) uma comunicação intitulada “Museum Documentation: New Skills for a Digital World” e de presidir a uma mesa que discutia novas tendências e desafios nas competências necessárias para a cultura face ao desenvolvimento tecnológico. Numa e outra oportunidade a experiência foi muito enriquecedora e permitiu confirmar e conhecer desafios emergentes colocados, principalmente, pela definição do papel da tecnologia nas instituições, ou seja, a velha discussão sobre a visão da tecnologia como um instrumento e não um fim em si mesmo. Fiquei com a ideia que a primeira está, felizmente, a ganhar cada vez mais terreno!

Julgo que a organização ficou bem contente com os resultados da conferência. O nível de participação foi muito alto e, como poderão ver pelas caras de algumas das fotos, julgo que a satisfação dos participantes também foi alta.

O Museu da Acrópole

Selfie em Atenas

Selfie com as meninas Atenienses

Além da conferência tive, desta vez, a oportunidade de visitar o Museu da Acrópole que ainda estava em construção (ou em projecto) da última vez que visitei Atenas. O museu tem uma ligação espacial com a Acrópole que é muito bem conseguida. Em qualquer momento vemos o local de origem das peças que temos à nossa frente e quando isso não acontece, damos alguns passos e temos essa sensação de pertença. A parte em que me emocionei (gosto sempre de me emocionar num museu) foi quando estive ao lado das Cariátides (do Erecteion) que quase me fizeram chumbar numa oral de História de Arte por ter a pior memória do mundo para nomes (este nunca mais esqueci)! Tirei uma selfie para mais tarde recordar e partilho-a com vocês agora!

Embora tivesse gostado muito do museu, da organização da exposição (um pouco caótica, mas interessante) e de algumas soluções de museografia, não gostei nada, mesmo nada, da ausência de informação nas tabelas de cada objecto. Apenas continham nome, data, local de origem e pouco mais… muito pouco para quem, como eu, tem um conhecimento mínimo do contexto e história do local.

Uma nota final para três coisas: pessoas, comida e bebida! Cada vez mais fã da gastronomia grega e fã, por completo, do bom vinho que por lá se bebe. As pessoas, já o sabia, são determinadas, trabalhadoras, inteligentes e merecedoras do nosso apoio… não é por culpa do povo Grego que o país está naquela situação!

MUX.2015 – Universidade de Aveiro

MUX.2015 – Universidade de Aveiro

Um excelente dia de trabalho e partilha com colegas da Universidade de Aveiro (e de outros locais) começou de forma excelente com a apresentação do Sam Brenner sobre o trabalho que o Cooper Hewitt desenvolveu, enquanto se encontrava encerrado ao público para obras, para conceber uma nova experiência na visita ao museu que permitisse uma exploração da colecção de forma imersiva e sem grandes distrações.

A “New Cooper Hewitt Experience” é apresentada assim no site do do museu:

Explore the digitized collection on large touchscreen tables; draw your own wallpaper designs in the Immersion Room; solve real-world design problems in the Process Lab; discover how the Carnegie Mansion worked as house; and understand how donors have influenced the museum’s collection over the last 100 years.

“Play designer” on 4K resolution touchscreen tables, developed by Ideum, and feature specialized interactive software designed by Local Projects. The 84-, 55-, and 32-inch tables use projected capacitive touch technology – the same technology found in popular tablets and smart phones. The ultra-high-definition resolution allows you to zoom in on objects to see minute details like never before.

The Collection Browser is available on seven tables installed throughout all floors of the museum, giving you access to thousands of objects in the museum’s collection, including those currently on view in the galleries. The largest tables allow up to six visitors to simultaneously explore high resolution images of collection objects, select items from the “object river” that flows down the center of each table, zoom in on object details, learn about its history, and related objects organized by design theme and motif. You can also draw a shape that will bring up a related collection object, or try their hand at drawing simple three-dimensional forms.

In the Hewitt Sisters Collect exhibition on the second floor, the People Browser application, focuses on the relationship between donors and objects in the collection. You can navigate by donor, read biographical details and learn about how objects were collected in the early 20th century.

Another screen on the second floor reveals the history of the Carnegie Mansion before it became the Cooper Hewitt. You can navigate the Mansion History application using the original floor plan of the building and browse through architectural details, original fittings and fixtures, and the quirks of the mansion’s original residents.

Esta nova experiência tem como aparelho de eleição uma “pen” que permite criar (através da interacção com os dispositivos do museu) e coleccionar os objectos que mais interessam a cada visitante. O conceito é, na minha opinião, fabuloso (e dispendioso também segundo uns cálculos simples que fiz) e representa o que de melhor se pode fazer na ligação do visitante com a colecção física e virtual (ou online se preferirem). Melhor do que poderei dizer para falar sobre esta nova experiência no Cooper Hewitt, vejam os seguintes vídeos e digam de vossa justiça.

https://vimeo.com/121152071

É tão “cool” não é? (mesmo sabendo das críticas que se podem fazer). Mas vejam lá este sobre o conceito da “pen” de que vos falei acima.

Levante a mão quem quiser dar um salto à 5ª Avenida e trocar o Guggenheim por uma tarde no Cooper Hewitt!

Além deste interessante projecto (já concretizado) os resultados do trabalho desenvolvido até agora pelo projecto CIDES.PT, com um interessante produto, apresentado pelo Vasco Branco, para explorar virtualmente as colecções de design português, que têm vindo a ser exploradas como tema principal através de diversas abordagens (museologia, design, museografia, etc.) também apresentadas na conferência pelos diferentes investigadores do projecto (um especial destaque para a apresentação do Gonçalo Gomes intitulada “Uma História Participada do Design Português: o contributo das tecnologias sociais.” com uma abordagem muito interessante sobre o papel dos media sociais num projecto de investigação que irei reter para futuro) e o excelente trabalho em curso nos serviços de documentação e museologia da UA com a documentação das colecções da Universidade fizeram com que o dia de ontem tenha sido de aprendizagem constante!

Um enorme obrigado à organização (abraço Rui e Cristina)! Hoje não pude ir, mas certamente vou arrepender-me!

Design, tecnologia, comunicação e museus – MUX.2015

Design, tecnologia, comunicação e museus – MUX.2015

Nunca um título de um post meu resumiu de forma tão linear alguns dos tópicos que mais me interessam. Design, tecnologia, comunicação em museus é o tema do MUX.2015 – Museus em experiência que terá lugar na Universidade de Aveiro (com entrada livre… toca a aproveitar) nos próximos dias 29 e 30.

Este encontro, que é uma organização conjunta do DECA – Departamento de Comunicação e Arte e dos Serviços de Biblioteca, Informação Documental e Museologia da UA, pretende “… reunir especialistas, investigadores e profissionais nas áreas da museologia, do design, das ciências e tecnologias da comunicação para debater e refletir sobre o presente e o futuro da relação entre a museologia e da museografia em Portugal.” E como se tal não bastasse para despertar o vosso interesse, acrescenta ainda a organização: “A integração a montante do design e das tecnologia da comunicação nas estratégias museológicas é cada vez mais determinante para cativar e envolver novos públicos de uma forma mais interativa com os artefactos, os temas e as narrativas museológicas.”

Do programa permitam-me que destaque (sem qualquer desprimor para as restantes intervenções) a participação de Sam Brenner (Interactive Media Developer na Cooper Hewitt, Smithsonian Design Museum) pela oportunidade de ouvirmos alguém de uma instituição que tem sido determinante na mudança de paradigma na relação entre museus, web e tecnologia (incluíndo aqui também o design e a comunicação). No entanto, há mais… muito mais e com a elevada qualidade com que o DECA nos tem vindo a habituar.

Eu estarei por lá a falar sobre o futuro do SPECTRUM PT (a seguir ao almoço e antes do intervalo é uma maldade que me fazem) e espero pela vossa presença e contributo para o debate que possa suscitar a minha intervenção.

Não percam!

Treinamento CIDOC, SPECTRUM PT e Seminário em BH

Treinamento CIDOC, SPECTRUM PT e Seminário em BH

O título deste post resume duas semanas intensivas do outro lado do Atlântico onde conheci melhor a realidade dos museus brasileiros, através dos que os vivem intensamente: os seus profissionais.

Começo por agradecer a todas as instituições responsáveis pelo Treinamento CIDOC, às instituições responsáveis pelo projecto SPECTRUM PT (Português) no Brasil e à organização do Seminário realizado em Belo Horizonte pela oportunidade de ter participado nestas três iniciativas. Em todas elas aprendi muito e a partilha das experiências de todos foi, na minha opinião, o maior factor de sucesso para as três. Não posso deixar de agradecer, e perdoem-me por particularizar, ao meu amigo Gabriel Moore Bevilacqua que tem conseguido mobilizar um conjunto de excelentes profissionais e recursos para desenvolver uma área onde os museus, quase em todo o mundo, são especialmente deficitários: a documentação e gestão das suas colecções.

Treinamento CIDOC

Curso CIDOCO curso de formação do CIDOC (Treinamento CIDOC) preencheu por completo a primeira semana em São Paulo. A recepção aos alunos, imaginem vocês, decorreu no domingo dia 17 de Agosto e contou com a presença de quase todos os participantes no curso. Por si só penso que este facto demonstra o interesse e procura que existe para este tipo de iniciativas no Brasil. Julgo que ao todo este curso tinha 90 alunos, divididos entre uma turma de módulos básicos e duas turmas dos módulos intermédios e avançados. O programa, caso não saibam, é desenvolvido pelo CIDOC juntamente com o Museu da Texas Tech University e teve como parceiros, nesta segunda edição no Brasil, com a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Instituto de Arte Contemporânea e o Centro Universitário de Belas Artes. Eu tive a oportunidade de participar no curso como professor, a convite dos organizadores, tendo a responsabilidade dos módulos 214 (Catalogação de acervos acumulados e recuperação de sistemas descontinuados), juntamente com a Ana Panisset, e 311 (Aquisição de um sistema automatizado: “software de prateleira” ou desenvolvimento sob medida?) com o Stephen Stead. Imaginem lá a responsabilidade que caiu nos meus ombros num e noutro.

O “desenho” deste curso e dos seus módulos pretende suprir as necessidades de formação nesta área, dando resposta às questões que os profissionais de documentação em museus enfrentam no seu dia a dia. Como escolher um sistema, como implementar uma campanha de inventário, como activar um sistema não utilizado, como migrar dados de um sistema para outro, como digitalizar um acervo, como planear o controlo de movimentos ou o controlo de inventário, entre muitas outras, são exemplos das questões que se pretendem desenvolver através de um método específico e centrado na experimentação e participação activa dos alunos durante as sessões de 4 horas.

Para além da minha participação como professor, como poderão compreender, não perdi a oportunidade de assistir a outros módulos e aprender e discutir um pouco mais sobre temas que me interessam particularmente e sobre os quais não temos, como gostaria, uma discussão alargada em Portugal. Uma possibilidade que ficou em aberto, das conversas que tive com a direcção do CIDOC e com os colegas brasileiros da organização, foi a eventual realização deste curso de formação cá em Portugal. Em breve espero poder dar novidades sobre este assunto.

Uma última palavra sobre o curso é directamente sobre os alunos/colegas que aí conheci e participaram nas aulas e outras actividades do curso. Todos vocês foram excepcionais e aguentaram uma semana intensa de trabalho. Fizeram-no sempre facilitando a nossa tarefa enquanto professores, partilhando a vossa experiência pessoal sobre os assuntos discutidos e demonstrando um espírito crítico com uma abertura notável. Foi um privilégio para mim ter aprendido com todos vocês e partilhado um pouco da minha experiência profissional no contexto português. Espero sinceramente voltar a ter a oportunidade de estar com vocês e teremos certamente oportunidades para o fazer.

Workshop SPECTRUM PT e lançamento da tradução portuguesa da norma SPECTRUM

Equipa SPECTRUM PTEsta, como podem compreender, é a menina dos meus olhos. Já passaram alguns anos desde que falei pela primeira vez com o Nick Poole e com o Gordon McKenna sobre o processo de internacionalização desta norma. Essa conversa, tal como quase tudo que acontece na área da documentação em Museus, aconteceu numa conferência do CIDOC (mais tarde perceberão) em Atenas, Grécia. Na altura, pareceu-me ser um excelente tema para o projecto de doutoramento que estava a iniciar e, mais tarde, propus à Collections Trust a possibilidade de uma parceria com uma instituição portuguesa (viria a ser o Museu de Ciência da Universidade de Coimbra) para a tradução e adaptação da norma ao contexto nacional. Mais tarde, na conferência do CIDOC em Sibiu, Roménia (percebem como tudo se passa no CIDOC), conheci alguns colegas brasileiros, entre eles o Gabriel Moore Bevilacqua, e começamos a estabelecer aquilo que viria a ser a parceria concretizada no projecto SPECTRUM PT (de Português e não de Portugal, entenda-se) que teve como objectivo principal a publicação e adaptação aos contextos de Brasil e Portugal da norma.

No final deste processo, que resumi aqui em poucas palavras, e que contou com o contributo de diversos profissionais portugueses e brasileiros e com o importante apoio da Collections Trust, do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, da Pinacoteca e do Museu da Imigração do Estado de São Paulo e do Museu do Café, em Santos, foi publicada a tradução para português da norma SPECTRUM que pretende ser, a partir de agora, um documento único, desenvolvido em parceria entre Portugal e Brasil, à disposição dos profissionais de ambos os países como uma ferramenta que facilite os processos de gestão e documentação das colecções dos museus. Falarei um pouco mais sobre este documento, e sobre o projecto que o acompanha a partir de agora, num outro post específico sobre o assunto.

O workshop que realizamos após o lançamento da norma e de um outro volume da colecção “Gestão e Documentação de Acervos: Textos de referência” que contempla a tradução para português da Declaração de Princípios de Documentação em Museus e das Diretrizes Internacionais de Informação sobre Objetos de Museus: Categorias de Informação do Comité Internacional de Documentação (CIDOC-ICOM) e no qual participaram colegas de diferentes museus brasileiros teve como objectivo reflectir sobre a utilização destes documentos normativos no contexto da documentação e sistema de informação dos museus. Espero sinceramente que possa ter servido para desumidificar este tipo de documentos e desmontar um pouco a complexidade utilizada frequentemente para os apresentar.

Seminário sobre documentação como ferramenta de preservação dos acervos nos museus.

Casa Fiat de Cultura - BHNão será demais, penso eu, referir a importância e actualidade do tema deste seminário. A documentação como uma ferramenta de preservação das colecções é uma ideia que penso que todos os colegas defenderão, mas que está longe de ser na prática, devido aos atrasos existentes nesta área de trabalho dos museus, uma realidade. O seminário pretendeu levantar questões sobre este assunto relacionadas com as políticas (difusão e gestão de acervos), formação e o papel desempenhado pelas instituições internacionais do sector como o CIDOC, por exemplo, na procura de soluções para melhorar a documentação dos museus. A minha contribuição pretendeu reflectir um pouco sobre o papel da investigação em cursos de pós-graduação, tendo como ponto de partida o programa de pós-graduação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (como aluno e professor) e a produção científica que aí se fez ao longo destes anos. O seminário contou com a presença de diversos especialistas na área (Nick Crofts, Nick Poole, Stephen Stead, Gabriel Moore Bevilacqua, Fernando Cabral, Yaci-Ara Froner, Leonardo Castriota, Joaquin Barriendos, Flávio Carsalade, Renata Baracho, Cristina Ortega, Lina Nagel, Ana Panisset) e com discussões bastante amplas sobre este assunto como poderão imaginar pelo programa. Em breve estará disponível o livro com as diferentes comunicações apresentadas.

Foram, como disse no início, duas semanas intensas de aprendizagem, discussão e partilha. Os museus, a museologia e os profissionais brasileiros são uma comunidade muito activa, com problemas semelhantes aos nossos, em escala diferente, mas encarados com um positivismo e energia que dá gosto ver. Espero sinceramente voltar lá e, ainda mais, ter a oportunidade de convidar alguns dos colegas brasileiros para virem a Portugal para partilhar connosco as suas experiências, projectos e realidade.

Para terminar queria deixar, uma vez mais, um enorme obrigado a todos aí no Brasil. Para vocês especialmente fica a vontade de tomar “um chopes e dois pastel” em breve na movimentada São Paulo.

 

Cultura nas Redes: pós-conferência

Cultura nas Redes: pós-conferência

Ando num rodopio que por vezes me parece que sou o coelho da Alice no País das Maravilhas, sempre a correr e sempre atrasado, sem tempo para quase nada, tal a quantidade de assuntos e questões que tenho pendentes. No entanto, não queria deixar passar mais um dia sem deixar aqui registado um enorme agradecimento à Acesso Cultura pelo convite que me endereçou para participar na sua conferência anual, realizada na Fundação Calouste Gulbenkian, na passada segunda-feira, dia 14 de Outubro.

O agradecimento é devido não por me terem dado a oportunidade de partilhar a minha visão sobre Redes Sociais e Museus, mas sim pela oportunidade que me deram de aprender imenso com os outros oradores, entre os quais tenho de destacar, esperando que não me levem a mal os restantes, o Marc Sands (Tate) e a Linda Volkers (Rijksmuseum) e as excelentes apresentações que fizeram sobre o fantástico trabalho nas redes sociais daqueles dois museus. Eu tenho sempre presente que nada como um bom exemplo para aprender e melhorar a nossa actuação nessa área.

A Acesso Cultura e a Fundação Calouste Gulbenkian tiveram o cuidado de gravar a transmissão em directo da conferência (via Livestream) e os vídeos estão disponíveis aqui.