by Alexandre Matos | Jan 25, 2018 | Debate, Museus
No fim de semana passado tive um inesperado, mas muito bom, pedido da minha filha mais nova. Queria ir ao museu, a um museu! Sem que tivesse saído da nossa cabeça qualquer sugestão! Excelente, não é? Ora como um pedido destes não se recusa, toca de escolher o museu para pegar na criançada e passar um bom tempo de qualidade com eles!
A escolha recaiu no Museu Nacional Soares dos Reis. Já todos lá fomos (e temos muitos por perto que eles não conhecem), mas estava de olho na exposição “José de Almada Negreiros: desenho em movimento” e, além disso, estes hábitos de repetição de museus são bons para a criançada. Ficam mais próximos com toda a certeza! Vou contar-vos a experiência em três actos: antes, durante e depois!
O antes
A ida ao MNSR foi decidida com uma consulta na web (onde vi a informação sobre a exposição), mas se não fosse o Facebook do MNSR e a informação da Gulbenkian, não tinha encontrado nada no site do Museu (onde aliás fui direccionado para o FB do mesmo). Em todo o caso, várias notícias falavam sobre a exposição na breve pesquisa que fiz. Apenas deixo esta nota, porque vejo que o site precisa de acompanhar o enorme esforço de comunicação que o museu faz.
Decidido o museu, caminho percorrido de carro, ultrapassadas as dificuldades de estacionamento naquela zona da cidade (mesmo ao domingo é um castigo) com o recurso a um parque pago, somos confrontados com um problema crónico para o MNSR, a “praça” em frente ao museu é tudo menos amigável para quem ali chega! Se bem se recordam, a intervenção feita ali, com a saída do túnel de Ceuta, causou polémica na altura e foi mesmo embargada pela Ministra da Cultura, no entanto, e como bem recordava a Maria João Vasconcelos, já em 2013, o túnel é um perigo para os visitantes e para a colecção do museu. Em tempos de saída da crise seria bom pensar em minimizar aquele problema, pelo menos!
O durante
Entrados no museu (a criançada não pagou) e café tomado na cafetaria, seguimos mais ou menos apressados pela exposição permanente (o acesso às temporárias é sempre feito por aí), parando em algumas obras que despertaram o interesse aos mais novos, até que chegamos à galeria de exposições temporárias.

Visita ao MNSR
Eu desci as escadas, mas eles seguiram, como seria de esperar, pela rampa de acesso em correria desenfreada (nada como uma rampa para lhes despertar a vontade). Vai daí, pai em alerta e o pessoal do museu, alertado pelo barulho da correria, a ver discretamente o que vinha por ali. Um ponto a favor do MNSR nesta situação. Atentos, mas sem qualquer chamada de atenção à criançada, porque perceberam a atenção dos pais e o local onde estavam a brincar (a rampa não tinha qualquer obra exposta).
Mais do que a minha opinião sobre a exposição (bastante positiva, devo dizer), queria aqui deixar-vos a deles. Interessados nos desenhos do Almada, atentos a diferentes pormenores das obras (a museografia permitia que as apreciassem, embora com alguma dificuldade para as obras em vitrines horizontais), interessados na técnica de desenho (principalmente o mais velho), nas formas geométricas, nas histórias contadas pelo Almada, entre outros aspectos, acabaram a visita a dizer que tinham gostado muito da ida ao museu. Estiveram com a mãe sentados durante um bom tempo a ouvir a gravação da Gulbenkian de uma obra escrita por um artista que não me recordo agora, ilustrada por Almada na sua passagem por Madrid (se não estou enganado) e cujas ilustrações estavam a ser projectadas em frente! Divertidos com a bruxa e o gato.
Saídos da exposição do Almada, tivemos ainda tempo para percorrer as restantes salas do MNSR vagarosamente, procurando algumas histórias na excelente colecção do museu, inventando outras, esperando que a curiosidade seja sempre uma das suas qualidades mais preciosas e apreciadas. A mãe documentou dois olhares deles que ilustram isso e deixo-os aqui para memória futura.
À saída e em resposta à questão: Então, gostaram? Tivemos um “Sim… gostamos muito!” Sincero que a criançada não mente!
O depois
Não fosse o pedido da princesa lá de casa, teria passado umas boas horas de brincadeira caseira com eles, mas entre isso e umas boas horas de brincadeira e aprendizagem no museu (ou outro sítio interessante), tenho cada vez mais certeza, teremos que escolher sempre a segunda. Mesmo que o conforto da nossa casa, o chamamento do sofá, nos tente de forma diabólica a passar a tarde de domingo chuvosa em casa, temos que nos lembrar sempre que sair, conhecer outros locais, ver obras de arte, questionar, suscitar a curiosidade, etc.
Este passeio valeu aos pais um obrigado após a visita, mas, em boa verdade, quem lhes devia agradecer era eu.
by Alexandre Matos | Nov 10, 2017 | Cultura, Debate, Museus
Ora deixa cá ver. Desde que trabalho em/para Museus, já lá vão uns 20 anos, já tivemos IPPC, IPM, IMC e recentemente DGPC. Nas andanças do património cultural é necessário acrescentar o IPPAR, o IGESPAR, o IPA e julgo que um outro para o património subaquático, mas desculpem-me por não recordar o nome. Além destes institutos ainda tivemos, e o utilizar o passado não é engano, a Rede Portuguesa de Museus (RPM) como um organismo do Estado que certificava os museus. No mesmo tempo, para o caso Inglês (e poderei estar enganado, mas por favor corrijam-me) tivemos o Museum, Libraries and Archives Council e temos agora o Arts Council (desde há uns três anos, segundo me recordo).
Não querendo fazer qualquer tipo de comparação com a realidade inglesa, que sei ser bem distante da nossa, a minha questão é a seguinte: quando é que nos decidimos a parar com ideias de reformas administrativas e pensamos seriamente numa política e estratégia para o sector público dos museus portugueses?

Ministro da Cultura
A questão é antiga e já foi colocada inúmeras vezes por diversos colegas. Recordo um texto mais recente do Luís Raposo sobre esta questão, mas podem consultar outros que ele escreveu aqui, ou então ler o da Isabel Roque aqui. No entanto, continuamos a ter anúncios como o que fez Luís Filipe Castro Mendes no Parlamento no passado dia 7 em que se anuncia um novo Instituto de Museus e Monumentos (IMM), desmentido, ou pelo menos adiado, pelo próprio nos dias seguintes, conforme noticia Lucinda Canelas no Público de dia 9, que demonstram, na minha opinião, uma navegação à vista que tem que ser criticada pelos profissionais de museus de forma aberta e franca.
A situação nos museus é péssima. Sentimos, desde há alguns anos, a ausência de recursos humanos e financeiros que possam colocar os museus nos mínimos aceitáveis para um país que se diz e quer evoluído. Mantemos um projecto importante como a RPM num estado vegetativo que não se compreende. Andamos a promover o nosso património e os museus como elementos chave para a promoção turística do país, mas na realidade não temos tratado uns e outros como activos importantes para aquele sector (e este ano, apesar do aumento orçamental, continuamos a arranjar formas de sonegar a realidade). Além disso somos brindados com notícias sobre o espartilhamento da coleção do Museu da Música, que será dividida por dois espaços, um em Lisboa e outro em Mafra, com o fraco argumento de uma suposta descentralização/desconcentração dos espaços culturais (como se entre Lisboa e Mafra se resolvesse a questão da ausência de museus nacionais) e da despesa da deslocação de toda a coleção para Mafra.
Este governo e os partidos que o apoiam tinham como obrigação (ver programa do Governo) tratar bem melhor o sector, mas sinceramente quem é que ainda acredita num programa de governo, não é? É um diz que disse e desdisse em continuidade.
by Alexandre Matos | Set 19, 2017 | Colecções, Museus
Por vezes, raras devo dizer, pergunto-me porque raio escolhi trabalhar em museus? A Cultura, todos sabemos, não é um sector fácil. Não é uma actividade que nos permita, pelo menos à maioria, ter rendimentos elevados. Exige estudo, contínua actualização, horas de volta de documentos em arquivos ou de objectos em reserva, preocupação e interacção directa com o público, conhecimentos de gestão, de comunicação, etc., mas na realidade todas as vezes que me pergunto sobre o porquê desta escolha a resposta é sempre a mesma: Porque é impossível não gostar de museus! E comigo foi amor à primeira vista!
No entanto, há momentos em que a dúvida nos assalta, não é? Pensamos que estaríamos melhor a vender casas, a trabalhar numa Google, aos comandos de uma grua qualquer, na City londrina preocupados com as consequências do Brexit ou, ainda, a produzir uma belo vinho no Douro. Acho que o mesmo acontece em todas as áreas e é legítimo que assim seja, mas nesses momentos é importante ter guardados alguns links que nos lembrem porque continuamos na luta.
Hoje guardei aqui nos favoritos mais um link que me irá ajudar num desses momentos. É um link com o feed de uma batalha épica entre dois dos museus museus favoritos, o Science Museum e o Natural History Museum de Londres! Uma batalha iniciada com um tweet de durante o evento #askacurator do Natural History Museum sobre quem ganharia uma batalha entre as equipas dos dois museus e como as colecções as ajudariam na contenda. O tweet é o seguinte:
A batalha que se seguiu entre os museus é épica e, pelo menos a mim, lembra-me porque gosto de trabalhar em museus. A batalha, como diz no link que a apresenta, é muito educativa. É feita com as armas (objectos) de cada colecção de forma inspirada e despida da linguagem institucional que ainda vemos utilizada por muitos museus nas redes sociais. Utiliza os objectos mais antigos, mas chega também às mais recentes impressões 3D.
Mostra a diversidade e complexidade de duas grandes colecções e fez-me – acho que isso é o mais interessante – pesquisar um pouco mais para perceber melhor as respostas a alguns dos ataques. É brilhante, não vos parece?
É impossível não gostar de museus, não é?
by Alexandre Matos | Jun 22, 2017 | Museus
Há muitos, muitos anos, comecei a trabalhar no Museu de Aveiro (num estágio, imaginem lá) no serviço educativo com a amiga Maria João Mota. Na altura não questionava tanto as coisas, mas ajudado pelos colegas, pela Maria João principalmente, dei comigo várias vezes a perguntar-me “O que é um museu para uma criança?” É, talvez, a pergunta que mais nos devia ocupar. Pensar como actuar para que o museu possa contribuir para que os nossos pequenotes questionem tudo o que os rodeia.
Vem este post a propósito de uma ida minha à creche da minha filha mais nova com o objectivo de explicar à turma dela (miúdos dos 4 aos 6) o que raio é que o pai da minha princesa, ou seja eu, faz! Antes de vos contar seja o que for, devo dizer que eu tenho uma dificuldade imensa em explicar exactamente o que faço. Sou trabalhador por conta de outrém, investigador, documentalista, especialista em documentação em museus, etc. e não tenho uma daquelas profissões em que simplesmente dizemos “eu sou tal!” Tenho alguma dificuldade em dizer que sou museológo ou profissional da informação ou analista de sistemas e por isso os meus filhos terão grande dificuldade em preencher os papeís com a profissão do pai. Agora imaginem lá explicar esta enorme confusão à criançada!?
Segui a linha mais fácil. Disse-lhe que trabalhava para museus e tentei, contar-lhes uma história breve, sobre o que são os museus e o que faz a rapaziada que lá trabalha, acabando por usar alguns dos desenhos que eles fizeram previamente e tentar criar uma breve história e exposição com a ajuda deles.
Estou muito curioso por ouvir a minha pequena mais logo, mas devo dizer que me diverti como há muito não acontecia. Desde logo pelas reacções à pergunta “vocês sabem o que é um museu?” que teve respostas muito interessantes (e que nos devem fazer pensar) como “é um sítio onde se guardam coisas valiosas” ou “é um sítio onde não podemos mexer nas coisas porque está tudo muito limpinho”, mas também pela boa surpresa que tive ao ver a maioria a levantar o braço quando lhes perguntei “quem é que já foi a um museu?” Aliás, um dos pequenotes já tinha ido a quase todos os museus que mostrei, desde os Guggenheim em Bilbao e NY, até ao do Côa, passando pelo Museu da Barbie ou pelo Museu do Ar em Sintra (ficam sempre impressionados com os aviões). E quase todos eles reconheceram de forma imediata o Museu Nacional Soares dos Reis (fiquei contente, devo dizer!)

© Smithsonian Institution
Quando passamos à parte do fazemos nos museus eles ficaram bem atentos, mas confesso que não sei se perceberam muito bem a forma que utilizei para lhes explicar. Ri-me à farta quando lhes mostrei uma foto (a que está aí ao lado) das reservas da Smithsonian e me dizem eles “xiii tanta fruta!” e “é uma venda de quê!?” porque à distância não se percebia que se tratava de uma colecção de história natural. Adoraram os senhores restauradores com ar de cientistas e óculos de aumento, ficaram vidrados com a imagem de uma exposição e com as histórias que podiam imaginar dos objectos que ali estavam e no final ficaram confusos, pelo menos pareceu-me, com aquilo que o pai da minha princesa faz na realidade.Colocar os objectos num computador? Que raio da coisa estranha que este senhor faz? Podia dar-lhe para outra coisa, não era? Sim… podia ser carpinteiro, estofador, bancário, juíz, etc.! Podia, mas não era a mesma coisa! E certamente não seria tão feliz.
Acabei a dizer-lhes, como me disseram um dia a mim, para se divertirem nos museus. Que os utilizem para conhecer o mundo a fazer perguntas! Espero que o possam fazer e que nós os ajudemos com tudo aquilo que estiver ao nosso alcance.
Um museu para uma criança, para todos nós, devia ser um lugar de conhecimento, de diversão, de perguntas, de histórias, de factos, devia ser como uma segunda casa, aberto e participativo. É um desafio grande, mas quem é que pensa em desistir?
by Alexandre Matos | Abr 7, 2017 | Colecções, Cultura, Debate, Investigação, Museus
A exposição “A Cidade Global: Lisboa no Renascimento” que há tempos teve a cerimónia de inauguração no Museu Nacional de Arte Antiga teve mais destaque na imprensa do que é habitual nas exposições em Portugal, mas infelizmente pelos piores motivos. A questão dos “falsos” quadros que estão na origem da realização da exposição após a identificação dos mesmos por Annemarie Jordan Gschwend e Kate Lowe como uma “uma vista da Rua Nova dos Mercadores, destruída pelo Terramoto de 1755“, não deveria ser, na minha opinião, a questão central! Mas como tem sido, falemos da sua relação com um tema que me é caro: a documentação em museus.
A argumentação dos “falsos”
Eu não tenho conhecimentos para entrar na discussão sobre a veracidade das obras em causa. Não sou historiador, nem historiador de arte e não tive qualquer acesso às fontes ou às obras para me pronunciar sobre as mesmas e, ainda que o tivesse, escusava-me por completo dessa tarefa. No entanto, gosto de uma boa troca de argumentos quando ela é séria e me apresenta factos ou elementos que sustentem cientificamente uma opinião.
A questão é levantada por Diogo Ramada Curto neste artigo no Expresso onde se interroga “Lisboa era uma cidade global?” utilizando a questão das pinturas para, em meu entender, ligar a produção da exposição a uma visão da História que glorifica o passado imperial e descarta uma outra visão, em que se insere, que se insurge contra uma narrativa que vê como colonialista e centrada no umbigo do mundo representada pela metrópole. Eu percebo a questão e a argumentação, ainda que não concorde, mas voltemos aos “falsos”.
Na mesma edição do Expresso, Miguel Cadete, Alexandra Carita e Hugo Franco, publicam um extenso artigo sobre o assunto onde apresentam os argumentos de DRC, acrescentando algum contexto e outros dados, sob o título “Museu de Arte Antiga abre as portas a obras suspeitas”. Título que dava, por si, um tratado sobre o tema que aqui me traz, mas que, por agora me suscita apenas o seguinte comentário: digam-me um museu, um apenas, que não abre a porta a obras suspeitas? Se não abrir deixa de cumprir uma parte do seu trabalho de análise e investigação da cultura material, não?
Após aquele texto, somos brindados com outro intitulado “Conservadores do Museu de Arte Antiga não se entendem“. No mesmo, imagine-se, alerta-nos o Expresso, pela voz de Miguel Cadete, que há dois conservadores do MNAA que não têm a mesma opinião sobre as obras! Imagine-se o pecado mortal de ter na mesma instituição, dois especialistas com opiniões diversas! Coisa inédita, bem sei! Mas ainda assim feliz e que me parece um bom sinal.
Para que se eliminassem todas as questões, e de acordo com o Expresso uma vez mais, são pedidos exames laboratoriais pelas palavras do próprio Ministro da Cultura (não percebo porque teria de ser ele a fazer esta declaração), seguidos de uma declaração do director do MNAA a indicar que a decisão ainda não tinha sido tomada por causa das devidas autorizações e questões técnicas associadas.
No Expresso ainda sai pouco tempo depois um texto de Ramada Curto sobre a forma como aborda a polémica e sobre a intenção de aproveitamento de uma exposição como instrumento político ao serviço de uma ideia que condena e que me parece nada ter a ver com a questão da autenticidade desta ou daquela obra, mas sim com uma visão mais genérica da questões (não era preciso criticar a autenticidade, para defender a sua tese sobre o tema). Um dia depois Fernando Baptista Pereira publica também este texto onde afirma categoricamente que “os quadros não são falsos!”.
Chegados ao dia da inauguração temos casa cheia e uma notícia no expresso sobre a “Lisboa Global”: Uma polémica local. Um título que diz tudo sobre as questões levantadas e sobre a forma irritadiça que a discussão tomou, ao contrário do que deveria ter acontecido. Afinal o debate, a diferença, a argumentação e contraditório deveriam sempre caber no Museu e na Academia, não é?
E agora em que ficamos?
Passada a polémica, poeira bem assente no chão, ânimos mais calmos, esperamos e temos a notícia do resultado dos exames a um dos quadros, O “Chafariz d’El Rey”, pertença de José Berardo, que confirmam a sua autenticidade e, segundo o Expresso, sabemos que o relatório diz o seguinte:
No que diz respeito à análise dos materiais constituintes e da forma como estes são aplicados esta obra terá sido executada muito provavelmente por pintor de influência ou naturalidade do norte da Europa a partir da 2ª metade do século XVI, época em que se verifica o uso generalizado do pigmento azul de esmalte e se começam a utilizar imprimaduras coradas
Confirma-se então que a hipotese avançada por Ramada Curto e João Alves Dias estavam erradas e que a autenticidade da pintura vai de encontro ao que as comissárias e o museu esperavam.
É aqui que entra a importância da documentação. Havia diversos elementos que nos poderiam confirmar a autenticidade do quadro (ou pelo menos apontar para ela) sem recorrer a exames, como podemos ler no texto de Fernando Baptista Pereira, mas estavam eles documentados pelo museu ou pelo proprietário? E das diversas investigações feitas pelas comissárias para o livro e, mais tarde, pela equipa do museu, que dados existem, onde estão registados, podemos chegar a eles de forma simples?
Continuamos a ter um enorme fosso entre a informação que existe (e é tratada nos museus pelas suas equipas técnicas) e o acesso que é dado a especialistas e público de uma forma geral. Para que esse fosso se esbata ou, mesmo, deixe de existir é necessária uma mudança nas políticas museológicas que reflicta as necessidades da sociedade actual. Essa mudança de políticas não pode ser vista de forma circunstancial ou imediata, mas sim pensada para o médio e longo prazo. O acesso a um conjunto significativo de informação dos museus na Holanda e Reino Unido, para citar dois bons exemplos agora muito louvados, não aconteceu da noite para o dia. Exige anos de trabalho e investimento na aquisição de competências e meios. Esta mudança não a vemos debatida no Expresso, infelizmente.

Rua Nova dos Mercadores See page for author [Public domain], via Wikimedia Commons

Chafariz d’El Rey By Anonymous Flemish [Public domain], via Wikimedia Commons
by Alexandre Matos | Mar 29, 2017 | Documentação, Museus, Publicações
Parece que foi ontem, mas na realidade já faz algum tempo, desde que discutimos na sede da BAD o que seria essencial tratar no âmbito do Grupo de Trabalho sobre Sistemas de Informação em Museus (GT-SIM) que a BAD decidiu criar, em 2012. No entanto, passaram já uns anos e começamos agora a colher o fruto de algumas boas decisões que foram tomadas nessa altura.
Na próxima segunda-feira será apresentado, em Lisboa, aquele que eu considero o maior contributo que este grupo dará ao sector dos museus na área da documentação: o “Diagnóstico aos sistemas de informação nos museus portugueses”. Um trabalho de recolha e análise de informação, com base num inquérito cuidadosamente elaborado por um conjunto de profissionais de museus, bibliotecas e arquivos, onde se procura traçar o retrato da realidade portuguesa sobre os sistemas de informação (não confundir com as aplicações usadas nos sistemas de informação de museus) das instituições museológicas portuguesas.
Este trabalho é um ponto de partida muito importante. É um dignóstico que permitirá informar as tutelas e os técnicos dos museus sobre a realidade nacional. Não pretende apontar caminhos, mas antes mostrar onde estamos e deixar ao cuidado da comunidade museológica as decisões estratégicas a tomar para que o futuro possa ser melhor do que a realidade.
Recordo que várias pessoas presentes naquela primeira reunião na BAD abraçaram este projecto com muita energia, mas o esforço do Jorge Santos e da Conceição Serôdio nesta hercúlea tarefa deve ser aqui registado com destaque, assim como deve ficar registado o trabalho voluntário deles e de um conjunto de colegas sem os quais este trabalho não seria possível.
Deixo-vos abaixo o texto de divulgação do evento que a BAD irá realizar na próxima segunda. Inscrevam-se e participem!
Programa
O Grupo de Trabalho Sistemas de Informação em Museus (GT-SIM), estrutura criada em 2012 no seio da Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas (BAD), irá realizar no dia 3 de abril de 2017, em Lisboa, no ISCTE-IUL – Auditório Caiano Pereira (Edifício I, Piso 0) a sessão de apresentação dos resultados do “Diagnóstico aos sistemas de informação nos museus portugueses”.
O crescente interesse do público no conhecimento dos acervos museológicos, impulsiona a visão do museu como um sistema de informação e potencia o valor informacional do objeto museológico. Deste modo, o acervo do museu repartido pelos espaços expositivos, reservas, biblioteca/centro de documentação e arquivo exige equipas multidisciplinares, em especial formadas por profissionais de informação: museólogos(as), bibliotecários(as) e arquivistas numa articulação interna dos diferentes setores do museu. Este trabalho conjunto e pluridisciplinar dos(as) profissionais do museu, é a base para a concretização do sistema de informação integrado.
Nesta medida, reveste-se da maior relevância conhecer a realidade portuguesa nesta importante questão da gestão da informação dos acervos nos museus. Foi com este propósito que o Diagnóstico assumiu como objetivo o levantamento e caracterização no que diz respeito às áreas da gestão da informação sobre os seus vários tipos de bens patrimoniais, de forma a possibilitar o desenho de um quadro global desta realidade. Os resultados têm por base a aplicação, no decurso do ano de 2016, de um inquérito por questionário a um conjunto selecionado de museus.
Não deixe de participar!!
A inscrição na Sessão de Apresentação é gratuita, mas obrigatória!
PROGRAMA
15h00 | Sessão de Abertura
João Sebastião (Diretor do CIES-IUL, ISCTE-IUL)
Alexandra Lourenço (Presidente da BAD)
15h20 | Apresentação do GT-SIM
Fernanda Ferreira (GT-SIM)
15h40 | Apresentação e discussão dos resultados do Diagnóstico
Moderadora: Conceição Serôdio (GT-SIM)
Jorge Santos (GT-SIM, CIES-IUL), coordenador do estudo
José Soares Neves (ISCTE-IUL, CIES-IUL), sociólogo convidado
Clara Frayão Camacho (DGPC), museóloga convidada
16h45 | Debate
17h00 | Encerramento
Maria José Moura (Sócia honorária fundadora da BAD)
Conceição Serôdio (GT-SIM)