Selfie crash!

Selfie crash!

Um dia tinha que acontecer! Ainda há uns tempos venerava eu o Desterrado no MNSR e pensei para mim “este sacana é tão fabuloso que não tarda a aparecer numa selfie com alguém!” Ou então acaba em vítima de um “selfie crash”!

Selfie Crash

© Expresso | DR

O acidente com a escultura de D. Sebastião da fachada da Estação do Rossio é, para começo de conversa, estúpido! Não consigo compreender, por muito que tente, aquilo que moveu a vontade da pessoa que se queria fotografar ao lado do nosso rei desaparecido. Acreditem que tentei, mas escapa-me por completo aquilo que leva alguém a subir para ali só para ficar com um registo ao lado da escultura, quando poderia muito bem fazer algo parecido sem ter que despender o esforço na curta escalada! Seria certamente para fazer  um “faceswap” no MSQRD, porque se fosse para provar à mãe ou à namorada que estava mesmo no Rossio bastava uma selfie sem crash! Mas todos sabemos que há um monte de rapaziada com esta propensão! E quem não sabe, veja o excelente programa “Science of Stupidity” que fica informado sobre esta franja enorme da população.

Tenho uma curiosidade enorme em saber, da boca do próprio, o que o motivou. Sinceramente acho que não tinha qualquer noção do risco e, muito menos, do valor patrimonial e histórico que a escultura representa dado tratar-se de um monumento nacional já classificado há algum tempo (certamente nem saberia que é um monumento nacional… ou se calhar desconhece o conceito de monumento nacional).

Embora perceba que este caso específico mereça a atenção da comunicação social e se devam tirar as consequências judiciais ajustadas, julgo que o caso nos deveria fazer reflectir sobre qual o valor do nosso património histórico para a nossa população e para os turistas que nos visitam. É meramente estético? Percebemos o que significa a representação da nossa história? Temos noção do que representa o património? É importante para a sociedade actualmente? É meramente ilustrativo? Ou, pelo contrário pode contribuir para mudanças sociais através de uma reflexão sobre os temas que invoca?

Em duas ou três conversas com amigos fora da área percebo que a indignação é relativa. Há quem perceba e critique o causador do “selfie crash”, há quem pergunte porque não estava a escultura presa e há quem pergunte “mas quem raio era D. Sebastião?” E vocês? O que acham sobre este caso?

9º Encontro da Sistemas do Futuro – São Paulo

9º Encontro da Sistemas do Futuro – São Paulo

Este ano a Sistemas do Futuro irá organizar o encontro de utilizadores em São Paulo, Brasil, nos próximos dias 19 e 20 de Maio, com o apoio da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Este evento, que já vai na sua nova edição, pretende promover e divulgar projectos em que a empresa colabora, contribuindo assim para a partilha de experiências e para potenciar possíveis colaborações e parcerias entre instituições e investigadores na área dos museus e património cultural.

No site do projecto a Sistemas do Futuro descreve assim o evento:

Estes encontros são organizados pela Sistemas do Futuro sempre em parceria com uma entidade que acolhe os participantes e tem permitido a realização em diferentes locais de Portugal e Espanha. Este ano o parceiro da organização do evento é a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, permitindo pela primeira vez a realização do evento no Brasil.

Em 2016, os temas do encontro são: Plataformas de gestão, integração e divulgação do patrimônio; Patrimônio imaterial, oral e da escrita; Terminologia e vocabulários controlados. Cada tema incluirá várias comunicações seguidas de debate e o encontro encerra com uma mesa redonda dedicada à documentação do patrimônio cultural e o sistema atual de ensino superior.

É um encontro que conta normalmente com a participação de vários museus e investigadores na área da documentação e divulgação do património cultural e, tal como aconteceu nas anteriores edições, terá este ano um programa dedicado aos temas acima mencionados e onde serão apresentados diversos projectos nos quais a Sistemas do Futuro tem uma participação activa.

8º Encontro Sistemas do Futuro

8º Encontro Sistemas do Futuro

As inscrições no Encontro são gratuitas, mas estão condicionadas aos lugares disponíveis no auditório da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo onde se irá realizar o evento.

Imagino que muitos dos meus amigos que costumam ir a estes encontros não possam comparecer neste, mas caso possam teria muito gosto em os rever a todos por lá.

Para mais informações:

Secretariado

Juliana Alves
juliana@sistemasfuturo.com

Localização do evento

Auditório – Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo
Rua Mauá 51, 1º andar
São Paulo – Brasil

5 motivos para ser membro do ICOM

5 motivos para ser membro do ICOM

icomcard

Uma colecção de vinhetas

Este ano, segundo as vinhetas que estão na parte de trás do meu cartão do ICOM, faz 12 anos que sou membro desta organização filiada da UNESCO que reúne mais de 35.000 membros entre instituições e profissionais de museus de 136 países/territórios, que conta com 119 comités nacionais e 30 comités internacionais dedicados a diversas áreas de interesse/estudo/investigação em museus e museologia.

Ao longo destes 12 anos aprendi imenso nesta organização, mas gostava de partilhar com vocês os motivos que justificam, na minha opinião, a adesão e manutenção como membro de uma organização desta natureza.

 

Uma lista com os meus 5 motivos

 

1. A ética profissional – O ICOM é uma rede de profissionais de museus que se assume como uma força de liderança em termos de ética profissional. Ou seja, o ICOM é a instituição que mais se aproxima das características de uma Ordem profissional, com a vantagem de o ser a nível internacional, sem alguns dos aspectos negativos relacionados com um corporativismo fechado e centrado apenas nos aspectos de defesa de determinada profissão. A publicação do Código de Ética do ICOM (PT) e a sua tradução por vários comités nacionais (recordo que a organização apenas tem 3 línguas oficiais – Inglês, Francês e Espanhol) tem permitido, ao longo dos anos, uma consistência e regulação informal daquilo que são os deveres profissionais de quem trabalha em museus.

 

2. O desenvolvimento da Sociedade através dos Museus – O ICOM é, apesar das dificuldades, um fórum de debate e reflexão com diferentes perspectivas sobre o papel social que o museu pode e deve desempenhar na sociedade actual. Promove um debate, ainda que com algumas falhas, sobre o papel de mediação que o museu deve assumir entre o património cultural e o público, tem programas associados com o turismo cultural, procura debater, recorrendo em grande medida à celebração do Dia Internacional de Museus, temas que promovem a mudança e a procura de uma sociedade mais aberta e equitativa.

 

3. A formação dos novos profissionais – O simples facto de ser uma rede de profissionais, ou seja de pares, é relevante para que alguém que se inicie na profissão se torne membro. Haverá melhor forma de aprender com o exemplo de outros colegas, com o debate que uma rede desta natureza pode promover ou com o conhecimento partilhado por colegas de todo o mundo que lidam, ou já lidaram, com os problemas que nos são colocados no início da carreira? Eu aprendi as bases sobre documentação em museus com os artigos e apresentações de outros membros do CIDOC e muito sobre outras áreas com colegas do comité nacional português que a elas se dedicam!

 

4. Normas e guias práticos – no seguimento do ponto anterior (e talvez aquilo que é mais procurado por um novo profissional o ICOM), o desenvolvimento, pelos comités internacionais de diferentes especialidades, de normas e guias práticos que nos auxiliam a cumprir com rigor as tarefas atríbuídas aos profissionais de museus. Não só dos que são reconhecidos pelo conselho executivo do ICOM, mas também por outros, de carácter mais específico, que são desenvolvidos e publicados por comités internacionais e nacionais, como é o caso da Declaração de Princípios de Documentação em Museus publicada em 2012 pelo CIDOC (e traduzida para Português pelos colegas do SISEM-SP em São Paulo, Brasil).

 

5. A rede de profissionais (e amigos) – não será o último dos motivos que poderia ainda apontar, mas é, talvez a par da ética profissional, um dos mais relevantes para mim. Ao longo deste ano conheci e aprendi com inúmeros profissionais de museus de todo o mundo que me fizeram olhar para a minha profissão de forma mais aberta e abrangente. Conhecer pessoas de outras latitudes e longitudes, com outras expectativas, com formação distinta, das mais diversas culturas fazem-nos crescer a nível profissional e, principalmente, a nível pessoal. Em boa verdade, nestes 12 anos, conheci profissionais de países como o Bangladesh, Japão, Chile, Quénia, Zimbabwe, África do Sul, Angola, Moçambique, Brasil, Espanha, Reino Unido, Suíca, Alemanha, Estados Unidos da América, Canadá, França, Estónia, Índia, Rússia, Itália, Grécia, Marrocos, Emiratos Árabes Unidos, Austrália, Eslovénia, Dinamarca, Roménia, Bulgária, China, entre outros. Também nestes 12 anos e por conta da participação em conferências internacionais do CIDOC ou noutros fóruns que conheci através do CIDOC estive em e conheci (ainda que brevemente) países como o Chile, a Roménia, a Grécia, o Reino Unido, o Brasil ou a Alemanha e fico roído por não poder ter ido no ano passado à Índia! O que aprendi com essas pessoas e nestes países dá-me uma visão mais completa sobre as exigências da minha profissão! Os amigos que fiz nestas andanças, fazem de mim, sem qualquer falsa modéstia, muito melhor pessoa.

 

Certamente poderia apontar mais motivos. Estes são os 5 primeiros que me ocorrem sempre que me perguntam porque faço parte do ICOM e, porventura, não serão os que vos farão aderir ao ICOM ou os que fazem com que outros membros se tenham inscrito e se mantenham membros, mas se precisarem de outros poderão ver as 3 razões que o próprio ICOM aponta para ser membro (entre elas há descontos nos museus e nas lojas dos museus) e, ainda, o facto de ser dada preferência às inscrições dos membros em eventos tão interessantes (e importantes) como a conferência internacional “Museums: one object, many visions?” que terá lugar no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, no próximo dia 22 deste mês e que trará a Portugal o presidente do ICOM.

Se este texto suscitou o vosso interesse em ser membro do ICOM, vejam como podem fazer a inscrição e as condições exigidas aqui.

Municipalização dos museus do extinto IMC

Municipalização dos museus do extinto IMC

É oficial! A partir do próximo dia 1 de Agosto teremos um museu do extinto IMC (Instituto dos Museus e Conservação) tutelado por uma Câmara Municipal. A notícia não é nova e já há algum tempo o assunto era comentado em diversos meios (redes sociais, conferências, encontros, jornais, etc.) e a tutela da Cultura já tinha assumido que seguiria esta linha de actuação em todos os casos onde houvesse demonstração de interesse por parte das autarquias.

Em causa está o Museu de Aveiro, frequentemente chamado Museu de Santa Joana em Aveiro, muito por causa da ligação umbilical que os aveirenses, cagaréus ou ceboleiros, têm com a a santa padroeira da terra, a filha de Afonso V, Princesa Santa Joana que está sepultada no coro baixo do antigo Convento de Jesus, actual Museu de Aveiro. Devo dizer, antes de mais, que a minha relação com este museu poderá prejudicar a minha objectividade na análise desta questão, mas tentarei, acima de tudo, transmitir as minhas reflexões sobre o tema (municipalização dos museus) sem particularizar mais do que o necessário.

A dança das tutelas

Em Portugal sofremos de uma forte necessidade de alterar as coisas. Fazemos estas alterações de forma constante, e grave, em diversos sectores. Na educação fazemos reformas de ano para ano, na saúde é tão constante que eu fico perdido sem saber o que chamar ao Centro de Saúde da minha área de residência, o sistema fiscal muda de tal forma que de ano para ano temos que fazer uma especialização em fiscalidade para perceber que impostos devemos pagar, quando devemos pagar e por que meios os devemos pagar.

A Cultura não é, infelizmente, excepção. Desde que trabalho em museus (1996) já tivemos a tutelar os museus e a política museológica nacional o IPM (até 1992 existia o IPPC), o IMC e agora a DGPC. Mudamos, em menos de 25 anos, de uma política que centralizava todo o património histórico e cultural numa só tutela, para políticas definidas para cada área específica (IMC, IPPAR, IPA, etc.), e depois voltamos ao local de partida. Fizemos esta mudança apenas, em meu entender, por motivos financeiros e sem qualquer avaliação ao trabalho realizado no modelo prévio. Seria aquilo que poderíamos chamar de política do cofre cheio ou cofre vazio. Estando cheio criamos novos organismos, mais específicos, estando vazio, toca a encolher o estado, porque é gordo e tem colesterol, mas nem sequer vemos se é colesterol bom ou mau. Corta-se e pronto!

Nesta dança de tutelas, motivada agora por questões financeiras, o estado central encontrou o pretexto ideal para desagregar o conjunto de museus que era tutelado pelo IMC: a descentralização! Um dos chavões políticos mais caros para o bolso dos contribuintes e dos que menos resultados tem dado, se verificarmos, a título de exemplo, a autonomia limitada das direcções destes museus. Nessa tentativa de descentralização entendeu-se que seria melhor que alguns museus, deveriam ser tutelados pelas Direcções Regionais de Cultura (um organismo descentralizado que depende directamente da Secretaria de Estado da Cultura) tendo em conta o carácter menos significativo desses museus. A justificação dada era exactamente essa: esta alteração organizativa “Permite que nos concentremos nos museus mais significativos“.

Nem sequer entrarei aqui na velha questão da geografia associada aos museus “mais significativos”. É um facto com que vivo bem, devo dizer. Mas contesto veementemente a classificação arranjada para justificar esta mudança tutelar. E contesto, da mesma maneira, uma mudança em que a tutela se mantinha (todos se mantinham dependentes da SEC), mas que introduzia critérios de gestão, programa, políticas, etc. distintos de acordo com os interesses, políticas e perspectivas de cada Direcção Regional de Cultura, sem que um organismo mais especializado na área do património cultural (que tem como obrigação definir e implementar a política museológica nacional) tivesse uma palavra a dizer, pelo menos formalmente, no que diz respeito a museus dependentes do estado central.

A minha posição nesta matéria não é, devo dizer, contra uma reorganização administrativa dos museus e das suas tutelas. Devo dizer até que é/era bastante favorável a essa reorganização do “tecido museológico português”, no entanto, não me acredito que esta possa/deva ser feita de forma fechada, sem a participação de directores, profissionais, associações do sector, tutelas (estado central, direcções regionais, autarquias, empresas, associações, fundações, etc.) e sem uma discussão participada pelo maior número de cidadãos interessados nesta matéria.

A municipalização dos museus

As autarquias não são o mal da nação! Aliás eu sou um defensor acérrimo do papel das autarquias actualmente e do papel importantíssimo que desempenharam ao longo da História do país. Conheço várias que têm feito um trabalho notável na área e de cabeça poderia citar os casos de Penafiel, Santa Maria da Feira, Portimão, Seixal, Vila Franca de Xira, Ílhavo, entre alguns outros como exemplos internacionais de sucesso. Vejo com naturalidade o desejo dos autarcas e das populações de determinado concelho de criar museus e instituições que preservem e promovam a sua história, tradições e cultura. Vejo-o ainda com mais naturalidade se esse desejo se incluir num plano maior de desenvolvimento do território, no qual o museu é uma das peças, juntamente com a oferta turística, as condições de alojamento, a preocupação com a educação, etc. Portanto não vejam neste meu texto, qualquer opinião menos favorável aos museus municipais ou à tutela municipal dos museus, certo?

Pese embora essa minha opinião favorável sobre as autarquias, não posso estar de acordo com o processo de municipalização dos anteriores museus tutelados pelo IMC e procurarei, de seguida, explicar as minhas razões de forma sucinta.

Em primeiro lugar a minha discordância tem a ver com o caracter e propósito de diversos museus que poderão vir a passar pelo mesmo que acontece em Aveiro. O Museu de Aveiro e as suas colecções, bem como o Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa (que não sei se poderá passar por este processo também), ou mesmo os museus da Guarda e de Lamego têm nas colecções bem mais do que uma representação do território concelhio em que se situam. No caso de Braga, se bem me recordo, as suas colecções integram um conjunto de bens arqueológicos de todo o norte do país. Ora imaginem que, apenas por casmurrice, que uma das autarquias do norte do país não concordasse com que a gestão de património arqueológico encontrado no seu território fosse feita por uma autarquia vizinha. Não teria direito a pedir a restituição desse espólio? Quem fala de arqueologia poderia falar sobre outro tipo de património. Esse caracter regional, nalguns casos mesmo nacional, do museu e das suas colecções é um dos obstáculos que encontro neste processo.

Um segundo ponto tem que ver com uma “canibalização” dos museus já tutelados pelas autarquias interessadas neste processo. Em Aveiro, por exemplo, o que acontece à restante rede museológica do concelho? O Museu da Cidade de Aveiro fica em que ponto, como se posiciona, agora que entra na rede o Museu de Aveiro? Dir-me-ão que são museus distintos, que um não é um museu da cidade, mas isso leva-nos ao caracter do museu e sobre essa questão falei no parágrafo anterior. São diferentes sim, mas por isso é que eu acho que dificilmente podem ter a mesma tutela, mantendo as características actuais. Haverá casos, como as Caldas da Rainha ou a Nazaré, em que a questão não se colocará da mesma forma, mas não os conheço tão bem para afirmar que uma tutela municipal possa ser viável. No entanto, julgo que o Museu José Malhoa ou a Casa-Museu Anastácio Gonçalves teriam a ganhar se estivessem sob uma mesma tutela, não vos parece? Ainda que fosse a Direcção Regional de Cultura…

Por último, a minha discordância com esta alteração de tutelas, prende-se com a falta de visão estratégica de médio e longo prazo para os museus. Não é mal de que o país padeça só com este governo, antes pelo contrário, mas este governo e a reacção à crise económica contribuiu para um desinvestimento total no sector dos museus e, consequentemente, para uma delapidação do bom trabalho que a Rede Portuguesa de Museus fez (e poderia estar a fazer).

Apenas como nota final, esperando que seja apenas uma nota final, notem que a reunião da Câmara Municipal de Aveiro na qual se aprovou, por votação, a delegação de competências no município, não contou com a presença do vereador da cultura de Aveiro tal como é noticiado aqui. Será de nos preocuparmos?

* A Associação de Amigos do Museu de Aveiro é também contra este processo. E os argumentos parecem-me também de ter em conta.

 

Imagem: David Machado (Own work) [CC BY-SA 3.0], via Wikimedia Commons

Design, tecnologia, comunicação e museus – MUX.2015

Design, tecnologia, comunicação e museus – MUX.2015

Nunca um título de um post meu resumiu de forma tão linear alguns dos tópicos que mais me interessam. Design, tecnologia, comunicação em museus é o tema do MUX.2015 – Museus em experiência que terá lugar na Universidade de Aveiro (com entrada livre… toca a aproveitar) nos próximos dias 29 e 30.

Este encontro, que é uma organização conjunta do DECA – Departamento de Comunicação e Arte e dos Serviços de Biblioteca, Informação Documental e Museologia da UA, pretende “… reunir especialistas, investigadores e profissionais nas áreas da museologia, do design, das ciências e tecnologias da comunicação para debater e refletir sobre o presente e o futuro da relação entre a museologia e da museografia em Portugal.” E como se tal não bastasse para despertar o vosso interesse, acrescenta ainda a organização: “A integração a montante do design e das tecnologia da comunicação nas estratégias museológicas é cada vez mais determinante para cativar e envolver novos públicos de uma forma mais interativa com os artefactos, os temas e as narrativas museológicas.”

Do programa permitam-me que destaque (sem qualquer desprimor para as restantes intervenções) a participação de Sam Brenner (Interactive Media Developer na Cooper Hewitt, Smithsonian Design Museum) pela oportunidade de ouvirmos alguém de uma instituição que tem sido determinante na mudança de paradigma na relação entre museus, web e tecnologia (incluíndo aqui também o design e a comunicação). No entanto, há mais… muito mais e com a elevada qualidade com que o DECA nos tem vindo a habituar.

Eu estarei por lá a falar sobre o futuro do SPECTRUM PT (a seguir ao almoço e antes do intervalo é uma maldade que me fazem) e espero pela vossa presença e contributo para o debate que possa suscitar a minha intervenção.

Não percam!

Para onde vamos? Ou melhor para onde queremos ir

Para onde vamos? Ou melhor para onde queremos ir

O rei nu na cultura, post scriptum e uma boa visão como sair da crise em que mergulharam os museus são excelentes contributos para uma reflexão maior sobre o caminho (chamar-lhe caminho até me parece estranho) que segue a cultura e, particularmente, os museus em Portugal. Aconselho a leitura atenta a todos e confesso que subscrevo, quase literalmente, os excelentes artigos de Raquel Henriques da Silva, Maria Vlachou e Luís Raposo. Antes de lá irmos, deixem que recorde bons tempos.

Trabalhar num museu nunca foi um sonho de criança. Foi mais um feliz acaso do destino que me retirou, felizmente, a possibilidade de passar anos a penar num banco ou empresa de seguros. No entanto, quando comecei a trabalhar no Museu de Aveiro percebi que era exactamente aquilo que eu procurava. Apaixonei-me pelo museu, pelo trabalho do museu, pelas perspectivas que se abriam na conjugação entre a investigação em História e a partilha do trabalho que daí resultava. Nesses anos, se bem se recordam, davam-se os primeiros passos para a discussão daquilo que viria a ser concretizado em 2000 na estrutura de projecto, dependente do IPM, para a criação da Rede Portuguesa de Museus e viviam-se tempos em que o futuro dos museus se construía com bons profissionais, formação, investimento, alguma estratégia e planeamento e, ainda que algum desbaratado, algum dinheiro para investir em estruturas (na criação de novos museus ou requalificação de outros existentes). Não se pode afirmar que era um tempo de vacas gordas, tal nunca aconteceu nos museus portugueses, mas era um tempo de esperança, de discussão aberta, de debate, de partilha, no qual também se cometeram erros (alguns graves e sem solução ainda), mas se criaram as bases para a aprovação por unanimidade e publicação da Lei Quadro dos Museus.

Depois de tempos como aqueles seria expectável, pelo menos, que lhes seguiriam novas conquistas, melhores condições, mais participação dos profissionais em decisões estruturais, mais e melhor formação, equipas em consonância com as reais necessidades dos museus, das suas colecções e das suas audiências, a aplicação da Lei Quadro dos Museus, uma rede portuguesa de museus forte e em expansão, colecções estudadas e comunicadas devidamente, o foco dos museus e das suas missões centrado nas suas audiências, entre outras. Mas, em boa verdade, o que temos não é uma realidade melhor. As condições são piores, a participação dos profissionais de museus em decisões estruturais é “esquecida”, a formação é focada apenas em estudos avançados (mestrados e doutoramentos) esquecendo, quase por completo, a formação técnica, as necessidades de pessoal são completamente negligenciadas pelas tutelas, e os reflexos disso são notórios em muitos museus, a rede portuguesa de museus mantém-se à tona graças ao enorme esforço de um conjunto extraordinário de colegas muito persistentes e competentes, o estudo das colecções, a sua comunicação e o foco nas audiências acabam por ser prejudicados pelo contínuo desinvestimento no sector e pela endémica dificuldade em definir estratégias e planos de médio e longo prazo.

Em conversas com amigos de outras áreas sobre os problemas do sector perguntam-me muitas vezes porque me esqueço das “culpas” das pessoas que aí trabalham. A minha resposta é sempre a mesma: “nunca tivemos uma geração tão competente e bem formada como a actual a trabalhar nos museus e património cultural. Mas depende pouco da sua competência, infelizmente, a definição de uma política para o sector”. E tento explicar-lhes: “Claro que há gente incompetente (há em todos os sectores), mas a maior parte é competente, sabe fazer e sabe, conforme podemos ver por alguns exemplos que estão em lugares de chefia, liderar, planear, definir estratégia e mandar fazer! O grande problema, na minha opinião, é que não é tida em conta, como se vê, em grande parte, nas grandes polémicas noticiadas (Crivelli, Coches, Miró, Museu Nacional de Arqueologia, greves, etc.), na definição de uma política cultural de museus definida para além da castradora legislatura de 4 anos. Aliás a “festa” do Museu dos Coches é ao brio e competência da equipa do museu e outros técnicos da DGPC que se deve, não a uma decisão do Ministério da Economia ou a uma política cultural séria.

A nossa “culpa” será não exigirmos, de forma mais corporativa se quiserem, a definição de uma política de médio e longo prazo a partir da qual se possam traçar estratégias, planos, objectivos que permitam uma avaliação séria e fundamentada do desempenho de todos envolvidos no sector. Podemos até pensar que é uma visão ingénua, mas não será exequível?

Se houvesse uma política cultural forte, pensada de forma inclusiva não evitaríamos muitos dos nossos problemas?

Algumas reflexões sobre este assunto aqui, aqui e aqui.

E este artigo na Visão também me parece interessante e revelador!

E um artigo também muito interessante da Maria Isabel Roque sobre o (não) Museu dos Coches no a.mus.arte!